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  • há 2 meses
A pedagoga Tania Fontolan explicou que os conceitos têm que ser utilizados no ensino das ferramentas digitais.
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Transcrição
00:00Hoje conversamos com Tânia Fontolan, que ela é diretora pedagógica da Somos Educação.
00:12Obrigada, Tânia, pela presença. É um prazer estar aqui.
00:15A senhora hoje veio trazer um tema bem bacana, que é sobre formação para um mundo inédito e digital.
00:22Eu queria entender um pouquinho sobre o que é esse mundo inédito e digital,
00:25o que você vem trazer aqui para os professores e educadores.
00:28Bom, basicamente, a ideia a ser explorada com os educadores que estão aqui presentes é o seguinte.
00:37Ninguém vai para a escola para ficar na escola.
00:39A escola é uma etapa de preparação para o futuro, para um momento em que aquela criança se tornou um jovem
00:47que vai pegar a vida nas mãos.
00:50Então, se a escola prepara para a vida social e para o futuro,
00:53a escola precisa estar sintonizada com aquilo que está acontecendo ao redor dela
00:59e as projeções que nós temos hoje de futuro.
01:03Então, nós destacamos dois elementos.
01:06O primeiro é a digitalização do mundo.
01:11E aí, agora, a crescita de inteligência artificial.
01:13E o segundo é um nível de mudanças numa velocidade que é inédita na história da humanidade.
01:25Então, isso significa o quê?
01:26Que, como educadores, primeiro, do ponto de vista metodológico,
01:31nós não podemos ser apenas transmissor de conteúdos ou de conceitos.
01:36Nós não podemos preparar só para a prova.
01:38Então, óbvio que os conceitos são uma base importante da formação,
01:44mas esses conceitos têm que ser utilizados
01:47tanto para que o menino aprenda a usar ferramentas digitais de um jeito funcional.
01:53Então, você vai me dizer, mas é uma geração que já sabe usar.
01:56É uma geração que sabe usar, às vezes, para entretenimento.
01:59Sabe usar para lazer.
02:00Não significa que seja uma geração que sabe resolver problemas concretos
02:06que lhes são encomendados de uma maneira prática.
02:10Só que como é que eles vão aprender isso, se não for também na escola?
02:14E aí eu quero destacar que a escola de educação básica tem 14 anos de formação.
02:22Então, óbvio, nenhum menino, nenhuma menina vai aprender de primeira.
02:26Mas se esta preocupação estiver presente no projeto de formação da escola,
02:31enquanto os meninos estão aprendendo os conteúdos,
02:34eles também estão aprendendo a utilizar esse tipo de ferramenta.
02:38Então, a primeira questão é essa, a ferramenta digital como um meio de resolver problemas
02:42e uma reflexão sobre a utilização das ferramentas digitais.
02:47Eu acho que todos nós temos visto, nos últimos meses,
02:52uma série de distorções nessa utilização.
02:56Então, quando foi lançada a série Adolescência,
02:57Adolescência, houve um verdadeiro impacto do que a imersão nesse mundo,
03:04quando você não tem maturidade e quando você não tem recursos para lidar com ele,
03:09pode provocar na saúde mental e até nas atitudes de crianças e jovens.
03:14Agora, com o debate da adultização, também temos um outro debate.
03:17Exatamente.
03:17Mas o meu ponto é assim, a gente não pode se preocupar com isso de maneira episódica
03:22quando acontece um grande fato.
03:24Ou seja, no momento do lançamento da série, houve um verdadeiro clamor.
03:29Aí vai apagando.
03:31Agora, com as denúncias de adultização, de novo nós estamos vivendo um clamor.
03:37Então, o que a gente tem defendido e a gente tem incluído, digamos,
03:42nos nossos materiais, nas nossas propostas, nos nossos cursos de formação para professores,
03:47é que isso se torne orgânico no projeto de formação.
03:51Então, é essa reflexão para um uso autônomo, para um uso responsável,
03:58também com clareza de todas as potencialidades, mas também dos riscos.
04:06Eu fico sempre quando a gente debate esse assunto,
04:08e a gente tem debatido de ontem para hoje muita coisa,
04:10sobre o papel da escola nessa formação digital, no letramento, enfim.
04:18Também no desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
04:24Perfeito.
04:24E aí parece que a gente está sempre colocando uma coisa a mais para a escola,
04:27um papel a mais.
04:28Porque ela já tem que ensinar ali, os meninos já têm que aprender o conteúdo,
04:31porque eles vão fazer Enem lá no terceiro ano.
04:33Mas eles também têm que aprender o digital, a escola também tem que fazer esse papel,
04:38mas a escola também tem que aprender, ensinar o socioemocional.
04:42Não fica cada vez mais a gente dando papéis que são fundamentais para a escola,
04:47e é possível fazer isso com metodologias transversais?
04:52Eu entendo que sim, justamente pelas metodologias transversais.
04:56Ou seja, eu posso continuar ensinando conteúdos,
05:01mas por meio de estratégias que há um só tempo agreguem elementos digitais,
05:07seja como meio de pesquisa, seja como meio até de problematização,
05:11porque eu posso associar essas questões.
05:14E do ponto de vista socioemocional, eu queria destacar que uma das funções da escola,
05:20e isso há séculos, é a socialização.
05:24Então, sob esse aspecto, eu acho que do ponto de vista da formação socioemocional,
05:30talvez seja a gente colocar mais ênfase nesse elemento,
05:33mas também de uma maneira transversal.
05:35Eu acho que, no fundo, quando o professor tem clareza
05:39de que ele também está ensinando esse menino,
05:42ou monitorando situações em que esse menino aprende a lidar com frustração,
05:46frustração, em que esse menino aprende a lidar com autorregulação.
05:54O que eu estou chamando de autorregulação?
05:56Eu não posso fazer tudo o que eu tenho vontade.
05:59A minha vontade esbarra no limite do outro.
06:04E se você pensar, ao longo dos 14 anos de escolaridade básica,
06:09você tem N situações para isso.
06:11Só que o educador tem que ter clareza que esta também é uma questão da formação,
06:17até para ele aproveitar as situações e justamente colocá-las em relevo.
06:22Então, quando você trabalha em grupo,
06:25mas eu não estou falando daquele trabalho em grupo,
06:28feito em casa, sem monitoramento.
06:30Eu estou falando de um trabalho em grupo, feito em sala de aula.
06:33Você está trabalhando elementos de colaboração,
06:35você está trabalhando elementos de autoconhecimento e de respeito ao outro,
06:44porque, às vezes, em um trabalho em grupo,
06:46eu sou quem melhor desenha.
06:49O outro lida melhor com o texto.
06:53Há um terceiro que, na verdade,
06:55explicita as ideias oralmente de um jeito melhor.
06:58Então, é óbvio que uma pesquisa
07:01ou um trabalho colaborativo desse tipo
07:05não vai desenvolver todos esses elementos,
07:08mas uma sucessão de trabalhos ao longo de 14 anos,
07:12sem dúvida.
07:13Se você pegar desde os pequenos,
07:16na verdade, quando você vai trabalhando com eles,
07:19a coisa é de levantar a mão,
07:21não esperar a vez de falar.
07:23É isso, você está fazendo uma ponte
07:25entre o mundo privado da família,
07:27em que, às vezes, nas últimas décadas,
07:30as nossas famílias têm estado cada vez menores.
07:33Ora, numa família em que eu sou filho único,
07:36ou em que eu tenho mais um irmão,
07:38tudo é a minha vez.
07:39Exatamente.
07:40Aí eu vou para uma sala,
07:41que às vezes tem dez ou mais coleguinhas,
07:44e a escola tem essa potencialidade,
07:47primeiro, de ir mostrando para o menino
07:49que o mundo é maior do que o espaço da família dele.
07:53E ele vai aprendendo a fazer essa conjugação.
07:55Acho que essa é uma experiência muito bonita.
07:57E aí não pode ser também trabalho em grupo esporádico.
08:00É uma vez ou tem que ser sempre.
08:02Então, é por isso que eu falei.
08:03Tem um aspecto que a gente diz assim,
08:04você fica jogando tudo dentro da escola.
08:07Eu acho, sim, que às vezes é um certo exagero,
08:09e aí se joga dentro da escola, assim,
08:10olha, você tem problemas com mortalidade no trânsito.
08:14Aí joga dentro da escola.
08:15Agora, essas questões estruturais,
08:18como, por exemplo, a formação para o mundo digital,
08:21ou essa questão socioemocional,
08:23sendo mais explorada no sentido,
08:26porque ela existe.
08:27A questão é você colocar isso em relevo.
08:30E você propor que o menino, inclusive,
08:33reflita sobre aquilo.
08:34Então, o que é refletir sobre isso?
08:36Quando eu digo para o menino,
08:37espera a sua vez de falar,
08:39não é porque eu, professora, estou usando do arbítrio.
08:42Você vai falar quando quiser.
08:43Não.
08:44Mas é você, inclusive, discutir com eles,
08:46dizendo, olha, se todo mundo falar quando quiser,
08:50simplesmente fica impossível.
08:51Ninguém vai entender ninguém.
08:52Claro.
08:53Que, no fundo, é um pouco um microcosmo
08:56do que é depois uma vida social equilibrada.
08:59Sim, sim.
08:59Eles precisam aprender ali.
09:01Exato.
09:01E aí o último ponto que eu queria destacar,
09:03para além dessa questão também do digital,
09:05e também tem a ver com o socioemocional,
09:07eu acho que quando a gente pega um modelo de escola
09:11que o professor tudo explica
09:15e, em alguma medida, o menino reproduz aquilo,
09:18que é um modelo que, inclusive, já funcionou.
09:21Tradicional.
09:22Houve uma época, inclusive,
09:24em que ou você aprendia na escola
09:26ou você não tinha onde aprender fora dela.
09:28Então, tudo que o professor explicasse e você aprendesse,
09:32bacana.
09:33Até porque as coisas mudavam muito mais lentamente.
09:37Eu acho que hoje você tem um professor que ancora um determinado conceito,
09:46então, óbvio que ele vai dar uma explicação básica,
09:49mas ele tem que propor, em cima desse conceito básico,
09:53aquilo que nós chamamos de extrapolações.
09:55Os meninos têm que ser provocados a se apropriar daquilo
10:00e a pensar em questões que o professor não necessariamente explicou antes.
10:05Seriam as tais metodologias ativas.
10:08Exatamente.
10:09Exatamente.
10:09A gente tanto fala, assim, elas são necessárias.
10:11Porque, senão, se o menino só repetir,
10:14o que vai acontecer com ele quando ele se deparar com o inédito?
10:18No mundo prático, não dá para a gente fazer um curso
10:21ou a gente pedir ajuda de alguém o tempo todo
10:24quando aparece alguma coisa nova.
10:25A gente tem que ser capaz de utilizar essas referências.
10:28E antes que alguém diga, não, mas agora tem inteligência artificial que tudo responde.
10:32Eu queria dizer que, se a gente não problematizar a inteligência artificial em sala de aula,
10:38inclusive mostrando para os meninos que ela é uma poderosíssima ferramenta
10:44como ponto de partida.
10:47Ela efetivamente me permite poupar tempo na busca de uma série de referências.
10:53Mas, se, como indivíduo, eu me acostumar a tudo perguntar para ela,
11:00o primeiro aspecto é que, óbvio, eu fico dependente de uma determinada visão de mundo.
11:05Outro dia eu vi uma situação em que, na ilustração de um trabalho,
11:09pediu-se à inteligência artificial a imagem de um autista.
11:14E, evidentemente, a imagem que veio do que seria um suposto autista
11:19era uma imagem que a gente poderia chamar de preconceituosa.
11:22Quando você pensa, na verdade, na diversidade de crianças e de pessoas com autismo.
11:29Então, o primeiro ponto é esse.
11:30Se você tudo acreditar na inteligência artificial, você fica refém desses vieses.
11:37E, segundo ponto, se tudo o que você souber fazer
11:40for perguntar para a inteligência artificial,
11:43tchau, empregos.
11:44Porque, senão, por que eu vou te empregar
11:48se o que você sabe fazer é perguntar para a inteligência artificial?
11:52Entre nós, eu mesma faço.
11:54Exatamente.
11:55Então, acho que, assim,
11:56essa preparação para um mundo inédito e digital,
12:00eu acho que tem a ver com uma capacidade
12:03de buscar respostas diante,
12:09porque a resposta que eu tenho hoje
12:11não é necessariamente válida amanhã
12:13e não será necessariamente válida depois de amanhã.
12:17E eu preciso aprender a fazer esse percurso mental
12:21da interrogação,
12:23da busca de novos elementos
12:25e da incorporação desses novos elementos
12:27no meu cotidiano.
12:28E aprender a lidar com essas ferramentas digitais
12:32com responsabilidade,
12:34com autorregulação
12:36e com autocuidado.
12:39Perfeito.
12:40Perfeito.
12:40Obrigada, Tatiana.
12:42Parece uma missão,
12:43é uma missão difícil ali pela frente das escolas.
12:46É verdade.
12:47Até porque, eu diria que, às vezes,
12:50uma das barreiras que os educadores...
12:52Porque, óbvio, tem um elemento
12:53que é sensibilizar os educadores.
12:55Às vezes, você foi formado num outro paradigma.
12:57Esse é o primeiro ponto.
12:59O segundo ponto é que, às vezes,
13:00no final do ensino médio,
13:02você tem um vestibular
13:03ou você tem um Enem
13:04e, às vezes, as referências são conceituais.
13:07Então, os professores viram e falam,
13:08não, não.
13:08Eu tenho que ensinar o que vai cair.
13:11E tem um terceiro elemento,
13:12que são as famílias.
13:13Ou seja, às vezes,
13:14quando as escolas começam a atualizar
13:19as suas práticas...
13:21Tem uma resistência.
13:22Tem, porque, às vezes,
13:22as famílias acham que aquilo é a matação de algo.
13:24Ou, então, é aquela história
13:27de que elas não entendem
13:29que você propor o inédito para o menino
13:32é uma forma também de ensiná-lo a pensar
13:35partindo de uma base
13:37e incorporando...
13:39Não, ela acha que é absurdo.
13:41O professor está pedindo uma coisa
13:43que ele não deu.
13:44Então, assim,
13:45os desafios são complexos por isso,
13:47porque nós estamos numa etapa de transição.
13:49Perfeito.
13:51Obrigada pela presença,
13:52pela participação.
13:54Obrigada.
13:54Legenda Adriana Zanotto
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