O economista e professor César Bergo explicou como os países do Brics estão ampliando operações em moedas locais, diminuindo custos e riscos cambiais. O sistema aumenta a eficiência do comércio internacional e integra novas tecnologias financeiras, seguindo exemplos como o Pix.
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00:00Para falar agora de um relatório feito pelo Banco Central, que aponta que os países do BRICS estão acelerando a adoção de liquidações diretas em moedas locais,
00:10reduzindo a dependência do dólar nas operações de comércio internacional.
00:14De acordo com o documento, três fatores ganham destaque.
00:18Maior eficiência e redução de custos com o uso de moedas locais, diminuição do risco cambial e também da dependência do dólar
00:26e os desafios de infraestrutura e regulação também, que envolvem interoperabilidade entre sistemas financeiros e a adoção de novos padrões de mensagens.
00:38A gente recebe aqui no Fast Money o economista e sociólogo, professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília, César Bergo,
00:45que vai falar mais desse novo panorama que está ganhando força entre os países do BRICS.
00:51Tudo bem, professor? Boa tarde e bem-vindo.
00:54Boa tarde, Natália. É um prazer estar com vocês aí.
00:56Prazer o nosso te receber mais uma vez aqui ao vivo no Fast Money.
01:00Bom, a gente tem esse relatório, professor, do Banco Central, que destaca que os BRICS estão acelerando
01:05essa questão das moedas locais sem ter o dólar ali como intermediário.
01:11O que impulsiona esse movimento nesse momento, professor?
01:16É interessante, Natália, porque o Brasil já tem esse sistema.
01:19Ele já faz isso no Mercosul, com a Argentina, com o Uruguai, com o Paraguai.
01:22E a China também já tem com 140 países delas, principalmente da Ásia.
01:27A Rússia também utiliza esse sistema com relação à China.
01:31Então, é um novo sistema, né?
01:33Sobretudo agora na Eje dos BRICS, que é fundamental, envolve outros países também.
01:38Mas é como comentamos aí.
01:40Hoje a pessoa vai fazer uma operação de dólar, ela tem que comprar o dólar, compra o dólar caro,
01:45depois vende barato.
01:46Nesse sistema, ele vai fazer direto.
01:49Então, vai diminuir, não tenha dúvida, o custo.
01:52Isso é importante.
01:53E, como bem mencionado, também o risco que você tem hoje em dia com relação ao dólar,
01:58com a política monetária americana.
01:59Então, hoje, o centro de gravidade do comércio não está mais pendendo para os Estados Unidos.
02:05Sobretudo em função dessa questão das tarifas.
02:08Então, hoje, a China é importante, é o principal parceiro econômico de vários países.
02:12Então, a adoção desse sistema, ele realmente vai ajudar, e bastante, não só os produtores,
02:19como o comércio internacional.
02:20Você aumenta o volume de dinheiro circulando no comércio e facilita as negociações, não
02:25tenha dúvida, Natália.
02:26E, ao longo desse ano, a gente viu momentos em que o presidente Donald Trump estava bem
02:31irritado com essa questão, né, professor?
02:34Parece que acalmou ou ele está só dando um tempo?
02:37Qual que é a leitura do senhor?
02:39Eu acho que, à medida que ele vai entender o que é isso, não é verdade.
02:42Não é nada contra o dólar, né?
02:43Isso é para facilitar as operações comerciais entre os países.
02:46Obviamente, quando se fala, assim, em manchete, né, parece que está querendo simplesmente
02:51eliminar o dólar.
02:52O dólar não vai ser eliminado, continua sendo a principal moeda.
02:56Mas não tenha dúvida que os parceiros comerciais vão buscar negociar as suas moedas.
03:01Isso facilita tanto para quem está produzindo, como para quem está comprando.
03:04Então, irritou o presidente, sim, porque fica aquela ameaça, né, de tirar o dólar.
03:10E também tem hegemonia econômica mundial, né, que a China vem crescendo, mas outros países
03:16também.
03:16Então, eu vejo positivamente essa ação.
03:19Lembrando que o sistema financeiro brasileiro, ele é referência mundial.
03:23Então, esses sistemas aqui já estão em uso no Brasil.
03:27Só vai, então, agora integrar ele a outros países.
03:29Não tenho a menor dúvida, sobretudo agora, né, com essa relação de crescimento nas
03:34transações econômicas com diversos países do mundo.
03:37Não tenho, eu vejo isso com bons ordens.
03:40Então, obviamente, os Estados Unidos, eles têm que tomar cuidado deles lá, mas não
03:44tenho a melhor dúvida de que isso veio para ficar, viu, Natália?
03:48E, professor, para quem está acompanhando a gente, tem uma empresa, uma empresa que exporta,
03:53né, que realiza transações com outros países, especialmente os países desse bloco,
03:58do BRICS.
03:59Como é que essas empresas, na prática, vão se beneficiar dessa redução de intermediários?
04:04Do que a gente está falando no dia a dia de uma empresa?
04:07Olha, geralmente, quando você busca lá um comprador lá no exterior, né, vamos pegar
04:11um exemplo aí da China, ele tem que fazer a conversão para o dólar, né?
04:15Então, o brasileiro chega lá com os reais, coloca em dólar e se já paga uma taxa, porque
04:21é só para clarear para os nossos transfectadores, quem está nos vendo, quando você vai comprar
04:26dólar, você compra dólar lá em cima.
04:28Aqui no Brasil, nós temos vários dólar, tem o turismo, comercial e a Petax.
04:32A Petax é a taxa que o Banco Central coloca, que é o regime.
04:36Então, você, quando vai comprar o dólar, você compra o dólar no valor de venda da gestão
04:40financeira.
04:41E, quando você recebe o dólar, você entrega no valor de compra.
04:44Só aí já existe o spread.
04:46Lá do outro lado é a mesma coisa.
04:47Então, se beneficia à medida que vai ser uma coisa direta.
04:51Então, ele coloca os reais no banco, o banco já transfere para o outro banco lá no exterior,
04:56esse banco já vai transformar isso na moeda local e vice-versa.
05:01Então, facilita drasticamente as operações e também gera uma confiança muito grande,
05:06porque a rapidez de um pagamento, ela é fundamental.
05:10Isso aí se aproxima ao que nós fazemos hoje com o Pix, né?
05:13Então, eu acho que vai caminhar nesse sentido.
05:15É bom para quem está comprando e é bom para quem está vendendo também, Natália.
05:18E aí, tem também a questão de trazer menos dependência, menos risco cambial, né?
05:24Quando você tira essa dependência do dólar, professor.
05:27Agora, eu mencionei aqui uma palavra difícil, eu vou até falar devagar para eu não enroscar nela de novo.
05:32Interoperabilidade, deu certo.
05:34Tem essa exigência entre os sistemas nacionais.
05:38Conta para a gente quais que são os principais desafios.
05:40São os regulatórios, técnicos, o que está envolvido?
05:44É, hoje, basicamente, essas operações são feitas através de suíte.
05:47Então, você tem um código de transação, né?
05:50Isso passa lá para outros intermediários, né?
05:54Agora, mesmo com o caso da Rússia e da China, nós tivemos lá o exemplo,
05:57que a Rússia falou para comprar produtos chineses, chineses compram...
06:01E aí, eles fazem através de um sistema próprio deles.
06:04Então, praticamente, se cria um sistema direto, sem intermediário,
06:09que vai possibilitar uma rapidez muito importante e dar uma confiabilidade também.
06:13Porque, hoje em dia, você tem impedimentos, no caso aí, por exemplo,
06:17só citando a Rússia novamente, em função do embarque comercial que foi aplicado a ela.
06:22Ela não poderia utilizar o SWIFT.
06:24Então, ela estava de fase com dificuldade.
06:26Então, esse sistema de você fazer transações de moeda local facilita,
06:30porque, necessariamente, não vai precisar passar por esses sistemas internacionais
06:35e fica um sistema direto e operacional das próprias partes.
06:39Eu acho que facilita muito, viu, Natália?
06:41E, professor, tem alguma coisa que as empresas, quem exporta, importa aqui no Brasil,
06:48tem que fazer agora para estar pronto, assim, na hora certa?
06:51Em relação à governança financeira, revisar sistema, compliance,
06:56o que o senhor deixaria no radar?
06:58Olha, normalmente, essas operações são feitas através de bancos.
07:01Então, essas empresas já têm conta nos bancos.
07:03Os bancos é que vão se adaptar a esse tipo de novo sistema.
07:07A empresa simplesmente continua operando normalmente.
07:10Obviamente, pode ter um ganho financeiro aí que o gestor financeiro vai ver
07:14e vai realmente absorver positivamente esse ganho.
07:18Mas, nesse primeiro momento, é manter as suas relações com determinados bancos.
07:23Geralmente, hoje já tem bancos no Brasil que já têm esse tipo de operação,
07:29sobretudo, como eu comentei, com o Mercosul.
07:31Então, a empresa simplesmente mantém normal o fluxo financeiro dela junto ao banco.
07:38E aí, não tem a menor dúvida que a facilidade vai vir,
07:41porque esse sistema hoje é muitas vezes demorado, oneroso.
07:45E agora vai facilitar, uma vez que vai possibilitar esses contatos diretos
07:50entre o vendedor e o comprador.
07:52Viu, Natália?
07:53E, professor, logo no comecinho da conversa, o senhor mencionou o PIX, né?
07:57Ele faz essa nossa experiência de sucesso, faz a gente sair na frente, assim,
08:02de alguma forma, nessa conexão com os outros países?
08:06É, agora o senhor mencionou aí, o medão lá dos Estados Unidos.
08:10Inclusive, ele colocou o PIX lá na lista, lá, chamada lista negra, né?
08:15Porque é exatamente isso, né?
08:17O PIX é um sucesso, não só no Brasil, como a China também já opera e sai há muitos anos.
08:22Então, são sistemas que vão facilitando a vida das pessoas mais do que isso.
08:28Faz o fluxo financeiro aumentar em velocidade.
08:31Isso significa ganho para as partes.
08:33Ou seja, a atividade econômica ganha com essa mobilidade financeira.
08:37Então, o PIX é apenas um exemplo, porque hoje está tão comum aqui no Brasil.
08:41Eu estive na França, e na França tinha uma farmácia assim, aceitamos PIX no Brasil.
08:45Daqui a pouquinho, isso vai ter que ter ligado no mundo inteiro.
08:48Eu acho importante que a gente tenha esse sistema hoje funcionando no Brasil
08:52e vai possibilitar também um ganho para esse novo sistema aí,
08:56que é o sistema de moeda local, né?
09:00E provavelmente chega até nesse nível de você fazer uma transferência,
09:04basicamente automática, 24 horas por dia, 7 dias por semana, viu, Nataro?
09:09E, professor, para a gente finalizar, esse avanço geopolítico do BRICS,
09:14a gente pode chamar, classificar dessa forma, ele mexe de alguma forma, assim,
09:18com o comércio global ou ele acaba tendo um impacto só para esses países
09:23envolvidos diretamente aqui, mais localizado?
09:27Olha, hoje tem até fila para entrar no BRICS, né?
09:30Aos 10 anos atrás, se a gente fosse comentar, foi estratégico.
09:35Hoje, quem diria?
09:36A China, uma das maiores potências econômicas.
09:38A China, a Índia, né? Rússia.
09:40Então, o BRICS para o Brasil foi muito importante, sobretudo agora,
09:44nesse momento aí daquelas tarifas americanas,
09:46e fez com que os Estados Unidos também olhassem de forma diferente o Brasil.
09:50Então, o BRICS é um canal importante,
09:54e, obviamente, você tem aqueles mecanismos institucionais, a ONU, a OEA,
09:58mas, Nat, se compara a esse BRICS, que, além de banco, né?
10:02Que ele tem um banco de desenvolvimento importante também,
10:04que ajuda os membros, os países membros, né?
10:08Você tem toda uma questão de uma filosofia, né?
10:11Que é um grupo que não se submete ao G5, ao G7 e ao GES aí.
10:17Ou seja, não tem nenhuma dúvida, Natália.
10:19Que o BRICS, ele tem essa força não só econômica,
10:23mas também operacional que a gente está vendo aí
10:25com essas novas modalidades de relacionamento, né?
10:29Muito bom ouvir o professor César Berga, economista, sociólogo,
10:33e professor do Mercado Financeiro da Universidade de Brasília.
10:36Professor, ótima tarde. Volte sempre.
10:39Um grande abraço, Natália, e muito bom o programa para vocês.
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