Donald Trump encerrou o maior shutdown da história dos EUA, mas o acordo só financia o governo até janeiro de 2026, abrindo possibilidade de nova crise. O professor Vitelio Brustolin, da UFF e pesquisador de Harvard, analisa o impasse político, os riscos econômicos e o impacto das tensões militares na região.
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00:00E o presidente americano Donald Trump sancionou o projeto de lei que pôs fim a um shutdown de 43 dias, o mais longo da história.
00:08O acordo aprovado na Câmara prorroga o financiamento do governo até 30 de janeiro de 2026, o que permite a reabertura da máquina pública.
00:17Ou seja, o Congresso dos Estados Unidos terá de aprovar um novo orçamento antes do fim de janeiro, justamente para evitar uma outra paralisação no início do próximo ano.
00:29Sobre esse assunto, eu converso agora com o Vitélio Brustolin, que é professor de Relações Internacionais da UFF, a Universidade Federal Fluminense, e pesquisador de Harvard.
00:39Professor, então, muito boa noite. Obrigado pela sua entrevista aqui no Conexão ao Vivo.
00:44Boa noite, Eduardo. Obrigado pelo convite. Boa noite a todos.
00:47A maior paralisação da história dos Estados Unidos, então, terminou.
00:51Mas, o que parece, pode ser um fim temporário, já que a lei, na verdade, prorroga o financiamento do governo só para o fim de janeiro.
01:01Na sua avaliação, não há uma dose exagerada de otimismo aí na praça, já que esse impasse pode retornar em pouco tempo?
01:09E também, aproveito para perguntar, existe uma solução definitiva para a crise orçamentária no horizonte próximo?
01:15Eduardo, a maior paralisação, a maior shutdown da história dos Estados Unidos, terminou com data para reiniciar,
01:24que é justamente após 30 de janeiro do próximo ano, daqui a pouco mais de dois meses.
01:30A questão é que os republicanos não querem ceder aos democratas um trilhão de dólares para auxílios de saúde,
01:40para programas de saúde dentro dos Estados Unidos.
01:43Esse shutdown foi agora temporariamente barrado, ou teve um cessar-fogo, vamos chamar assim,
01:54porque os republicanos concordaram, em dezembro, votar no Senado um projeto de ampliação dos benefícios para a saúde.
02:03Mas não há nenhuma garantia de que isso vai ser aprovado.
02:06Além disso, na Câmara dos Representantes, que é presidida por um republicano também,
02:11não existe nenhuma expectativa de que isso seja posto em votação.
02:18Então, o que nós temos na prática é um interrompimento do shutdown,
02:24mas que se não passar a legislação para a saúde, deve retornar e aí novamente afetar a economia dos Estados Unidos
02:31e também do restante do mundo, já que o mundo negocia em dólar, a partir de 30 de janeiro do próximo ano, Eduardo.
02:40Pois é, nas suas previsões, então, em fevereiro, pode haver um outro shutdown?
02:45E será que esse novo shutdown, se de fato acontecer, é um caso hipotético neste momento,
02:49ele deve ser mais difícil de resolver do que esse último, que durou 43 dias?
02:54Ah, bom, não há dúvida de que vai ser mais difícil, porque não se chegou a nenhum consenso nesse momento.
03:01E, além disso, os democratas foram criticados por aulas mais à esquerda dentro do partido,
03:07que diziam que eles estavam com vantagem nessa negociação e que cederam.
03:10As pesquisas de opinião demonstram que havia uma margem, sim, de apoio aos democratas,
03:17era bastante equilibrado, muitos culpavam também os republicanos.
03:24Mas os democratas cederam.
03:26Agora, são poucos os serviços que voltam e que terão o orçamento completo por um ano.
03:34Então, tem construções de militares, serviços do legislativo,
03:41pagamento de servidores públicos, retroativo.
03:45Há um compromisso também de que o Trump não vai demitir servidores públicos
03:50até a 30 de janeiro do ano que vem, porque o Trump tem sido acusado de usar o shutdown
03:55para fazer uma reforma administrativa que ele queria fazer nos Estados Unidos
03:59e se livrar de mais de um milhão de servidores públicos.
04:03Mas veja, Eduardo, a questão da saúde não foi negociada agora.
04:08Dificilmente vai ser votada e aprovada em dezembro.
04:10E provavelmente haverá, sim, um novo shutdown com o mesmo problema que teve dessa vez,
04:16que são os recursos para a saúde, que, na verdade, são também um alvo
04:20para as eleições de meio de mandato, de midterm, que saem em novembro do ano que vem.
04:25Os democratas têm feito, têm tido algumas vitórias,
04:29ganharam os governos nos Estados da Virgínia, de New Jersey,
04:32agora da Prefeitura de Nova Iorque,
04:35e eles esperam que esse shutdown, que deve acontecer novamente,
04:39se reflita em resultados políticos no ano que vem, Eduardo.
04:43Pois é, como você muito bem colocou,
04:45estamos falando de um cessar-fogo e não de um fim definitivo desse conflito.
04:51Agora, a crise do shutdown também levanta questões
04:54sobre a polarização política nos Estados Unidos e os desafios de governabilidade.
04:59De que maneira a atual dinâmica no Congresso americano
05:03reflete essa instabilidade política que nós também vemos aqui no Brasil,
05:09especialmente nessa divergência entre executivo e legislativo?
05:13É preciso haver uma reforma política nos Estados Unidos
05:16para evitar que impasses assim voltem a acontecer?
05:20Uma pergunta bastante interessante e complexa.
05:24Bom, nesse momento, o Trump ainda tem as duas casas,
05:27ele tem a Câmara e o Senado,
05:29muito parecido com o que aconteceu no primeiro mandato dele.
05:32Ele também começou o governo com a Câmara e o Senado.
05:35E nas eleições de midterm, que renovam toda a Câmara e um terço do Senado,
05:40ele perdeu a Câmara.
05:42A gente deve lembrar, ele falava muito da Nancy Pelosi,
05:45que era speaker da Casa dos Representantes, da Câmara dos Deputados,
05:50traduzindo para o nosso país.
05:53Ele criticava muito ela.
05:55Então, ele perdeu ali possibilidade de governança.
05:59Nesse momento, quem governa é o Mike Johnson,
06:02que, inclusive, enquanto o Biden era presidente,
06:06acabou cedendo em alguns pontos, ajudando a Ucrânia, por exemplo,
06:10apesar das críticas do MAGA, da aula mais radical dentro do Partido dos Republicanos.
06:16Agora, seria o caso de uma reforma política, que é a sua pergunta.
06:20O Trump lamentou isso.
06:22Ele queria reduzir a quantidade de votos necessários para derrubar o shutdown,
06:28porque seriam necessários 60 votos no Senado contra 40.
06:32Essa é a lei atual.
06:34Ele queria reduzir isso para ficar mais próximo da margem de vantagem que ele tem no Senado.
06:39E aí, isso foi visto com muita cautela dentro do Partido Republicano.
06:45Isso seria equivalente a um artefato atômico, já que a gente está falando de bomba,
06:50uma reforma nesse nível.
06:52Então, veja, ainda o Legislativo é um contrapeso ao Executivo também nos Estados Unidos.
06:58Eduardo, não seria exatamente o caso de uma reforma no Legislativo,
07:03mas sim de se cumprir a Constituição dos Estados Unidos.
07:05Nesse momento, muitas ações do Trump estão sendo julgadas,
07:09inclusive na Suprema Corte.
07:11Uma delas é o tarifácio, Eduardo.
07:13Além dessa questão do shutdown, eu quero te ouvir sobre um outro tema muito relevante
07:18das últimas horas, um fato que nós noticiamos há pouco aqui, inclusive no Conexão,
07:23que o secretário da Guerra dos Estados Unidos anunciou uma operação militar,
07:27ao que tudo indica, na América Latina, para conter um suposto narcoterrorismo.
07:33Na sua avaliação, o que deve acontecer nas próximas horas?
07:36Me parece uma notícia bastante grave.
07:39Bom, nas próximas horas é um prazo bastante limitado, mas é muito provável que, no médio prazo,
07:49ações militares sejam desenvolvidas pelos Estados Unidos dentro da Venezuela.
07:54Por que eu digo isso?
07:55Os Estados Unidos deslocaram seu maior porta-aviões, o Gerald Ford, para o Caribe.
08:01Esse porta-aviões estava no mar Mediterrâneo, antes ele estava na Ásia.
08:06Não é comum, não é trivial trazer essa embarcação e a sua força-tarefa,
08:12que é composta de três destroyers, um cruzador de mísseis, um submarino nuclear,
08:17mais todo o contingente, toda a marinha que já tinha sido deslocada para o Caribe nos últimos meses,
08:23mais dez caças F-35 e manobras de bombardeiros que têm sido feitas na região exercícios.
08:31Então, primeiro, isso é uma força de dez mil marinheiros e fuzileiros navais.
08:39Isso não é uma força que se usa para combater traficantes.
08:42Geralmente, traficantes são abordados por uma guarda costeira, que revista as embarcações
08:46e, se for o caso, prende os traficantes.
08:50Mais de 20 embarcações foram destruídas pelos Estados Unidos até o momento,
08:53mais de 70 pessoas foram mortas.
08:56Esse tipo de ação não é uma ação concentrada só em tráfico de drogas, evidentemente.
09:02É um sinal para a oposição que resta dentro da Venezuela
09:05de que, se houver uma insurgência, terá apoio dos Estados Unidos.
09:09E por quê?
09:10Porque os Estados Unidos, com esse contingente que é muito grande para combater o tráfico de drogas,
09:16também não têm um contingente suficiente para fazer uma impulsão em larga escala na Venezuela,
09:22como foi a invasão do Panamá em 1989 para derrubar o ditador Noriega.
09:27Então, nós não devemos ver, por conta do contingente limitado, uma grande invasão.
09:33Mas nós devemos ver, sim, operações terrestres.
09:35Isso está na mesa.
09:37Existem veículos anfíbios deslocados para a região
09:39para tomar campos usados, teoricamente, por traficantes,
09:45para bombardear instalações de traficantes.
09:47E aí, veja só, Eduardo, tudo isso sem autorização do Congresso.
09:51Mas se o Maduro tentar reagir, o Maduro tem 5 mil mísseis que a Rússia forneceu,
09:56tem 23 caças Sukhoi, SU-30, dos quais 12 estariam operacionais,
10:01se ele tentar reagir, ele estará dando um motivo para o Trump fazer guerra
10:06e aí, sim, derrubar de vez esse governo, Eduardo.
10:10Alerta importante, claro.
10:12América do Sul toda em alerta neste momento.
10:14Vitelli Brustolin, professor de Relações Internacionais
10:17da Universidade Federal Fluminense, pesquisador de Harvard.
10:20Muito obrigado pela sua presença, por essa entrevista virtual.
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