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Qual a importância da parceria entre Brasil e China? No Visão Crítica, a professora Natalia Fingermann analisa as relações comerciais e de investimento entre os dois países. A especialista destaca a rapidez dos investimentos chineses e defende que uma parceria estratégica pode ser "muito benéfica a longo prazo" para o desenvolvimento do Brasil.

Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/LEH4V5uE8Is

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Transcrição
00:00Mas eu coloco a senhora a seguinte questão, nessa situação, quando coloca o embaixador,
00:05há uma transferência, estou exagerando um pouco, mas do eixo econômico hoje do mundo,
00:11da região Ásia Pacífica. Lembra um pouco o início do século XIX,
00:17quando as grandes potências estavam além de a China, lá para o voto de 1810 e tal.
00:23Aí, por uma série de razões, o Ocidente acaba ocupando o Oriente.
00:27Agora, nessa situação, como é que o Brasil, que historicamente é um país ocidental,
00:33200 anos em relação com os Estados Unidos, as relações com a Inglaterra, com a Europa,
00:38as referências culturais são todas essas, ou dos Estados Unidos, ou da Europa,
00:43mas o mundo se transferiu para uma região, inclusive, que nós não temos acesso direto.
00:47Afinal, somos um país atlântico e tal.
00:50Como é que fica? Porque eu encontrei, eu estava em Brasília semana passada,
00:54para entrevistar o ex-presidente supremo, a Iris Brito, e o motorista de destaque
01:00disse que a China está tomando o Brasil, hoje o Brasil é um país comunista, ele me explicou,
01:05o Brasil é um país comunista, obviamente que eu não discordei, porque ele estava ganhando o carro,
01:09o Brasil é um país comunista sob domínio da China.
01:14Eu não sei onde tem comunismo, socialização dos meios de produção, partido único, etc.
01:18E é onde nós estamos falando o mandarim também.
01:22Mas tudo bem, eu estava chegando no meu local, falei, não vamos discordar.
01:26Aí eu pergunto para a senhora, como é que nós estamos paulatinamente,
01:30a economia mostra isso, os dados econômicos,
01:33deslocando o nosso comércio, as nossas relações com o Oriente?
01:38Como é que fica a seguinte questão?
01:39Eu sei que é fácil perguntar, a resposta deve ser complexa.
01:42Quando nós tínhamos relação com a Inglaterra, largo momento, e depois os Estados Unidos,
01:47nós tínhamos uma mesma cultura, a cultura ocidental, o cristianismo, determinados valores,
01:54a influência ideológica nossa era muito maior da França do que da Inglaterra,
01:58do que dos Estados Unidos em certo momento, a nossa república é um produto da terceira república francesa.
02:04Só que agora as nossas relações são fundamentalmente econômicas,
02:08mas no campo cultural, político e ideológico não é.
02:10Como é que vai ser daqui para frente?
02:13Eu sei que não é pitonismo, nós não estamos no oráculo de idelfos,
02:17mas como é que vai ser?
02:18Porque é um negócio tão novo e nós somos um meio do novo.
02:21E aí?
02:23Eu acredito que isso não é um problema para o Brasil, como não é um problema para a China.
02:27A China, ela, diferentemente dessas potências anteriores,
02:32você mencionou que as relações com a Inglaterra, as relações com os Estados Unidos,
02:38sempre vinculava as suas relações econômicas com relações culturais.
02:43A China, ela não atua dessa maneira, não simplesmente com o Brasil, mas em relação ao mundo.
02:51Ela tem um pragmatismo nas suas relações, ela mantém esse pragmatismo,
02:57e o Brasil, acho que também tem trabalhado dessa forma.
03:01E a China pode também fazer uma colaboração muito importante,
03:04quando a gente fala de custo Brasil, que o embaixador mencionou,
03:07é investimento em infraestrutura.
03:09Hoje, o maior custo da nossa exportação está pelo fato do Brasil não ter infraestrutura adequada.
03:16Então, a gente tem um problema nas nossas rodovias, falta ferrovias,
03:19é muito importante que o Brasil desenvolva essa ferrovia ligando ao Pacífico.
03:25Se o nosso maior comércio está com a Ásia, com a região da Ásia,
03:29a gente precisa ter uma saída pelo Pacífico.
03:32É importante a gente conseguir se conectar ao porto do Peru,
03:36que foi construído recentemente pela China.
03:38Então, eu acredito que em termos de investimento, a China entrega e entrega rápido.
03:45Eu tive a oportunidade de morar na África durante o meu doutorado,
03:48e a mudança que a China...
03:50Que país?
03:50Morei em Moçambique.
03:51Ah, tá.
03:52E a mudança que a China fez na paisagem moçambicana foi impressionante.
03:56Então, eu morei em Moçambique em 2013 e retornei várias vezes ao país.
04:01E nesse período que fui retornando, na última vez foi em 2019, antes da pandemia,
04:05você percebia a modificação.
04:08Ela conseguiu construir pontes, infraestrutura, aeroportos, portos, ferrovias,
04:16em regiões que não tinham nada.
04:19Então, do meu ponto de vista, é muito interessante essa parceria.
04:24E essa parceria não deve se limitar ao comércio.
04:27Mas acho que a questão do investimento pode ser muito benéfica para o Brasil no longo prazo.
04:32E a questão cultural, ela não vai se impor.
04:34Os chineses não buscam impor a sua cultura.
04:39Pelo menos por enquanto.
04:40O futuro, não sabemos.
04:41Mas, por enquanto, eles têm essa visão muito pragmática nos relacionamentos com os países do mundo que eles se relacionam.
04:50Você falou em Moçambique.
04:52Professor, eu me lembrei do Miyakoto, que é um grande escritor moçambicano.
04:55Leio Miyakoto.
04:58É um prazer de almoçar com você.
05:01Esse é grande.
05:01Porque nós temos uma literatura portuguesa, em língua portuguesa na África, em Angola.
05:07José Alondino Vieira, né?
05:10A Vida Verdadeira e Domingos Xavier, que é um clássico.
05:14Temos em Guiné-Bissau e temos em Moçambique.
05:17E nos anos 70, no Brasil, em plena ditadura, na segunda metade dos anos 70,
05:22a editora ática, que era uma grande editora, tinha uma coleção de literatura africana.
05:26Você veja que...
05:28E aí é o que eu conheci também, até um pouco de Cabo Verde e tal.
05:33E você falou de Moçambique.
05:35Esse, puxo, o Miyakoto, especialmente, estou me lembrando agora de um dos livros dele.
05:39Fiquei muito impressionado, inclusive, a influência da Índia, né?
05:42Em Moçambique, histórica, tal.
05:45A gente vai aprendendo aí.
05:46E a literatura nos ensina muito.
05:49Embaixador Rubens Barbosa, nessa nova conjuntura,
05:53O senhor, quando entrou no Itamaraty,
05:57eu queria que o senhor pudesse nos falar o ano,
06:00era naquele momento que nós tínhamos um alinhamento muito forte com os Estados Unidos.
06:03Não é verdade?
06:04Isso foi quando, mais ou menos, quando o senhor começou a...
06:08Foi o estudante lá no Instituto Rio Branco, entrou no Itamaraty, quando é que foi?
06:1360.
06:1360.
06:14A influência era o presidente Eisenhower lá nos Estados Unidos, né?
06:18Foi aquele que cunhou a expressão complexo industrial-militar, é dele, no último discurso.
06:24E olha que nós estamos falando de um general comandante das forças aliadas na Europa.
06:28Em 60, nós tínhamos uma proximidade.
06:30No ano seguinte, em 61, embaixador, se eu estiver errado, o senhor me corrija,
06:34o governo Jânio Quadros veio à política externa independente, com Afonso Arinos e Melo Franco.
06:39E aí tivemos o governo de João Goulart algumas mudanças,
06:41o próprio Afonso Arinos voltou a ser ministro,
06:43depois tivemos o Santiago Dantas, que é uma figura que fez tanta falta ao Brasil,
06:49morreu tão cedo, né?
06:50Em 64.
06:52Se o senhor, olhando agora assim, dentro do que o senhor falou,
06:55nós temos uma potência, mais ou menos, eu estou dizendo, uma potência média.
07:00Muitos falam do sul global.
07:02Nós teremos, em uma época falavam muito, falavam sul-sul, né?
07:07Hoje, como é que nós devemos nos situar?
07:11Nós temos a Europa como um grande bloco, os Estados Unidos, a China,
07:19a Rússia, uma potência economicamente pouco importante,
07:22mas militarmente muito importante.
07:24E o senhor citou a Índia, que, para mim, sempre é um ponto de interrogação,
07:27eu falo nas nossas conversas, embaixador,
07:30a importância econômica, a Índia vai atropelando por fora,
07:33ninguém parece aquelas corridas.
07:35Estava indo em sexto, sétimo, quinto, daqui a pouco, quarto PIB.
07:39Mas, o que me intriga na Índia é que ela não tenha a presença externa
07:45e uma presença militar tão forte como as outras potências econômicas, né?
07:50Algumas não tão importantes como ela.
07:52Mas, eu vou deixar, eu fui até ler o Otávio Passo,
07:55foi embaixador na Índia, eu fui ler nos anos 60, né?
07:57Fui ver se ele dava alguma dica.
07:59Mas, eu pergunto ao senhor, para nós, aqui no Brasil,
08:04nessa situação, dessas mudanças que são para sempre,
08:08a história não deve regressar àquele momento dos anos 60, 70 e 80.
08:16Esse deslocamento, o senhor falou, olha, nós temos que manter a independência.
08:21Como é manter essa independência, preservar nossos interesses estratégicos
08:24num mundo polarizado e com a possibilidade, nós não temos ainda tão claro,
08:30até de conflitos militares em áreas muito sensíveis?
08:34Olha, eu vejo essa tensão entre os Estados Unidos e a China
08:39não como uma guerra fria que nós tivemos depois da guerra,
08:46com a Rússia, com a União Soviética e os Estados Unidos.
08:49Porque, naquela época, havia uma competição ideológica e nuclear.
08:57Como você disse, hoje não tem essa competição ideológica.
09:01Hoje, a competição é econômica, comercial, tecnológica.
09:06Então, não há a necessidade dessa definição que houve durante 45 a 89, 91.
09:22Então, é mais fácil hoje você não ter que se alinhar automaticamente a um grupo.
09:31Durante a Guerra Fria, ou você era comunista a favor da Rússia,
09:36ou você era a favor do capitalismo americano.
09:41Havia uma ideologia naquela época.
09:44Agora, não.
09:45Agora, a China não está com uma política de expansão ideológica
09:51como havia com os países comunistas.
09:54Aqui, Cuba, com alguns países africanos também.
09:58Mas isso acabou.
10:01Então, hoje, é mais fácil você definir o seu interesse
10:07sem confrontar esses países.
10:12Você não precisa confrontar os Estados Unidos, confrontar a China.
10:15Você apenas defende o seu interesse.
10:18E defende a soberania interna do país sem interferência.
10:24Então, como eu mencionei as vulnerabilidades, você mencionou essa questão da infraestrutura.
10:31Isso aí, nós temos acordos com a China.
10:36E é uma coisa, uma outra coisa também que é importante.
10:39A gente, pouca gente deve saber disso.
10:43Você sabe que o Brasil tem com a China,
10:47o único país com que o Brasil tem acordos decenais.
10:54Nós temos um planejamento com a China.
10:55Ninguém sabe disso.
10:57E há reuniões, há tratados, há...
11:01Por isso que há essa crescente interligação.
11:05Porque a China, em 1992, eu estava sentado à mesa com o Fernando Henrique, ministro do exterior,
11:16quando um vice-primeiro-ministro chinês foi à Brasília
11:21e propôs ao Brasil uma parceria estratégica.
11:26Isso é 1992.
11:27A China, para fazer esse gesto, estudou durante muitos anos o que ela precisava do Brasil.
11:38E definiu as suas prioridades, o que está acontecendo hoje.
11:42A China hoje é um maior parceiro do Brasil,
11:46porque ela compra não o que o Brasil quer vender,
11:49ela compra o que tem necessidade.
11:52E são os produtos de alimentação.
11:55E nós saímos dessa reunião, em 92,
11:59muito cheios de ufanismo.
12:04O Brasil é parceiro estratégico e tal.
12:06E de 92 até hoje não fizemos absolutamente nada.
12:10O Brasil não tem uma estratégia em relação à China.
12:13Então agora, com esse novo cenário,
12:17e o Brasil, se tiver uma visão estratégica,
12:21uma visão de médio e longo prazo,
12:22tendo que defender os seus interesses,
12:26tem que definir uma política em relação à China,
12:28uma em relação aos Estados Unidos,
12:30em relação à Europa,
12:32em relação à África.
12:34Quer dizer, o Brasil não tem política em relação à África.
12:37A gente tinha.
12:38Não tem mais.
12:40E a China agora está se retirando
12:43proporcionalmente.
12:46Tem hoje uma presença menor
12:48do que tinha 10, 15 anos atrás na África.
12:52Você sabe quem que ocupou esse espaço?
12:54Não foi o Brasil.
12:56O Brasil poderia ter ocupado esse espaço.
12:58Quem está ocupando esse espaço é a Turquia.
13:00A Turquia hoje tem uma presença
13:03em toda a maioria dos países africanos.
13:07Porque eles têm uma política
13:08de penetração lá.
13:10E não é só com alimentos que eles não têm.
13:14Eles vendem farinha.
13:15A única coisa que eles vendem é farinha.
13:17Não, eles vendem armamentos.
13:19Eles têm uma política.
13:21E o Brasil vai ter que, no futuro,
13:25a partir da...
13:26Eu espero que, a partir dessa próxima eleição,
13:29a gente tenha essa visão.
13:31Porque, se nós não tivermos,
13:34nesses próximos quatro anos,
13:36um programa sério
13:38de reformas internas,
13:41de uma visão estratégica
13:42no exterior,
13:45o Brasil vai ficar para trás.
13:47Não vai ter com todo esse potencial
13:48que a gente tem.
13:50Porque o mundo vai avançar.
13:52A Turquia, vocês estavam falando
13:54da questão do Oriente Médio.
13:56Você veja,
13:59o Oriente Médio está se...
14:01reciclando.
14:03O Oriente Médio tem consciência
14:06de que o petróleo,
14:07daqui 20, 30, 40 anos,
14:09quanto for,
14:10vai perder a força que tem hoje.
14:14O que eles estão fazendo?
14:16Centros de tecnologia.
14:18Centros importantes, né?
14:20De desenvolvimento tecnológico.
14:22Grandes projetos.
14:24A Arábia Saudita está fazendo
14:25um projeto enorme.
14:27170 quilômetros lá.
14:28E os países dessa região,
14:33um deles, o Catar,
14:35está fazendo aquilo que o Brasil
14:36tinha pretensão de fazer.
14:38Negociar a paz, né?
14:40O nosso presidente falou, né?
14:41Queremos negociar a paz.
14:42Fez um documento com a China
14:45e dar palpite lá na Ucrânia.
14:47Agora, quem está negociando a paz
14:50é o Catar.
14:51O Catar e o Egito
14:53estão ocupando esse vazio diplomático,
14:57porque como a Índia, a China, a Rússia
14:59não podem negociar isso,
15:02alguém tinha que negociar.
15:04Quem está ocupando esse espaço
15:05é o Oriente Médio,
15:07não é a América do Sul,
15:08não é o Brasil
15:08que tem essa pretentinha,
15:11essa pretensão
15:12de ocupar um espaço, né?
15:14de negociação internacional.
15:16Então, você vê que os desafios
15:18são muito grandes, né?
15:20Para a gente ter essa posição
15:21de independência
15:22e a gente voltar a ter
15:24até aqui na região,
15:26porque a gente até na região
15:27a gente perdeu a liderança
15:29que a gente tinha.
15:30É um problema sério.
15:32Eu estou com muita esperança
15:34de que na campanha agora,
15:37do ano que vem,
15:38pela primeira vez na história,
15:40a política externa
15:41seja um tema de campanha.
15:42Os candidatos vão ter
15:47que pensar um pouco
15:49sobre a política externa,
15:51que é totalmente ignorada aqui,
15:53como a defesa também.
15:55Nós temos essas duas áreas
15:57que são praticamente ignoradas
15:59no debate público aqui no Brasil.
16:02Vão estar, a política externa,
16:03com certeza, vai estar
16:05como um dos temas importantes
16:08na campanha eleitoral.
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