Otaviano Canuto, ex-vice-presidente e ex-diretor executivo no Banco Mundial, analisa a estratégia de tarifas de Donald Trump, seus riscos para os EUA e o impacto geopolítico global. Entenda se essa é apenas mais uma tática de negociação ou um erro estratégico com consequências graves.
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00:00E sobre o tarifácio de Donald Trump, eu converso com Otaviano Canuto, que é ex-vice-presidente
00:06e ex-diretor executivo do Banco Mundial, ex-diretor executivo do FMI e ex-vice-presidente do Banco
00:14Interamericano de Desenvolvimento.
00:17Aqui eu começo a entrevista agradecendo pela presença, Canuto.
00:22Você, com essa biografia de instituições internacionais, sabe ler muito bem, não só
00:31essa geopolítica, mas o quanto isso está envolvido nessas barganhas do negócio, principalmente
00:38quando o ator principal são os Estados Unidos.
00:41Embora a gente tenha aí um jogador novo nesse tabuleiro da geopolítica, que é o Donald
00:47Trump, que se mostra cada vez mais imprevisível.
00:50Canuto, essa questão do Trump, que vem do mundo dos negócios, ele põe isso nos livros
00:58que ele escreveu sobre táticas de negociação.
01:01Aperta o seu adversário contra as cordas, quando o seu adversário mostrar ali uma certa
01:07perda de fôlego, você impõe ali uma negociação.
01:13É como atraí-lo à mesa de negociação com o adversário um pouco mais escambaleado.
01:17Ele já fez isso no primeiro mandato, tem feito isso com mais força no segundo mandato.
01:23A questão é, pode funcionar ainda?
01:26Porque todo mundo está esperando e o mercado, usando uma expressão clássica, já está precificando
01:32a possibilidade dele recuar de novo.
01:35Tanto que na imprensa americana surgiu uma expressão jocosa sobre o chicken out, o Trump
01:42sempre se acovarda e recua.
01:46Então, essa pressão dele, na sua leitura, pode ser mais contundente agora ou a gente
01:52vai assistir mais um capítulo de recuo?
01:54Obrigado por participar aqui do Conexão.
01:56Boa noite mais uma vez.
01:58Obrigado.
01:59Um prazer estar aqui mais uma vez contigo.
02:01Olha, de fato você descreveu muito bem, os mercados estão precificando um novo recuo do
02:10Trump, mas eu temo que não seja apenas isso, está certo?
02:18Tem uma explicação protecionista que alimenta o que o Trump está fazendo, que é tornada
02:30explícita pelas pessoas que o acompanham na gestão econômica e qualquer que seja o
02:37resultado dessas negociações que ainda possam ocorrer, o resultado tende a ser tarifas
02:45mais altas dos Estados Unidos.
02:47A gente já viu isso no primeiro acordo negociado por ele com o Reino Unido, o Reino Unido teve
02:55que aceitar engolir uma tarifa média de 10%, negociou lá as cotas, tarifas menores e cotas
03:05em alguns segmentos.
03:06A gente viu isso no próprio esboço de acordo com a China, onde o patamar de tarifas é mais
03:17alto do que antes e a gente viu de novo isso no terceiro acordo feito por ele agora, mais
03:24recentemente, com o Vietnã.
03:26que teve que engolir uma tarifa de 30% básica, para além, é claro, do complemento dos 45%
03:37sobre produtos chineses que passassem por lá.
03:41Então, qualquer que seja o resultado desses processos de negociação, o Trump vai buscar
03:50manter e estabelecer patamares mais altos de tarifas.
03:53Acho que isso é um dado.
03:54No nosso caso, é bom, agora, com a União Europeia, inclusive, quer dizer, ele faz os
04:01anúncios, mas não vai recuar para eliminar inteiramente o que colocou.
04:09Então, o efeito vai ser exatamente o de elevação de tarifas como resultado.
04:15Um problema, no nosso caso, o Brasil, é que a carta dele não dá nenhuma...
04:24ideia de uma pauta econômica que pudesse servir de base para essa negociação.
04:29ele, quando faz referência ao saldo bilateral, a carta dá a entender que há um erro, que o saldo
04:42comercial brasileiro é positivo, quando é ao contrário.
04:44isso sem levar em conta, inclusive, o déficit que a gente tem e que o resto do mundo tem na área de serviços.
04:52e que o Trump focaliza nos manufaturados, por conta do projeto de reindustrialização, entre aspas, dos Estados Unidos e tal, mas, a regra, a condição comercial dos Estados Unidos na área de serviços é oposta àquela do comércio.
05:09Pois bem, então, não há, digamos assim, um esboço de agenda econômica que pudesse servir de base para alguma negociação, o que complica mais as coisas ainda, porque aí, visivelmente, você bem disse, tem geopolítica e tal, tem outros fatores.
05:31Então, na primeira manifestação dele, quando assumiu, agora, no segundo mandato, exibiu a Canadá e México, meteu lá a imigração ilegal, meteu lá o fetanil, as drogas, etc.
05:46Quando ele fala com os ingleses na negociação, vai lá e quis também estabelecer restrições pelos ingleses quanto à participação de chineses em algumas partes.
06:04Ou seja, em todos esses, houve, digamos assim, uma dimensão geopolítica, se quisermos localizar a rivalidade Estados Unidos-China como um fenômeno, uma dimensão geopolítica,
06:19mas aí, igual, você tem uma pauta clara econômica associada a ela.
06:24E, no caso do Canadá e México, a coisa das drogas e, no nosso caso, a carta não serve de guia, porque o quê?
06:35É querer que o Brasil simplesmente pare o processo judicial contra Bolsonaro ou que haja um pedido de desculpas ou reversão da Corte Suprema?
06:50Quer dizer, isso não é, de fato, o objeto de uma negociação.
06:55E as tarifas sobre o Brasil, os 50% estão em um patamar acima em relação aos outros, aos 30% e a outros.
07:07E vejam, e tem um padrão nessas cartas do Trump, tem um padrão que fica claro quando a gente olha para o leste asiático,
07:16que olha, ou melhor, olha para os países com os quais os Estados Unidos têm um déficit comercial.
07:25E aí, aquelas tarifas que foram estabelecidas no 2 de abril, as tarifas recíprocas,
07:32elas tinham como base uma fórmula que refletia justamente esses saldos positivos dos países para os Estados Unidos,
07:42com o nivelamento por baixo de 10% para todos os outros, com déficit com os Estados Unidos, como foi o caso do Brasil.
07:49E agora, nessas cartas que ele enviou nessa rodada agora lá para a Ásia e para outros países em desenvolvimento e emergentes,
07:59as tarifas seguiram esse padrão.
08:01Elas estão muito próximas daquelas lá de 2 de abril.
08:05Eles devem ter ajustado a fórmula para incorporar os dados do comércio do ano passado, o Brasil e o aumento.
08:11O fato é que ali tem um padrão, ali você vê claramente que tem a coisa da proteção.
08:17O problema para nós é que os 50% não refletem isso, não é?
08:21Mas o fato é que eu não me sinto otimista quanto a um taco ao Trump,
08:31os chiquinhos e chiquinhos e chiquinhos e chiquinhos e chiquinhos e chiquinhos e chiquinhos e chiquinhos e chiquinhos.
08:39Tem um efeito de subida de tarifas.
08:43Agora, Canuto, olhando os Estados Unidos, a gente está olhando aí por fora.
08:48Agora, olhando para dentro, por que é o seguinte?
08:51Vou começar essa minha pergunta pelo Brasil.
08:5550% e a gente manda desde aviões da Embraer, ou seja, produtos de alto valor agregado,
09:02matéria-prima e produtos que fazem parte da cesta básica dos americanos, como o café.
09:07Agora, outra surpresa é, nessa segunda-feira, o Trump deixa meio enigmático o que ele quer fazer com a Rússia.
09:15Caso não haja um acordo de paz em 50 dias, uma sobretarifação, inclusive secundária,
09:22para quem compra petróleo da Rússia em 100%.
09:26Aí eu fui atrás de um tweet, de uma publicação do Trump nas mídias sociais,
09:32quando ele fala de tarifação secundária e ele cita a Venezuela, ele fala o seguinte,
09:37olha, quem comprar petróleo da Venezuela, não só a Venezuela vai ser sobretaxada,
09:42como também os seus parceiros comerciais para consumo dessa commodity, o combustível,
09:47vão ganhar, na época era 25% de sobretarifação.
09:51Se ele colocar isso em prática na Rússia, significa que ele vai sobretarifar em 100%,
09:57dois, por exemplo, enormes parceiros comerciais da Rússia, que são a China e a Índia,
10:03cuja relação com os Estados Unidos é muito forte, desde matéria-prima até produtos manufaturados,
10:10passando por itens de alto valor agregado.
10:13Não seria cortar muito na própria carne?
10:16Quer dizer, aí é quase amputação de membros, já não é mais corte na própria carne.
10:22Faz algum sentido essa guerra comercial começar a dar tiros no próprio pré?
10:28E, Canuto, a gente tem mais uns quatro minutos de conversa.
10:30Ah, certo.
10:32Não, guerras comerciais têm, no final, um resultado negativo para todos os lados.
10:41Não existe alguém que só é vitorioso numa guerra comercial.
10:46Isso a história já mostrou muitas vezes.
10:49Uma vez eu ouvi o presidente Trump, já ainda no seu primeiro mandato, fazendo uma analogia com luta de boxe.
11:04Numa luta de boxe, os dois lados sofrem, está certo?
11:08Mas ganha aquele que aguenta mais e que aplica mais poderosos golpes no lado adversário.
11:16Nessa mentalidade, mesmo que haja uma dor, e ele próprio já chamou isso de dano temporário para os Estados Unidos,
11:30se ele está, de fato, convencido de que o resto do mundo depende tanto do acesso ao mercado norte-americano,
11:38que abrirá concessões quaisquer que sejam,
11:46e ele vai insistir nisso, acreditando que o dano sobre a própria economia americana
11:55é, em última instância, menos danoso, menos doloroso do que aquilo que ele vai infligir nos demais.
12:02Agora, evidentemente que no caso aí da Rússia, é uma tentativa de mostrar por que a atitude dele,
12:13quando assume que literalmente, diferentemente do governo Biden,
12:19que estava ali bem alinhado com os europeus no suporte à Ucrânia,
12:22lembrem bem quando ele disse, vou fazer a paz, e vou, os dois lados, eu converso com o Putin e tal,
12:28e vou conseguir isso. E o Putin frustrou inteiramente essa expectativa de que ele conseguiria resolver a guerra,
12:38nem mesmo a ideia de negociar algum acordo entre a Rússia e a Ucrânia,
12:44que a Ucrânia aceitasse parte do que foi ocupado pela Rússia, chegou a funcionar.
12:50Então, ele agora é obrigado a mudar a estratégia.
12:57Eu vejo paralelos, guardado a devida proporção, entre esses movimentos do Trump
13:04e muito o que se passou na Casa Branca, nos anos, entre os anos 60 e 70,
13:11com respeito à presença dos Estados Unidos no Vietnã.
13:15Momento de discurso, vou fazer a paz, é fácil fazer a paz,
13:19mas aí, na medida em que não consegue, radicaliza um pouco,
13:25quando entram as bombas na palma,
13:29e no frígio dos ovos,
13:32o resultado final teve que ser uma saída
13:37complicada e dolorosa dos americanos do Vietnã.
13:41O presidente Trump subestimou algumas coisas importantes nessa guerra que começou.
13:48Uma delas é a dependência, nesse momento muito grande,
13:53de minerais críticos e que são beneficiados pela China, por exemplo.
13:59Toda a indústria digital depende deles,
14:02e os chineses, não foi por acaso que a primeira resposta,
14:05a primeira reação às ameaças de tarifas do Trump,
14:10já foram logo sinalizando no controle das vendas desses minerais críticos.
14:16Então, tem arrogância e tem um cálculo,
14:20que eu diria economicamente equivocado do Trump,
14:24de que ele pode ter ganhos,
14:26que os Estados Unidos podem ter ganhos substanciais com essa guerra.
14:31É uma pena.
14:32Bom, como a gente aprende,
14:34a história é cíclica e ela é elipcoidal,
14:38às vezes ela dá um ciclo e dá um passo à frente.
14:42Vamos ver, em comparação com o que aconteceu com os Estados Unidos
14:44na guerra do Vietnã,
14:46como é que sobra aí o boxeador Donald Trump.
14:49Talvez vencedor, sem um dente,
14:52cego de um olho, com a orelha enxada.
14:56Obrigado pelos esclarecimentos e pela ótima analogia.
14:59Agradeço o papo que eu tive com Otaviano Canuto,
15:02que é ex-vice-presidente e ex-diretor-geral-executivo do Banco Mundial,
15:06ex-diretor-executivo do FMI e ex-vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
15:12Entende muito do cenário econômico mundial
15:14e é sempre uma figurinha carimbada aqui na nossa programação.
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