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O governo dos EUA chega ao 15º dia de paralisação, com republicanos e democratas travados no impasse sobre o orçamento. O professor Marcos Cordeiro Pires, da Unesp, analisa como o shutdown pode afetar a popularidade de Donald Trump e o cenário eleitoral de 2026, além dos impactos econômicos e diplomáticos dessa crise política.

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Transcrição
00:00Nessa quarta-feira, a paralisação do governo americano chegou ao 15º dia.
00:06Enquanto os serviços essenciais estão parados, o Senado segue no impasse sobre o orçamento federal.
00:14A crise ameaça se tornar o shutdown mais longo da história.
00:20Sobre esta disputa entre republicanos e democratas e quanto ela pode abalar o capital político de Donald Trump,
00:27eu converso agora com o Marcos Cordeiro Pires, que é professor da Unesp e pesquisador do INCT e meu.
00:38Perdão, a quem eu começo agradecendo pela presença aqui, professor Marcos.
00:44Bom, olhar para essa situação do shutdown são duas grandezas juntas, né, professor?
00:49Tem o desgaste político e os impactos na economia.
00:54Eu vou ficar com a questão, primeiro, da gente falar do desgaste político.
00:58Os impactos na economia, a gente já viu outro shutdown na primeira gestão do Donald Trump, né,
01:04entre 2017 e 2021.
01:07Houve o maior shutdown da história, mais de 30 dias, o governo federal ficou sem a decisão do orçamento
01:13e aí serviços não essenciais ficaram parados aí por mais de um mês.
01:18Isso não atinge muito a economia americana como um todo, a maior do mundo,
01:22mas atinge muito o bolso do americano, que deixa de receber salários alguns desses servidores.
01:28Então, olhando para o capital político, 2026, que já está virando a nossa esquina aqui,
01:34é ano de eleição legislativa nos Estados Unidos, né, os chamados mid-term elections,
01:40e vai ter uma disputa, não só entre democratas e republicanos,
01:46mas também uma tentativa quase que desesperada dos democratas,
01:50tentar retomar alguma liderança das casas, ou a casa dos representantes, os deputados,
01:55ou o Senado, por enquanto, dominado pelos republicanos,
01:59mas o Donald Trump não é muito unânime entre os próprios republicanos.
02:06Depois dessa minha longa premissa, eu chego na pergunta aí.
02:09Obviamente que essa questão do shutdown vai aparecer na campanha.
02:12O Donald Trump, que é muito verborrágico, sabe lidar muito bem com as mídias sociais,
02:18com propaganda política, com os discursos para os seus correligionários, apoiadores e fãs,
02:23está jogando a culpa no colo dos democratas.
02:27E aí que fica a pergunta, está pegando esse discurso?
02:30Os democratas vão conseguir reverter essa questão ou, no final da conta,
02:36na impressão do eleitor médio, isso vai ficar como culpa dos democratas?
02:41Professor Marcos Cordeiro Pires, boa noite mais uma vez.
02:46Boa noite, Marcelo. Muito obrigado pelo convite e de conversar com a sua grande audiência.
02:52É uma questão que a gente tem que considerar dentro do contexto,
02:57daquilo que é do contexto político norte-americano.
03:00Porque numa condição em que uma sociedade é polarizada,
03:05em que a sociedade se divide em bolhas, e que uma não comunica com a outra,
03:12esse tema vai ficar diluído dentro de cada bolha.
03:19Por exemplo, os republicanos dizendo que querem aprovar
03:22um grande pacote de mudança tributária, redução de impostos,
03:27enquanto os democratas dizem que toda essa política do Trump
03:33visa retirar direito das famílias, particularmente as famílias
03:37que dependem muito daquilo que é chamado de Obama Care,
03:43que é o subsídio que o governo dá para as pessoas obterem acesso à saúde.
03:48Então, a coisa fica nesse nível, cada bolha explorando as fraquezas do adversário,
03:57e no final, isso não aparenta, pelo menos na forma que a gente vê,
04:03não aparenta como uma solução simples.
04:05Porque o shutdown, ele está dando um prejuízo de mais ou menos 15 bilhões de dólares por dia
04:13para a economia norte-americana, ele está prejudicando bastante os servidores federais,
04:19que nesse período em que não tem orçamento, eles não podem receber salário.
04:23Existem ameaças do Trump de não pagar o período em que esses trabalhadores
04:29não estavam sendo empregados.
04:34Hoje, a Suprema Corte, por exemplo, já retirou, desculpa, a Suprema Corte não,
04:40uma juíza da Califórnia já retirou a possibilidade da ameaça do Trump
04:44de demitir funcionários públicos em distritos democratas.
04:49A impressão que tem nessa questão extremamente polarizada
04:53é que esse shutdown vai demorar alguns dias para se resolver,
05:00mas aparentemente é um impasse muito grande que não vê,
05:05a gente não vê sinais nem do governo Trump, nem dos senadores democratas
05:13de que vão roer a corda e chegar a algum nível de entendimento, Marcelo.
05:17Pois é, professor Marcos, eu acho que todo mundo, eu, o senhor, quem nos assiste,
05:22tem um juízo de valor a respeito do Donald Trump, seja positivo, seja negativo,
05:27mas algo que é um consenso é que ele é um político midiático, né?
05:31Ele foi construído na frente da televisão, ele foi apresentador de reality shows,
05:37ele se envolveu até com luta livre, ele sabia tão bem lidar ali com o palco, com o picadeiro,
05:43ele fala muito bem para as câmeras e para o público presencialmente.
05:48O que ele deixou muito claro é que ele vai apertar a corda, como o senhor está falando,
05:52cada um está roendo de um lado, mas ele disse, olha, eu não vou esticar,
05:57vou deixar estourar para o outro lado para sair com algum tipo de benefício.
06:01A gente pode falar de política no Brasil, nos Estados Unidos, no Chile, no México, no Japão, né?
06:05O eleitor, ele vota com a parte sempre muito mais sensível, a parte mais sensível do seu corpo, né?
06:11Que é o bolso, né?
06:13Sempre é o bolso que manda.
06:15O servidor público, como a gente está falando, que é esse que tem um primeiro impacto agora,
06:21não está recebendo salário.
06:23Isso bate no comércio depois de uma escala secundária com uma queda de consumo.
06:27Estamos falando também de um país que tem PIB na casa do trilhão, da dezena do trilhão de dólares,
06:33de uma população de 345 milhões de pessoas.
06:36Então, o servidor público, ele não gera aquele mega impacto.
06:40Por mais que o senhor tenha trazido esse dado, que é muito importante, 15 bilhões de prejuízos por dia, né?
06:46Isso, na conta final, não tem um grande impacto.
06:50Mas no coração e na mente daquele que vai sentir a fome, que vai sentir no bolso o dinheiro,
06:58isso vai mudar, talvez, na eleição.
07:01E aí eu fiz, de novo, essa enorme premissa, para chegar para uma outra pergunta,
07:05professor Marcos, eu vejo uma certa crise de identidade na política americana,
07:12não que isso não esteja refletindo em outras democracias,
07:15mas vamos olhar para a política americana, que o que eu estou chamando de crise de identidade, né?
07:20Eu não consigo enxergar uma grande liderança ou grandes nomes dos democratas
07:26para fazer frente a um MAGA, esse movimento Make America Great Again,
07:32que é um recorte político dentro dos próprios republicanos,
07:35que tem uma enorme força.
07:36A gente tem o governador Gavin da Califórnia,
07:41que tem usado umas táticas de Donald Trump ali de ser mais jocoso nas redes sociais,
07:49mas eu não vejo ali um grupo de liderança forte dos democratas
07:55que possa fazer frente a essa capacidade retórica, política dos republicanos liderados pelo Donald Trump.
08:04Resumindo minha pergunta, o senhor acha que eles podem, eles, os democratas,
08:08podem perder o ano que vem para eles mesmos?
08:12Olha, a sua observação é muito importante porque ela é muito colada com a realidade.
08:19A popularidade do Donald Trump, ela está em níveis baixíssimos,
08:25inclusive comparado com o próprio primeiro mandato dele.
08:29No entanto, os democratas não conseguem aproveitar essa falta de popularidade do Trump
08:35para se colocar como uma alternativa viável,
08:39porque os democratas nas pesquisas também não estão aproveitando.
08:44Mas a gente, como você bem lembrou, a questão relacionada ao bolso,
08:48eu creio que os americanos vão sentir daqui até as midterms
08:54determinados problemas econômicos que serão muito agudos.
08:59Então, por exemplo, a questão da inflação
09:02é algo que vai impactar negativamente a popularidade do Trump daqui até as eleições,
09:08porque os efeitos das tarifas estão começando a aparecer agora.
09:12Então, esse é um problema que é bastante sério, que pode influenciar.
09:20Por outro lado, a gente tem que olhar que a eleição nos Estados Unidos
09:25não é uma eleição direta, como a gente está acostumado aqui,
09:28em que você vai saber quem é o vencedor, sabendo qual era a popularidade.
09:35Porque as questões são muito restritas ao espaço local,
09:42ao distrito onde é eleito cada deputado e também aos estados
09:48em que elegem senadores, já que não serão todos os estados.
09:54Então, os democratas, para além dessa falta de comunicação,
09:58nesse momento em que o Trump monopoliza todos os holofotes,
10:04um parênteses dizer que o Donald Trump cria uma manchete por dia.
10:09Todo dia ele cria uma manchete que chama a atenção para si.
10:15Nos faz lembrar, por exemplo, o antigo político paulista que dizia
10:20falem de mim, bem ou mal, mas falem.
10:23Essa tática vale para o Trump.
10:25Então, fechando o parênteses,
10:29entra a questão do redistritamento que está sendo feito.
10:33Para além das questões midiáticas, do discurso político,
10:38da assertividade do Trump, existe uma virada de jogo
10:42quando, no meio de uma década, se muda o mapa do distrito eleitoral,
10:48com vistas a transformar as maiorias.
10:51Por exemplo, se você tivesse um distrito que fosse predominantemente latino
10:56ou afro-americano, a possibilidade de vitória de um democrata seria maior.
11:04Quando se organiza o redistritamento, é como se você tirasse
11:08aquele meio de uma pizza, dividisse em cinco distritos
11:12e garantisse o voto do republicano.
11:15Então, esse processo de redistritamento está ocorrendo no Texas,
11:19está ocorrendo em outros estados também,
11:22em que o Trump busca tirar uma vantagem ou outra desse redesenho de distrito,
11:28porque, em tese, isso é feito a cada dez anos após o CERS.
11:33Então, a última modificação foi em 2021.
11:37Teoricamente, deveria ocorrer em 2031.
11:39E aí, o jogo está sendo mudado, como a gente diz aqui no Brasil,
11:44por meio do tapetão.
11:46E os democratas, eles correm esse duplo risco
11:49de não ter uma coerência.
11:51Como você falou, o governador da Califórnia não se estabelece fora
11:54do ambiente progressista.
11:57Então, você pode falar assim, naquela bolha progressista,
12:00ele pode surgir como um bom nome.
12:02Mas ele não entra nos independentes, ele não entra naquelas pessoas
12:06que começam a duvidar, por exemplo, da liderança do Trump.
12:11Consequentemente, não vai ser muito fácil para os democratas
12:15vencerem as eleições do ano que vem e terem o controle
12:18de, pelo menos, uma das casas, ou a Câmara dos Representantes
12:23ou o Senado, Marcelo.
12:24Professor, para a gente encerrar, a gente tem mais um minutinho
12:27de conversa, só uma pincelada.
12:28Eu sei que vou fazer uma pergunta complicada,
12:30que é difícil fazer numa resposta curta.
12:33Mas eu preciso olhar para a política externa americana.
12:36Uma coisa, acompanhando, e eu faço isso há muitos anos,
12:39acompanhando a política americana e as eleições,
12:41já percebi uma coisa, que política externa não dá muito voto,
12:45mas tira.
12:46Então, agora o Marco Rubio vai se encontrar
12:50com o chanceler brasileiro Mauro Viana,
12:53uma reaproximação com um país grande aqui no Cone Sul,
12:56que é uma parte do globo meio afastada ali dos interesses
12:59de Washington, mas está se alinhavando o encontro
13:03de Donald Trump com Xi Jinping, uma vez que o encontro
13:06de Donald Trump com Putin falhou, pum, virou fumaça,
13:09ninguém mais falou disso, né?
13:11Essa política externa pode dar uma chance aí
13:14do Trump construir um discurso ao seu favor e falar,
13:17olha, aquele nosso grande inimigo, a China,
13:21agora está debaixo da ameaça.
13:22Ele vai conseguir, talvez, usar esse benefício ao seu favor?
13:28Olha, em tese, Marcelo, se por acaso ele conseguir
13:32um acordo com a China, diminuir as tarifas,
13:35diminuir a pressão sobre os consumidores norte-americanos,
13:39conseguir aliviar, por exemplo, a questão das terras raras,
13:43para conseguir garantir o suprimento para os Estados Unidos,
13:47ele pode colocar sim, aparecer com a foto,
13:50da mesma forma como ele está querendo aparecer na fotografia
13:53com relação ao cessar fogo na faixa de Gaza.
13:57Agora, tem que ter tempo, né?
14:01Porque não adianta, por exemplo, esticar a corda com a China
14:04sem que isso apareça diretamente para o consumidor norte-americano
14:09de que, de fato, todas as negociações do Trump
14:12foram feitas para beneficiá-lo.
14:15Se isso aparecer até meados do ano que vem,
14:19eu creio que sim, né?
14:21Esse é um ativo muito importante que o Donald Trump pode ter.
14:24No entanto, a política dele é a política de desprezar
14:29negociações multilaterais,
14:31é a política de privilegiar exclusivamente o interesse americano.
14:35E diante desse fato, ele teria que organizar
14:39uma retórica muito interessante para falar
14:43que ele deu a volta no mundo para chegar no mesmo lugar
14:46em que o consumidor americano está sendo beneficiado,
14:50em que a economia americana esteja sendo beneficiada,
14:53e em que o Partido Republicano pode aparecer
14:57como o grande vencedor desse embate.
15:00Mas não é simples, como você bem mencionou, né?
15:02A gente poderia conversar aqui por mais três horas,
15:06que ainda assim não esgotaríamos a discussão.
15:08Então, eu vou convidar o senhor para nós estendermos
15:11essa conversa em umas próximas oportunidades, no plural.
15:15Espero que tenha sido a nossa primeira
15:18de muitas conversas aqui em público.
15:20professor Marcos Cordeiro Pires, que é professor da Unesp
15:24e pesquisador do INCT INEU, no interior de São Paulo.
15:29Obrigado, professor. Boa noite e até uma próxima.
15:31Boa noite e até uma próxima.
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