Pular para o playerIr para o conteúdo principal
No Visão Crítica, a bancada formada por Cláudio Finkelstein, professor de Direito Internacional, Wagner Menezes, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, e Lucas Ferraz, ex-secretário de Comércio Exterior, avaliam o momento atual do Brasil sob a ótica do direito internacional. Eles destacam os desafios da diplomacia, as tensões globais e como esse cenário faz parte de um processo civilizacional em transformação.

Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/wwuRowJzw1A

Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S

Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/

Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/c/jovempannews

Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/

Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews

Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews

Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/

TikTok:
https://www.tiktok.com/@jovempannews

Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews

#JovemPan
#VisãoCrítica

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Professor Wagner Menezes, para o senhor, eu sei que pode ser uma coisa muito ampla, posso não estar equivocado na pergunta,
00:10mas em termos de direito internacional, se a gente fosse fazer uma breve história dos problemas do Brasil nesse campo,
00:17esse é o momento mais complexo que a gente está vivendo?
00:20Esse é um grande desafio, sem dúvida, mas eu acho que é um processo que faz parte da liturgia, do processo civilizacional,
00:32e também nós precisamos aproveitar esse momento para um momento de reflexão, de reflexão interna,
00:38para desenhar que tipo de soberania, que tipo de país internacionalmente nós queremos.
00:43A soberania não se faz com cartas ou simbolicamente ou com declarações fantasiosas em meios de imprensa.
00:54A soberania se constrói justamente com o processo de reestruturação econômica, política do Estado.
01:01Aí sim nós podemos falar em soberania quando, ou seja, nós nos tornamos um país absolutamente autônomo,
01:10independente e capaz de dialogar com todos os países em tom de igualdade.
01:17Professor Cláudio, a questão da, justamente disso, pegando o gancho do professor Wagner de Menezes,
01:21a questão da soberania e para quem nos acompanha, para tentar compreender.
01:27Porque o que acontece, nós fazemos questão aqui no Visão Crítica,
01:31de tentar explicar essas questões que são complexas de uma forma mais acessível,
01:35sem cair no simplismo, nem no panfletarismo barato e sem na lacração,
01:40que hoje é o que marca a comunicação brasileira em grande parte, né?
01:45Buscar lacração que você assiste, lacra, amanhã você esquece o que ocorreu no dia anterior.
01:50Aí eu pergunto ao senhor, justamente nessa questão do campo do direito internacional, né?
01:55E pegando um gancho com o professor Wagner Menezes,
01:58o que é ser um país soberano?
02:01Quando se fala em soberania, as pessoas ficam repetindo e nem sabem direito os conceitos.
02:06Eu digo isso porque teve uma manifestação na Avenida Paulista, há tempos atrás,
02:12aí tinha uma senhora que estava com a bandeira de Israel.
02:16Aí uma pessoa foi perguntar para ela por que ela estava com a bandeira de Israel,
02:21o que é uma pergunta legítima, não tem nenhum problema.
02:24E a senhora respondeu, eu adoro esse país cristão,
02:27esse é um país cristão que eu mais gosto, que é Israel.
02:29Bem, ela não tinha evidentemente noção do que era Israel,
02:33que não tem nenhum problema de não ser cristão, o Estado de Israel.
02:36Mas ela estava absolutamente dissociada do que ela pensava com a bandeira, né?
02:41E como nós vivemos hoje no tempo de ignorância, do empoderamento dos ignorantes, né?
02:47Tem até umas frases boas do Nelson Rodrigues sobre isso,
02:50mas eu pergunto ao senhor, todo mundo fala, é soberania, soberania.
02:54Alguns associam até, me lembrando e provocando os São Paulinos,
02:58como falavam que o São Paulo era o soberano e tal, né?
03:01Isso é uma bela provocação de Santista, viver num momento difícil com os São Paulinos.
03:06Mas falando sério, doutor Cláudio, o que é que quando se fala em soberania,
03:09nós estamos falando do quê?
03:10Bom, eu como São Paulino, eu lembro com saudades da época do time soberano,
03:17mas eu acho que a única concepção unânime do Instituto,
03:23porque soberania é um atributo do Estado.
03:25Não é fácil definir o que é soberania.
03:28Eu concordo com o professor Wagner, é um conceito em construção que precisa ser trabalhado.
03:34A definição clássica é que soberano é aquele que manda por último,
03:37é o poder último de mando.
03:39Então, nós temos uma visão, a minha percepção parece muito próxima à sua,
03:45que a gente usa isso de uma forma extremamente leviana.
03:50Muitos se critiquem, ah, a democracia é relativa.
03:52É óbvio que a democracia é relativa.
03:54A gente tem que relativizar comparando com algo.
03:58Então, se nós voltarmos à concepção originária grega do que é soberania,
04:05seria uma tirania absoluta hoje.
04:07A nossa concepção de soberania, ela vem de Jabodã, nos seis livros da República,
04:14que previam a transmissão hereditária do poder.
04:22Então, efetivamente, é algo que você tem que trabalhar,
04:25é algo que você tem que respeitar.
04:27E a gente não pode esquecer, se a gente está falando de relação Brasil-Estados Unidos,
04:33são dois Estados soberanos que a sua ordem jurídica prevê aquilo daquela forma.
04:40Então, muito se falar, o tarifado está sob júdice nos Estados Unidos.
04:45Em algumas instâncias foi eliminado pelo Judiciário, foi reinstalado.
04:52Existem as instituições soberanas, as instituições que operam,
04:58que eu prefiro muito mais chamar de republicanas do que soberanas,
05:02elas continuam funcionando.
05:04É muito estranho, na minha concepção, e eu comecei como professor de Direito Constitucional,
05:11ver o uso tão leviano de um instituto tão importante quanto a soberania.
05:19Eu vejo a nossa soberania hoje, conceitualmente, sendo extremamente maltratada.
05:29E aproveitando, perguntando ao senhor,
05:32a América Latina sempre teve uma relação, ou melhor, os Estados Unidos,
05:37sempre tiveram uma relação muito difícil com a América Latina.
05:40Vamos lembrar, não custa recordar, com os Estados Unidos,
05:43a incorporação do Texas, que ficou durante dez anos como um país independente,
05:49de 1835 a 1845.
05:52Depois houve a guerra, que termina em 1848,
05:55que são expropriados do México quase que dois terços do território,
05:58sete estados hoje norte-americanos.
06:01Os Estados Unidos invadem o México, chega até a cidade do México,
06:04até o castelo lá de Chapultepec,
06:07que lá tem o episódio de Los Ninos Eros resistindo à invasão norte-americana.
06:14Depois nós tivemos a invasão da Nicarágua,
06:18depois nós tivemos o caso da guerra hispana-americana,
06:22no final do século XIX, 1898,
06:25a ocupação de Cuba, Porto Rico, Porto Rico até hoje,
06:28no Estatuto Sui Gêneres.
06:30Não é nem colônia e nem Estado, é um Estado associado independente,
06:33que é uma maravilha, uma coisa fantástica.
06:35Ninguém lembra disso.
06:37E o caso de Cuba, que chegou a ser votada uma emenda no Senado americano
06:42para ser incorporada à Constituição Cubana,
06:44uma coisa fantástica, com oito índices que permitiam a qualquer momento
06:48a invasão norte-americana de Cuba.
06:49Então, um respeito incrível que os Estados Unidos sempre teve com a América Central,
06:53ou o Caribe, ou a América Central continental.
06:57Não estou falando de Filipinas, Guam,
06:58porque isso daí é uma outra história lá no Pacífico.
07:02Depois ocorreram intervenções norte-americanas no sentido político,
07:06momentos da Venezuela, teve a questão do Chile,
07:09não podemos esquecer a tragédia do golpe de 11 de setembro de 1973,
07:14com a intervenção direta do governo Nixon,
07:16através do Departamento de Estado,
07:18o caso brasileiro em 64,
07:21que foi uma intervenção não tão violenta como o Chile,
07:24com o embaixador Lincoln Gorno,
07:25e poderíamos lembrar outros momentos não muito felizes,
07:29para ser muito educado,
07:30da intervenção norte-americana na América Latina.
07:32Daí que a expressão usada até dias atrás,
07:35semanas atrás,
07:36é o nosso quintal,
07:37o nosso quintal é a América Latina.
07:40E o pior é que tem gente que na Avenida Paulista
07:42carrega a bandeira norte-americana,
07:44são os bi-patriotas que eu chamo.
07:46Em outras expressões,
07:47é um traidor da pátria que carrega a bandeira americana.
07:49Eu faço essa introdução,
07:51porque em outros tempos,
07:52você que viu isso na Paulista,
07:53isso nunca ocorreria,
07:54isso nunca ocorreu na história do Brasil.
07:57Nunca ocorreu.
07:57Primeira vez que nós estamos assistindo essas cenas.
08:00Aí eu pergunto ao senhor,
08:02no campo distante da política,
08:05que é o campo do direito internacional.
08:08As relações no campo do direito internacional
08:10e Estados Unidos,
08:12América Latina,
08:13sempre foram muito tensas.
08:14É de uma potência que se julgava
08:16ao direito de ter o controle
08:18do conjunto do continente americano.
08:20Desde o presidente James Moore,
08:22quando ele sequer controlava o território,
08:24porque na década anterior,
08:25a Inglaterra tinha incendiado a capital Washington.
08:27Mas, só para lembrar,
08:30como é que fica isso, essa tensão?
08:32Porque ela apareceu agora.
08:33Tem drones também circulando em Caracas,
08:35a toda hora.
08:37Podemos ter problemas na fronteira norte.
08:40Teve problemas em relação ao presidente da Colômbia.
08:43Como é que fica isso, hein?
08:46É uma excelência...
08:48Eu sei que a pergunta é complicada.
08:49Não.
08:51Primeiro, eu realmente não vejo alguém
08:53que impunha uma bandeira norte-americana
08:56ou israelense, ou o que quer seja,
08:57como traidor da pátria.
08:59Eu acho que você pode admirar,
09:03ainda que seja um Estado opressor.
09:05E não há dúvida que os Estados Unidos
09:06sempre foram um Estado opressor.
09:08Mas essa relação bilateral,
09:10ela sempre assumiu uma hegemonia.
09:13O Brasil com os Estados Unidos,
09:15seja juridicamente, economicamente,
09:17de qualquer maneira, tecnologicamente,
09:20existe uma admiração,
09:23inclusive das instituições jurídicas.
09:26Mas isso que você fala,
09:27eu tive a oportunidade de estudar nos Estados Unidos
09:30e morei no início dos anos 90.
09:33Quando eu comecei a me interessar
09:35por direito internacional,
09:37foi em dois eventos,
09:39que tenho certeza que você se lembra muito bem.
09:41Primeiro, que os Estados Unidos invadem o Panamá,
09:44entra no Palácio Presidencial
09:45e traz Noriega para ser julgado em Miami,
09:48onde eu estava.
09:48Na mesma época,
09:51um médico que trabalhava para um dos cartéis do México,
09:57que eu não me lembro qual que é,
09:58que havia torturado alguns norte-americanos,
10:01ele foi capturado no México,
10:03Machaim,
10:04era um caso muito famoso.
10:06Então,
10:08a naturalidade que o norte-americano
10:10falava de ser o quintal,
10:12que era o México,
10:13o Panamá e o Brasil,
10:16porque havia uma relação
10:18recíproca.
10:21Ou seja,
10:22nós recebemos parte significativa
10:24das nossas instituições,
10:26do nosso direito,
10:27também dos Estados Unidos.
10:30É óbvio que
10:31era uma relação,
10:32e continua sendo uma relação,
10:34injusta.
10:35Mas,
10:36como foi lembrado,
10:38o Brasil,
10:39na sua relação com os Estados Unidos,
10:41também nunca foi justo.
10:43Quando nós temos algum bem que interessa,
10:45e o Brasil hoje tem bens que interessam,
10:48e que podem ser usados como leverage
10:51para uma negociação,
10:53ela também não será justa.
10:56Então,
10:56nós estamos caminhando para um mundo,
11:00é com tristeza que eu constato isso,
11:04que nós estamos caminhando para um mundo
11:05que as injustiças
11:07serão cada vez mais patentes,
11:11a imposição...
11:13Porque isso não é só nos Estados Unidos.
11:16Eu vejo aqui,
11:18lamentável,
11:19a conduta desse presidente norte-americano,
11:22mas o mundo está cheio de presidentes assim.
11:26Nós temos visto
11:27belicosos,
11:29extremamente belicosos,
11:31em toda...
11:32falando de guerra e de mortes,
11:34com uma naturalidade que é assustadora,
11:37mas isso está se tornando
11:38cada vez mais rotineiro.
11:40O que é preocupante,
11:41extremamente preocupante.
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado