Em entrevista ao Jornal Times Brasil, o economista e ex-secretário da Câmara do Comércio Exterior, Roberto Giannetti, afirmou que o Brics sai fortalecido após a ameaça de Trump de impor tarifas ao bloco. Para ele, o mundo caminha para alternativas ao dólar e ao sistema swift.
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00:00A gente conversa agora com Roberto Janete, economista e ex-secretário da Câmara do Comércio Exterior.
00:06Janete, boa noite. Obrigada por ter aceitado o nosso convite mais uma vez.
00:10Janete, você esteve aqui com a gente há menos de uma semana analisando o cenário econômico internacional.
00:16O que mudou em torno do debate tarifário nesses últimos cinco dias e que você destacaria para a gente?
00:24Bem, acho que o cenário tarifário, Cristiane, muda a cada dia.
00:28É um prazer estar aqui com você, a gente vê essa declaração hoje do presidente Lula e tudo que aconteceu durante o dia.
00:37É um vai e vem de notícias que eu acho que você, jornalista, deve ficar também até meio surpreso,
00:45porque você está dando uma notícia e já tem outra que superou.
00:49Nós tivemos aqui hoje uma situação que realmente causa espanto.
00:55essa reunião dos BRICS foi uma reunião que eu considero, enfim, protocolar, adequada, não teve nada excessivo,
01:04mas recebeu essa crítica agressiva dos Estados Unidos, ameaçando a tarifa de 10% para os integrantes do BRICS,
01:12por uma questão que é absolutamente da soberania dos países,
01:17que é qual a moeda que você vai utilizar nas suas transações comerciais.
01:23Ninguém é obrigado a usar o dólar, quer dizer, isso é uma coisa que o mercado decide,
01:28quer dizer, e o mercado hoje está colocando o dólar sob questionamento,
01:32porque a economia americana está trazendo incerteza.
01:36Então, há muitos países, inclusive o Brasil, que questionam isso de forma muito legítima.
01:41Se nós pudermos fazer comércio exterior e moeda local, aliás, reduzindo custos,
01:46ficando mais autônomo, independente do SWIFT, que teve também já objeto de sanção econômica,
01:52faz todo sentido os países do BRICS buscarem alternativas.
01:57Eu acho que é uma questão, sim, de soberania dos nossos países,
02:00e o presidente Trump não está respeitando isso.
02:03Isso é o ponto.
02:05Janete, na sua opinião, o mundo está preparado para uma nova rodada de taxações?
02:11Não, não está e nem estava, nunca esteve.
02:14Porque isso que está acontecendo agora é exatamente o oposto do que a gente imaginava
02:19como ideal para o mundo, qualquer economista com mínimo bom senso,
02:23sabe que o multilateralismo e o livre mercado, na medida do possível,
02:29são as melhores alternativas para buscar eficiência, competitividade, crescimento econômico.
02:36Toda vez que você faz restrições sérias ao comércio, como é o caso das tarifas,
02:40sejam barreiras tarifárias ou até não tarifárias, que às vezes acontece também,
02:45você reduz o comércio, com isso você tem aumento de preço para o consumidor de quem importa
02:51e perda de mercado, de capacidade produtiva para quem exporta.
02:57Isso só traz uma regressão da economia mundial.
03:00E essa ideia do Trump de que ao colocar tarifa as indústrias vão se deslocar para os Estados Unidos
03:07é muito ingênua, porque depende basicamente de uma questão de competitividade,
03:14de ter mão de obra disponível em custo, tecnologia, disponibilidade de matéria-prima
03:20e inclusive confiança.
03:22O Estados Unidos está deixando de ser confiável na medida em que ele toma medidas unilaterais agressivas
03:29e desorganiza o comércio mundial, que vinha desde a época de Bretton Woods,
03:35defendendo o multilateralismo.
03:37Então, nós hoje temos realmente um problema com os organismos multilaterais,
03:41isso o presidente Lula aponta, a ONU, a OMC, a Organização Mundial da Saúde,
03:47a Organização Mundial do Trabalho, estão todas com discrédito.
03:51A Organização Mundial do Comércio virou uma párea, está lá numa inércia,
03:55não tem o que fazer, porque ele acabou com o OMC.
03:59Então, o multilateralismo é o que seria melhor para o mundo.
04:03Mas nós estamos vendo hoje um mundo que caminha para unilateralismo ou bilateralismo
04:08e medidas extemporâneas, aleatórias, sem nenhum respeito às regras do comércio internacional.
04:15É um retrocesso, né?
04:17Eu vou passar para as perguntas dos nossos analistas.
04:19Vamos começar pelo Alberto Azental.
04:21Boa noite para você, Alberto.
04:23Boa noite, Cris.
04:24Boa noite a todos.
04:25Janete, vamos aproveitar esse tema do BRICS, que foi tão relevante agora, domingo e segunda-feira.
04:33Queria te perguntar, como você enxerga, como você analisa, em termos de benefício para o Brasil,
04:41essa maior estruturação do BRICS, que eventual moeda poderia ser escolhida para suceder ou ser uma alternativa ao dólar?
04:52E seria uma moeda ou, de repente, quem sabe eles fazem uma moeda digital a todos, que atenda a todos?
05:00E o que você imagina que seria também uma alternativa ao SWIFT?
05:05E em quanto tempo o BRICS poderia implementar essas soluções?
05:11Veja só, a questão da moeda, a gente tem que voltar um pouquinho aqui para a teoria econômica.
05:16Vou ser bem rápido, porque não é o caso aqui de dar uma aula sobre moeda.
05:20Mas a moeda tem três funções na economia.
05:23Primeiro, reserva de valor.
05:25Segundo, unidade de referência.
05:27Terceiro, moeda de transação.
05:30Como reserva de valor, significa aquela moeda que você vai guardar, a sua poupança, a sua reserva.
05:36E você pode optar, tem várias alternativas.
05:39Ouro, ien, euro, dólar.
05:42Você vai buscar uma cesta de moedas, uma diversificação das suas reservas para correr menos risco.
05:49O dólar era predominante, está deixando de ser.
05:52Por quê?
05:52Porque se tornou inconfiável.
05:54As pessoas estão vendo a dívida americana, 36 trilhões de dólares.
06:00Portanto, toda, não só a moeda americana, mas os papéis do tesouro, passaram a ser olhados com alguma desconfiança, o que não havia.
06:08Até as agências de rating já baixaram o grau do rating dos papéis americanos.
06:14Como unidade de referência, nenhum problema de ter os preços marcados em dólar.
06:20Porque você tem que ter produtos que tenham equivalência de unidade de referência, para você saber como é que você vai trocar uma laranja por um abacate.
06:28Um vale X dólares, o outro vale tantos dólares.
06:31Então, é só unidade de referência.
06:32Não tem problema nenhum usar o dólar como referência.
06:34Agora, como moeda de transação, nós não precisamos passar pelo dólar.
06:40Você pode usar o que chama moeda escritural.
06:43Simplesmente você toma, lança débito e crédito dos bancos centrais, os valores de transação.
06:48E resolve, num período de tempo, fazer a liquidação dos saldos de clearing, o saldo de liquidação desses valores.
07:02E com isso, você cria uma moeda escritural, que o Brasil já usa no sistema LAD há muito tempo, há mais de 50 anos.
07:09E agora eu vejo muitos outros países, asiáticos, africanos, indo pelo mesmo caminho.
07:15Eu acho que nós vamos ter, de fato, um comércio em moeda local, usando as transações escriturais ou digitais.
07:23Poderíamos também dizer que seja digital.
07:25Para que não necessariamente passe pelo dólar.
07:28O que reduz custo e tira também a dependência do SWIFT.
07:32Existem alternativas ao SWIFT no mercado, inclusive do mecanismo chinês, que é muito mais livre,
07:39muito menos arriscado e muito menos oneroso para uso no comércio internacional.
07:45Então, eu acho que sim, nós estamos caminhando para uma reorganização dos meios de pagamento
07:51nas transações internacionais.
07:53E o Brasil, graças a Deus, está aderindo em tempo para não ficar nessa dependência exclusiva do dólar, que é um retrocesso.
08:01Vamos passar para a Júlia Lindner.
08:03Júlia, por favor, pode fazer sua pergunta.
08:05Janete, o quanto que você acha que essas ameaças do Trump ao BRICS e aos países relacionados pode surtir efeito?
08:15Ou se você acha que vai ter o efeito oposto, de fazer com que esses países e também outros grupos pelo mundo
08:20também se unam mais e tentem fortalecer mais o multilateralismo?
08:24Olha, eu acho que as duas coisas.
08:27Os BRICS, não tem dúvida, estão muito mais unidos, estão mais unidos do que nunca.
08:31Eu acho que, sem dúvida, a crítica dos Estados Unidos ao BRICS reforça a nossa unidade.
08:37Porque a gente percebe, primeiro, que está dando certo.
08:39Nós estamos incomodando aquele que está perdendo a dominância, que queria manter o mercado sobre o seu controle.
08:46E nós queremos exatamente é ter mais autonomia, ter mais alternativas.
08:51E eu acho que a questão de pertencer aos BRICS não quer dizer que nós somos contra os Estados Unidos.
08:58Ninguém está falando isso.
08:59Pertencer aos BRICS significa ser a favor do sul global, mas não contra os Estados Unidos.
09:06Os Estados Unidos é um país importante, nós todos respeitamos, maior economia do mundo,
09:11uma democracia que já foi melhor, hoje nem tanto.
09:13Enfim, acho que a gente tem que tentar, com multilateralismo, exatamente, jogar em todos os campos de comércio.
09:22Europa, Estados Unidos, Ásia e os BRICS, que se tornam um grupo importante.
09:27Quero lembrar aqui que é mais de 50% da população mundial e quase 40% do PIB mundial.
09:34Então, não é um grupo irrelevante, um grupo de países ecos.
09:37Nós estamos falando de países que têm contingente populacional, tamanho de PIB, importância no comércio,
09:43no suprimento de matérias-primas.
09:45Tem matérias-primas que só nós temos.
09:48Os BRICS hoje representam, de fato, uma força dominante hoje no comércio internacional.
09:55Por isso que aqueles que estão perdendo poder se sentem ameaçados,
09:58como se o poder nunca pudesse mudar de mãos.
10:01O poder muda de mãos.
10:02Os impérios sobem e declinam.
10:05Está na hora do Império Americano acordar que, infelizmente, eles erraram tanto na sua estratégia econômica e comercial,
10:12déficits trilionários, consumindo muito mais do que arrecada.
10:16Chegou a hora da verdade.
10:18Nós estamos num caminho muito certo de tentar mais autonomia e mais representatividade no mundo.
10:24Roberto Janete, muito obrigada.
10:26É sempre um prazer mesmo te ouvir.
10:28Volte mais vezes e boa noite para você.
10:30Obrigado, Cristiane. Obrigado a todos. Boa noite.
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