- há 4 meses
A transparência do Poder Público brasileiro costuma ser alvo de críticas, desde pedidos de acesso à informação que são negados sem justificativa convincente até a não divulgação de agenda de autoridades. Mas, dentre os três poderes, o menos transparente é o Judiciário.
A opinião é de Fabro Steibel, especialista em governo aberto e diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio).
"O portal de transparência do Ministério Público é capenga e os do Judiciário são inconstantes nas atualizações. Quando olhamos o Executivo federal, em regra, temos o suprassumo do portal de transparência dos países."
Isso acontece, segundo Steibel, porque, quando se começou a pensar em transparência do Poder Público, o foco das pessoas era voltado para o Executivo Federal.
"Mas entendemos depois que não se trata de um Poder, mas de um governo. E aí a transparência foi se expandindo para os outros poderes. Mas isso leva tempo."
Leia os principais trechos da entrevista e assista à íntegra no fim do texto:
Como podemos definir a transparência no Poder Público?
Transparência é uma cultura que entende que o governo deve ser sempre aberto, mas nem tudo ficará aberto o tempo todo para todo mundo.
E essa transparência serve para nós controlarmos o governo, pois mostra os podres que existem. Em geral, há muita coisa errada no governo. E faz parte, pois os governos são construções coletivas.
Dos três Poderes, o mais transparente é o Executivo. Em seguida vem o Legislativo. Já o menos transparente é o Judiciário, incluindo o Ministério Público.
Por que essa falta de transparência no Judiciário e no Ministério Público?
Desenvolvemos muito conhecimento sobre transparência no Executivo. Mas entendemos depois que não se trata de um Poder, mas de um governo. E aí foi se expandindo para os outros poderes. Mas isso leva tempo.
O portal de transparência do governo federal, criado em 2004, é um dos mais antigos do mundo. Já o portal de transparência do Ministério Público é capenga e os do Judiciário são inconstantes nas atualizações. Quando olhamos o Executivo federal, em regra, temos o suprassumo do portal de transparência dos países.
Punições por falta de transparência podem ajudar a melhorar os sistemas?
Tem que ser a punição e a bonificação. Uma Lei de Acesso à Informação sem punições é um erro. Porque isso cria uma situação em que a autoridade não quer divulgar o dado e fica por isso mesmo. Temos muitos casos que chegam à última instância da LAI e a informação não é liberada.
Qual o nível de transparência do governo brasileiro?
A LAI é um marco de transparência, mas ela veio tarde. Fomos um dos últimos países da América Latina a ter uma lei nesse sentido. E a implementação dela teve prazo de seis meses, o que é muito complicado.
Nós melhoramos muito, mas a gestão de Jair Bolsonaro marca o retrocesso no entendimento da transparência, porque há sempre uma condicionante. Na LAI, por exemplo, tem se usado com maior frequência as exceções de sigilo.
No caso do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello colocou-se o sigilo máximo, de 100 anos. Isso é muito raro. Há situações em que uma medida assim é necessária, mas ela deve ser usada para coisas que exigem esse tipo de limitação.
É uma hipocrisia deixar a cargo do Judiciário o julgamento sobre transparência, sendo que esse poder não cumpre a o nível de transparência exigido?
A democracia tem hipocrisias. E é o melhor que podemos fazer. Os partidos definem as próprias regras e aumentam o fundão, por exemplo. E o Judiciário vai julgar casos sobre ele mesmo, por exemplo, pagamento de auxílio-moradia.
O ideal é que os outros poderes tenham alguma maneira de controlar. No caso do Judiciário é a lei. Se a norma diz mostre, o Judiciário tem que mostrar. O Legislativo controla o Judiciário nesse momento. Daí a importância da sociedade civil, de não deixarmos o governo sozinho e da agenda de governo aberto. É preciso ter a imprensa pressionando e trazendo ao público temas relevantes para serem discutidos.
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A opinião é de Fabro Steibel, especialista em governo aberto e diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio).
"O portal de transparência do Ministério Público é capenga e os do Judiciário são inconstantes nas atualizações. Quando olhamos o Executivo federal, em regra, temos o suprassumo do portal de transparência dos países."
Isso acontece, segundo Steibel, porque, quando se começou a pensar em transparência do Poder Público, o foco das pessoas era voltado para o Executivo Federal.
"Mas entendemos depois que não se trata de um Poder, mas de um governo. E aí a transparência foi se expandindo para os outros poderes. Mas isso leva tempo."
Leia os principais trechos da entrevista e assista à íntegra no fim do texto:
Como podemos definir a transparência no Poder Público?
Transparência é uma cultura que entende que o governo deve ser sempre aberto, mas nem tudo ficará aberto o tempo todo para todo mundo.
E essa transparência serve para nós controlarmos o governo, pois mostra os podres que existem. Em geral, há muita coisa errada no governo. E faz parte, pois os governos são construções coletivas.
Dos três Poderes, o mais transparente é o Executivo. Em seguida vem o Legislativo. Já o menos transparente é o Judiciário, incluindo o Ministério Público.
Por que essa falta de transparência no Judiciário e no Ministério Público?
Desenvolvemos muito conhecimento sobre transparência no Executivo. Mas entendemos depois que não se trata de um Poder, mas de um governo. E aí foi se expandindo para os outros poderes. Mas isso leva tempo.
O portal de transparência do governo federal, criado em 2004, é um dos mais antigos do mundo. Já o portal de transparência do Ministério Público é capenga e os do Judiciário são inconstantes nas atualizações. Quando olhamos o Executivo federal, em regra, temos o suprassumo do portal de transparência dos países.
Punições por falta de transparência podem ajudar a melhorar os sistemas?
Tem que ser a punição e a bonificação. Uma Lei de Acesso à Informação sem punições é um erro. Porque isso cria uma situação em que a autoridade não quer divulgar o dado e fica por isso mesmo. Temos muitos casos que chegam à última instância da LAI e a informação não é liberada.
Qual o nível de transparência do governo brasileiro?
A LAI é um marco de transparência, mas ela veio tarde. Fomos um dos últimos países da América Latina a ter uma lei nesse sentido. E a implementação dela teve prazo de seis meses, o que é muito complicado.
Nós melhoramos muito, mas a gestão de Jair Bolsonaro marca o retrocesso no entendimento da transparência, porque há sempre uma condicionante. Na LAI, por exemplo, tem se usado com maior frequência as exceções de sigilo.
No caso do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello colocou-se o sigilo máximo, de 100 anos. Isso é muito raro. Há situações em que uma medida assim é necessária, mas ela deve ser usada para coisas que exigem esse tipo de limitação.
É uma hipocrisia deixar a cargo do Judiciário o julgamento sobre transparência, sendo que esse poder não cumpre a o nível de transparência exigido?
A democracia tem hipocrisias. E é o melhor que podemos fazer. Os partidos definem as próprias regras e aumentam o fundão, por exemplo. E o Judiciário vai julgar casos sobre ele mesmo, por exemplo, pagamento de auxílio-moradia.
O ideal é que os outros poderes tenham alguma maneira de controlar. No caso do Judiciário é a lei. Se a norma diz mostre, o Judiciário tem que mostrar. O Legislativo controla o Judiciário nesse momento. Daí a importância da sociedade civil, de não deixarmos o governo sozinho e da agenda de governo aberto. É preciso ter a imprensa pressionando e trazendo ao público temas relevantes para serem discutidos.
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NotíciasTranscrição
00:00Olá, hoje o Antagonista entrevista o senhor Fábio Stiebel, diretor do ITS Rio e especialista
00:06em transparência governamental. Muito obrigado pela entrevista, senhor Stiebel.
00:11É um prazer estar aqui, obrigado pelo convite.
00:16Começa a nossa entrevista com uma pergunta um pouco mais genérica, né? Muito se fala em
00:22transparência governamental, muito se fala em abertura de dados, acesso da população,
00:28mas quais são as balizas dessa transparência, né? Até que ponto é transparência e até que ponto é só falta
00:36dizê-lo pelo controle da informação?
00:40Olha, Breno, a transparência faz parte de uma palavra mágica que é governo aberto.
00:46Então, o Brasil, por exemplo, é um dos signatários, um dos criadores da parceria de governo aberto,
00:51a Open Government Partnership. Fui relator do plano de governo aberto do Brasil durante seis anos.
00:55E transparência, participação, accountability é uma cultura. Não é necessariamente uma ferramenta,
01:03um selo que você ganha, mas é uma cultura de governo aberto. Onde é que a transparência entra nisso?
01:09Faz parte do governo aberto de que o governo seja transparente. Aí vem a lei de acesso à informação
01:14à lei, que ela vai dizer o seguinte, olha, tudo é público, exceto o contrário. A regra é ser público. Por quê?
01:20Porque o governo é nosso. Então, se você tentar os pessoais, se você tem sigilo, tem alguns motivos
01:26pelos quais você deixa a coisa? Não pública agora. Nada é público e definitivo para todo mundo.
01:33E essa é a cultura de transparência. Qual que é o bom disso? O bom é que a gente pode controlar o governo.
01:38A gente precisa controlar o governo. Faz parte desse sistema. Qual que é o ruim? De que a gente sabe mais
01:46dos pontos disso que acontece. Então, quando a gente pensa em países sem transparência,
01:51fica mais fácil de você, como governo, criar uma imagem que está tudo bem. Quando você tem transparência,
01:56é difícil. E, em geral, tem muita coisa errada no governo. Faz parte, porque governos são recentes,
02:04governos são construções coletivas, sabe? Se botar luz demais, você vai ver um monte de buraco
02:10naquela estrada. Então, a transparência, ela tem que ser usada, mas ela tem que ser usada
02:14com responsabilidade. Por que você está vendo? Por que você quer arrumar? Então, vamos supor,
02:20os governos anteriores, eles pegaram quem ganhava Bolsa Família e quem não tinha carro.
02:27Faz um cruzamento. Você vai encontrar pessoas que são laranjas. Você vai encontrar pessoas
02:32que têm condições financeiras, mas que recebem ajuda do governo por baixa renda.
02:39Então, o governo, no caso, a CGU, o que ele faz? Com base nisso, ele vai lá, fiscaliza,
02:45e aí ele verifica se é um caso laranja, se é um caso de erro de dado, etc., e resolve aquele
02:49problema para que não haja esse tipo de base. Quando a gente fala transparência, a gente fala
02:53vamos colocar o dado online. E aí o cidadão pode fazer o mesmo cruzamento, mas tem que ser feito
02:58com muita responsabilidade. Mas, de forma geral, transparência é regra. E os poderes
03:03mais transparentes, por incrível que contradiga a sua, a opinião nossa, é o executivo.
03:10O executivo dos poderes é o mais transparente, seguido pelo legislativo, os menos transparentes
03:16são o Ministério Público e Judiciário.
03:18Que deveriam estar, pelo menos, em segundo lugar, né? Porque são justamente aqueles que
03:24fiscalizam a lei, que, pelos seus preceitos institucionais, são os responsáveis por
03:30manter a lisura do governo, por fiscalizar o próprio governo, né? O MIP também tem
03:34essa função um pouco, que é o fiscal da lei. Por que essa falta de transparência no
03:39judiciário?
03:41A gente desenvolveu muita tecnologia, muito conhecimento sobre transparência no
03:45executivo. Então, as primeiras leis de acesso à informação, né? Elas começam a falar
03:50do executivo. Aí que a gente entendeu que não é sobre um poder, é sobre o governo.
03:55E aí você vai expandindo para os outros. Mas é uma cultura. Essa cultura leva tempo
04:00para a gente saber como fazer, para que a gente saiba a forma de fazer.
04:04Então, vou imaginar, por exemplo, o governo executivo federal tem o dado de
04:08GovBR, né? Que é o banco de dados, de dados abertos. O portal de transparência do
04:13Brasil é um dos mais antigos do mundo. 2004, muito antes do marco civil, muito antes
04:18de lei de acesso à informação, né? Quando você vai olhar para o Ministério
04:21Público, o portal de transparência deles é capenga. O portal de transparência
04:25do judiciário, em alguns momentos, ele é meio para de receber dados ou recebe
04:29dados que param de ser atualizados. O Conselho Nacional de Justiça avançou um
04:35monte nisso, mas ainda tímido. Quando você vai para estados e quando você vai para
04:39municípios, novamente você tem uma queda. Então, quando você olha para o Executivo
04:43Federal, em regra nos países, você está olhando para o melhor, para o
04:47SupraSumo que temos. E não necessariamente é o ideal, a gente quer mais. Quando você
04:52olha para os outros poderes e quando você olha para a Federação, para baixo, há menos
04:56implementação. A boa notícia, e esses são dados da CGU, que faz o Índice de
05:00Transparência Brasil, e também análises externas que são feitas, é de que ao longo
05:06dos anos o governo tem se tornado cada vez mais transparente. Então, a cultura de governo
05:10aberto tem pego. Ela só não é tão rápida quanto a gente achava que esperaria que fosse.
05:16Entendi. O senhor acha que aplicar punições por falta de transparência pode ser um
05:25caminho, ou esse tipo de novo comportamento deve ser uma coisa mais gradual, feita no
05:32diálogo? Porque, como o senhor mesmo disse, o portal do governo brasileiro é um dos
05:36primeiros, é um dos mais antigos, 2004, e depois veio o Judiciário. A gente já está
05:40na fase de começar a punir por falta de transparência, ou ainda estamos no momento
05:45do diálogo. Olha, tem que ser os dois, é graveto e é cenoura. É a porrada e a
05:52bonificação. Então, assim, se você tiver uma lei de transformação que não tenha
05:56punidades, penalidades, começou errado. Porque você cria aquela situação em que
06:02eu não quero te dar o dado e fica por isso mesmo. A gente tem vários casos aí que vão
06:06até a última instância ali da LAI, e que não dão, isso prejudica muito o jornalismo,
06:10né, que precisa dos dados, pede os dados. Por outro lado, só na porrada também não
06:15vai. Se você não tiver investimento público, se você não tiver programa de
06:19capacitação, se você não pegar os bons exemplos, sabe, e transformar em melhores
06:23práticas. Vamos pensar no seguinte, as ouvidorias é uma inovação da lei de
06:28transformação. O governo, ele pegou e contratou um software para as ouvidorias.
06:34Aí alguém no sociedade civil pegou aquilo e hackeou e fez uma versão igualzinha, só que
06:39open source. Olha que ideia boa. Hoje, o ESIG, que é esse aplicativo, ele é essa
06:44versão open source, essa versão código aberto. Então, não é só não ter a
06:48penalidade, tem que ter, mas é a política pública. Você tem que pensar na
06:52implementação positiva e também na repressão do fora da curva.
06:57Senão, você avança pouco. O ideal, realmente, é você ter uma estratégia, um plano.
07:03E aí você vai ter no Brasil, por exemplo, a Ouvidoria Geral da União, a AGU,
07:08trabalhando muito forte nisso. Você vai ter o CNJ, o Conselho do Ministério Público.
07:13Você tem algumas organizações que cavalam esse processo, assembleias
07:17legislativas. Existem muitos campeões de governo aberto no Brasil.
07:21Infelizmente, eles não levam tanto mérito quanto a gente gostaria. A gente fala
07:24mais dos problemas do que do mérito. Mas o Brasil cresceu muito em
07:29transparência. Mas onde é que a gente viu? De um cenário péssimo em
07:32transparência.
07:33Só para esclarecer para a nossa audiência que o senhor usou o termo
07:38hackeamento em relação ao site de dados abertos, nem sempre um
07:41hackeamento é uma invasão criminosa. O hackeamento pode ser simplesmente a
07:45análise do código fonte daquele site para que esse programador use em
07:51outro site, como o senhor bem disse, de fonte de dados abertos, de fonte
07:54aberta.
07:55Isso, o hackeamento é um termo que vem do décimo de 70 do MIT.
07:58Exatamente.
07:59A gente precisa usar uma tecnologia para fazer outra coisa.
08:02Então, na verdade, é o jeitinho, é a gambiarra. Tudo isso é exemplo de
08:06hackeamento positivo, né? Você fez uma gambiarra e consertou a luz.
08:10Está ótimo, o hackeamento é isso. Boa correção.
08:13Não é nenhuma correção, é só um esclarecimento. Muito obrigado.
08:17Voltando um pouquinho para a transparência, sem ser digital ou não,
08:22o governo brasileiro é muito criticado pelos atos que ele toma, pela falta
08:30de transparência, mesmo com tudo isso. Qual o nível de transparência atual
08:37do governo brasileiro? Não da gestão Bolsonaro, mas desde que começamos
08:41a discutir esse assunto até o ano de 2021, independente de matriz
08:46ideológica, independente de quem é o presidente da república, em que nível
08:49de transparência estamos hoje? Eu acho que a gente pode falar de alguns
08:53marcos, né? Então, assim, a lei de acesso à informação é um marco
08:57de transparência. Ela vem tarde. Se você olhar para a América Latina,
09:00nós somos um dos últimos países a ter uma lei de acesso à informação, né?
09:04Ela vem em 2011. A implementação dela, você tinha seis meses para fazer
09:09a implementação. É difícil de você fazer a implementação de uma lei tão
09:12pesada em seis meses. Nós melhoramos muito. Então, os índices mostram
09:19que nós melhoramos. O que nós temos na gestão do presidente Bolsonaro
09:22é um retrocesso, um entendimento da transparência. Vem transparência
09:28mas, participação mas. Então, no início do governo, você tem um decreto
09:33que diz, olha, todos os conselhos e tudo mais de participação estão
09:36suspensos. Aí você vê que alguns são colocados por leis, etc. e aí
09:40alguns ficam assim. Mas a regra hoje é, não pode conselho mas, se quiserem,
09:45a gente faz. Antes, a regra é, conselho está liberado. Conselho é uma forma
09:49de participação social no setorial bem executado. É muito bom. O que falta
09:54investir em como fazer conselhos serem mais eficientes. Mas o conselho em si
09:58é muito importante para a saúde, para a educação, benefícios, etc. Você vê que
10:03o uso da lei de acesso à informação, ele tem sido cada vez mais usado
10:07as exceções de sigilo. Então, por exemplo, no caso do Pazuello, colocou-se o sigilo
10:13máximo de 100 anos. É raro de você ter um governo que coloque sigilo máximo.
10:19O sigilo máximo, ele existe para ser usado. Ele não é errado. Mas ele é usado
10:24para coisas que merecem realmente aquele sigilo. Se não, faz o seguinte, a lógica
10:29que parece o seguinte, como eu não quero mostrar, eu coloco a transparência, o sigilo
10:33como uma exceção. Eu acho que a gente viu várias ações do Estado Civil,
10:39Open Order Foundation, Artigo 19, com vários relatórios mostrando de como
10:44a transparência tem regredido na sua aplicação. Isso não quer dizer que ela
10:49desapareceu, porque quem manda é a lei. Quem manda são as instituições, as regras
10:53institucionais. Então, a gente não está no caos. Mas a gente viu uma sessão de
10:57investimentos e a gente viu uma sessão, uma interpretação muito mais
11:02restritiva de transparência. Quando a gente vai para o legislativo, a coisa se
11:07mistura. Existem várias esferas estatuais legislativas que estão avançando.
11:12Minas Gerais, Paraná, Pernambuco. Você vê realmente esses investimentos em
11:19transparência que tem. Eles podem ser simples. Vamos imaginar o seguinte, uma
11:24vez eu tentei pegar a Constituição do Piauí, porque eu estava fazendo uma
11:28documentação. Não achei. A Constituição do Piauí não estava online. De todos os
11:33estados, ela não estava. Isso é grave. Então, vários legislativos têm avançado
11:39para colocar ali uma plataforma pública de leis do que elas estão sendo
11:43discutidas e etc. Mas o avanço é lento. Quando a gente olha para o judiciário,
11:48você vai ver um avanço do CNJ, uma pressão sobre os indicadores, a justiça, o
11:52portal, uma produção de dados a respeito disso, mas ainda muito conservadora. E como a
11:57justiça é fragmentada, você vai ter lugares que têm ótimas experiências de
12:02transparência e outros lugares que entendem que transparência não se aplica. O
12:06Ministério Público é mais fechado e fragmentado ainda. Então, eu vejo que como
12:11cultura da transparência tem avançado. Há relatórios, indicadores para mostrar
12:16isso. Mas é uma curva. Você vai lá em cima, você vai lá embaixo, a gente vai
12:21vivenciando ela. Em geral, tem melhorado. Mas eu acho que alguns pontos de tensão que
12:26são preocupantes.
12:28E há muito também a questão da transparência quando se fala agora em
12:32LGPD, né? Porque LGPD protege os dados que podem levar ao dono daquela
12:39informação, né? São os dados anonimizados que chamam, né? Que você pega e separa o
12:44dado da pessoa. Então, por exemplo, no meu caso, repórter Breno Grilo, você pode ter
12:50acesso aos sites em que eu naveguei, as algumas informações, mas sem saber que fui
12:54eu. Mas isso também tem sido usado, principalmente no funcionalismo público,
12:59como um argumento para fechar informações sobre contra-cheque, bonificações.
13:06Como é que a gente vê essa dualidade, né? Porque o próprio Supremo já tem
13:11jurisprudência falando que a privacidade, né? A vida privada daquele que ocupa um
13:17cargo público, seja eletivo ou concursado, ela é relativizada justamente pelo dever de
13:23transparência da União.
13:26A gente já tinha uma bomba instalada, que é como é que você pega dois direitos
13:31fundamentais, né? O da privacidade e o da transparência, né? Se eu estou falando de
13:36obras públicas, por exemplo, é difícil de aplicar LGPD porque geralmente não são
13:41dados pessoais. Mas quando eu falo de pessoas, ali é diferente. E aí a gente está, o que a gente
13:47precisa é avançar em que momentos a gente deve favorecer um, em que momentos a gente
13:52vai favorecer outro. Existe um teste de proporcionalidade que deve ser feito, o
13:56judiciário faz muito ele para a gente aplicar nesse. É certo que não tem uma regra para
14:01tudo. E quanto mais segurança jurídica, melhor. Vamos entrar no caso dos salários
14:06das pessoas, né? Por um lado, você precisa saber quantas pessoas ganham. Por quê?
14:11Porque é o dinheiro público que está sendo investido lá. Agora, eu não preciso saber,
14:15talvez, aonde você mora. Porque essa informação pode ser sensível. Vamos pensar a polícia?
14:21Se eu sei aonde os policiais moram em usar a internet, eu exponho aquela força de segurança
14:26a um risco, né? Então, mas vamos pensar, doador de campanha, né? Eu dou o meu dinheiro
14:34para um partido. Essa informação, ela é pública antes de ser pessoal ou ela é pessoal
14:40antes de ser? Possivelmente, o entendimento é o seguinte, se você quer participar de um órgão
14:46representativo da democracia e você, de forma consciente, doa dinheiro, você aceita as regras
14:51da transparência. Não há o que se falar de que você vai ser o doador anônimo.
14:55Você é o doador pleno, né? Que eu preciso saber qual que é a sua interferência.
14:59Ou, daqui a pouco, a gente vai criar a regra do seguinte, olha, se forem doações até
15:03R$500,00, vamos imaginar que esse doador é um indivíduo. Vamos criar uma transparência
15:07de dois níveis. Você não pode ter acesso em massa a todo mundo, mas você pode consultar.
15:13Placa de carro é assim, você tem uma consulta um a um.
15:16Agora, se você é um doador de R$5.000,00, você é uma PJ, você é alguém com a relevância.
15:22Nesse caso, a gente vai deixar público para todo mundo. O ideal é a gente avançar nesse
15:26debate que tem. E aí, quando você abre dados do funcionalismo público, o que você recai?
15:32Você recai em áreas que são de erro. Então, pode ser que o funcionário pleno, ele tenha
15:37recebido uma verba que não é aquela que está no sistema. Então, você tem que ter um processo
15:41recursal para você arrumar, trular, alguma coisa assim. Também pode acontecer que tem
15:46um motivo razoável, legal, lícito, de você ter recebido aquilo. Vamos supor que uma das
15:52coisas que se alega é que é o seguinte, olha, não, essa é uma verba que estava em litígio
15:56e foi paga agora. A justiça mandou pagar porque são de dois anos atrás que eu não recebi.
16:01Então, o debate tem que ser feito com muito critério e seriedade. Eu acho que eu sempre
16:08prefiro pensar que a lei de excesso de informação, ela vem primeiro. E aí, a exceção é os dados
16:15pessoais. Agora, eu gosto de pensar também que os dados pessoais, eles têm que ser
16:20minimizados. Eles têm que ser o mínimo que permita o controle. E aí, você tem que
16:27colocar sistemas para que essa transparência não seja abusada. Eu vou dar um exemplo.
16:32A lei que institui o Bolsa Família, ela diz que todo mundo que recebe o Bolsa Família,
16:38tem que ter a sua CPF na internet. Esse dado público é usado para o credit score
16:42para negar crédito. Então, veja que é um caso profundo. A gente tem que ter uma
16:47discussão muito séria sobre isso. Já estava montando antes da LGPD. No caso de
16:53salário de funcionalismo público, eu acho que é onde se materializa aquilo
16:55muito claro. Se temos um teto, faz sentido estar acima do teto? Quantas pessoas ganham
17:01acima do teto? É direito do cidadão, da fiscalização, saber disso. Por outro lado, a gente tem que
17:08pensar, será que eu tenho como minimizar aquele uso lícito daquela
17:12verba para não colocar aquela pessoa em risco? E aí, você tem que fazer essa
17:16discussão. O melhor é você ter a CGU, a OGU, o judiciário trabalhando com melhores
17:22práticas, olhando outros países para definir diretrizes de como a gente vai
17:26fazer. Hoje, infelizmente, é bastante fragmentado esse cenário. E aí, a gente tem
17:31acesso a partes dos dados, partes dos dados a gente não tem. E aí, é um caos.
17:34Voltando um pouquinho para o judiciário que o senhor acabou de citar, o judiciário
17:40é o responsável por resolver os conflitos, analisar essas questões e, como eu falei
17:45já nessa entrevista, o Ministério Público fiscalizar a lei. A gente pode dizer que
17:49é uma hipocrisia deixar a cargo dessas instituições barra o poder judiciário
17:56o julgamento sobre transparência em determinados casos, sendo que eles não
18:01cumprem o nível de transparência que a gente exige?
18:06É um bom pensamento. Eu diria que a democracia tem algumas hipocrisias.
18:13E é o melhor que a gente consegue fazer. Então, partidos políticos, eles definem
18:17as próprias regras. Aumentam o fundão, o próprio dinheiro. Tem um pensamento de
18:21cartel. O judiciário vai definir causas que são sobre ele mesmo. E aí, você tem
18:25conflito de interesse. Eu recebo auxílio-moradia, eu julgo sobre auxílio-moradia.
18:31Agora, se não for o judiciário, quem será? Se não for o legislativo ali, quem será?
18:36Então, existem alguns temas, principalmente quando o poder julga ou faz algo em interesse
18:43próprio, que o ideal é que os outros poderes tenham alguma medida de controle.
18:49Então, por exemplo, no caso do judiciário, você tem a lei. Se a lei diz, mostre, o judiciário
18:54não pode dizer, não mostre. Então, o legislativo controla o judiciário nesse momento. Se o
19:01legislativo diz, olha, isso é salário, isso não é, a reforma administrativa tem alguns
19:07elementos disso, melhora muito para o judiciário não poder dizer, não, mas isso daqui não
19:12e tudo mais, aí um Estado diz uma coisa, Estado diz outra. Então, essas são as áreas
19:16cinzas, digamos assim, que a gente tem. Daí a importância da sociedade civil. Daí a importância
19:23da gente não deixar o governo sozinho e da agenda de governo aberto. Então, você tem que ter a imprensa
19:28fazendo o watchdog, fazendo aquele papel de pressionar, de trazendo a público isso para fazer,
19:33para dizer, olha, isso é um tema de relevância, precisamos falar sobre isso. Daí a importância
19:40de você ter associações civis, ONGs e tantas outras, sabe, produzindo material, participando
19:47disso, de você ter associações industriais, empresariais participando. Porque o governo
19:53é nosso, não é deles. Essa visão de que o judiciário é judiciário é enviesado, o
19:59judiciário é público. O legislativo é público, o executivo é público. Os governos são uma
20:05criação coletiva. Olha a Constituição se tiver dúvida, né? Então, o que a gente precisa
20:10é quebrar esses silos de tomada de decisão, que às vezes são muito fechadas. Tem que
20:15fazer isso com muito cuidado, porque o que a gente não quer é uma agenda onde as instituições
20:21sejam desprezíveis, né? Bombardeadas, quebradas. Então, partido político acho que é um bom
20:28exemplo. A gente bate, bate, bate nos partidos políticos. Tira os partidos para você ver o que
20:32acontece. A gente sabe que você tira o firewall, você tira aquela proteção para que interesses
20:38da sociedade, tipo dinheiro, não entrem direto. Eles têm que passar por um filtro que é
20:43controlável. Então, os partidos são super importantes. Tira o judiciário. Você vai
20:47ver o problema que é. Então, a gente precisa desse mecanismo do governo funcionando bem.
20:52As instituições democráticas é a única coisa em combate à corrupção. E aí, quando
20:57você olha, por exemplo, nos papéis federalistas que fazem esse modelo meio americano, mas
21:02das instituições que a gente tem, a lógica é o seguinte, não confiaremos em humanos.
21:06Confiaremos em humanos verificando humanos. Melhor dizer ainda, instituições controlando
21:12instituições. Então, essa lógica de um contra o outro é que funciona. Então, há uma hipocrisia
21:16quando você tem um poder que legisla ou julga em causa própria. O remédio para isso é os outros
21:23poderes e a sociedade controlando. Esse é o único remédio que funciona.
21:29E quando se fala muito em transparência, principalmente no Brasil, pensa-se em salários,
21:33desvio de recursos para fiscalizar, mas a transparência é um termo muito mais amplo.
21:39E aí, a gente pode pegar, por exemplo, no executivo, a obrigação de divulgação de
21:43agenda de autoridades, como o presidente da República e seus ministros. E o que a gente
21:47vê é que, muitas vezes, essa agenda não é divulgada, mesmo havendo regulamentação
21:53pela CGU, inclusive com possibilidade de punição para os ministros.
21:57como que fica isso?
22:00Esse é o caso onde você tem que... os outros poderes têm que intervir.
22:05Então, essa é uma frase no Brasil que só existe no Brasil, a lei não pegou.
22:11E aí você tem esse acordo implícito de que a gente não vai divulgar agenda e tudo bem.
22:17Tem que pressionar e isso vai acontecer. Por que agenda é essencial? Lobby.
22:21A gente sabe que as maiores dificuldades do governo é o lobby, são outros atores atuando
22:27para orientar o governo. Então, você tem, em alguns países, lei de lobby, você tem a
22:32regulamentação de lobby, você tem um crachá de lobbyista. Isso não é ruim, isso é
22:35transparência. E aí você tem essa agenda. No governo atual, diminuiu-se bastante esse
22:43costume de registrar agenda e divulgar agenda. Isso é bastante problemático. Eu imagino que
22:49algum tipo de registro exista, só que ele vai ser conhecido daqui a 50, 100 anos.
22:55Mas não faz o menor sentido de você não divulgar agenda, porque o cargo da presidência, o cargo
23:01do ministro, o cargo não é dele. Ele está no cargo, o cargo não é dele. Se você quiser abrir
23:07uma empresa, o cargo é seu. Se você está no governo, você está no cargo.
23:12É, você está de passagem, né?
23:14Todo mundo está de passagem, porque o governo é de ninguém. Ele é uma obra coletiva.
23:18Você sempre está de passagem. É essa a regra. É por isso que a agenda não é sua.
23:25E eu acho que as regras, elas existem para serem cumpridas. Se não, muda a regra.
23:30Então, se há uma penalidade, você vai ter essa dificuldade. Talvez você não consiga
23:35fazer uma penalidade contra o presidente. Mas contra ministro, você consegue.
23:39Conta secretário, você consegue. E isso vale também para o judiciário e para o
23:43ministério público, tá? Porque eles também têm agenda oficial. Também acontece esse lobby lá.
23:47Então, a pressão, ela tem que acontecer para que isso exista. É melhor hoje do que
23:53era no passado. Mas estamos longe do tal.
23:58Nós já falamos do judiciário, do ministério público e do executivo. Falta o legislativo.
24:04A pandemia fez com que muitas das sessões, sejam de comissões temáticas,
24:08específicas especiais ou até do plenário, fossem semipresenciais. Líderes no plenário,
24:14alguns deputados que se disponham a ir. E a outra parte é de maneira digital, por
24:20videoconferência. Isso afeta a transparência do legislativo, que é baseada não só nos
24:26gastos, mas também na discussão aberta frente à sociedade dos temas que estão sendo
24:32debatidos? Afeta. Eu acho que o que mais afetou a pandemia, na verdade, foi o fechamento
24:39das comissões. E isso, se já na comissão o presidente tem muito poder, quando você
24:44fecha as comissões, o presidente da casa ou de partes da casa tem mais poder ainda.
24:49Então, a gente concentrou nesses dois anos muitas ações em poucas pessoas. Isso é
24:53bastante ruim. Isso é ruim. Sobre a transparência do legislativo ou do executivo, eu acho que
24:59é fundamental a gente lembrar de que a transparência é a regra, mas ela admite exceções.
25:06Então, se eu quero fazer uma negociação com o Breno, eu posso fazer essa negociação
25:10a portas fechadas. Há uma série de regras que eu tenho que obedecer. Colocar na agenda,
25:17publicar um resultado daquela negociação, dizer que eu tive aquela negociação. Mas a sala
25:23fechada, ela é importante, porque há temas que não podem ser tratados em público.
25:29E aí, isso é uma pesquisa muito interessante, na Noruega e na Dinamarca, de como reuniões,
25:34de como órgãos legislativos que combinam sessões públicas e fechadas, têm decisões
25:39mais abertas do que aqueles que têm só abertas. Então, você precisa desse lado
25:43fechado. A gente não tem que ter medo do fechado. A questão é que o fechado é regulado
25:49e ele é exceção. O que a gente sabe do Congresso é que a maior parte das negociações
25:55é feita fora da internet. Vou dar o caso da reforma eleitoral, que é secreta.
26:00Ela não foi publicada. Se você entrar no site da Câmara, já está em discussão
26:04há quatro meses, já tem indicação de urgência, vai mudar todo o sistema eleitoral
26:07político e não foi publicada. Ela é secreta? É. Mas, legalmente, ela é permitida. Por quê?
26:14Porque o Congresso pode discutir qualquer coisa. Eles chamam de anteprojeto, estão discutindo
26:19com quem eles querem e não está transparente. Então, esse é um exemplo do que não deve
26:24ser feito e que deve ser combatido. Infelizmente, quando você vai para estados e quando você
26:28vai para cidades, é pior ainda. Então, a regra que é usada pelo legislativo é
26:33eu vou discutir com as partes e vou publicar quando for para votação. Essa, em geral,
26:38é a regra. Essa não é a melhor prática, porque você impede que as pessoas possam
26:42participar do processo legislativo. E o que as pessoas não entendem é que essas regras
26:46elas são ruins, elas são piores. Porque quando você pensa em algo complexo como governo,
26:52se você não discutir com vários setores, você faz uma regra quebrada. Não tem nada
26:57pior do que uma regra quebrada que não funciona, a lei não pega. Então, se você quer fazer
27:02uma boa lei, você tem que fazer ela colaborando com outros setores, não aqueles
27:06que você quer, mas sim aqueles que querem participar. Porque o governo é seu.
27:11Mas eu acho que o legislativo, ele sofreu bastante. Quando você entra para o estadual
27:16e municipal, mais ainda. Porque aí você vai ter casas que não tinham infraestrutura,
27:20transparência, você vai ver controles externos que são ainda mais frágeis.
27:26Então, nós sofremos. Agora, a pandemia mostrou de que é possível você ser ainda
27:35mais transparente. Então, quantas sessões agora a gente fez online e como é possível?
27:44Então, você daqui a pouco não participar de uma votação, você diz, mas eu não estou
27:47em Brasília. Não, peraí, você pode participar. Tem uma forma de você participar.
27:51Você é representante, você pode participar. Você deve participar. A gente tem que
27:55registrar seu voto e ver como é que foi. Mas é uma construção lenta.
28:01E eu gostei muito do exemplo que o senhor citou da reforma política, que encaixa
28:04perfeitamente no argumento anterior do senhor mesmo sobre o sistema de freios e
28:08contrapesos, sociedade civil e imprensa, que o antagonista publicou com exclusividade
28:13as discussões da reforma política e o que está sendo pensado nesse anteprojeto, que
28:17ainda está sendo discutido e vai voltar a ser discutido agora em agosto.
28:20Para fecharmos a nossa entrevista, a gente tem visto muito da digitalização dos
28:28processos. Sessões do Supremo semipresenciais, sessões do Congresso, como
28:32acabamos de mencionar, o Executivo cada vez mais digitalizado, mas ainda a gente
28:38percebe que falta muito e essa foi uma das diretrizes do presidente Jair Bolsonaro
28:44durante a campanha. Existem muitas críticas, mas em alguns pontos a gente pode dizer
28:50que o governo dele avançou, regrediu ou nada mudou?
28:54Em agenda de transparência?
28:56De digitalização que facilita a transparência.
29:00Sim. O Ministério da Economia puxou uma agenda muito forte, digitalização de serviços.
29:06Muito interessante. Você tem aí avanços em idade digital, você tem avanços em serviços
29:12digitais, você tem realmente avanços nessa área. Por que o serviço digital é importante?
29:20Por inclusão. A hora que você faz o governo só funcionar no balcão, você exclui muita
29:25gente. Lembra, alguém tem que pegar um ônibus para chegar lá, alguém tem que tirar tempo
29:29do trabalho para ir lá. Você exclui muitas coisas. Então, eu acho que é um serviço,
29:36é um esforço continuado. Desde 2001, a gente tem uma agenda forte de digitalização de
29:40serviços e, de fato, nessa área o governo avançou bastante. Permite transparência isso?
29:48Sim. Você tem uma grande possibilidade de controle de dados e do que está sendo feito.
29:54Pouco se avançou no controle, contudo. O foco, nesse momento, está muito mais em tornar
29:59o serviço digital do que propriamente em controle. No combate à corrupção, por exemplo,
30:05um novo avanço. Inclusive, é chamado do apagão de dados. É muito usado quando se fala nas
30:10queimadas da Amazônia, mas também isso se aplica às várias outras áreas de todo o governo,
30:16independente de ser executivo, legislativo ou judiciário. Os especialistas em dados,
30:20principalmente os jornalistas, falam em apagão de dados. A gente vive um apagão de dados?
30:26Boa pergunta. Eu diria que a gente vive uma má gestão de dados. E, às vezes, uso de dados
30:34para esconder dados de jornalistas. Então... Mas eu não vejo... Eu já vi apagão de dados.
30:42Eu não vejo a situação de apagão de dados. Trump, por exemplo, fez apagão de dados.
30:47Ele deletou bases públicas. A gente não viu esse movimento aqui.
30:52Às vezes, você deixou de atualizar e não foi priorizado. Mas não é que foi necessariamente
30:57deletado. No caso da Amazônia, é um pouco complicado, porque você proibiu de divulgar
31:04um dado que é público desde 88. Não faz o menor sentido. Depois, você ficou trocando
31:08o satélite e a metodologia. Isso criou um problema de comparabilidade de dados e etc.
31:13Então, ali na Amazônia, eu acho que houve realmente uma estratégia de redução
31:18de transparência de dados. E houve também mais gestão. Se você for ver a quantidade
31:23de pessoas técnicas que estão lidando com dados da Amazônia hoje e do que era
31:27nisso da gestão, é muito menos. É basicamente o trabalho herculando de você
31:31para quem ficou lá. Em todo o Ministério do Meio Ambiente, houve redução
31:34de dados oferecidos. Agora, todo governo vai tentar controlar dados
31:45que favoreçam ele. Então, seria errado pensar que isso é governo Bolsonaro,
31:50se é governo Lula, Dilma, FHC, Collor, Tony Blair, Cameron, qualquer governo tende a fazer
32:02essa gestão. Por isso a importância de controle externo, para que isso não possa ser feito.
32:08Então, eu não esperaria que o governo não tentasse, daqui a pouco, segura a divulgação
32:12desse dado um pouquinho, porque eu quero melhorar alguma coisa. Eu vejo os governos fazendo
32:17isso. Esse ímpeto é racional. Para isso que tem que ter lei, instituições e pressão externa.
32:22Para falar, não, não tem dessa. O governo é nosso, é o que é.
32:28Eu acho que não é o momento mais brilhante do Brasil para a agenda de governo aberto.
32:34Tanto é que a nossa participação na Open Government Partnership é cada vez mais tímida.
32:39A gente atrasa planos, a gente faz compromissos cada vez menos ambiciosos.
32:44Na própria OGP, a gente tem cada vez menos participação.
32:47Não é o momento de brilho do Brasil em agenda de governo aberto.
32:51Já foi. A gente já foi muito brilhante.
32:54Há mais algum ponto que a audiência do Antagonista precisa saber sobre governo aberto e transparência?
33:02Eu acho que a lição, depois de 15, 20 anos trabalhando no governo aberto,
33:08eu acho que a principal lição é tenha paciência.
33:14Eu sei que isso é péssimo de ouvir, mas governo aberto é uma cultura,
33:18é algo que a gente faz com o tempo, se faz com instituições.
33:23E ainda é muito difícil das pessoas saberem como participar do governo,
33:28como botar a mão na massa e ajudar, mas é essencial elas fazerem.
33:32Então, eu vou dar bons exemplos.
33:34O Observatório Público, alguns observatórios, eu já vou lembrar o nome,
33:43eles se especializaram nas cidades em controlar contas.
33:46E isso fez muito sucesso.
33:49Em Florianópolis, por exemplo, eles se especializaram em divulgar licitações.
33:54Então, eles pegavam quem tinha concorrido em uma licitação
33:56e divulgavam isso de volta, de volta, de volta,
33:58para aumentar a quantidade de organizações e empresas
34:01que participavam de licitação.
34:02Isso melhora a qualidade do serviço.
34:05Observatório de Contas Públicas.
34:08Eu acho que, assim, quando você olha ONGs,
34:11você vai ver, o terceiro setor, você vai ver ali,
34:14artigo 19, o movimento Fique Sabendo,
34:17que vão fazer movimentos incríveis de pedido de dados
34:22e de produção desses dados,
34:23e ajudam realmente na construção disso.
34:28Ouvidorias costumam reunir pessoas extremamente sérias de governo
34:31em agenda de transparência.
34:33É um bom lugar para se começar a conversar e para se fazer.
34:37E eu acho que a gente tem que proteger muitos jornalistas,
34:40porque eles precisam muito desses dados.
34:43É claro que você pode usar o jornalismo como uma arma
34:46e usar dados como uma arma.
34:49Principalmente em cidades pequenas e médias,
34:51a gente vê como que você pode politizar uma notícia
34:55e ela pode ser contra o candidato.
34:57Isso é exceção.
34:59E você tem que lidar com isso, não com restrição à transparência.
35:02Tem que lidar com isso com uma questão criminal,
35:04se for o caso.
35:06Se eu cometi uma injúria, se eu cometi uma calúnia
35:08com dados abertos,
35:10a questão ali é você trabalhar na esfera criminal.
35:12Mas essa é a exceção da exceção da exceção.
35:15Em geral, o dado é aberto
35:17e quem está na posição pública
35:20tem que estar aberto à crítica.
35:22Senão, fica na iniciativa privada.
35:24Não entra para o governo.
35:25Você entrou para o governo,
35:26você é servidor público,
35:28você tem que estar sabendo
35:29que você está em um cargo
35:30onde o seu salário é pago pela população.
35:33Você deve prestar contas.
35:35Ponto.
35:37O famoso virou vidraço.
35:38E é lindo.
35:41Nenhum lugar é mais transformador que o governo.
35:45Se você quer mudar o mundo,
35:46comece pelo governo.
35:48Melhore o governo.
35:49Porque a capilaridade de impacto do governo
35:51é muito maior do que em qualquer outro lugar.
35:54O governo é algo incrível.
35:56E é muito importante apoiar as pessoas
35:58tendo governo,
35:59trabalhando por mais transparência.
36:01Eu lembro, por exemplo,
36:02no governo Temer,
36:03de que foi apontado o ministro da CGU
36:06que era muito reverso
36:10nas agendas de transparência
36:11e combate à corrupção.
36:14Os funcionários públicos
36:16pegaram vassoura
36:17e foram lavar a corredora em protesto.
36:20E eu viajei para um grande evento nacional
36:22ao lado de uma dessas servidoras.
36:25E ela falou,
36:26eu fiz porque eu acho que é inadmissível
36:28e eu estou aqui falando com você
36:30e eu não sei se ainda sou servidora pública,
36:31porque eu estou aqui nessa agenda.
36:34E aí a sociedade civil estava
36:36pé da vida
36:37por causa do governo Temer
36:38de que ele tinha feito.
36:40E eu falei para eles,
36:41falei, gente,
36:42vocês têm que escolher.
36:43Vocês vão ser contra o governo Temer?
36:44Beleza.
36:45Agora, olha a servidora
36:46que está na sua frente
36:46tentando fazer uma mudança de dentro.
36:49Vocês vão deixá-la na mão?
36:51Porque quem vai ferrar é ela.
36:53Então, assim,
36:54ou a gente invade o governo
36:55no sentido de que o governo é nosso,
36:57vão participar da política pública,
36:59ou a gente vai ficar
37:00clicando de fora.
37:01E se você quer mudar,
37:02você tem que entrar.
37:03e o trabalho é árduo.
37:05Então, eu diria que
37:06a grande mensagem para as pessoas
37:08é tenha paciência
37:09e trabalhe com o governo.
37:13Havia um plenazo,
37:14em 2014, 2013,
37:16quando começaram a invadir
37:17as assembleias.
37:19Invadir uma assembleia é um plenazo,
37:21mas subir para cima.
37:22Você não pode invadir o que é seu.
37:25Você não pode ocupar algo que é seu.
37:27Então,
37:28o movimento que está sendo feito ali
37:31é o seguinte,
37:31nós que estamos aqui
37:33queremos permanecer aqui.
37:34Na constituinte,
37:35os povos indígenas
37:36invadiram o Congresso
37:38e isso significa
37:40nós íamos fazer parte disso.
37:42E eles só saíram da sala
37:43quando os parlamentares falaram
37:46ok,
37:46sobre demarcação
37:47a gente vai concordar com vocês.
37:49Então, invadir o Congresso
37:50é uma coisa que,
37:51feita dentro da ordem,
37:53dentro da instituição,
37:54dentro de tudo,
37:55sem menções de capitólio
37:56Estados Unidos, certo?
37:57Não é invadir para bagunça.
37:59É invadir no sistema institucional
38:01é nosso.
38:03Então, faz todo sentido.
38:04Governo aberto
38:05significa que você participa.
38:07Entendi.
38:08Sr. Stiebel,
38:09muito obrigado
38:10pela sua entrevista.
38:13Beren,
38:13é um prazer.
38:16Acho muito importante
38:17o trabalho que o Antagonista faz.
38:19É um ótimo exemplo
38:20de diversidade
38:21no jornalismo brasileiro.
38:22Muito obrigado.
38:23Hoje o Antagonista
38:25entrevistou o senhor
38:26Fabro Stiebel,
38:27especialista em governo
38:28aberto
38:29e diretor
38:30da ITS Rio.
38:31Muito obrigado.
38:32Eu,
38:52eu,
38:53eu,
38:55eu,
38:58eu
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