Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • 21/06/2025
Zeina Latif, consultora econômica e ex-economista-chefe da XP Investimentos, explicou, em entrevista a O Antagonista, que a aprovação de reformas e privatizações não é algo necessariamente positivo. Segundo ela, é preciso ver o modelo aprovado e como isso impactará o Estado e a economia.


Assista à íntegra da entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=XpDFo48a6as&ab_channel=OAntagonista.

--
Cadastre-se para receber nossa newsletter:
https://bit.ly/2Gl9AdL​

Confira mais notícias em nosso site:
https://www.oantagonista.com​

Acompanhe nossas redes sociais:
https://www.fb.com/oantagonista​
https://www.twitter.com/o_antagonista​
https://www.instagram.com/o_antagonista

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Alguns projetos do governo Jair Bolsonaro tem caminhado, principalmente depois da entrada de Arthur Lira na presidência da Câmara e do senador Pacheco na presidência do Senado.
00:13A privatização da Eletrobras já está no Senado para ser analisada, o senador Marcos Rogério, que é o relator do parecer, já disse que quer entregá-lo quanto antes, a reforma administrativa começou a andar na comissão da Câmara.
00:27Esses movimentos têm dado bons sinais para o mercado, mas o mercado acredita que essas reformas prometidas por Bolsonaro desde 2018, pelo menos uma boa parte delas, será entregue até a eleição do ano que vem?
00:45Olha, acho que é importante separar algumas coisas aqui.
00:51Quando a gente fala em agenda de reformas, tem que separar temas que são mais polêmicos, que envolvem, por exemplo, negociações, impactam contas públicas, envolvem negociação com grupo maior,
01:10daquelas reformas mais estruturantes associadas a pontos de interesse do setor privado, e aí o próprio setor privado cobra, enfim, é diferente.
01:24Uma coisa é você aprovar um marco do saneamento, outra coisa é você aprovar uma reforma administrativa.
01:31Por mais que o marco do saneamento tenha questões técnicas, tem sempre o risco dos jabutis, tem tudo isso, mas não pode comparar do ponto de vista de dificuldade de aprovação com uma reforma administrativa
01:46em que você vai ter que lidar com as incorporações do setor público, né, e, obviamente, a parte importante da esquerda que não quer avançar em temas que mexam com o setor público.
02:00deixam isso claro ali no seu discurso, o que é uma ironia, aliás, né, mas, enfim, o meu ponto aqui, então, assim, primeiro é separar.
02:15A segunda coisa é que não dá para a gente pegar as reformas e, só porque saiu a manchete, e achar que, olha, temos avanços aqui.
02:27O que eu entendo, por exemplo, da reforma, da capitalização da Eletrobras, é do jeito que ela está, era melhor não sair.
02:39É isso que eu entendo, né, não sou especialista da área, procurei me debruçar ali, até como analista econômica, para entender, enfim.
02:47E o que eu vejo é que ela insere muitas distorções no sistema.
02:55Distorções essas...
02:57Desculpa interrompê-la, mas é que o mercado reagiu mal, por exemplo, à obrigação de compra de energia de termoelétricas, né?
03:07Isso, exatamente.
03:09Tem temas ali que já tinha tido, né, tentativa de colocar, por exemplo, no marco do gás, não avançou, felizmente, e esse tema...
03:17Esses temas voltam.
03:19Então, assim, uma coisa é você falar, olha, saiu a reforma, outra coisa é você celebrar, né?
03:26Então, no caso, eu vejo com preocupação o avanço da medida da Eletrobras.
03:31E eu acho o seguinte, eu vejo...
03:34A gente tem visto a discussão agora, está muito assim, ah, do quanto isso vai penalizar o consumidor e tal e tal.
03:39Hoje, é muito difícil fazer cálculos precisos, eu nem vou me ater, mas o fato que ela insiste em distorções que não deveriam estar lá.
03:48Se vai pesar mais, se vai pesar menos, a gente vai, né, no consumidor, o tempo vai dizer.
03:53Agora, está inserindo distorções.
03:56E, ironicamente, indo contra até uma agenda ESG, por exemplo.
04:03Porque o mundo está indo para energia limpa.
04:06A gente tem que aproveitar o gás natural, que polui menos, polui, mas mesmo assim não é energia limpa.
04:13Fazer grandes investimentos, uma coisa é você aproveitar o potencial que está ali, e outra coisa é você fazer um tremendo investimento em regiões que não fazem sentido do ponto de vista econômico,
04:27sendo que daqui não sei quanto tempo, você não vai provavelmente explorar essa energia.
04:33Então, enfim, aqui colocando só uma coisa que eu preferiria que não avançasse do jeito que está, voltasse à proposta original.
04:45No caso de reforma administrativa, tributária, né, você comentou da administrativa ter avançado na CCJ,
04:54eu fico muito cética do quanto, de fato, vai avançar, mas também, né, vejo problemas no que está sendo discutido.
05:02Aí, assim, o tempo vai dizer, mas às vezes você aprovar uma medida, que é uma PEC,
05:10que tem, né, uma medida de emenda constitucional, propósito de emenda constitucional,
05:14que tem temas ali que não precisariam estar numa PEC, ou seja, você vai estar engessando mais a Constituição.
05:21Poderia estar se resolvendo com um projeto de lei.
05:24O fato de preservar alguns elementos hoje, né, das regras do funcionalismo, e ao preservar pode significar, tem muita dificuldade de mudar depois.
05:41Então, eu acho que tem que tomar muito cuidado, né, a gente tem que tomar muito cuidado com os passos que estão sendo dados.
05:49Porque só a busca de manchete de jornal me traz preocupação.
05:55Entendi. Então, nós podemos dizer que não é o total de reformas que são aprovadas, e sim a qualidade das reformas que são aprovadas.
06:06Sem dúvida. Eu não tenho dúvidas em relação a isso.
06:11Porque se é uma reforma cheia de jabutis, que vai colocar distorções, ou que vai dificultar a mudança adiante,
06:18eu vejo com preocupação. Eu preferia que fizesse algo mais cuidadoso.
06:28Entendi.
06:28Agora, mesmo nessa direção, assim, eu continuo vendo com ceticismo uma reforma administrativa.
06:35Acho difícil, de fato, avançar.
06:38A tributária?
06:41Mesma coisa a tributária.
06:43Eu até, até a gente tem visto avanço na discussão, né, no caso da CBS, eventualmente com alíquotas diferenciadas.
06:50Mas, aqui também surge essa dúvida, o ideal seria não ter alíquota diferenciada, mas digamos que a gente veja ali um consenso assim,
07:00olha, tem uma alíquota diferenciada para o setor de serviços, né, inferior,
07:05e lá na frente a gente vai equalizar conforme conseguir reduzir o imposto sobre a folha, né,
07:16porque o argumento é que o setor de serviços precisa ter uma alíquota menor, porque contrata mais pessoas,
07:22isso não tem, obviamente, abatimento de crédito tributário,
07:26então, o certo seria acoplar com uma reforma para reduzir o custo da folha.
07:33O ministro Paulo Guedes tentou emplacar alguma coisa, fazendo a substituição com a CPMF,
07:38que eu acho um tremendo equívoco.
07:42Mesmo que o imposto sobre a folha seja pesado, eu acho que trazer a CPMF é um grande retrocesso,
07:51acho que o efeito líquido é negativo para a economia.
07:55Mas, aí, de repente, você fala, não, tudo bem, conseguimos um consenso aqui para fazer a CBS,
08:00não é a reforma dos sonhos, mas pode ser um passo importante, pode ser, pode ser que tenha algum espaço.
08:07Mas, veja, o tempo corre contra, né, e eu não vejo o presidente querendo se comprometer com temas controversos, né,
08:21já acho que nunca houve muita disposição, né, numa linha até excessivamente pragmática,
08:29e acho que daqui para frente menos ainda, porque essas reformas estruturais,
08:36elas, claro, sempre tem um efeito na formação de expectativas, no curto prazo,
08:42mas, de verdade, de verdade, essas reformas estruturais, elas geram um benefício mais lento, mais longo,
08:49não é imediato.
08:50Você pega, por exemplo, a reforma trabalhista do governo Temer,
08:53que foi uma reforma muito importante.
08:56Hoje a gente vê benefícios por causa do trabalho intermitente, por exemplo, né,
09:00o quadro de geração de emprego estaria muito pior,
09:04de emprego com carteira assinada, se não fosse a reforma do governo Temer,
09:09mas ele, Temer, não conseguiu colher nada, né, não conseguiu colher nada,
09:14nenhum ganho político,
09:15pelo contrário, ele teve o custo político, né,
09:19que demorou para as pessoas entenderem a importância dessa reforma,
09:23até a OIT atacando, que eu acho injusto, mas, enfim,
09:29tudo isso para dizer que um político que tem uma visão mais de curto prazo,
09:35ele vai preferir adiar reformas estruturais,
09:38porque hoje o benefício, ele é pequeno no curto prazo
09:43e o custo político é razoável, né, pode ser bem grande.
09:49Então, eu não vejo, eu não vejo o Bolsonaro abraçando essas pautas.
09:54Caminhamos para o fim dessa entrevista e eu gostaria de saber das senhoras
09:57se tem mais alguma coisa que gostaria de complementar
10:00para toda a audiência do Antagonista,
10:02que a senhora vê que ela precisa saber.
10:04Olha, veja, o Brasil, a gente vive um momento, não é de agora,
10:12extremamente delicado, eu diria, né,
10:16porque nós somos um país que envelhece, envelhece rapidamente
10:21e a gente não conseguiu sair do que chamamos de armadilha de renda média,
10:26pelo contrário, acho que a gente tem se afundado,
10:28nós temos tido décadas perdidas e podemos estar em vários pontos,
10:37em vários aspectos, realmente brincando à beira do abismo, né,
10:43então, na questão educacional, na questão ambiental,
10:48nesse difícil ambiente de negócios que faz tantas pessoas deixarem o país.
10:55Então, veja, nós estamos num momento muito delicado, né,
11:00então, claro, o investidor, ele olha o curto prazo,
11:04ele olha a taxa de juros,
11:05bom, tem um lado positivo, tivemos avanços também no país,
11:08temos hoje taxas de juros civilizadas,
11:12mas o fato é que precisamos ser mais ambiciosos, né,
11:16esses avanços estão sendo muito lentos
11:22e, obviamente, em alguns pontos nós estamos tendo retrocesso.
11:27Mesmo na questão conjuntural agora,
11:31quando eu olho o que está acontecendo com a gestão das contas públicas
11:35e, obviamente, o impacto na inflação,
11:38claro que não é comparável ao que a gente viu no governo Dilma,
11:42certamente não,
11:43aliás, hoje as nossas instituições funcionam, e bem ou mal,
11:46ainda que a regra do teto, ela não consiga lidar com o momento atual,
11:54mas ela está sendo respeitada,
11:55quando a gente olha os gastos obrigatórios fora, né,
11:59tirando-os da pandemia,
12:01estão bem comportados,
12:02então, é claro que tem avanços aqui,
12:04claro que tem,
12:05a gente está falando de cenário de estresse para juros,
12:09mesmo assim, é taxa de juros de um dígito, né,
12:12é claro que tem avanços,
12:14mas a gente precisa ser mais ambicioso,
12:17então, eu vejo com,
12:19me incomoda a gestão da política,
12:22me preocupa, mais do que incomoda,
12:23me preocupa a gestão da política fiscal,
12:26quando eu olho essa inflação ficando mais teimosa,
12:29me traz preocupação,
12:30de novo a gente falando de inflação acima da meta,
12:33ah, mas a inflação do mundo todo subiu,
12:35é verdade, mas a nossa aqui está mais,
12:38está mais pressionada,
12:39e o que a gente observou ali,
12:43meados de 2016,
12:44governo Temer,
12:46sinalização de agenda fiscal,
12:49as discussões crescendo sobre ajuste fiscal,
12:52diagnósticos corretos,
12:54bom trabalho do Banco Central,
12:56enfim, mas a questão fiscal aqui é central,
12:58o Banco Central sozinho não consegue cuidar da inflação,
13:02o ponto é que a gente via uma inflação ali
13:04que estava andando junto com a de países parecidos,
13:08estava deixando para trás
13:10aquele passado do governo Dilma,
13:14de uma inflação que ameaçava sim sair do controle,
13:16ameaçava sim,
13:19é que teve um impeachment e interrompeu,
13:22o impeachment trazendo uma mudança
13:25da política econômica do país,
13:26o que eu vejo agora é a inflação de novo escorregando,
13:29de novo, não comparável ao que aconteceu lá atrás,
13:32mas não deixa de ser um retrocesso,
13:34então, assim, a gente já tem tanto desafio,
13:36imagina ainda ter que se preocupar com a inflação teimosa de novo,
13:41e, portanto, juros que não vão ser tão baixos
13:43quanto a gente está acostumado,
13:45claro que boa notícia não é,
13:47não é, não é,
13:49precisamos encontrar,
13:51vou retomar o caminho da disciplina fiscal,
13:55e mais do que isso,
13:56não é só disciplina fiscal,
13:57porque a disciplina fiscal,
13:58ela tem que vir, na verdade,
14:00com uma melhora da qualidade do gasto público,
14:02então, assim,
14:04não se trata de discutir,
14:06não, mas então você está falando
14:07que não é para ter auxílio emergencial,
14:08de forma alguma,
14:09você não pode deixar as pessoas para trás,
14:12não se trata disso,
14:13mas se trata de caprichar mais
14:15na qualidade da política pública no Brasil,
14:18caprichar ali,
14:20quer dizer, ter políticas públicas
14:22que realmente atendam os seus objetivos
14:25e evitar desperdício de recursos,
14:28porque não tem milagre na economia,
14:31quando a gente erra na política fiscal,
14:33é questão de tempo a inflação
14:35começar a chatear o que a gente está vendo agora.
14:38O Antagonista conversou hoje
14:40com a consultora econômica Zena Latif,
14:43muito obrigado por sua entrevista,
14:45foi muito esclarecedora,
14:47e uma boa tarde.
14:50Obrigada, até uma próxima.
14:52Até.
15:01Tchau.
15:08Tchau.

Recomendado