- há 6 semanas
01-Diploma de Saída
Milhares de jovens portugueses com ensino superior emigram todos os anos.
A oportunidade de melhores salários e progressão de carreira leva os diplomados a escolher outros países como nova casa.
Em Portugal, o Estado faz contas ao investimento perdido e as empresas tentam adaptar-se aos novos tempos.
Estamos a comprometer o futuro?
Duração: 26min
Género: Cultura
Class.: Todos
RTP1
Milhares de jovens portugueses com ensino superior emigram todos os anos.
A oportunidade de melhores salários e progressão de carreira leva os diplomados a escolher outros países como nova casa.
Em Portugal, o Estado faz contas ao investimento perdido e as empresas tentam adaptar-se aos novos tempos.
Estamos a comprometer o futuro?
Duração: 26min
Género: Cultura
Class.: Todos
RTP1
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AprendizadoTranscrição
00:00Portugal tem uma imigração que muitas pessoas chamam estrutural.
00:11A saída pura de pessoas em idade de trabalhar é um empobrecimento para o país e para os que cá ficarem.
00:20Se saem, alguma coisa os fez sair.
00:24Se um engenheiro puder ser engenheiro, se um arquiteto puder ser arquiteto, ele vai atrás desse sonho.
00:37Ir, ficar ou voltar são as opções em cima da mesa de quem se confronta com a imigração.
00:43Em 2023, três em cada quatro pessoas que imigraram de forma permanente tinham menos de 40 anos.
00:49Aliás, historicamente são os jovens que mais imigram, mas desta vez imigram mais qualificados.
00:55A verdade é que há uma década apenas 30% dos imigrantes portugueses tinham um curso superior.
01:01Em 2021, o número de diplomados já representava quase metade do fluxo migratório.
01:06Será Portugal incapaz de reter talento jovem ou estamos perante um fenómeno normal num mercado de trabalho globalizado?
01:19Este ano é um ano decomorativo, são 10 anos na Holanda.
01:40Sim, faz em julho 10 anos que estou aqui.
01:42A imigração nunca foi uma coisa que estivesse muito longe, portanto eu mesmo ainda na licenciatura
01:50saí e fui fazer Erasmus na Inglaterra, portanto nunca foi uma ideia que eu pusesse completamente
01:56de parte.
02:02Eu estou de Aveiro e estudei Engenharia de Materiais em Aveiro, na Universidade de Aveiro
02:06e a seguir, acabou o meu estágio na empresa, entrei pela investigação, também na Universidade
02:12de Aveiro, e acabei por fazer uma bolsa de investigação e a seguir o doutoramento.
02:19A seguir ao doutoramento fiz ainda um ano de bolsa também de investigação, mas na
02:24FELP, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e depois a seguir a isso, vim para
02:29aqui, vim para o Leander.
02:34É difícil teres a estabilidade daquilo que é um contrato para a vida como investigador
02:40dentro das bolsas.
02:41Há muita gente que faz a investigação em Portugal e muito bem, porque de facto fazemos
02:44coisas muito interessantes, mas depois não há mercado se calhar para as absorver, para
02:49poderes ter aquilo que é a carreira da vida, com aquela expectativa de evoluir-se ao longo
02:53dos anos, é difícil.
02:55Há três razões para a imigração, portanto para a saída. Há uma que poderíamos dizer que são por boas razões, que é a busca de
03:25novas novas experiências, a busca de... o emigrar também nos vai trazer competências, vai nos trazer conhecimento.
03:33Há uma outra razão, que poderíamos dizer que é por boas razões, que tem a ver com a oportunidade. De facto, há profissões que são melhor
03:42emigradas no exterior. Isso vai ser sempre assim e vai continuar a ser assim. Mas depois temos uma outras razões, que nós podemos dizer que é por más razões. A pessoa que emigra não porque vai atrás de uma oportunidade, mas porque é empurrada pelo seu país.
03:57No passado recente, o Reino Unido era um grande destino, mas com o Brexit perdeu um pouco de força, mas foi compensado, por exemplo, pela Irlanda e pela Holanda, para onde vai agora muita gente.
04:27Pedro, é possível comparar os imigrantes portugueses de hoje, os que saem, com os que saíram no século XX?
04:45Claro que é possível, até porque alguns dos que saem agora também saíram no século XX e voltaram a sair agora. Portanto, é sempre possível comparar.
04:51Imigra-se para trabalhar, ou imigra-se por uma questão de carreira, ou imigra-se para ter um rendimento mais alto do que se obteria aqui, como no passado.
05:00Talvez a diferença hoje seja que, de facto, há menos população a sair em momentos muito curtos, com a exceção do que aconteceu na década passada, mas há um contínuo de imigrantes ao longo do tempo.
05:12Como é que lá fora se olha para o português que vai trabalhar para o estrangeiro? Como é que olha para os nossos imigrantes?
05:17Sempre se olhou profissionalmente como aquele trabalhador que vem, executa as tarefas e é pouco reivindicativo, e se mantém-se.
05:26Hoje, olha-se para eles como sendo qualificados.
05:32Se nós olharmos para os nossos níveis de espolarização, em 1950, as taxas de analfabetismo,
05:38tínhamos taxas de analfabetismo comparáveis às do centro da Europa um século antes, ou seja, em 1850.
05:45Quando chegamos ao ano 2000, tendo a viragem do século, tínhamos taxas de espolarização semelhantes à Alemanha dos anos 30, do século XX, portanto 70 anos antes.
05:56Portugal, nesse aspecto, é um caso de sucesso nos últimos 50 anos.
05:59E é verdade a conclusão de que são os mais qualificados que saem do país?
06:15Não. São mais qualificados os que saem do que o passado.
06:19Os que saem, mas nesses não são a maioria dos que saem.
06:20Não são a maioria dos que saem e não sabemos bem, na verdade.
06:23Talvez sejam já a maioria, porque na verdade 50% dos jovens portugueses hoje já estão no ensino superior ou concluem um curto.
06:31E, portanto, isso significa que se saírem jovens, já sairão deste grupo.
06:34O que não quer dizer é que todos os muito qualificados saiam e não fica cá ninguém.
06:38Ainda nos faltam dados para ter certezas.
06:40Faltam-nos muitos dados porque ninguém comunica que vai sair.
06:42Agora sou, então, gestora de qualidade, gestora de qualidade do produto numa missão muito específica, que é o ExoMars,
07:00com um rover que se chama Rosalind Franklin e com o objetivo da missão é tentar encontrar sinais de vida passada em Marte.
07:12Nós temos 46 portugueses nacionais entre os ESA staff e 70% do portugueses trabalham em engenharia e ciência.
07:27É o todo o package que faz o oferecimento tão atrativo.
07:32ESA, em geral, tem que oferecer muito atrativos salários.
07:37E isso inclui a insurância médica, contribuições para o pensamento de pensamento,
07:43anual, a casa de casa.
07:45Existem benefícios que podem não ser óbvios, no primeiro lugar, mas que são muito importantes para a qualidade da vida.
07:51Se nós estivermos a perder escolarizados ou estivermos escolarizados a sair em áreas muito específicas,
08:03por exemplo, imaginemos que nós estamos, a maioria da imigração, em áreas altamente específicas de desenvolvimento tecnológico.
08:11Isso tem um impacto grande sobre o país.
08:13Portanto, mas para ter esse debate é preciso mais números.
08:15Nós temos números, mas precisamos de melhorar estes números,
08:18precisamos perceber melhor a escolarização de quem entra e quem sai.
08:21Nós temos dados sobre a imigração, mas não são dados suficientemente finos ou suficientemente apurados
08:28que nos permita claramente perceber o nível dos fluxos de imigração.
08:33E esse é um problema.
08:38O que acontece com Portugal não é tanto haver muita saída de jovens qualificados,
08:44é entrar em poucos jovens qualificados.
08:45Porque se eu olhar para a Alemanha, se eu olhar para o Reino Unido e para outros países, para a Suécia,
08:50o que eu verifico é que é quase compensada, ainda algumas vezes mais compensada, a saída com as entradas.
08:57Agora uma nota.
08:58Portugal é o oitavo país, quero que é o oitavo país no mundo,
09:03que tem uma maior proporção de nacionais a viver no estrangeiro.
09:07Ou seja, tem uma taxa de imigração superior, cerca de 25%.
09:10Somos dos países do mundo onde mais pessoas estão a viver fora.
09:14Será que é isso que queremos para o futuro?
09:15Sabe-se pouco sobre quem imigra, já que quem decide sair não tem de informar qualquer entidade.
09:33Mas que qualificações têm, o que vão fazer, o que procuram os jovens que decidem imigrar.
09:38Em 2023, um jovem português, dos 25 aos 34 anos, recebia em média um salário bruto de 1.350 euros.
09:46É claro que os diplomados ganham mais, mas o custo de vida não para de aumentar
09:50e a ideia de comprar uma casa parece cada vez mais distante.
09:54Feitas as contas, ficar em Portugal ainda é uma opção?
09:57Os salários portugueses, para os mais jovens, com ensino superior, são cerca de dois terços da média europeia.
10:09Portugal continua a estar naquilo que chamamos a casa da Europa.
10:28Portanto, superando apenas países, alguns países da Europa de Leste ou Grécia, por exemplo.
10:33Estudar continua sempre a compensar, ou seja, em média, ir para o ensino superior
10:40continua sempre a corresponder a salários mais altos no mercado de trabalho
10:45e também a menor desemprego, ou seja, os dois efeitos.
10:48Mas, obviamente, como temos muito mais pessoas a ir para a universidade,
10:51significa que há muito mais oferta de licenciados e mestrados e mestres do que existiam há uns anos,
10:57o que significa que o prémio salarial tem vindo a diminuir.
11:03Portugal é um país relativamente barato quando comparamos com os países da OCDE com salários mais elevados,
11:27mas eu estou convencido que a diferença de custo de vida tem diminuído muito mais depressa
11:34do que a diferença entre salários.
11:39Eu cheguei em setembro de 2023, portanto, já há mais de um ano e meio.
11:57Trabalhava numa empresa como consultora de inovação e trabalhava 100% remote desde Portugal.
12:04E, a certa altura, o meu manager perguntou-me se eu queria vir viver para Amsterdã e eu disse que sim.
12:14Os salários aqui, obviamente, são mais altos, toda a gente sabe disso.
12:17O custo de vida é mais alto, mas eu acho que, pelo menos do que eu tenho observado,
12:21em Portugal o custo de vida está bastante alto.
12:23Eu sei quanto é que os meus amigos ganham em Portugal e eu também vou a Portugal com alguma frequência
12:28e eu não acho que o custo de vida seja assim tão baixo.
12:36Os jovens enfrentam os baixos salários por um lado,
12:38enfrentam uma crise habitacional do outro lado
12:41e enfrentam também uma cultura empresarial bastante conservadora e adequada.
12:46Mas a maior parte das cidades europeias, hoje em dia, têm custos de habitação muito elevados.
12:53A única diferença que eu consigo teorizar é que irá oferir um salário superior
13:04e, portanto, a sobrecarga com as despesas de habitação não será tão elevada.
13:11Quando eu digo quanto é que pago de renda às pessoas em Portugal,
13:17ou pagas imenso, mas, comparativamente, a porcentagem do meu salário que vai para a renda
13:22aqui é mais baixa do que a porcentagem do meu salário que iria para a renda em Portugal.
13:32Os baixos salários em Portugal, sobretudo em alguns setores,
13:35são reflexos da produtividade baixa que estes mesmos setores têm.
13:38Uma coisa que motiva a baixa produtividade e que também se transmite para os salários
13:44é, de facto, o facto do nosso modelo económico assentar muito em setores de baixa qualificação,
13:50portanto, que têm pouco valor acrescentado bruto,
13:52como é o caso, por exemplo, do turismo, dos setores do alojamento, de restauração,
13:56têm pouco valor acrescentado para a economia e assentam, sobretudo, em baixas qualificações.
14:02As empresas de maior dimensão que tendem a ser mais produtivas e pagam melhores salários
14:06em Portugal são de muito menos do que comparando-se dos países pares.
14:12O crescimento do nível de qualificação escolar tem sido superior, mais rápido,
14:18do que aquilo que tem sido o aumento da produtividade.
14:20Se não se gera valor, dificilmente se podem aumentar salários.
14:24Um dos fatores é a fraca qualificação dos nossos gestores,
14:27e, portanto, isso é algo que no panorama europeu é bastante saliente.
14:31Eu, quando cheguei aqui, pensei que ia ficar no emprego em que estava durante bastante tempo.
14:58E, depois, houve uma reestruturação interna e eles disseram-me que,
15:03quando o meu contrato acabasse, em setembro,
15:05eles não iam renovar porque iam fechar esse departamento.
15:11Na minha cabeça ia ser super difícil arranjar emprego
15:14e a verdade é que foi relativamente fácil.
15:17A economia portuguesa, para aumentar a sua produtividade,
15:28necessita ter empresas que usem mais tecnologia,
15:30que estejam mais ligadas à revolução digital que está em curso,
15:33que estejam mais ligadas, por exemplo, também à transição energética
15:37e à transição ambiental,
15:39que também precisa de recursos humanos qualificados.
15:41E, portanto, há aqui uma necessidade da economia de ter estes jovens cá em Portugal,
15:46por este motivo.
15:47Por um lado, porque o futuro assim do exige,
15:49mas, por outro lado, porque o presente também.
15:51Estas empresas, para darem tal salto de produtividade,
15:54também precisam deste talento.
15:57Já não são apenas os salários que motivam os diplomados a sair.
16:01Hoje há algo que os jovens querem mais,
16:03mas não conseguem comprar, que é tempo.
16:05Assim procuram novas formas de trabalho com mais flexibilidade.
16:08A questão é se as empresas estão preparadas para isso.
16:19Eu aqui não perco um segundo de vida no trânsito.
16:26Portanto, o meu trabalho fica a oito minutos de bicicleta da minha casa.
16:30Isso é uma coisa que eu acho que agora,
16:33se calhar, dá um bocadinho como garantida,
16:35e eu em Portugal não tinha.
16:36Eu em Portugal, a minha experiência era pegar no carro.
16:40Supostamente, a viagem de minha casa,
16:41quando trabalhava no Porto e tinha aqui de carro,
16:43eram 25 minutos.
16:46Às vezes demorava uma hora a chegar ao trabalho.
16:49E era uma hora do meu dia que perdia.
16:52E aqui isso não acontece.
16:53Coimbra é extremamente pobre na questão dos transportes.
17:03Nós temos muitas áreas industriais,
17:05aqui à volta de Coimbra,
17:07de indústria,
17:07que temos que ter carro obrigatoriamente.
17:10Portanto, eu desloco-me de carro sempre para o trabalho.
17:13Eu sou licenciada em farmácia.
17:22Ainda exerci durante quatro anos a função,
17:25mas Portugal não é um país para trabalhadores na área da saúde.
17:31Portugal não dá garantias,
17:33Portugal não dá condições.
17:35Eu ainda fui aguentando quatro anos.
17:37Na altura, muita pressão de pais e namorado para não emigrar.
17:42Pensei várias vezes no assunto.
17:44E ao fim de quatro anos,
17:46já tinha tudo organizado e tudo decidido para ir.
17:49É um facto.
17:50Até que me apareceu um panfleto mágico.
17:55Que fez com que eu fosse para um curso de requalificação,
17:59pós-graduação para a engenharia.
18:01E que me garantia um estágio de um ano.
18:04Garantia de uma empresa.
18:05Que acabou por, galhar, ser aqui na Crítica.
18:09Desde que eu entrei, é um mundo completamente novo.
18:18Filipe, a Critical Software.
18:20Ouvimos o nome, queremos saber faz o quê e para quem.
18:24Ora bem, a Critical Software desenvolve software para sistemas críticos,
18:28como o nome indica.
18:29Crítica é não poder falhar.
18:30Não podem falhar.
18:31Sistemas que não podem falhar.
18:32Trabalhamos para indústrias das mais exigentes no planeta.
18:37Desde logo a indústria aeroespacial, aeronáutica, dos transportes,
18:41indústria automóvel, banca, seguros.
18:43Áreas muito sensíveis.
18:45Como é que definiria a cultura da empresa, o ambiente,
18:48aquilo que se procura dar de condições às pessoas que trabalham aqui?
18:50Creio que é um ambiente e uma cultura de muita flexibilidade.
18:53Portanto, nós procuramos sempre dar aos nossos colaboradores
18:56autonomia para escolherem aquilo que mais lhes convém.
19:01Desde logo os horários?
19:02Desde logo os horários.
19:03Portanto, cada um escolhe os horários para iniciar, para terminar.
19:08Portanto, têm a possibilidade de trabalhar alguns dias de casa,
19:11noutros dias virão ao escritório.
19:13Não têm de picar o ponto.
19:14Não têm de picar o ponto.
19:15Em Portugal, mantemos ainda uma cultura organizacional
19:24muito orientada para as longas jornadas de trabalho,
19:27portanto, mesmo para a valorização das horas extraordinárias de trabalho,
19:31o que não acontece noutros países.
19:33E é mesmo estranho para nós tentar perceber isto,
19:35porque é tão comum em Portugal.
19:37E, efetivamente, os níveis de produtividade ainda assim
19:39acabam por ser mais elevados em países como a Alemanha
19:42e com países baixos do que em países como a Grécia,
19:45onde se trabalham mais horas.
19:46Porque o número de horas de trabalho não é sinónimo de produtividade.
20:05Eu entrei na Critical para a recepção do edifício aqui de Coimbra.
20:11Neste momento, estou a liderar a área de recursos humanos da Critical,
20:15portanto, acho que isso ilustra um pouco esta mentalidade diferente
20:19que esta empresa tem de valorizar o mérito, a dedicação, o compromisso.
20:28Hoje em dia, de facto, os jovens valorizam muito mais do que apenas o salário.
20:33Valorizam oportunidades de progressão na sua carreira,
20:35valorizam a flexibilidade laboral, a oportunidade de terem trabalho remoto,
20:38valorizam diferentes experiências culturais,
20:41valorizam, de facto, ter trabalhos interessantes
20:44que lhes permitam atingir, ser intelectualmente estimulantes, muitas vezes.
20:50E flexibilidade rima facilmente com produtividade?
20:56Essa é uma dúvida que se coloca a ser.
20:58Rima, sem dúvida que rima, Carlos.
21:00Sentimos isso, sentimos que ao darmos esta flexibilidade às nossas pessoas,
21:04acaba por, efetivamente, torná-los colaboradores mais motivados
21:08e, consequentemente, portanto, retê-los.
21:12Essa é uma questão chave.
21:13A capacidade de reter trabalhadores, gente qualificada,
21:16é óbvio que a questão salarial será sempre crucial,
21:18mas há outras dimensões que importam neste caso?
21:21Sim, claro que sim.
21:22Aquilo que também é conhecido por salário emocional, se quisermos.
21:27Portanto, todos estes benefícios, esta flexibilidade.
21:30Alguns outros que temos, por exemplo, os dias de férias adicionais,
21:33licenças parentais alargadas pagas pela empresa,
21:36há possibilidade de licenças sabáticas também.
21:39Realizar algumas refeições.
21:41Algumas refeições aqui na empresa.
21:42Temos as nossas masterchefs a cozinharem para os nossos colegas.
21:46E até percebi uma banda musical.
21:47E até uma banda musical.
21:48Da casa.
21:49Sem dúvida, sem dúvida, Carlos.
21:51Se é certo que há muitos portugueses que se sentem empurrados para fora do país,
22:13muitos outros decidem simplesmente dar esse salto.
22:17As viagens estão mais rápidas, mais baratas e são mais convenientes.
22:21E mesmo a saudade já não aperta tanto, graças às redes digitais que nos unem.
22:26Num mundo cada vez mais global,
22:28e onde as fronteiras dizem menos às novas gerações,
22:31será a mobilidade um caminho sem volta.
22:33Os jovens, hoje em dia, encaram, de facto, o trabalho e o estudo de fora de forma muito mais natural.
22:45E, portanto, vendo não só como oportunidade de ter melhores rendimentos,
22:49mas também pensando nas vantagens de diferentes experiências culturais.
22:52Quanto maior é o nível de escolaridade da pessoa, também mais móvel ela tende a ser.
22:56Até porque a oportunidade, como o programa Erasmus, os programas europeus,
23:00hoje em dia é mais fácil viajar porque é mais barato, com as low cost, etc.
23:04Isso também permite que haja menos barreiras à mudança de local de trabalho ou de habitação.
23:10Hoje em dia é muito mais fácil circular na Europa do que era há 20 ou 30 anos atrás.
23:14Eu, quando estava a estudar, vivi fora durante seis meses,
23:22quando estava a fazer Erasmus, e na altura lembro-me de pensar
23:24ok, definitivamente eu preciso desta experiência, eu quero viver fora.
23:29Acho que realmente isso foi algo que impactou depois a minha decisão de sair de Portugal, sem dúvida.
23:40Eu aqui sou extremamente feliz, eu adoro viver aqui.
23:42E se saísse do Amsterdão, não seria para voltar para Portugal.
23:45Portanto, se saísse do Amsterdão, seria para ter a experiência de viver em outras cidades.
23:55Importa muito nós não perdermos muitas pessoas que têm um diploma de ensino superior,
24:00porque o investimento que o país faz nessas pessoas é muito grande.
24:03Mas eu também não quero perder um mestre construtor de guitarras,
24:07ou um mestre eletricista, porque esses também nos fazem falta.
24:11Quando olhamos para fora, não podemos focar-nos só naqueles que têm altas qualificações,
24:17que são importantes, mas também naqueles que têm qualificações que são de tal forma marcantes,
24:22que de facto, sem eles somos outra coisa.
24:25Sempre que eu vou a Portugal já tenho um menu feito com aquilo que quero comer,
24:34e pá, sardinhas assadas.
24:35Sim, sardinhas assadas na brasa.
24:38Se conseguisse, era o que eu trazia, com pimentos assados e batata cozida.
24:41Temos mais de 2 milhões de imigrantes no mundo, ou seja, um sexto dos portugueses vive no estrangeiro.
25:04A França é o país com mais residentes lusos, mas um em cada 13 emigrou para fora da Europa.
25:10As últimas décadas mudaram o perfil da imigração, a mala já não é de cartão,
25:14e leva o diploma dos jovens que procuram uma vida melhor lá fora.
25:18A questão é perceber se é possível garantir uma vida melhor, também cá dentro.
25:22Sempre quis fazer alguma parte do meu percurso académico fora de Portugal.
25:35Depois que estivesse em contato com colegas e professores de todos os cantos do mundo,
25:40como Itália, América, Grécia, Inglaterra, Islândia, Polónia, Austrália,
25:45o que me faz sentir que vou sair daqui com uma riqueza cultural e de aprendizagem mesmo muito grande.
25:50Uma das melhores coisas de viver fora é o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
25:54E viajar é super fácil, visto que estamos no centro da Europa.
25:57Mas em tudo é fácil, só o que passa todos os dias e o choque cultural pode ser duro.
26:01A minha vida na Alemanha começou com o Erasmus, que me deu a oportunidade de ficar cá,
26:07fazer o meu doutoramento e continuar o meu trabalho na Alemanha.
26:12Vivo em Ertanogenbosch, que é a minha namorada, diz-a lá.
26:15Olá!
26:16Já fala português.
26:16E mesmo a calhar, amanhã, faço dois anos que estou emigrado.
26:20Se perguntarem se tenho cidade de Portugal, tenho, como é óbvio.
26:24Mas como um bom português, nunca nos falta uma mesa cheia de novas amizades e histórias para contar.