As projeções do FMI mostraram o Brasil em 11º lugar após a valorização do rublo, moeda russa. Jorge Ferreira dos Santos, economista e professor da ESPM, explicou ao Fast Money como o câmbio distorceu o ranking e por que o desempenho real do país continua sólido.
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00:00Já estou de volta ao vivo com Fast Money e mesmo com a previsão de um crescimento maior do que o previsto,
00:06a economia do Brasil deve terminar o ano como a 11ª maior do mundo, segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional, FMI.
00:15Esse resultado acontece após o rublo, que é a moeda da Rússia, valorizar 39% neste ano.
00:22E a gente vai entender melhor esse movimento, o que tudo isso significa, quais são os impactos para a gente aqui no Brasil.
00:28Eu vou falar com o Jorge Ferreira dos Santos, que é economista e professor do curso de administração da ESPM.
00:35Tudo bem, professor? Boa tarde. Bem-vindo mais uma vez ao Fast Money.
00:38Obrigado. Boa tarde, Natália.
00:41Bom, professor. Então, estávamos lá no top 10 e agora com essa revisão, com essa projeção do FMI,
00:49a gente está em 11º como a maior economia do mundo.
00:53Fomos ultrapassados justamente pela Rússia, graças à valorização do rublo.
00:59Queria que o senhor ajudasse a gente a entender o que aconteceu para que a gente fosse ultrapassado justamente pela Rússia.
01:06A que se deve essa valorização da moeda deles e essa perda de posição para a gente?
01:12Sim. Natália, é interessante a gente entender que essa medição que foi publicada pela FMI,
01:20que ela foi bastante veiculada também pela Austin Ratings, que é uma agência de rating internacional,
01:28ela é uma medição do PIB nominal.
01:30E o PIB nominal é exatamente isso.
01:32É o quanto uma economia produziu convertida ao dólar.
01:38E como você mencionou anteriormente, nesse cenário de medição do PIB nominal,
01:44a valorização de uma moeda ou a desvalorização de uma moeda conta muito na medição.
01:50E aí você próprio acertou um dado, o rublo se valorizou ao longo de 2025, 39%.
01:58E esses 39% têm a ver com algumas coisas do cenário russo e do cenário internacional.
02:05Vamos começar primeiro com o cenário internacional.
02:07O dólar vem em uma desvalorização frente às moedas emergentes, principalmente no segundo semestre de 2025.
02:15Tem um cenário que já é considerado de questionamento do dólar como grande moeda global,
02:22mas o dólar permanece como a principal moeda de reserva e o dólar vem perdendo um pouco do seu valor em relação às moedas emergentes.
02:30Esse é o valor, esse é o fator internacional relacionado à valorização do rublo.
02:36Outras moedas se valorizaram menos.
02:38Por exemplo, o real nos últimos meses voltou a ganhar valorização em relação ao dólar.
02:44A gente tem a lira turca também passando por esse momento.
02:47Então esse é o fator externo.
02:50Como fator interno, a gente tem duas coisas acontecendo.
02:54Primeiro, a Rússia adotou, por conta do conflito com a Ucrânia, a Rússia ficou isolada, principalmente em relação ao Oeste, aos países ocidentais.
03:05E ela adotou uma prática de internalização forçada das suas exportações para o rublo.
03:14E aí o que acontece? Esforçou ao longo de 2025 que os exportadores e vendedores russos utilizassem a moeda russa.
03:23E aí o que acontece? Aumentou a demanda pelo rublo e aí o rublo se valorizou em relação ao dólar.
03:29A gente também tem um cenário em que a Rússia atraiu moeda estrangeira, o que valoriza o rublo.
03:39Por quê? Porque assim como o Brasil, a Rússia tem uma taxa de juros bastante alta.
03:43Inclusive a taxa de juros russa é mais alta que a brasileira.
03:46A nossa Selic está em 15%.
03:48A taxa de juros na Rússia esse ano começou em 21%.
03:54No meio do ano, em meados de junho, a taxa foi reduzida para 20%,
03:59mas ainda é uma taxa de juros muito alta.
04:02Então ela atrai recursos do exterior para serem melhor remunerados.
04:05Esses foram os fatores que fizeram com que o rublo tivesse essa valorização
04:10que é bastante significativa e não é nada normal para uma economia.
04:17E aí, professor, o fato da gente ter perdido essa posição, ter tido essa inversão ali no ranking,
04:23o que isso significa na prática para o Brasil, para o PIB em dólares?
04:30O que a gente colhe de reflexo disso?
04:32A gente tem um efeito secundário no mercado brasileiro.
04:38O investidor está acompanhando menos a economia.
04:44Ele pode achar que a economia brasileira está performando não tão bem quanto a economia russa.
04:50E isso pode ter algum efeito que a gente precisa mencionar nos próximos dias.
04:54O dado acabou de sair.
04:55Saiu agora na primeira semana de dezembro.
04:58A gente está acompanhando o mercado.
04:59Mas, na prática, só em critério de comparação, a economia brasileira cresceu dentro de um número que é razoável
05:07e dentro das previsões.
05:08Por exemplo, a economia brasileira, o crescimento real da economia brasileira foi de 2,4%.
05:13E aí o crescimento real é sempre atrelado, que é o chamado PIB real, à produtividade e ao investimento.
05:20Enquanto a economia russa, que é muito pressionada pelo isolamento em relação ao Ocidente,
05:28pelos custos altos do esforço militar, ela cresceu 0,6%.
05:34Então, quem olha, quem está no mercado e olha comparativamente sabe que o Brasil teve um desempenho que não é dos melhores,
05:42mas na economia real, o Brasil foi muito melhor do que a Rússia ao longo de 2025,
05:48como eu citei, o crescimento real da economia russa é de 0,6%.
05:52Do próximo de zero, por conta do cenário econômico em que a Rússia está passando.
05:57Então, é importante ressaltar isso mesmo.
06:00Não é que o Brasil piorou, né, professor?
06:02Inclusive, teve até valorização do real, melhora nas projeções de crescimento,
06:07mas é um efeito cambial pesando nesse grande?
06:11É um efeito cambial. O crescimento, você definiu bem, Natália.
06:14O que aconteceu foi um efeito cambial que distorceu o número,
06:18inclusive no relatório da FME em que eles publicam isso,
06:22eles colocam como uma das condicionantes para o ano de 2005 a volatilidade cambial.
06:28Por quê? Porque como você tem, o dólar se enfraqueceu,
06:31a gente teve uma valorização anômala do euro, por exemplo, o euro voltou a se valorizar,
06:36a gente teve distorções no mercado e nas economias internacionais,
06:40como o caso russo, que é um crescimento que não é normal.
06:47E aí, com essas condições que eu expliquei, dá para a gente entender
06:49por que a valorização do rublo aconteceu, quer dizer, é um cenário que tem a ver com isolamento russo.
06:57Então, assim, a gente precisa entender que a volatilidade cambial
07:01foi um dos grandes vetores da economia global no ano de 2025
07:05e ela provocou distorções como esse crescimento quase que artificial do PIB russo
07:12por conta da conversão para o PIB nominal.
07:15Inclusive, a Rússia não passou só o Brasil, né?
07:18Ela passou o Canadá e quase passou a Itália.
07:20Ficou muito próximo de passar a Itália por conta desse efeito cambial no PIB nominal.
07:26Olha, é curioso tudo isso.
07:29Professor, eu estava vendo que as projeções do FMI indicam o Brasil estagnado ali
07:34nessa 11ª posição por alguns anos, né?
07:37Tem alguma coisa que a gente possa fazer, alguma reforma,
07:42e que poderia mexer com esse resultado, mexer com esse posicionamento ali no ranking?
07:47É, algumas projeções... Vamos voltar para o PIB nominal.
07:50No PIB nominal, algumas projeções dizem que se tudo continuar igual,
07:54ou seja, o cenário que a gente... A Rússia passou Brasil e Canadá, né?
07:59É o que eu falei, quase passou a Itália.
08:01Se tudo continuasse do jeito que está, o real vai ser sem efeito nenhum na economia brasileira.
08:07A economia global está desacelerando, a economia global vai crescer menos em 2026 do que cresceu em 2025.
08:13Mas se tudo fosse um antinormal, o real, para nós alcançarmos a Rússia,
08:19ele teria que se valorizar em torno de 10% ao longo de 2026,
08:23e a Rússia continuar nessa condição em que ela está para nós passarmos.
08:28Você percebe que eu estou comparando o efeito cambial com o efeito cambial.
08:31Na verdade, a gente está fazendo uma conta contábil de apreciação de moedas.
08:41Existe um cenário, que é um cenário básico com o qual a gente trabalha,
08:44em que o Rússia vai passar por uma correção.
08:47Por quê?
08:47O próprio governo russo, essa ultravalorização do Rússia criou um problema para o governo russo,
08:54que é o exportador russo, apesar do isolamento, ele ainda precisa vender muito em dólar.
08:59E o rubro muito valorizado em relação ao dólar, pressiona as exportações, por exemplo.
09:04Então, a própria economia russo, o próprio governo russo começou a fazer correções
09:09para reduzir essa valorização do rubro.
09:12Então, o cenário é que, ao longo de 2026, a Rússia perca um pouco dessa supervalorização,
09:20e aí nós passamos a depender do desempenho dos demais países que estão ali no entorno,
09:24Canadá e Itália, e da nossa própria capacidade de atrair produtividade, investimentos,
09:31e do comportamento do real, se o real vai continuar se valorizando.
09:35Só que o real continuar se valorizando não depende só da nossa capacidade de crescimento.
09:40A gente precisa ver como o dólar se comporta em 2026,
09:43porque, como eu falei, no cenário do segundo semestre de 2025, o dólar se desvalorizou.
09:48E a gente tem espaço para o dólar continuar, para o real continuar se valorizando,
09:53pelo menos no início de 2026, no cenário básico com o qual a gente trabalha.
09:58Então, professor, tem um ponto que o senhor mencionou aqui,
10:00que eu queria aprofundar um pouco.
10:01Para empresas, para investidores aqui do Brasil,
10:05o fato de sair desse top 10 afeta a atração de capitais, de percepção de risco?
10:10Qual que é o impacto?
10:12O investidor maduro e que conhece o mercado,
10:15ele não se vê impactado por essa nossa queda do ranking.
10:22Mas a gente tem um efeito, como eu falei,
10:24que é o que a gente está monitorando ao longo do mês de dezembro,
10:27para perceber o quanto o Brasil vai ser afetado,
10:30se tem investimentos saindo do Brasil,
10:32imigrando para outros mercados de emergência, inclusive a Rússia.
10:36Então, assim, pode ter, mas ele é um efeito que é controlado e ele é mitigável,
10:41porque, como eu falei, o investidor experiente e os bancos que compram títulos de tesouro,
10:48os grandes investidores corporativos, eles sabem desse efeito que é contábil e cambial
10:57na apuração do PIB e eles sabem que a economia brasileira,
11:02uma economia que não está envolvida em conflito internacional,
11:05uma economia que cresceu mais do que a economia russa,
11:08uma economia que tem uma inflação que está sob controle,
11:12a gente termina o ano controlando um pouco a inflação acima da meta,
11:16mas controlando a inflação com uma certa estabilidade
11:20no que diz respeito ao desemprego,
11:23esse investidor sabe que o nosso único problema hoje é o problema fiscal.
11:26Então, assim, o investidor atento e informado,
11:29ele não vai reagir em relação a uma queda do Brasil no ranking
11:35por conta de uma apuração do PIB que é baseada na valorização das moedas.
11:42Tá certo.
11:42Quero agradecer Jorge Ferreira dos Santos, economista e professor do curso de administração da ESPM,
11:49pela entrevista ao vivo aqui nesta segunda-feira.
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