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Um estudo do MIT reacendeu o debate sobre o uso da IA generativa e seus efeitos no cérebro. O comentarista Álvaro Machado Dias analisa o impacto cognitivo, o conceito de algoritimização do pensamento e os riscos e oportunidades para profissionais e empresas.

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Transcrição
00:00A ideia de que o uso da inteligência artificial generativa pode levar ao declínio cognitivo
00:06viralizou nas últimas semanas após a divulgação de um estudo de pesquisadores do MIT.
00:11Mas, como sempre, o X da questão é bem mais profundo do que foi divulgado.
00:15Hoje a gente vai falar sobre os efeitos da IA no cérebro com Álvaro Machado Dias,
00:20que é um dos notáveis do nosso canal e também neurocientista.
00:24Boa tarde para você, Álvaro.
00:25Olá, Marcelo. Muito obrigado.
00:27Bom, Álvaro, você pode resumir para a gente, então, o estudo e as conclusões às quais os pesquisadores chegaram?
00:34Claro. Para variar, um estudo muito bem desenhado, típico do MIT, ele foi feito da seguinte maneira.
00:41Primeiro, participantes, 54 deles, um detalhe, adultos de 18 a 60 anos, mas com uma média de 25 anos,
00:51ou seja, muito mais aí graduandos, aliás, graduandos de universidades da região,
00:57então, Harvard, MIT, Northwest, etc.
01:00Só lugar ruim, né?
01:01Ou seja, só gente que passou pelo filtrinho mais seletivo, isso é importante, vou dizer por quê,
01:07daqui a pouquinho, foi separado em três grupos.
01:10Um grupo deveria escrever um ensaio, ou seja, um texto, usando chat EPT.
01:16Era uma IA generativa que, no caso, era essa da OpenAI.
01:20O outro grupo deveria fazer o mesmo fazendo pesquisa na internet.
01:24E o terceiro grupo deveria fazer isso sem nenhum tipo de aporte, ou seja, tecnológico,
01:30ou seja, era o grupo brain only.
01:32Na sequência, os grupos foram instruídos a realizar a mesma coisa uma segunda vez e depois uma terceira vez.
01:38Numa quarta condição, o grupo que estava usando chat EPT foi movido para brain only.
01:47E o grupo que estava sem nenhum recurso tecnológico, o brain only, foi movido para o uso de chat EPT.
01:54Durante as sessões todas, a produção de ensaios, eletroencefalografia, que é uma tecnologia para medir ondas cerebrais,
02:02padrões cerebrais que emergem de populações com milhões de neurônios, mapeou o engajamento dessas pessoas.
02:11O engajamento, particularmente, está ligado a ondas de alta frequência, sobretudo ondas beta, que são de 15 a 23 hertz.
02:18Quais são as conclusões?
02:20A primeira conclusão é que, ao realizar o ensaio, o texto ensaístico, usando chat EPT,
02:28o uso de redes neurais de alta atividade, alta performance no córtex prefrontal é menor,
02:36é substancialmente menor do que quando você faz sem nenhum tipo de aporte tecnológico.
02:41Segunda conclusão, quando você passa o grupo que está fazendo com chat EPT para o uso de zero aporte,
02:50ou seja, o analógico raiz, este grupo também tem um engajamento menor.
02:57Então, há uma sugestão de que exista uma espécie de condicionamento aqui do que vem sendo chamado de cognitive offloading,
03:05que é a terceirização dos processos mentais, rapidamente, ela já, numa outra condição, ela já se manifesta,
03:12como uma espécie de preguicinha.
03:14A outra conclusão, que é muito interessante,
03:17ao longo das sessões foram sendo perguntadas várias coisas do ponto de vista das experiências fenomenológicas,
03:24ou seja, como as pessoas se sentem em relação àquilo.
03:27A mais marcante é sobre o senso de propriedade, de intencionalidade no texto.
03:32O grupo ligado ao uso do chat EPT, ou seja, que fez três sessões nisso e só uma analógica,
03:40sentiu, ao longo de todo o processo, inclusive no último texto, menor senso de propriedade ou intencionalidade.
03:47A conclusão, evidentemente, é que o uso de tecnologias como o chat EPT pode, ou eventualmente,
03:55tende a levar a uma espécie de declínio cognitivo, a uma estupidificação, como vem sendo falado na internet.
04:04Em linguagem clara, o chat EPT deixaria a gente mais burro.
04:07Deixaria a gente mais burro.
04:08Só que eu estou aqui para dizer que essa é uma interpretação errada do experimento.
04:13Eu não tenho a menor dúvida disso.
04:15Aliás, até o aparelho que foi usado, chamado Neurobe, eu tenho ele também.
04:20Então, essa é uma metodologia que eu usei dezenas de vezes na vida.
04:23A primeira coisa é o seguinte, cognitive offload, essa ideia de transferência e que vai gerando declínio cognitivo,
04:31ela precisa ocorrer ao longo de muito tempo.
04:33Então, eu pego uma pessoa que aprende a escrever, por exemplo, com letra cursiva, no papel,
04:39e ela vai desenvolvendo essa relação entre a mão, uma criança, a mão e o cérebro,
04:44uma relação intencional baseada no esforço, etc.
04:46E eu vejo essa pessoa se desenvolvendo como um leitor e também escritor melhor do que aquela que só digita,
04:55e melhor do que aquela que digita com o chat EPT.
04:58Mas, aqui a gente já está falando de uma população em que uma parte é graduanda de Harvard,
05:04outra parte é pós-graduanda, e inclusive tem alguns que são pós-docs.
05:09Ou seja, não é verdade que numa janela desse tamanho você pode medir um efeito que supostamente é deletério no cérebro.
05:15O que está sendo, de fato, medido é que o esforço mental,
05:20quando você usa uma tecnologia de apoio, sobretudo uma que constrói o texto por você,
05:25é menor.
05:26E aí, consequentemente, você usa menos as bandas de alta frequência do cérebro,
05:32afinal de contas, está mais fácil.
05:34E, evidentemente, você faz três vezes isso,
05:36na quarta, se alguém te pede para fazer um esforço de verdade, você fica com preguiça.
05:40Então, acho que a gente tem que relativizar esse tipo de estudo,
05:43quando a gente vai para essas conclusões assim,
05:46é, isso significa que a IA está tornando as pessoas mais estúpidas.
05:50Ela, eventualmente, pode estar, mas não é avaliando no único dia o que acontece com pós-doutores de Harvard
05:57que a gente vai concluir isso.
05:59Mas, só fazendo o papel aqui do advogado do diabo,
06:02se isso aconteceu até com esses pós-doutores de Harvard aí,
06:05ou graduandos de Harvard,
06:07para uma população menos educada o efeito não pode ser pior ainda?
06:10Então, exatamente.
06:11Eu acho que o efeito para uma população menos educada, que sim, tende a ser.
06:15Ou seja, vamos pensar, por exemplo, do ponto de vista da programação.
06:19Engenheiros de software que programam há 20 anos,
06:22que agora pegam o Cursor, o Chat-EPT, o Cloud para programar,
06:29não vão fazer cognitive offload, não vão perder a capacidade estabelecida,
06:35as memórias que estão implementadas geneticamente no seu hipocampo,
06:39que é a área de memória principal do cérebro.
06:41Isso não vai acontecer.
06:42O problema está no sujeito que nunca passou por esse processo
06:47e vai aprender pela via do atalho.
06:50A mesma coisa se aplica de maneira geral à escola.
06:53O problema não está em você que é um adulto,
06:55que já sabe muito bem como fazer as coisas,
06:57acelerar os processos informacionais que são necessários,
07:00usando uma tecnologia como essa.
07:02O problema está em você não aprender e não passar pelo processo
07:06de construção da neuroplasticidade,
07:09usando as ferramentas analógicas que são as que mais demandam do nosso cérebro.
07:14Eu queria que você falasse agora, para além desse estudo aí,
07:17que você já está falando, inclusive,
07:19mas que você fizesse um balanço rápido
07:21de benefícios e riscos colocados pela IA na nossa cognição.
07:26Tá bom.
07:27Eu vou começar pelos riscos.
07:28Eu cunhei um termo que agora, aliás, está bem famosinho por aí,
07:31que é algoritimização do pensamento.
07:33Para mim, a algoritimização do pensamento resume boa parte desses riscos.
07:38Por quê?
07:38A algoritimização do pensamento é o reflexo da nossa adaptabilidade,
07:44da nossa inteligência prática.
07:46E a nossa inteligência prática,
07:48quando a gente olha do ponto de vista evolucionário,
07:50ela naturalmente serve para a gente otimizar os custos energéticos
07:55e atingir resultados de maneira mais satisfatória e segura.
07:58Então, por exemplo, eu começo a usar o Waze.
08:01E ao longo do tempo, esse uso do Waze vai se disseminando na minha vida.
08:06Daqui a pouco, eu vou à padaria e eu levo o Waze.
08:11Eu sei onde é a padaria, mas vai que tem uma rota para a padaria com menos trânsito.
08:15Sabe esse papo que não é verdade?
08:17E a gente começa a terceirizar toda a projeção mental de mapas do mundo,
08:22ou seja, tudo que acontece no córtex visual, para uma máquina.
08:27O que acontece ao longo do tempo? Menos esforço e, portanto, menos proliferação neural.
08:34E ao longo de muitos anos, o que a gente vê é o aumento da chamada demência digital.
08:39Ou seja, declínio cognitivo que viria com a idade, assim, de maneira muito lenta,
08:44ou eventualmente nem viria, porque nem em todos os casos isso acontece,
08:47ele vem de maneira mais acelerada, irrefreável,
08:50puxando aí a probabilidade da manifestação de demência.
08:54Essa é a típica coisa que acontece.
08:56Do outro lado, eu tenho uma tomada de decisão assertiva e tal, e muitas vezes eu erro.
09:02Eu começo um processo de pedir para o chat GPT ou para o Claude tomar as decisões por mim.
09:08Minha capacidade de tomar decisão em si não mudou,
09:11mas a minha confiança na minha decisão, eventualmente, ela decai,
09:14porque, afinal de contas, agora eu acho que existe um ente externo
09:18que pode decidir melhor do que eu,
09:19e aí essa insegurança se manifesta de maneira sistêmica na minha vida, na empresa, onde for,
09:24e eu, consequentemente, termino num acoplamento com o mundo pior.
09:29Isso é o que eu chamo de algoritimização do pensamento,
09:31é essa adaptabilidade.
09:32Eu estou usando porque é bom,
09:33e é tão bom que sistemicamente, ao longo dos anos,
09:36pode gerar um resultado deletério.
09:38Agora, do outro lado, é o seguinte,
09:39a gente tem que pensar que o progresso,
09:43a história da cultura e da civilização,
09:46é uma história de aumentos.
09:48A gente aumenta ou amplifica a nossa capacidade motora
09:51com a roda, com a máquina a vapor, com a eletricidade,
09:56e a gente amplifica a nossa capacidade cognitiva
09:59com a escrita, com o computador digital e com a inteligência artificial.
10:03Quando a gente usa esses processos de amplificação,
10:06o que acontece é que a gente se liberta de um monte de coisa
10:10que toma tempo no caminho e consegue produzir cognições de nível mais elevado.
10:14Depende de vontade, depende de ambição mental.
10:17Mas uma vez que essa ambição intelectual exista,
10:21evidentemente, a possibilidade de você pensar algo de nível mais elevado ainda
10:25se abre para você.
10:27Um exemplo em que isso está acontecendo de maneira muito clara
10:29é no domínio da biomedicina, da engenharia molecular e assim por diante.
10:34Hoje em dia, com ferramentas, você faz o trabalho de 20 anos em 3 meses
10:38e, consequentemente, consegue dar saltos exponenciais
10:41que são intelectualmente desafiadores com a máquina.
10:44Finalmente, o uso dessa relação aristotélica, desse diálogo,
10:49ao mesmo tempo que pode servir para você fazer um offload,
10:52uma transferência da sua intencionalidade decisória, o que é ruim,
10:57também serve para que você deixe de agir como um reizinho mandão,
11:02uma rainhazinha mandona e encontre um processo dialético
11:05que te ajude a enxergar as suas limitações.
11:08Eu diria que isso, na vida de muitos executivos e executivas, seria uma bênção.
11:13Olha, eu não sei se inteligência artificial deixa a gente mais burro ou não,
11:17mas ouvir o Álvaro Machado Dias, com certeza, deixa a gente mais inteligente.
11:21Muito obrigado.
11:21Eu que agradeço.
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