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00:00Imagine a cena em sua mente. O sol se põe lentamente sobre a Europa, tingindo o céu de tons alaranjados e avermelhados, enquanto uma silhueta imponente atravessa as nuvens com quatro motores rugindo em harmonia.
00:25Não é qualquer avião. É um Boeing 7478 da Lufthansa, ainda ativo, ainda levando centenas de passageiros a destinos intercontinentais. A imagem parece pertencer ao passado, a uma era de glamour da aviação em que o jumbo reinava absoluto nos céus.
00:46Mas contra toda a lógica, contra toda a narrativa dominante da indústria aérea, a Lufthansa continua a apostar em sua frota de 747.
00:58Essa visão que já desapareceu em aeroportos britânicos, australianos e norte-americanos ainda é cotidiana em Frankfurt.
01:08Enquanto companhias como Cantas, British Airways, United Airlines, Delta e Air France enviaram suas rainhas para desertos de armazenamento ou museus, a Lufthansa insiste em mantê-las vivas.
01:22E isso nos leva à pergunta central. Por que ainda? Por que insistir em um avião de quatro motores quando a lógica moderna da aviação aponta que os gêmeos com dois motores são supostamente superiores em todos os aspectos?
01:39A primeira vista parece um contrassenso. O discurso dominante na aviação atual é claro. A era dos quadrimotores terminou.
01:48Dois motores são mais eficientes em combustível, mais baratos em manutenção e atendem melhor às exigências ambientais que estão cada vez mais rígidas.
01:59O 777, o A350 e, em breve, o 777X são os grandes protagonistas dessa nova geração.
02:10E diante desse cenário, manter o 747 pode parecer quase uma teimosia romântica, uma decisão movida por apego ao ícone ou pela resistência alemã em aceitar mudanças.
02:22Mas será que é só isso? Ou será que, por trás da aparência de nostalgia, existe uma lógica fria, calculada e incrivelmente racional?
02:34Talvez a Lufthansa esteja enxergando o que outros não enxergaram.
02:39Talvez o que pareça insensato seja, na verdade, uma das estratégias mais inteligentes já adotadas no setor aéreo.
02:48Para compreender essa lógica, é preciso mergulhar em um aspecto crucial que poucos consideram.
02:56Frankfurt.
02:57O hub principal da Lufthansa é um dos aeroportos mais movimentados e congestionados da Europa.
03:05Ali, cada slot de pouso e decolagem é disputado como se fosse ouro.
03:10Em horários de pico, a disponibilidade é mínima e a capacidade de expansão do aeroporto é severamente limitada por questões regulatórias e geográficas.
03:22Isso significa que a Lufthansa precisa extrair o máximo de cada oportunidade de voo.
03:29Suponha que a companhia precise levar cerca de 400 passageiros para Nova York em um determinado horário.
03:37Se ela utilizar um A350 ou 777, a capacidade será de, no máximo, 300 a 350 assentos em uma configuração de longo alcance.
03:52Isso significa que muitos passageiros ficariam de fora ou que seria necessário adicionar mais voos,
03:59o que simplesmente não é possível porque não há slots disponíveis.
04:04Mas se, em vez disso, a Lufthansa utiliza um 7478 no mesmo slot,
04:11ela consegue transportar cerca de 364 passageiros em uma configuração premium
04:18e ainda adicionar aproximadamente 30 toneladas de carga de alto valor no porão.
04:25Essa diferença, multiplicada ao longo do tempo, é colossal.
04:29Não estamos falando de pequenos ajustes, mas de dezenas de milhares de passageiros a mais por ano
04:37em apenas uma rota, sem contar a receita da carga, que em muitas ocasiões paga boa parte do voo.
04:45E não é apenas uma questão de capacidade bruta.
04:48Os destinos escolhidos para os 747s da Lufthansa não são quaisquer rotas.
04:55São cidades como Nova Iorque, Los Angeles, Tóquio e Delhi.
05:00Mercados premium, repletos de viajantes corporativos dispostos a pagar fortunas por conforto e exclusividade.
05:08Um bilhete de executiva para atravessar o Atlântico pode custar facilmente 8 mil dólares.
05:16Uma passagem de primeira classe, especialmente na icônica cabine do nariz do Jumbo, pode ultrapassar 15 mil dólares.
05:25Em um voo cheio, apenas a receita gerada pela parcela premium dos assentos
05:30já é capaz de transformar o voo em um negócio extremamente lucrativo.
05:35E nesse quesito, o 7478 é insuperável.
05:41Nenhum outro avião oferece a mesma combinação de capacidade, conforto diferenciado e carga adicional em um único pacote.
05:51Mas o que talvez seja o segredo mais subestimado é o fator histórico.
05:56Desde 1970, quando a Lufthansa recebeu seu primeiro 747,
06:02a companhia nunca deixou de operar a Rainha dos Céus.
06:07Isso significa mais de meio século acumulando experiência, dados operacionais,
06:13treinamento de tripulações e principalmente expertise em manutenção.
06:18Ao contrário de outras companhias que terceirizaram operações e abriram mão de conhecimento técnico interno,
06:26a Lufthansa investiu em criar uma das maiores estruturas de manutenção de aeronaves da Europa,
06:33a Lufthansa Technic.
06:35Essa divisão não apenas cuida da própria frota,
06:39como também presta serviços para companhias de todo o mundo.
06:43Precisa de uma peça rara?
06:46Eles têm ou fabricam sob demanda.
06:49Precisa de uma revisão de motor?
06:50Eles fazem internamente, sem depender de terceiros.
06:55Essa autossuficiência cria economias de escala
06:59e reduz custos que para outros operadores são insustentáveis.
07:03Foi isso que permitiu a Lufthansa continuar voando seus 747s,
07:09enquanto concorrentes foram obrigados a aposentá-los.
07:13Durante a pandemia de Covid-19, essa diferença ficou evidente.
07:19Enquanto companhias aéreas do mundo inteiro estacionaram seus 747s em desertos,
07:26acumulando custos de preservação e perdendo dinheiro com aviões parados,
07:30a Lufthansa manteve parte de sua frota em operação,
07:34utilizando-os para voos de carga.
07:37O resultado foi que o 747, que parecia ser um peso morto para outros,
07:43virou uma fonte de receita vital em um momento de crise global.
07:48Isso não foi sorte, mas consequência de uma filosofia estratégica
07:52construída ao longo de décadas.
07:56Além disso, há o fator de produto.
07:58A Lufthansa não enxerga a aeronave apenas como um meio de transporte,
08:04mas como uma experiência diferenciada.
08:07Com o programa Alegres, a companhia está investindo bilhões de euros
08:11para transformar as cabines de seus aviões, incluindo os jumbos.
08:16A nova primeira classe será praticamente uma suíte privada,
08:20com portas deslizantes, telas imensas e conforto que mais se assemelha
08:26a um quarto de hotel do que a uma poltrona de avião.
08:30E o melhor, tudo isso no nariz do 747,
08:35um espaço arquitetonicamente único, impossível de ser replicado em qualquer outro modelo.
08:42Na executiva, o redesenho busca oferecer privacidade e conforto
08:47em um espaço que aproveita o andar superior do jumbo,
08:50outro diferencial que nenhum twinjet pode oferecer.
08:54É uma estratégia que une tradição com inovação,
08:57transformando um avião considerado velho em um produto desejado.
09:02Claro, nada disso significa que a Lufthansa não enfrenta desafios.
09:07A pressão ambiental é enorme, especialmente na União Europeia,
09:12onde cada ano surgem regulamentações mais rígidas em relação às emissões de carbono.
09:17Os custos de combustível estão em constante alta
09:22e não há como negar que dois motores sempre vão queimar menos que quatro.
09:28Além disso, o futuro prometido pelo 777X paira no horizonte,
09:34embora constantemente atrasado.
09:37Para muitas companhias, a resposta para essas pressões foi clara.
09:41Aposentadoria imediata dos quadrimotores.
09:45Para a Lufthansa, a resposta foi mais complexa.
09:50Manter os 747s voando enquanto a transição não se completa,
09:56aproveitando o espaço de mercado que outros abandonaram.
10:00O curioso é que, em vez de se tornar um fardo,
10:04essa decisão fez da Lufthansa a última grande defensora do 747.
10:09E isso criou até mesmo um efeito de marketing indireto.
10:16Entusiastas da aviação, passageiros frequentes e até turistas
10:20escolhem deliberadamente voar no avião da Lufthansa
10:24apenas pela experiência de reviver a lenda.
10:28Há uma demanda emocional que se soma à lógica operacional.
10:33Cada voo do 747 se torna uma espécie de espetáculo,
10:38um tributo vivo à era dourada da aviação.
10:42E essa aura icônica se traduz em algo muito concreto, receita.
10:48O ponto é que insistir no 747 não é apenas uma escolha movida por emoção ou apego.
10:55É um cálculo frio que combina fatores técnicos, operacionais, históricos e de mercado.
11:04Enquanto a maioria dos concorrentes olhou apenas para a planilha de custos imediata,
11:09a Lufthansa analisou o ecossistema como um todo
11:12e encontrou um nicho em que o 747 não só sobrevive, como prospera.
11:18É claro que isso não vai durar para sempre.
11:21O 777X eventualmente chegará.
11:24As pressões ambientais aumentarão e a equação econômica pode deixar de fechar em algum momento.
11:32Mas até lá, a Lufthansa está colhendo frutos que nenhuma outra companhia teve coragem de plantar.
11:39E é por isso que cada decolagem de um 7478 da Lufthansa em Frankfurt
11:44é muito mais do que apenas mais um voo internacional.
11:48É um ato de resistência contra a lógica dominante da aviação moderna.
11:54É a prova de que, às vezes, o que parece ser uma estratégia insensata é, na verdade, um movimento brilhante.
12:03Pode ser que estejamos assistindo ao último ato da Rainha dos Céus,
12:08sua despedida triunfal antes de se recolher definitivamente.
12:13Mas também pode ser que estejamos diante de um renascimento inesperado,
12:18um segundo ato que ninguém imaginava possível.
12:22Seja como for, uma coisa é certa.
12:25Quando esses aviões finalmente se aposentarem, nunca mais veremos algo igual.
12:30A Lufthansa terá escrito um capítulo singular na história da aviação,
12:37lembrando a todos que nem sempre seguir a lógica da maioria é a melhor escolha.
12:43Às vezes, insistir contra a corrente pode ser exatamente o que garante a sobrevivência.
12:50A Lufthansa terácia
13:00A Lufthansa terácia
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