O presidente Lula falou com Xi Jinping após reunião sem acordo sobre o pacote de apoio a exportadores afetados pelo tarifaço de Donald Trump. A repórter Fernanda Sette trouxe detalhes da conversa, que reforçou o multilateralismo, mas sem avanços concretos. Mariana Almeida comentou.
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00:00E nós vamos direto à Brasília com a repórter Fernanda Sete, porque sem um plano de socorro definido para exportadores brasileiros afetados pelo tarifácio de Trump, o presidente Lula ligou para o líder chinês Xi Jinping nesta segunda-feira.
00:15A conversa aconteceu após a reunião convocada por Lula para discutir as medidas de apoio aos exportadores.
00:22A Fernanda Sete então já está ao vivo na capital federal, chega aqui para conversar conosco no Agora.
00:28Oi Fernanda, muito bom dia para você.
00:30Fernanda, como não foi definido aí nessa reunião entre Lula e ministros, inclusive o vice-presidente Geraldo Alckmin, Lula fez uma ligação para Xi Jinping para falar sobre tarifácio, mas também não conseguiu muito apoio direto sobre a taxação, apenas reforçaram aí a defesa pelo multilateralismo.
00:51É isso Fernanda, seja bem-vinda ao Agora.
00:53É isso mesmo, Erick Klein, muito bom dia para você e para todo mundo que nos acompanha.
00:59O presidente Lula ligou para o líder chinês Xi Jinping ontem, na noite de segunda-feira.
01:06E a conversa entre os dois chefes de Estado foi basicamente para tratar ali das relações bilaterais entre os dois países,
01:13falaram também da conjuntura geopolítica internacional entre o Brasil e China e também falaram dos últimos acordos pela paz entre a Rússia e a Ucrânia.
01:25Além disso, em nota, o governo brasileiro informou que essa ligação entre o presidente Lula e o líder chinês Xi Jinping teve cerca de uma hora de duração.
01:36que os dois países concordaram que tanto o G20 quanto o BRICS devem continuar na defesa do multilateralismo.
01:46Além disso, o presidente Lula reiterou a importância da China na presença da COP30,
01:52lembrando que será realizada agora em novembro deste ano em Belém, no Pará,
01:58onde vai tratar ali de diversas questões voltadas ao combate das mudanças climáticas.
02:05O presidente Xi Jinping afirmou que a China estará representada por uma delegação,
02:11uma delegação de alto nível, segundo o Xi Jinping,
02:15e que vai trabalhar com o Brasil para o êxito da COP30.
02:21Além disso, os dois países comprometeram-se a ampliar o escopo em diversos setores,
02:28considerados setores estratégicos, como, por exemplo, da saúde, petróleo, gás, economia digital e também satélites.
02:37Não houve uma conversa direta, né, Clay, pelo que a gente percebe com relação ao tarifácio,
02:44com relação às tarifas impostas por Donald Trump.
02:47Foi uma conversa geral onde foi abordada diversas questões, né,
02:52e abordada de forma superficial, pelo que a gente consegue perceber,
02:56de acordo com a nota enviada pelo próprio governo brasileiro.
03:01Além disso, né, ambos os presidentes destacaram aí a sua disposição,
03:06o seu comprometimento, né, em continuar identificando novas oportunidades de negócios
03:12para alavancar, de fato, a economia, né.
03:15Então, houve aí uma...
03:17Eles firmaram ainda mais essa parceria.
03:21A gente já sabe, né, dessa parceria entre Brasil e China e essa ligação ocorre,
03:27como você falou, né, Clay, após uma reunião super importante aqui no Palácio do Planalto,
03:32entre o presidente Lula, o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin,
03:36também a presença aí de alguns ministros para fazer aquele alinhamento final do plano de contingência,
03:41nesse plano que visa ajudar os setores mais afetados pelo tarifácio
03:46e a previsão, como falamos aqui, era que esse plano seria anunciado hoje, né,
03:51para os empresários, as empresas exportadoras mais afetadas.
03:55Mas, até o momento, não há uma previsão de quando esse plano de contingência
04:00será, de fato, anunciado pelo presidente Lula.
04:03Então, essa ligação para o líder chinês, Xi Jinping, ocorre logo após essa reunião
04:09aqui no Palácio do Planalto, onde a gente percebe, né,
04:12que onde vários assuntos foram discutidos.
04:15Mas, principalmente, essa relação bilateral entre os dois países, né,
04:20esse encontro de ideias, né, da defesa do multilateralismo,
04:25onde os dois países defendem a questão do multilateralismo
04:29e também a questão da COP30, que será realizada agora em novembro.
04:34E o líder chinês já afirmou que vai enviar uma delegação para representar a China
04:40e contribuir aí para o êxito desse evento promovido aqui no país.
04:46Klein.
04:47Fernanda, enquanto o governo tentava alinhar aí algumas medidas, né,
04:53costurar já esse pacote de socorro aos exportadores,
04:56Paralelamente, havia a expectativa do encontro entre o ministro da Fazenda,
05:01Fernando Haddad, e o secretário de Tesouro norte-americano, Scott Bessent.
05:05E aí, no fim, o governo brasileiro acabou sem nenhum dos dois, né,
05:09não fecharam aí um acordo, esse pacote de socorro,
05:12que deveria, como você disse, ser anunciado hoje,
05:15e também não haverá mais essa reunião entre Haddad e Scott Bessent.
05:20Sobre essa reunião, tem alguma outra data?
05:22Por enquanto, não se sabe quando que os dois vão voltar a conversar?
05:29Pois é, ainda não há agora, né, uma previsão, uma expectativa de quando vai acontecer
05:35essa reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
05:39e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, né.
05:43Claro, essa reunião, esse encontro entre as duas autoridades,
05:48lembrando, estava previsto para acontecer amanhã, na quarta-feira, dia 13 de agosto,
05:54seria uma reunião ali por videoconferência, e também, né,
05:56lembrando aos nossos telespectadores que haveria até uma possibilidade
06:00de uma segunda reunião, dessa segunda reunião poderia ser um encontro pessoal ali,
06:05um encontro entre Fernando Haddad e Scott Bessent de forma pessoal.
06:09Mas não, não vai acontecer mais essa reunião por videoconferência,
06:14e de acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
06:18esse cancelamento, né, ele atribuiu esse cancelamento devido aí a uma articulação
06:25da extrema direita, né, foi de acordo com as palavras do ministro da Fazenda,
06:30Fernando Haddad.
06:31Lembrando, né, que na semana passada, a própria assessoria do Scott Bessent
06:38tinha entrado em contato com o ministério da Fazenda, né,
06:42promovendo aí, pedindo esse encontro entre as duas autoridades.
06:45Mas, esse encontro foi cancelado por e-mail, né,
06:49dois dias antes, depois que Scott Bessent havia anunciado a toda a imprensa
06:54que se reuniria com Fernando Haddad.
06:56Então, não há ainda uma data prevista para acontecer esse encontro,
07:01essa reunião entre as duas autoridades, né.
07:04E o ministro ainda reiterou, né, que o que considera essa motivação
07:08do cancelamento política e não econômica, Clay.
07:13Obrigado, Fernanda Sete, pelas suas informações.
07:15Já, já a gente volta a conversar mais aqui no Agora.
07:18Porque darei o meu bom dia para a Mariana Almeida agora.
07:23Seja bem-vinda ao nosso jornal matinal aqui, Mariana Almeida.
07:27Tudo bem com você?
07:28Tudo bem, Eric.
07:29Bom dia pra você, bom dia pra todo mundo que nos acompanha aqui no jornal.
07:32Acho que não está um bom dia ainda lá em Brasília, viu,
07:34porque o governo acabou sem nada, né, sem o pacote de ajuda aos exportadores
07:39e agora sem essa reunião que era muito esperada, né,
07:42entre Haddad e Scott Bessent, que é o, vamos dizer assim,
07:45o homônimo dele no cargo lá nos Estados Unidos.
07:49E está emperrado, né, esse diálogo que é muito esperado
07:51porque talvez ali no pessoal, no tete-a-tete,
07:54o governo brasileiro conseguisse pelo menos explicar
07:57ou receber uma explicação de como começar a negociar
08:00esse tarifácio de 50%, né, Mari?
08:02Pois é, Eric.
08:03Tem a sensação de que no fundo, ou mesmo as conversas com o Bessent,
08:07elas podem avançar, mas elas não são definitivas,
08:09porque tudo depende e gira muito em torno de Donald Trump.
08:12Quem decide é Donald Trump.
08:14Exato.
08:14Por quê? Porque ele pode.
08:16Mas, de qualquer forma, os passos e o que se constrói no entorno
08:22do que acabam sendo os anúncios principais é muito relevante
08:26e vai dando um pouco de caldo para a história
08:27e quem sabe também a expectativa é de que isso pudesse puxar
08:30um pouco mais o debate para o campo econômico,
08:33ou seja, tentando demonstrar quais são as fragilidades
08:35que acabam sendo criadas tanto na economia brasileira
08:38quanto na economia americana e que podem ser amenizadas.
08:40Tem uma questão que sempre é busca de possibilidade de uma narrativa
08:45onde não haja perdedores, onde ninguém volte atrás,
08:49onde você acomode a economia sem precisar tocar em pontos nevrálgicos
08:53que foram da disputa e, nesse caso, uma disputa que foi política.
08:56Então, tinha essa expectativa, mas sem diálogo,
08:59e aí sem diálogo de nível de liderança mesmo,
09:02ou seja, um diálogo que possa envolver, de fato, o Fernando Haddad, o Scott Besson,
09:06ou alguém que tenha realmente algum tipo de maior relevância
09:11dentro da construção da racionalidade lá com o Donald Trump,
09:14isso fica muito mais difícil.
09:15Então, é uma perda e é uma perda que fica um pouco mais amarga no nosso caso
09:22porque é permeada por essa disputa política brasileira
09:25que acaba sendo elevada a um tom que prejudica a economia como um todo,
09:29porque sem esse diálogo, de novo, a gente fica com poucas janelas de saída.
09:33Ainda que não fosse definitivo, não vamos exagerar no tom do que significaria essa conversa,
09:38mas é a possibilidade de construção de uma porta de saída
09:41e essa porta não vai, aparentemente, pelo menos não agora, ser aberta para nós.
09:46Klein.
09:46Maria Almeida, eu conversei com alguns interlocutores do Planalto ontem.
09:51A sensação que ficou depois dessa reunião frustrada
09:55para se fechar ali o pacote de ajuda aos exportadores brasileiros,
09:59afetados pelo tarifácio.
10:01E também com a ligação de Lula para Xi Jinping,
10:04é que parece que deu uma esfriada esse apoio forte de outros países ao Brasil.
10:12Por quê?
10:13Porque em relação à ligação para Xi Jinping,
10:15o líder chinês não quis muito reforçar essa coisa,
10:19vamos trabalhar contra os Estados Unidos.
10:23O que defendeu?
10:23Não, é o multilateralismo importante, é isso, vamos trabalhar,
10:27mas não quis avançar muito nessa narrativa,
10:30esse discurso contra a América, contra Donald Trump.
10:33E o pacote de ajudas não saiu e está sendo trabalhado desde a semana passada.
10:38Então, interlocutores dizem que, assim, está um clima estranho.
10:42As coisas não estão andando, não estão funcionando em relação a essa guerra comercial.
10:47É, Klein, acho que dá para separar aqui dois aspectos da tua pergunta.
10:51De um lado, essa questão do Xi Jinping, quando que acontece essa ligação?
10:55Acontece no mesmo dia em que Donald Trump faz o anúncio de que vai postergar a trégua com a China.
11:02Então, do ponto de vista geopolítico, é um momento de tensão,
11:06um momento muito delicado para qualquer anúncio do ponto de vista do próprio Xi Jinping.
11:13Fora que a China, desde sempre, tem um trato muito mais sereno.
11:17Ela não corre atrás dos Estados Unidos dizendo que está correto,
11:22ela faz as suas críticas, mas ela em nenhum momento se posicionou fortemente contra,
11:27querendo iniciar um movimento contrário.
11:29Ela foi pelas laterais, colocando, inclusive, a possibilidade de assumir um papel de liderança
11:33do mundo multilateral, dizendo, olha, eu sou, sim, a favor do multilateralismo,
11:38isso que o Trump está dizendo atrapalha a negociação,
11:40foi se colocando, mas sem ativamente atacar os Estados Unidos.
11:45Ela ficou muito na reação e na construção de alternativas.
11:49Então, neste momento, onde, primeiro, ela já tem, então, como pano de fundo,
11:53esse papel mais sereno, essa forma de agir um pouco mais serena.
11:57Segundo, ela está exatamente no dia em que tem o anúncio de postergar uma trégua,
12:02onde pode ser mantido um certo equilíbrio entre Estados Unidos e China.
12:07E aí vem a ligação do Brasil.
12:09É nesse cenário que a ligação acontece.
12:12O que o Xi Jinping poderia fazer?
12:14Ele não tira o apoio, mas ele não é enfático.
12:17Por quê?
12:17Porque ele colocaria em risco exatamente esse momento delicado do que estava sendo falado antes
12:22e, por outro lado, não é nem do teor do que ele tem feito até agora.
12:26Lula, claro, no Brasil, precisou, nesse cenário de maior isolamento,
12:30tentar fazer essa pesar ali no contato com a China
12:33para garantir que ainda essa porta estava aberta.
12:36Sem a porta sendo fechada ou deixando nem um espacinho para abrir,
12:40foi checar se essa continuava aberta.
12:42Ela está aberta, mas é isso.
12:44Não está escancarada, pedindo para dar a mão e falando
12:46vamos juntos aí num ataque contra os Estados Unidos.
12:49Esse não é o aspecto.
12:51O outro lado, Cláudio, que você estava perguntando,
12:52é sobre daí, então, internamente, no meio de tudo isso.
12:55Já que isso aqui é uma conversa de médio e longo prazo,
12:57uma conversa geopolítica grande.
13:00E agora, os exportadores que estão sendo prejudicados, o que vai sair?
13:03E o governo ainda está tentando costurar alguma coisa que dê resposta para a economia,
13:11mas com esse cuidado que a gente, às vezes, tem pouco mesmo aqui no Brasil,
13:15que é o quê?
13:16Como é que eu faço um pacote que apoia, mas não vira uma muleta eterna?
13:20Porque este problema é de médio prazo e os setores vão ter que reagir
13:24e reorganizar a sua atividade pensando nesses Estados Unidos.
13:28Um Estados Unidos que, de uma hora para a outra, coloca uma tarifa,
13:31um Estados Unidos que reorganiza o comércio internacional
13:33e que, sim, coloca um desafio muito significativo para quem trabalha com exportações.
13:38Isso tem que entrar na conta, também não dá para depender só do pacote do governo.
13:41E esse, eu acho que é o principal problema.
13:44Como apoiar sem desestruturar a necessidade de inovação?
13:47E aí, vale lembrar, né, Mari, que além de Xi Jinping, Lula já havia conversado com Vladimir Putin, da Rússia,
13:53e também com o primeiro-ministro da Índia, o Modi, que são os três principais parceiros no bloco do BRICS.
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