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A nova primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, assume em meio a uma crise econômica e tensões com China e Estados Unidos. O professor de relações internacionais da FGV, Pedro Brites, analisa os riscos da dívida japonesa, o avanço do nacionalismo e os desafios demográficos que ameaçam o futuro do país e seu papel na Ásia.

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Transcrição
00:00A nova primeira-ministra do Japão assume o país em um momento de crise econômica
00:05e cheio de desafios nas relações com os Estados Unidos e China.
00:09Para que a gente possa entender um pouquinho melhor o que essa nomeação significa
00:13para a política externa japonesa e o equilíbrio geopolítico na Ásia,
00:19eu tenho o prazer de conversar com Pedro Brites,
00:21que é professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas,
00:25a quem eu recebo aqui, mesmo que à distância no Conexão,
00:29lhe desejando uma ótima noite, professor Brites.
00:33Bom, a gente tem uma mulher, isso foi celebradíssimo, ok,
00:37mas eu queria entender, primeiro, as questões econômicas do Japão.
00:43Isso é quase que um paradoxo, né, professor Brites?
00:47E se a gente olha a história econômica do Japão, são vários paradoxos,
00:51mas eu vou usar o mais contemporâneo.
00:54A quarta maior economia do mundo, tá bom, que já foi a segunda,
00:58caiu para a quarta, mas ainda está no top five.
01:01E tem, entre os países ricos, super desenvolvidos, de matriz tecnológica,
01:08a maior dívida externa do mundo entre os países ricos.
01:13Não é que é uma dívida externa acima do PIB,
01:16são duas vezes e meia a própria capacidade de produção de riqueza.
01:21Está certo que o Japão abusou aí dos critérios de bom pagador,
01:26imprimiu muita dívida, porque é reconhecido internacionalmente
01:29como alguém que quita as suas dívidas.
01:33Mas qual é o risco, professor Brites,
01:36de se tornar a chamada dívida impagável, né?
01:40Sempre o movimento bola de neve,
01:43aquele que vai descendo a montanha e quanto mais anda, maior fica,
01:46pode virar uma avalanche e ser imparável.
01:50O Japão corre esse risco?
01:52Boa noite mais uma vez.
01:54Boa noite, é um prazer estar aqui com vocês.
01:56De fato, acho que o Japão vive muitos dilemas, né,
01:59com o que diz respeito ao seu desempenho econômico.
02:03A crescente dívida externa,
02:05mais do que isso também,
02:06a dificuldade de estabelecer uma trajetória de crescimento econômico sólida
02:11ao longo dessas últimas, principalmente duas décadas,
02:14e mais do que isso também é uma dificuldade de dinamizar a sua economia, né?
02:18Conseguir fazer com que você tenha setores pujantes
02:21que sejam muito competitivos.
02:23É claro que o Japão, como você bem mencionou,
02:24é uma das cinco maiores economias do mundo,
02:27tem muitos setores que são reconhecidamente setores de vanguarda
02:31em termos tecnológicos, por exemplo,
02:33mas a verdade é que o Japão vem perdendo em termos relativos
02:36sua capacidade de competir com principalmente Estados Unidos e China, né?
02:40E eu acho que no caso da China,
02:42isso se torna um problema geopolítico também.
02:44Então, me parece que a Takahiti,
02:47ela assume já o governo com esse desafio,
02:50que é um desafio que não é só dela,
02:52mas que vem já de, como eu mencionei,
02:54de duas décadas, mas especialmente desde 2010, 2012,
02:57quando o Japão, pós-terremoto de 2011,
03:00teve muita dificuldade de se reestabelecer
03:02como esse epicentro da economia asiática que ele era
03:05durante a década de 1980, 1990.
03:08Eu acho que se a gente pensar num risco de dívida,
03:10não acho que seja um risco iminente,
03:12mas eu acho que é uma preocupação
03:14dentro desse portfólio de dificuldades
03:17que o Japão enfrenta atualmente.
03:19Professor Brites,
03:20deixa eu traduzir aqui em números
03:22para todo mundo acompanhar,
03:24a gente é tão acostumado aqui a falar
03:26de Estados Unidos e China,
03:28quando aparece Japão é porque realmente
03:29tem um ponto fora da curva.
03:31Além das questões econômicas,
03:33que daqui a pouco a gente volta nelas,
03:36tem esses desafios geopolíticos, né?
03:38Por um lado, tem uma trinca que é de China,
03:43Coreia do Norte e Rússia,
03:45sendo que esta China, pós-segunda guerra mundial,
03:49pós a nova constituição japonesa de 1947,
03:52essa China hoje é muito diferente,
03:54passados praticamente 80 anos.
03:57Temos um novo polo tecnológico aqui
04:00que tem atraído a atenção do mundo
04:02e não por acaso toma o lugar da China,
04:05a China toma o lugar do Japão, perdão,
04:06como segunda maior economia do mundo.
04:09A Coreia do Sul, perdão,
04:11eu também coloco nessa equação
04:14porque as montadoras sul-coreanas
04:18também estão ali mordendo os calcanhares
04:21das públicas e notórias montadoras
04:25de automóveis japonesas.
04:26E a marca de eletroeletrônicos Samsung da Coreia do Sul
04:31roubou da Sony japonesa
04:33o posto de ser uma das maiores
04:36ou a maior produtora de eletroeletrônicos do mundo.
04:40O Japão tem corrido esse risco
04:42de ficar à margem da história?
04:45Claro, tem, como o senhor muito bem falou,
04:48uma aliança com os Estados Unidos,
04:50construída e solidificada depois da Segunda Guerra Mundial,
04:52mas tem dois players aqui,
04:55quando eu estou falando de tecnologia,
04:57Segunda maior economia,
04:58depois passou para a terceira, para a quarta,
05:00quer dizer, o Japão foi atropelado pela China,
05:03pela Alemanha,
05:05corre o risco de cair para a quinta, a sexta,
05:07se não correr atrás do tempo perdido aqui?
05:12Com certeza sim.
05:13Quando a gente olha as projeções,
05:14por exemplo, para a economia mundial para 2050,
05:16existe uma preocupação do Japão
05:18de continuar perdendo o poder relativo.
05:20Quando a gente olha para essa competição regional,
05:22acho que é bem simbólico desse processo
05:25de enfraquecimento que o Japão vem vivenciando.
05:28No que diz respeito à China,
05:29a China, de fato, se tornou o principal polo industrial,
05:32isso já há mais de duas décadas,
05:34mas, além disso, a China hoje é uma produtora
05:36também de tecnologias, de conhecimento,
05:39disputa as vanguardas também no setor de computadores,
05:43por exemplo, que era algo que a China não disputava
05:46se nós pegarmos o cenário do final do século passado.
05:49E no que diz respeito à Coreia do Sul,
05:50de fato, a Coreia do Sul se colocou nessa posição
05:53de ser uma das principais plataformas de exportação da Ásia
05:58e, mais do que isso, também um setor altamente competitivo
06:01no que diz respeito a eletroeletrônicos,
06:03também na indústria naval,
06:05e isso também coloca o Japão num cenário complicado regionalmente.
06:08Além do que, do ponto de vista diplomático e securitário,
06:11a gente já sabe das tensões que existem com relação à China,
06:15até por causa da disputa entre Estados Unidos e China
06:18que tem se acentuado nesses últimos anos,
06:21mas com a Coreia do Sul, essas relações, apesar de serem dois aliados
06:24dos Estados Unidos, elas também não são tão pacificadas.
06:27Você tem tensões históricas, também você não tem uma parceria
06:31que pudesse alimentar mutuamente esses dois países.
06:34Então, na prática, esses desafios para o Japão impedem que ele continue
06:39se mantendo como esse centro regional da economia asiática,
06:42e, por outro lado, também internamente, do ponto de vista doméstico,
06:46é uma sociedade que tem envelhecido,
06:49então tem uma dificuldade de conseguir estabilizar sua mão de obra,
06:53de incluir definitivamente as mulheres no mercado de trabalho, por exemplo.
06:56Então, esses desafios internos e externos
06:58têm gerado muitas preocupações na estratégia de longo prazo do Japão,
07:03que tem fortalecido esses setores nacionalistas,
07:05como a Takai, em alguma medida, representa também.
07:07Pois é, professor Brides, vamos emendar essa sua resposta
07:11com essa minha próxima pergunta?
07:15Esse nacionalismo, Japan first, como você bem previu aqui,
07:20estava na minha lista, vai ter um impacto diplomático,
07:25talvez, aí eu estou fazendo uma previsão, uma leitura de políticas de segurança,
07:30porque isso me faz muito lembrar do Japão imperial.
07:34Claro, o orgulho do japonês é algo que a gente entende,
07:39é quase que um inconsciente coletivo,
07:41e eu estou lidando com esse termo no melhor sentido da palavra.
07:45Mas agora a gente tem um nacionalismo,
07:48que foi mudado depois de 1947, com a última Constituição,
07:52chamada o Japão da Paz,
07:55que passou a ter uma força de defesa e não um exército
07:59que se envolvesse em guerras.
08:02Mas este conceito pode ficar para trás com esse Japan first,
08:08com a primeira ministra agora tendo um pensamento
08:11que encosta bastante no MAGA do Make America Great Again do Donald Trump?
08:17A gente pode estar vendo uma nova página virada aí na história contemporânea do Japão?
08:21Eu acho que essa tem sido uma tendência.
08:25A gente, em alguns governos anteriores,
08:28mesmo no governo talvez mais duradouro dos últimos tempos,
08:31que foi o governo de Shinzo Abe,
08:33que ficou na última passagem dele no governo entre 2012 e 2020,
08:37a gente já viu alguns ensaios do Japão
08:39tentando se tornar mais ativo em termos regionais e também em termos militares.
08:44Então se tinha toda uma discussão sobre uma revisão do artigo 9º da Constituição japonesa,
08:49que é justamente esse que impede ações militares do Japão,
08:52uma ideia de reinterpretar como o Japão poderia atuar regionalmente,
08:55uma ideia de que talvez uma defesa preemptiva,
08:58uma defesa de prevenção pudesse também se enquadrar dentro de um mecanismo de autodefesa,
09:04o que poderia abrir espaço, por exemplo,
09:06para o Japão ter bases militares em outros países,
09:08e algumas discussões com Filipinas, por exemplo, aconteceram.
09:12Eu acho que esse é um pouco desse exemplo de como essas discussões
09:17sobre as questões de nacionalismo têm crescido,
09:20e eu acho que agora, especialmente tendo em vista os debates internos
09:23que têm ocorrido no Japão, com a ascensão da extrema-direita japonesa,
09:26com o Sanseito, que é um partido que tem muita conexão também
09:29com o movimento do Make America Great Again,
09:33isso tem levado que o PLD, então o partido da CAIT,
09:37também incorpore um pouco dessas discussões sobre um Japão mais forte,
09:41especialmente num contexto onde a China também vem crescendo militarmente,
09:45mantendo mais ações regionais,
09:46então isso fortalece um discurso nacionalista no Japão.
09:49E esse é um debate que me parece crescente,
09:52e o PLD tem incorporado essas dinâmicas.
09:54Eu acho que o que a gente vai ver é um Japão cada vez mais ativo
09:57na Ásia e em outras regiões,
09:59à medida que esse cenário for se consolidando,
10:02principalmente esse cenário de competição entre China e Estados Unidos.
10:04Professor Brits, para a gente caminhar para o final da nossa conversa,
10:08eu deixei a parte mais complicada para o final,
10:11que é essa daqui, a economia japonesa que tem um problema com o envelhecimento populacional,
10:19baixas na taxa de natalidade, os jovens japoneses não são interessados em ter filhos,
10:26muitos têm saído do Japão, procurado outras oportunidades,
10:29quase que um movimento de ocidentalização,
10:32fazendo um movimento completamente contrário daqueles famosos decassegues,
10:38isso está gerando uma sobrecarga na força de trabalho.
10:41E está aqui, uma força de trabalho que hoje, em alguns setores,
10:44tem uma escassez de mão de obra,
10:46retenção da mão de obra é mais difícil,
10:49porque o idoso que vive muito, vive bem,
10:52saudavelmente no Japão, quer se aposentar e curtir o final da vida,
10:56a mulher depois da licença maternidade,
10:58que aliás no Japão é de um ano, é bem generosa,
11:02tem uma taxa menor de retorno,
11:06e o que eu queria falar é justamente essa estagnação dos salários,
11:14quer dizer, tudo isso vai pesando no Estado,
11:18tendo ele mais velho e com menos pessoas para trabalhar,
11:22isso é uma tendência mundial,
11:23no Japão isso está mais latente.
11:25A gente tem um minutinho de conversa,
11:28fazendo para amarrarmos tudo isso,
11:30o que pode ser feito,
11:32se é que existe uma solução a curto ou médio prazo,
11:36para combater algo que tem sido tão notório no Japão hoje em dia?
11:43Bom, de fato é um desafio muito complexo de se lidar,
11:46e eu acho que por isso a gente tem visto tantas trocas de primeiro-ministro no Japão.
11:50Mas me parece que algumas estratégias têm sido as mais escolhidas pelo governo japonês,
11:55tentar dinamizar o setor de trabalho através de atração,
12:00principalmente das mulheres,
12:01que nunca foram priorizadas no mercado de trabalho japonês historicamente,
12:05e um outro debate que me parece um pouco mais difícil,
12:07que é como lidar com a questão de imigração,
12:09porque você tem uma extrema direita que cresce,
12:11dizendo que a imigração pode ser um fator de preocupação,
12:16e de dificuldades sociais, principalmente, para atender essas novas populações,
12:21mas por outro lado você tem essa necessidade de atrair uma força de trabalho
12:25que pudesse dar conta desses desafios.
12:27Então acho que não é um desafio simples,
12:29mas a tentativa principalmente do Japão tem sido tentar incorporar as pautas dos jovens,
12:34tentar trazer os jovens a se reencantarem com a política e com a sociedade japonesa, por assim dizer,
12:40e principalmente trazer as mulheres para dentro do mercado de trabalho.
12:43Mas de fato não é um desafio simples de ser resolvido no curto prazo.
12:48Para encerrar, eu queria agradecer muitíssimo essa conversa que eu tive com o professor Pedro Brites,
12:55mesmo que por teleconferência, ele que é professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas,
13:02me despeço dele aqui à distância, espero poder me reconectar com ele.
13:07Obrigado, professor Brites, mais uma vez.
13:09Até uma próxima oportunidade.
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