00:01O senhor elogiou o Sérgio Moro, a atuação dele na Lava Jato, eu lhe pergunto, o senhor acha que ele daria um bom ministro?
00:07Daria, e eu digo mais, e eu falei a ele, como? Quando ele foi me visitar como ministro da Justiça, ele um pouco encabulável, muito espontâneo, eu descontraí,
00:20eu disse, como você deixou uma caneta de juiz, um cargo efetivo para ser auxiliar do presidente da República?
00:30E posso adiantar que se ele tivesse permanecido como juiz da 13ª Vara Criminal de Curitiba, ele teria chegado ao Supremo,
00:41seria escolhido e guindado da primeira instância para a mais alta instância do Judiciário Pátrio.
00:50Mas ele fez a opção de vida dele com um desgaste desnecessário e eu agora fico até satisfeito por ele ter recuperado, junto ao público em geral, a imagem de cidadão.
01:05A Lava Jato, a gente sabe o benefício que ela trouxe e a gente tem visto o desmonte dela nos últimos anos, quase como uma vingança do sistema
01:21em relação a essa iniciativa de investigação que acabou, em função da própria dinâmica do crime,
01:31ela acabou se espraiando e avançando sobre diversos órgãos, diversas instâncias, não só a questão da Petrobras,
01:43mas ela avançou até mesmo para a atuação de escritórios de advocacia, avançou para a economia, para os grandes grupos econômicos,
01:53avançou para fundos de pensão, enfim, acaba que tudo está um pouco conectado, ainda mais quando você tem grandes grupos que atuam em diferentes áreas estratégicas,
02:04que é o caso de Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutiérrez, são empresas que eram empreiteiras na sua origem,
02:11mas que se transformaram em grupos econômicos com atuação em diferentes áreas, na área de energia, na área de limpeza urbana,
02:18na própria área de construção de navios, enfim, uma coisa que acabou criando essa teia e aí quando a Lava Jato entra,
02:29ela puxa essa teia e vem tudo.
02:30Bom, os benefícios ficaram, acho que assim, deixou uma herança na memória das pessoas,
02:39de que a sociedade tem de reivindicar a moralidade pública, tem de reivindicar a transparência,
02:48tem de reivindicar que o poder público e a iniciativa privada têm uma relação não promíscua.
02:53Eu não sei como é que o senhor vê a forma como ela foi, não só do ponto de vista da narrativa,
03:05mas como ela foi sendo destruída a partir do momento que você cancela condenações baseadas em filigranas jurídicas,
03:15na minha opinião, me corrija por favor se eu estiver errado, eu digo mais, assim, como é que o Supremo julga,
03:24vou trazer esse ambiente todo para uma pergunta mais específica, mais pontual,
03:29como é que o Supremo muda o entendimento depois de julgar recursos sobre a questão lá da competência da 13ª vara
03:40e de repente, 5 anos depois, depois que esses processos já foram feitos, já foram julgados na 2ª,
03:48já foram julgados na 3ª instância, muitos deles já foram alvos de centenas de recursos,
03:54já foram ouvidas testemunhas, já foram feitas as análises da polícia, as perícias, etc.
04:03se reuniu provas, quer dizer, se gastou um dinheiro incalculável da justiça, do dinheiro do contribuinte,
04:12se gastou um tempo importantíssimo do próprio judiciário, que é abarrotado de processo,
04:19e 5 anos depois tem uma decisão que anula isso tudo, cancela isso tudo.
04:24O senador chegou a dizer, à época, no início da Lava Jato, que era preciso estancar essa sangria,
04:34porque evidentemente não interessava maus políticos, existem bons políticos no país, a Lava Jato.
04:44A Lava Jato prestou, como você mesmo ressaltou, relevantíssimos serviços ao país,
04:52tanto que nós tivemos devolução de milhões de reais.
04:56Bilhões? Bilhões.
04:58De onde saiu esse dinheiro, né?
05:01Agora, o nosso sistema é um sistema sábio, de freios e contrapesos,
05:07a decisão do juízo fica sujeita à revisão no Tribunal de Justiça ou no Tribunal Regional Federal.
05:16E fica sujeita, inclusive, ao crivo de Tribunal Superior.
05:21E envolvendo matéria constitucional, ao crivo do Supremo.
05:27É como funciona o nosso direito, a organicidade do nosso direito.
05:33Agora, no Brasil, ao vez de se dar o dito pelo não dito.
05:38Avança-se culturalmente assim?
05:40Não.
05:41Quando se dá o certo pelo errado ou o errado por certo, nós não temos a segurança jurídica.
05:53Eu sou um crítico do que ocorreu relativamente à Lava Jato.
05:58Ainda bem que não ocorreu no tocante ao mensalão.
06:01E, na época, o que decidido, porque o foi, inclusive, pelo Supremo, prevaleceu.
06:13Agora, a competência da 13ª criminal.
06:17Será que a 13ª criminal de Curitiba avocou esse processo envolvendo a Petrobras?
06:24Mas, não.
06:25A primeira lavagem de dinheiro da Petrobras ocorreu em Londrina.
06:31Aí, o juiz federal, ao se defrontar com a notícia Crímenes, ele disse,
06:38olha, há uma vara especializada em lavagem de dinheiro no Paraná, que é a 13ª.
06:44E remeteu o processo para a 13ª.
06:46E aí, pela continência e pela conexão probatória, as demais questões foram enviadas à 13ª criminal.
06:59Agora, vejo o fato de ter suplantado, como se suplantou a Lava Jato, como um retrocesso.
07:16E aí, o fato de ter suplantado, como se suplantou a Lava Jato, como um retrocesso,
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