O Documento JP explora a profunda conexão do brasileiro com a fé e a religiosidade. Uma análise sobre o papel da crença como fonte de esperança, comunidade e identidade para milhões de pessoas.
Assista à íntegra em: https://youtu.be/0g_B-YziJgk
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00:00A fé é um sentimento invisível, mas capaz de mover multidões.
00:06Está presente nos templos, nas ruas e na vida de milhões de brasileiros.
00:11Neste episódio, o documento Jovem Pan investiga como a fé imaterial
00:16atravessa o tempo e se manifesta de forma quase palpável no cotidiano,
00:22na devoção, nas promessas e nas histórias de quem acredita que o impossível pode acontecer.
00:30Desde de barriga, a minha mãe fala que eu sou católica, que eu gosto muito da Nossa Senhora da Aparecida,
00:41tenho muita fé nela, já pedi muita coisa para ela e consegui.
00:46Apesar que eu tenho até um filho, o Roger, que ele tem o nome dela, Nossa Senhora da Aparecida.
00:51Eu botei Roger Vinícius Aparecida, mas se fosse uma menina eu ia para o Aparecida,
00:57mas como foi um menino, aí eu tenho muita fé nela, muita.
01:00Por isso que hoje eu estou aqui em pé.
01:03Nossa Senhora da Aparecida, todo ano eu vou, uma vez, dois anos eu vou lá e tenho muita fé.
01:11Tudo que eu peço, tudo que eu pedi, peço a ela, eu vejo.
01:15Até em sonho eu peço, Nossa Senhora da Aparecida, eu vou fazer isso.
01:19Me mostra um sinal que é para dar certo.
01:23E eu vejo que dá certo.
01:24Ele te ama demais.
01:27E Nossa Mãe Maria Aparecida é que mais nos dá amor.
01:33Está sempre nos apoiando, dando um carinho.
01:36Quando você se achar que está sozinho, lembre-se de que ela está ali do seu lado.
01:40Sempre te apoiando, sempre te levantando, sempre te aconchegando.
01:48Quando o mundo te dá as costas, ela está lá de frente contigo.
01:51Eu nasci muito pequeno e a minha mãe tinha medo de eu morrer de novo, meu pai também.
01:56E minha mãe, muito devota à Nossa Senhora, ela me consagrou na Nossa Senhora.
02:00Então foi esse o começo da fé e do amor à Nossa Senhora.
02:06Primeiro pelo fato de me consagrar, né?
02:09Eu podia estar morto, eu podia ter vivido, mas Nossa Senhora, ela me entregou a ela, né?
02:15Nossa Senhora cuidou de mim, né?
02:18E eu fui seguindo a minha vida, mesmo que eu estava distante dela, ela nunca estava distante de mim.
02:23Passei por tudo isso que eu passei.
02:26Graças a Deus tem minhas filhas.
02:27E quando eu voltei a andar, a falar, a minha mãe...
02:39Desculpa, gente, vou cortar.
02:46Desculpa, o que eu desejo.
02:48Boa todos os anos porque, por memória, a minha mãe, porque ela que me trouxe tudo isso na minha vida.
02:59E pela fé nessa Senhora, porque é a coisa mais linda do mundo.
03:03É muito bom a gente pensar em Nosso Senhor, em Jesus Cristo, por tudo que Ele fez e morreu na cruz pela gente.
03:10Mas seria muito ruim do meu coração, da minha alma, não pensar em minha mãe que trouxe nesse mundo.
03:17Então, Nossa Senhora é tudo pra mim, né?
03:21É tudo com Deus, não dá sem Maria, né?
03:23A minha fé, a Nossa Senhora chegou até aqui.
03:27E Deus é tão perfeito que eu tive um AVC, a minha mãe cuidou de mim, tudo que ela podia fazer pra mim, ela me fez.
03:33A fé e boa parte da história do Brasil são representadas em uma figura com 36 centímetros,
03:41feita em terracota e carrega um manto azul e dourado e uma coroa.
03:47A imagem de Nossa Senhora Aparecida está nos templos, mas também está nos carros, em chaveiros, em quadros e nas telas.
03:55Eu sou a professora Lidia Sineira.
03:57Eu sou doutora em Antropologia e pós-doutora em Antropologia e História.
04:02O maior símbolo do catolicismo brasileiro é a figura de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
04:09E por que ela é tão importante?
04:11Por que essa devoção cresceu tanto nesse Brasil colonial, já que ela começa no século XVIII?
04:19Pra começar, eu tenho aqui pelo próprio nome, Nossa Senhora.
04:23Nossa é um vocativo, pronome que traz pra próximo de nós, porque ela mostra uma proximidade.
04:31É Nossa, não é dos outros.
04:34Ela é Nossa, Nossa devoção do brasileiro.
04:37Senhora.
04:38A Senhora também desse período colonial representava aquela imagem da maternidade, do cuidado, da proteção.
04:47Não só dos filhos, como também dos colonos e dos escravos, que também viam nessa Senhora uma proteção perante os maus-tratos do Senhor.
04:59E assim, toda essa devoção foi criando uma proximidade muito grande com a figura de Nossa Senhora.
05:07Eu sou doutora em teologia, a pessoa não vai na igreja, não vai na missa, não vai na igreja, mas ela tem lá a imagem de Nossa Senhora no carro dela, você tá entendendo?
05:19Ou então, a pessoa nem é religiosa, ou ela não tem nenhum tipo de vínculo pastoral, mas ela aprendeu na família, na tradição, que a Virgem Maria a protegeria em situações de perigo, entendeu?
05:38E é por isso que ela aparece nos adereços, até mesmo de pessoas que são católicas, não praticantes, ou até nem católicos.
05:45Muitas vezes vão aparecer em camisetas, a figura de Nossa Senhora, em joias, em tatuagens, em adesivos do carro.
05:54Isso tudo mostra como essa nossa religiosidade brasileira, esse catolicismo brasileiro, é um catolicismo muito particular, muito diferenciado.
06:04O que assume realmente a sua identidade muito ligada a essa figura de Nossa Senhora Aparecida.
06:12Quando nós falamos de Nossa Senhora no Brasil, a gente tem uma experiência de uma Virgem Maria que foi encontrada dentro de uma...
06:24Foi encontrada numa espécie de um riacho, de um rio, né? Por três pescadores, assim.
06:32Então, esse encontro dessa imagem dela, até com esses traços mais escurecidos, que existem pessoas que dizerem que, na verdade, eram características mestiças,
06:44ou que existia algum tipo de lodo sobre ela, né?
06:49Fez com que a população se percebesse nela, entende?
06:53Então, assim, na verdade, como se fosse um sinal de Deus para aquelas pessoas naquele momento, né?
06:59Que é Nazaré, em Belém, e que é Aparecida, em São Paulo.
07:04A imagem de Nossa Senhora de Nazaré é uma imagem mais europeia, é uma imagem branquinha, tipo Nossa Senhora vinda de Portugal.
07:12A imagem de Aparecida é Nossa Senhora da Conceição, mas renegrecida pelas águas do rio.
07:18Então, veja, como é que isso também conectou toda essa história da presença africana aqui no Brasil.
07:27Identificado mais em Belém com a questão indígena, mais aqui no centro, no sudeste, com a questão afro-brasileira.
07:35É uma conexão, uma conexão cultural também, que Nossa Senhora nos proporciona, nos ajuda, né?
07:43Então, eu diria que essas várias conexões fazem com que a gente possa viver melhor.
07:48Ao contrário de algumas devoções europeias, que estão ligadas, por exemplo, a catedrais ou ordens religiosas,
07:55Maria, no Brasil, aparece na vida simples, no povo humilde, em um rio, entende?
08:02No meio do trabalho diário, né?
08:04E essa imagem, esse calato e amestiço, é porque a imagem foi feita de terra corta, escurecida.
08:11E que foi escurecida, na verdade, pela água e pelo tempo.
08:14E outros diziam que poderia ser uma espécie de lodo, né?
08:16A pessoa, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, essa mãe, recolhida nas redes no Rio Paraíba do Sul, em São Paulo,
08:25nos ajuda a reconhecer hoje o valor imenso das culturas na nossa realidade brasileira.
08:32Nós não podemos desprezar ninguém.
08:35Nós não podemos colocar ninguém fora.
08:38Nós queremos acolher, valorizar a vida.
08:41E a mãe Aparecida, com seu manto azul anil, a padroeira no nosso país,
08:47nos quer como filhos e filhas, que cada vez mais vão descobrindo o valor da vida e o valor de servir a vida.
08:54Há quem diga que milagres não existem.
08:57Há quem diga que todo dia é um milagre.
09:00Para Albert Einstein, só há duas maneiras de viver a vida.
09:05A primeira é vivê-la como se os milagres não existissem.
09:09A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.
09:14A percepção de um ícone da ciência sobre como a fé se manifesta não vem de um sentimento,
09:20mas admiração profunda pela ordem e harmonia do universo, manifestadas em leis da física.
09:27Meu nome é Silvânia Maria da Silva.
09:37Sou dona do LAR.
09:38Em 2013, fiquei doente, descobri que estava com problema no rins.
09:45E comecei a fazer o tratamento.
09:48Com nove anos depois do tratamento que eu estava fazendo, em Modialis,
09:51aí eu fiquei acamada, fiquei seis meses acamada, sem conseguir andar, sem conseguir fazer nada.
09:58No começo eu só ficava sentada.
10:00Aí já não conseguia mais comer, porque a dor era tão intensa que eu não conseguia comer.
10:04Não conseguia beber água, não conseguia fazer mais nada.
10:08Aí eu só vivia sentada.
10:09Aí daqui a pouco, de sentada, só queria ficar deitada.
10:12Aí pronto.
10:13Era 24 horas deitada direto.
10:16Só me levantava para ir fazer Modialis.
10:18Levantava, fazia Modialis.
10:19Tinha três pessoas para me levar.
10:22Para me tomar banho, eu tomava banho um dia sim, um dia não, porque eu não conseguia.
10:26Eu gritava muito, muito de dor.
10:28Os vizinhos todos escutavam.
10:31Aí eu fiquei um ano sofrendo desse jeito.
10:34Estava só esperando que Deus me levasse mesmo.
10:37Aí um dia eu estava sofrendo muito, estava com muita dor, porque eu sentia muita dor.
10:43Aí eu estava na cara da minha mãe sozinha, porque eu tinha sempre que ter alguém para cuidar de mim nesse tempo que eu fiquei muito ruim.
10:50Aí eu estava me pedindo, pedindo a Nossa Senhora para me ajudar, me dar cura, porque eu queria sair daquela vida, né?
10:58Aí eu vi ela entrando, eu vi ela entrando, eu falei, meu Deus, eu não estou acreditando que é ela.
11:03Aí sem querer, tipo, eu me acordei, porque a dor vinha muito intensa, uma dor muito forte, uma dor e eu tinha que me acordar, porque a dor era muito forte.
11:11Aí eu me acordei, quando eu me acordei, eu vi uma pessoa entrando pelo quarto, assim, pela porta.
11:15Daí eu fiquei olhando, olhando, ela foi até o final do quarto, deu a volta e foi embora.
11:22Só veio mesmo para dizer, eu estou aqui, eu vou te ajudar, sabe?
11:25Ela, tipo, veio para me avisar que ia me ajudar.
11:28Eu vi ela pequenininha, assim, meia gordinha, só que igualzinha, com manto, com tudo, do mesmo jeitinho que é ela, eu vi ela, do mesmo jeito, só que baixinha, meia fortinha.
11:41Se arrastando, ela não andava assim, que nem a gente anda perfeito, ela se arrastava, que nem estava cansada.
11:47Aí ela foi até o final do quarto, olhou para mim e saiu e foi embora.
11:52Eu me arrepiei inteira.
11:53Eu olhei para ela, ela olhou para mim, só que ela entrou e saiu.
11:57Não ficou lá no quarto que eu estava.
12:00Aí eu falei para a minha mãe, mãe, eu tenho certeza que a Nossa Senhora da Aparecida veio aqui me ver, só que eu acho que elas não acreditaram em mim, né?
12:08Aí um dia eu cheguei falando para o meu médico, que ela tinha ido lá e ele falou, não, é coisa da sua cabeça.
12:13Como você estava com muita dor, estava pensando muito, pedindo a cura, você viu ela.
12:18Eu falei, não, eu tenho certeza, eu vi ela entrando no quarto mesmo.
12:21Aí não demorou muito, não demorou muito tempo, o hospital me chamou para fazer a cirurgia.
12:27Aí eu fiz a cirurgia, eu já saí da mesa de cirurgia andando, já andando.
12:32Eu falei, meu Deus, eu não acredito.
12:33Foi tanto que eu pedi a ela para ela me dar a minha cura e eu consegui.
12:38Quem me conhece me viu em cima de uma cama há seis meses sem pôr o pé no chão.
12:44E hoje eu estou bem aqui para contar a história.
12:46Estou em pé, estou falando que eu nem conseguia falar, nem conseguia comer, não conseguia fazer nada.
12:51E hoje eu estou falando que eu tenho que falar.
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