China e EUA à beira de nova guerra tarifária? Professor da FGV e UFF analisa

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O especialista em China e professor de direito internacional da FGV e UFF, Evandro Carvalho, analisou o novo capítulo das tensões comerciais entre China e Estados Unidos.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://tinyurl.com/guerra-tarifaria-trump

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00:00Para falar sobre China, Estados Unidos, esse embrólio entre as duas maiores economias do mundo,

00:06essas ameaças aí de sobretarifação, eu converso mais uma vez com Evandro Carvalho,

00:11professor de Direito Internacional da Fundação Getúlio Vargas, ele também leciona na UFF,

00:16que é a Universidade Federal Fluminense, e um especialista em China,

00:21a quem eu já começo a entrevista agradecendo mais uma vez pela presença.

00:25Professor Evandro, parece que a gente não consegue mudar de assunto,

00:28mais um capítulo aí do tarifácio, agora, variações do mesmo tema sem sair do tom.

00:37Casa Branca diz que talvez haja uma conversa entre os dois, Trump e Xi Jinping, em 72 horas.

00:43A China, quietinha, como todo bom oriental, o oriental ele ouve mais do que fala.

00:50Bom, se acontecer esta ligação aí tão importante para o resto do mundo,

00:56professor Evandro, o senhor que conhece tão bem a China, o que deve ser a postura dos chineses?

01:02Vão recuar?

01:04Esta ligação que deve sair da Casa Branca e tocar no gabinete do Xi Jinping,

01:10é um aceno para o Xi Jinping agora dar ele as cartas?

01:14Queria ouvir a sua avaliação, professor Evandro, e mais uma vez,

01:18muito obrigado por participar aqui da nossa programação.

01:20Boa noite, Favalha, é uma satisfação estar aqui de novo com você discutindo esses temas,

01:26que são muito importantes nesta quadra atual da história.

01:30Veja, eu acredito que a política externa chinesa, ela sempre se baseou muito dentro de um certo roteiro,

01:37roteiro, de um certo padrão de conduta diplomática que não permite, por exemplo,

01:47ou não dá espaço para que um presidente chinês haja de improviso, faça declarações

01:53que não tenham sido planejadas previamente ou que não estejam dentro de um certo script.

02:00Então chama a atenção o fato de que o Donald Trump tenha feito essa declaração,

02:05de que poderá falar com o presidente chinês em 72 horas,

02:08e não temos até o momento nenhuma declaração de uma autoridade chinesa

02:14ou porta-voz do governo confirmando isso.

02:17E perceba que geralmente essas tratativas estão sendo feitas com autoridades diplomáticas

02:25ou ministeriais a todo instante, quer dizer, o diálogo entre Estados Unidos e China

02:31continua com todas as dificuldades em função, sobretudo, das medidas adotadas pelos Estados Unidos.

02:38Mas chama a atenção essa diferença de estilo de política externa.

02:42O Donald Trump, ele atravessa qualquer tipo de programação diplomática

02:51por parte de uma política externa, mas, vamos dizer assim,

02:55assentada dentro de um padrão de conduta esperado pela diplomacia chinesa.

03:00De modo que eu acho que o Xi Jinping é um pouco relutante,

03:03ou provavelmente relutará a um tipo de diálogo com o presidente chinês

03:09que não tenha algum propósito muito concreto de solução de problemas

03:14que ambas as partes estejam enfrentando.

03:16E geralmente essas negociações são feitas antes.

03:19E o presidente chinês, ele entra em cena justamente para sinalizar positivamente

03:26e manter o canal de diálogo fluido com o presidente dos Estados Unidos.

03:29Então, essa declaração, ela causa um pouco espécie em função mesmo

03:33de não termos uma confirmação do lado chinês,

03:37e não é muito também o estilo chinês.

03:39De todo modo, sinaliza que os Estados Unidos, pelo menos, querem,

03:44ou, pelo menos, estão sinalizando que talvez tenha chegado o momento,

03:50na perspectiva dos Estados Unidos, pelo menos, de conversar com o presidente chinês.

03:57Professor Evandro, agora há pouco a gente colocou no ar um trechinho de umas declarações,

04:03uma entrevista que o economista Svart Prasad, que é um dos Chicago Boys,

04:08tem uma formação pela Escola de Economia de Chicago, é professor da Universidade de Cornwall,

04:14Nova Iorque, foi editor dos artigos do Fundo Monetário Internacional.

04:20Alguém gabaritado, claro, para falar de economia internacional.

04:23Mas eu gostaria de um contraponto com o senhor,

04:25em que ele fala que talvez não haja um grande choque em volume do comércio global,

04:31que as placas tectônicas vão se ajeitar e que a China,

04:36que tem uma grande estrutura de infraestrutura, óbvio,

04:39vai achar outros canais para escoar a sua produção,

04:43que algumas vezes ela é em grande volume justamente para impactar em custos globais.

04:50Só que todo mundo que produz em grande escala,

04:52e principalmente produtos de alto valor agregado,

04:55quer acessar o maior mercado consumidor do mundo, que são os Estados Unidos.

05:00O senhor vê essa análise do professor Prasad factível, digo,

05:07a China vai conseguir escoar essa sobra de produtos que eventualmente não forem para os Estados Unidos?

05:15Como você falou, o mercado dos Estados Unidos é um mercado cobiçado, importante,

05:20cuja ausência impacta em qualquer outro país que não possa,

05:25ou que tenha suas exportações para os Estados Unidos reduzidas.

05:28Agora, é verdade também que a China já vem se preparando,

05:34eu diria até desde 2013, quando lançou a iniciativa Central em Rota,

05:38em organizar uma infraestrutura que permita justamente o escoamento da sua produção.

05:46Já havia, por parte do governo chinês, nos seus planos quinquenais,

05:50essa orientação, dado o fato de que o estoque de mercadorias,

05:55de produtos chineses, como por exemplo, os próprios três,

06:01precisavam encontrar novos mercados,

06:04que o próprio mercado chinês já não apontava como suficiente

06:09diante da capacidade de produção de determinados setores.

06:13Então, a China já vem se preparando há muito tempo com isso,

06:16daí o investimento também em infraestrutura planejada

06:19em determinados países, localizados nos diversos continentes,

06:28para poder, inicialmente, nem se preservar de uma eventual guerra comercial

06:32com os Estados Unidos, mas justamente explorar mercados

06:34e reduzir a sua vulnerabilidade de um único comprador,

06:37de poucos compradores.

06:39Ocorre que o Donald Trump acelera essa preocupação da China

06:44desde o seu primeiro mandato, a Covid-19, a pandemia também gera

06:49uma preocupação de todos os países de diversificar os seus fornecedores,

06:57compradores, e o Trump 2 agrava ainda mais a situação.

07:01Então, eu acho que, além disso, muitos países estão tendo também

07:06algumas dificuldades na relação com os Estados Unidos.

07:12Isso até pode favorecer bastante a China.

07:14A China, ela defende o multilateralismo, defende a reforma

07:18das organizações internacionais, mas ela gosta mesmo

07:21de relações bilaterais estáveis.

07:24E essa estabilidade, ela não está sendo fornecida

07:28pelo governo Donald Trump.

07:30Então, em suma, haverá um impacto, sim,

07:34alguma perda de mercado será sentido pela China.

07:37Agora, por outro lado também, isso acelerará o processo dela

07:40de abertura de novos mercados, que estavam até, em alguma medida,

07:45sub-explorados em função mesmo da ausência de infraestrutura adequada

07:49que a própria China também provê.

07:51Então, não sei se chega a equilibrar a ponto de não sentir, né?

07:58Mas, seguramente, é algo que a China está bastante preparada

08:03para enfrentar essa situação e que, a longo prazo,

08:06pode ser muito ruim para os Estados Unidos, né?

08:08Porque a China acaba abrindo mais os seus...

08:11abrindo novos mercados, criando as condições para estabelecer

08:17uma relação bastante estável com esses novos mercados,

08:19que depois não terão muito interesse, provavelmente,

08:23de procurar ou retornar ou buscar alternativas,

08:27ou, enfim, explorar o mercado dos Estados Unidos.

08:30Então, é...

08:31Eu gostaria de levar o nosso papo para um terreno mais confortável

08:35para o senhor, que é o do direito internacional.

08:38Estados Unidos acusa a China de quebrar aquela assinatura

08:41que eles fizeram, um acordo, quando eles se encontraram em Genebra,

08:44na Suíça, para chegar ali um consenso tarifário.

08:48A China fala, não, não, não, Estados Unidos,

08:49quem quebrou o protocolo aí foram vocês.

08:52Não me parece, não estou fazendo nenhum proselitismo,

08:54mas não me parece que a China seja feita a essas quebras

08:57de contratos ou de acordos.

09:00Quem que está com a razão, né, nesse sentido?

09:03E quem quebrou o protocolo, o quanto isso pesa

09:06num capital político, hein, professor Evandro?

09:09Olha, primeiro, eu acho que é difícil a gente realmente

09:11definir aqui quem quebrou o protocolo.

09:14Agora, existe um protocolo diplomático que é o seguinte,

09:17um presidente, o Donald Trump, acusar a China,

09:21ele, o presidente, diretamente,

09:23não cria um ambiente adequado para um diálogo

09:26com o presidente chinês.

09:27Acho que o que falta aos Estados Unidos

09:29é uma inteligência adequada sobre como lidar com o governo chinês.

09:34Eu acho que todas as insatisfações, elas são possíveis

09:37de serem manifestadas de maneira apropriada,

09:39no lugar apropriado, no momento apropriado.

09:42Então, essas declarações não favorecem nada,

09:45porque se elas são verdade, o que adianta dizê-las?

09:49E se são mentira, pior ainda, né?

09:52Então, isso não, de fato, não ajuda em absolutamente nada

09:56a negociação, um acordo entre as duas partes.

09:59Agora, é bom lembrar também, para finalizar esse comentário,

10:01que o país que tem negado sistematicamente

10:05a nomeação de novos juízes para o órgão de apelação

10:10da Organização Mundial do Comércio

10:12são os Estados Unidos.

10:14Então, a ONC está paralisada por uma ação deliberada

10:18dos Estados Unidos, e não é só do governo Trump 2, não.

10:21Isso vem desde Trump 1, portanto, passa pelo Biden.

10:25Então, isso mostra, de fato, uma predileção pelos Estados Unidos

10:29de querer resolver as questões de maneira bilateral

10:31e, às vezes, até um pouco de uma maneira forçada, né?

10:35Às vezes, até com certas ameaças de sanções descabidas.

10:39Então, até agora, nessa balança, eu diria que ela é mais favorável

10:42a gente pensar que a China não agiu dessa maneira

10:45em função desse contexto todo.

10:47Professor Evandro, se prepare, nós vamos falar muito e muito breve.

10:51Vamos ver se acontece essa outra conversa.

10:53Aí, depois, a gente faz um contraponto dessa conversa

10:55para ver os resultados.

10:57Professor Evandro Carvalho, é sempre um prazer conversar com o senhor,

11:00porque é a garantia de uma aula do mais alto nível.

11:03Professor Evandro, que leciona Direito Internacional na FGV e na UFF,

11:08um especialista em China, e sempre muito cortês em nos receber aqui

11:11para falarmos de assuntos, como ele mesmo diz,

11:14tão necessários nessa nossa quadra da história.

11:17Evandro, obrigado.

11:19Boa noite.

11:19Ótima semana.

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