O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, anunciou um acordo comercial com a Argentina que pode afetar as exportações brasileiras. Igor Lucena, consultor da Amero Consulting, analisou ao vivo no Fast Money os impactos sobre veículos, linha branca e agro, e a concorrência americana no Mercosul.
🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!
Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC nas redes sociais: @otimesbrasil
📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:
🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais
🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562
🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube
🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings
00:00Fast Money de volta e a gente fala agora do acordo comercial firmado entre Estados Unidos e Argentina no início do mês que pode impactar diretamente o Brasil.
00:09Anunciado pelo secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bassett, o acordo envolve cooperação em comércio e investimentos,
00:17o que gera preocupação entre os mercados brasileiros pela potencial perda de espaço para os produtos na Argentina.
00:25A Argentina representa um mercado importante para o Brasil, movimentando 14,9 bilhões de dólares em receita de janeiro a outubro desse ano.
00:35E a gente conversa sobre isso com Igor Lucena, que é consultor da AmeriConsulting e está aqui ao vivo com a gente mais uma vez no Fast Money.
00:43Prazer te receber mais uma vez, Igor. Boa tarde, bem-vindo.
00:48Boa tarde, Natália, Felipe. É um prazer estar aqui com vocês.
00:51Prazer o nosso. Ô, Igor, ajuda a gente a entender do que se trata, quais são os pontos mais importantes desse acordo,
00:59no que diz respeito à balança comercial brasileira também.
01:05É isso mesmo, Natália. Antes de mais nada, a gente tem que analisar do ponto de vista macro o que esse acordo significa.
01:11A gente está vendo um acordo entre o país membro do Mercosul e dos Estados Unidos,
01:15e mais recentemente assistimos à entrada do Uruguai no TCEP, numa aliança do Pacífico.
01:23Isso mostra um recado muito claro que o Mercosul precisa avançar nos seus acordos comerciais.
01:29Os outros membros, que são menos industrializados, né, Argentina e Uruguai,
01:34estão sentindo presos no Mercosul e procurando outras oportunidades de negócios.
01:39No caso, agora específico dos Estados Unidos, o que é uma situação muito complexa é que muitos dos produtos que nós vendemos,
01:48principalmente produtos industrializados, vão sofrer agora com a concorrência norte-americana.
01:54Então, a Argentina compra muito do Brasil veículos, a gente vende muito produtos de linha branca, televisores, geladeiras,
02:03e uma quantidade grande de produtos que vão para o Mercosul com uma tarifa diferenciada.
02:10Com esse acordo, a gente vai ver, muito provavelmente, uma concorrência forte.
02:15E os argentinos, que são tal qual o Brasil, extremamente abertos, fechados para mercados exteriores,
02:23se comprometem a diminuir a chamada red tape, né, ou seja,
02:26um conjunto de burocracias que existem nos países da América Latina e também da Argentina,
02:32para que produtos também do agro possam entrar mais facilmente na Argentina.
02:38Obviamente, os argentinos entendem que não há, do ponto de vista de Milley,
02:43uma preferência pelos produtos brasileiros, e o próprio Javier Milley já foi um grande crítico do Mercosul,
02:49dizendo que as relações do Mercosul estão baseadas em muito mais ideologia do que mercados.
02:56Então, acho que isso é um recado muito claro.
02:58Eu acho que o presidente Lula já respondeu a isso, né?
03:00Agora, no final do mês, a tentativa de anunciar uma assinatura do acordo do Mercosul-União Europeia,
03:07e se pudermos, até a votação disso nos parlamentos locais e da União Europeia.
03:12Se nós não fizermos isso, não só a Argentina vai fazer outros acordos,
03:17mas o Uruguai, Paraguai e agora também Bolívia vão atrás de outras negociações.
03:22O que é complicado é que o Brasil tem produtos que alimentam esses países,
03:27mas, de uma certa maneira, esses mercados estavam protegidos pelo Mercosul.
03:32E agora, esses membros, em especial a Argentina, não querem ficar presos a uma compra única de fornecedores brasileiros,
03:39e sim avançar com os Estados Unidos.
03:41Lembrando, os Estados Unidos têm um acordo aí que está sendo negociado de mais de 20 bilhões de dólares em investimentos,
03:47e uma tentativa de segurar a dívida, a explosão da dívida cambial argentina.
03:51Então, há aí uma troca de interesses políticos e também da própria segurança cambial argentina dentro desse acordo.
03:58E que o Brasil, neste momento, não encontra elementos para conseguir, de uma certa maneira,
04:04sobrepujar esses avanços dos outros membros do Mercosul em busca do que, para mim, é muito claro, uma espécie de livre comércio.
04:12Certo, Felipe, o ponto.
04:13É interessante, Igor. Igor, essa aliança entre Milley e Donald Trump, que é uma aliança também bastante ideológica ali,
04:21como é que ela enfraquece o Brasil na liderança aqui do continente e na liderança do próprio Mercosul?
04:28Olha, existe uma visão de liderança que o Brasil está com grandes problemas de tentar colocar em prática.
04:36Isso porque, do ponto de vista econômico, a gente não tem grandes projetos de infraestrutura ao redor.
04:42A China ocupou um espaço durante muito tempo de influência na América Latina, inclusive no Brasil.
04:49E o que a gente está vendo é os Estados Unidos tentando tomar espaço.
04:53E o que os Estados Unidos estão tentando fazer, de uma maneira muito clara,
04:57é entrar com o que ele passou décadas sem fazer.
05:00Seria investimentos, acordos de livre comércio,
05:04e tentar fazer com que empresas americanas investam mais na América Latina.
05:08E ele escolheu a Argentina por um motivo muito simples,
05:11a visão ideológica muito mais à direita de Javier Milley,
05:15a relação que Milley tem com a família Trump,
05:18e que se a Argentina, que é um país extremamente desorganizado economicamente, der certo,
05:24isso faria com que, ou pode fazer com que, outros países da América Latina
05:28olhem para os Estados Unidos como uma outra visão,
05:32como um país que pode ajudá-los a resolver seus problemas,
05:34e afastar a influência da China.
05:37O próprio caso na Venezuela, em parte, tirando os problemas de drogas, etc.,
05:43toda essa ação militar que ocorre, também é para tentar diminuir a influência,
05:48e principalmente na área de espionagem, de China, Rússia e Irã dentro da América Latina,
05:53em que já está mais comprovado que utilizam o território venezuelano para isso.
05:57Então, acho que faz parte de uma estratégia maior do presidente Trump,
06:02do que a gente chama de doutrina moral 2.0,
06:05aquela ideia de que a América para os americanos,
06:08e que a América Latina tem que ser uma área de influência americana.
06:11E o laboratório teste, os acordos, tudo que está sendo colocado,
06:16está sendo feito para, inicialmente, a Argentina,
06:19e que se a Argentina der certo numa recomposição econômica,
06:22tudo isso seria expandido para outros países.
06:24Eu acho que é mais ou menos nessa linha que pensa o presidente Trump,
06:28e, obviamente, é uma espécie de boia de salvação de Javier Milley.
06:33Entretanto, isso vem a custas, principalmente, da indústria brasileira.
06:38A gente vai ter menos exportação do agro brasileiro para a Argentina,
06:42porque o agro americano vai, sim, ter espaço privilegiado,
06:46e, principalmente, a nossa indústria de transformação,
06:49principalmente essa parte de indústria de linha branca, veículos, motos,
06:52e isso tudo, de fato, tem o risco de diminuir a capacidade de exportação
06:56para a Argentina em detrimento de empresas norte-americanas.
07:01Igor, você me corrija se a informação não estiver precisa,
07:05mas a gente exporta para a Argentina, sobretudo,
07:07itens de indústria de transformação.
07:09A gente está falando de veículos, autopeças, motores,
07:13e, com o avanço desse pacto,
07:16produtos americanos podem acabar entrando na Argentina
07:18com preços mais baixos, ameaçando os nossos produtos?
07:22É isso que está em jogo?
07:23E como é que a gente pode se proteger?
07:26É possível que isso ocorra,
07:28é possível que até empresas americanas produzam na Argentina,
07:32e ainda tem até um risco que esses produtos
07:35possam ser produzidos na Argentina
07:36e serem exportados para o Brasil,
07:39tendo até um risco na nossa própria economia local
07:43de produtos americanos sendo produzidos na Argentina
07:46e vindo para o Brasil dentro do projeto do Mercosul.
07:49Então, é muito complexo isso.
07:51O que nós podemos nos proteger,
07:53aí não é simples,
07:55mas o ponto principal seria
07:56uma aproximação com a Argentina
07:58e uma maior capacidade de investimentos
08:01cruzados entre empresas brasileiras
08:03e empresas argentinas,
08:05para que o mercado consumidor
08:06se torne mais interconectado,
08:09não dependente.
08:10Os argentinos vêm como uma espécie de dependência
08:13dos produtos brasileiros,
08:14do que a gente já compra,
08:15de uma certa maneira, semi-pronto,
08:17e que muitos dos argentinos imaginam
08:19que há uma desindustrialização da Argentina
08:22também por causa da industrialização brasileira.
08:25Então, é necessária uma reconfiguração
08:28de como as relações comerciais existem
08:30entre os dois países.
08:31O grande problema é que, politicamente,
08:34a situação é muito distante
08:35entre Javier Milley e o próprio presidente Lula.
Seja a primeira pessoa a comentar