Donald Trump e Xi Jinping conversaram por 1h30 sobre guerra tarifária e exportações de terras raras, reacendendo esperanças no mercado. O especialista internacional Vladimir Feijó analisou impactos estratégicos e os riscos para o Brasil em meio à disputa entre as duas maiores potências econômicas.
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00:00A gente volta agora a falar sobre a conversa realizada hoje entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da China, Xi Jinping.
00:09Uma conversa amplamente esperada pelo mercado e antecipada pela CNBC no começo dessa semana.
00:15Conversa essa que era vista amplamente como o único recurso que restava para tentar destravar as negociações entre Estados Unidos e China em relação à guerra tarifária.
00:26Os dois países assinaram diretrizes de um acordo no dia 11 de maio, numa reunião em Genebra, na Suíça, mas depois daquilo começou a haver acusações dos dois lados, a evolução travou mais uma vez.
00:40E aí, hoje, portanto, a gente teve os presidentes dos dois países se falando por telefone.
00:45Uma conversa que, segundo Donald Trump, durou cerca de uma hora e meia e, nas palavras dele próprio, foi muito boa para os dois países.
00:53Isso aumenta a esperança de que as negociações voltem a caminhar no sentido de uma solução da guerra tarifária.
01:02Para falar das perspectivas a partir dessa reunião entre os dois líderes, eu vou conversar agora com o Vladimir Feijó, que é analista internacional e doutor em Direito Internacional.
01:15Vladimir, boa tarde para você. Muito obrigado pela gentileza da sua entrevista.
01:19Inclusive, obrigado por aguardar. A gente sabe que você estava esperando enquanto a gente trazia aqui toda essa cobertura da notícia que acaba de chegar, das acusações de Elon Musk contra Donald Trump.
01:30A notícia se impõe, a gente tem que abrir espaço para ela, mas agora a gente abre espaço para outra notícia do dia, igualmente importante, igualmente com consequências para a vida econômica do Brasil, inclusive,
01:42que é essa conversa entre Donald Trump e Xi Jinping.
01:46E aí, Vladimir, no post em que Donald Trump confirmou que houve essa conversa, não houve detalhes específicos sobre o que ficou decidido, se algo ficou decidido,
01:56ou se foi apenas um arredondamento diplomático, vamos dizer assim, um recomeço de conversa, mas Trump citou produtos de terras raras.
02:04O que exatamente ele quis dizer com isso e qual a importância desse ponto específico para o andamento das negociações?
02:14E aí, Fábio, é uma satisfação estar de volta contigo, ainda mais nesse tema, mês passado, também no radar, eu comentei que as negociações devem ser duras e demorar muito tempo.
02:24Depois dessa tweetagem, foi na Truth Social, o governo chinês emitiu uma nota oficial através da diplomacia deles e não citou nada específico sobre terras raras.
02:37Porém, sabe-se que a economia dos Estados Unidos e da Europa anda um tanto quanto travada, por depender desse fluxo contínuo,
02:45e, portanto, estão temendo queimar todos os estoques de compras anteriores para continuar ofertando para os seus consumidores finais produtos, como imãs e outros tantos elementos.
02:58Como a China hoje é quem produz 90% da extração desse minério e quase 70% do refino dele, a economia global depende disso.
03:09E, diante da questão tarifária, uma das medidas que a China silenciosamente fez, apesar de ter anunciado tarifas em outros momentos,
03:19foi editar essa norma interna proibindo a exportação de terras raras para empresas americanas ou para o mercado americano.
03:28Isso é importante, né?
03:29Mesmo empresas americanas que produzem em outros países foram proibidas de comprar.
03:34Vejam que isso diz respeito a contratos já firmados, inclusive, dois anos antes, mas que não puderam ser cumpridos porque o governo proibiu a exportação dessas atividades.
03:46Pois é, a gente vê terras raras aparecendo como um ponto importante dessa negociação.
03:52A gente vê terras raras sendo negociadas quando Trump tenta mediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia,
03:59e Trump tentando conseguir, com a Ucrânia, fornecimento de metais de terras raras.
04:04E a gente vê também terras raras aparecendo no interesse de Trump em anexar a Groenlândia.
04:11Esse é um tipo de material, é um tipo de insumo, se a gente pode chamar assim,
04:17que os Estados Unidos não têm se não conseguirem de outra localidade, de outro país,
04:23e que é estratégico para uma série de indústrias importantes americanas?
04:27Do que é conhecido do estoque global, os Estados Unidos não chegam a ter 3%.
04:33E ele não está concentrado numa mina em que seja economicamente rentável para a exploração.
04:40Então, mesmo que opte por fazer essa extração, vai ser muito cara e o custo pode tornar inviável.
04:46No mundo, muito competitivo nessa área de nanotecnologia, produção de satélites,
04:53também os amálgamas de certos tipos de atividades, como a aviação, a Boeing e a Airbus,
05:01também competem e dependem desse tipo de metal,
05:04e que hoje se beneficiam muito da extração chinesa, que é barata pela concentração,
05:10como eu disse, 90% do estoque, ainda mais é muito próximo a algumas minas,
05:15que inclusive, Fábio, elas já estão sendo exploradas com inteligência artificial e veículos autônomos,
05:21para mostrar ainda mais como a China anda avançando no aproveitamento dessas terras-áreas
05:27para também desenvolver a própria economia.
05:29Então, os Estados Unidos ficam um tanto quanto dependentes de ter alternativa da China.
05:34Se não produzir interno, vai depender da Bolívia, do Brasil e outros países usarem os seus estoques dessas terras-áreas.
05:41E só para complementar o que você comentava antes do retorno sobre o resultado das bolsas hoje,
05:49parte essa negociação anunciada pelo Trump, mas falhante em detalhes maiores,
05:55fizeram com que algumas agências econômicas dessem os seus percentuais de chance de sucesso,
06:02apontando exatamente a essa falta de negociação sobre tarifas e acordos de bloqueios não-tarifários.
06:09A JP Morgan, inclusive, imagina que tem menos de 30% de chance de um acordo ser firmado
06:15antes da próxima eleição americana.
06:18A Oxford Economics imagina que apenas 40% de chance de sair nesse ano ainda.
06:24E a Goldman Sachs é menor na expectativa dela, 30% de probabilidade,
06:29mostrando que os temas são muito sensíveis.
06:31Tem nessas notas, Fábio, inclusive, dizendo que a proposta que os Estados Unidos anunciou
06:37é diferente do que o Ministério das Relações Chinesas anunciou,
06:41com condicionantes que são ditas como quase que inviáveis para os Estados Unidos aceitar.
06:47E aí, combinando com o Musk, ele, inclusive, em tuitagens, chega a falar
06:52cadê o Donald Trump do passado que dizia que ia fazer negociações duras,
06:56mas que parece agora estar cedendo também às pressões chinesas.
07:00Pois é, negociar um acordo comercial não é uma coisa para dias ou semanas,
07:06ainda mais quando a gente fala das duas maiores potências econômicas do mundo
07:11e num ambiente de disputa em tantas frentes, a tecnológica, a militar,
07:17quer dizer, são muitas frentes em questão e muitos pontos sensíveis para os dois lados.
07:23Quer dizer, falar que o acordo não sai até a próxima eleição não é nenhum absurdo na sua leitura?
07:30Não, ainda mais se for dizer um acordo abrangente que envolva todos esses temas sensíveis.
07:36Se tem alguma coisa que pode ser que aconteça num prazo menor, é voltar ao tarifácio.
07:42Portanto, concordarem de um arranjo com alíquotas, se não como estava antes,
07:48pelo menos no que eles firmaram em Genebra, de 30% do que vem da China para os Estados Unidos
07:53e 10% do que vai dos Estados Unidos para a China.
07:56Pelo menos é isso o que teria chance no curto prazo.
07:59Mas todos esses outros temas, ainda mais quando a China impõe condicionante
08:04de não ter pressão e vendas de armamento para Taiwan,
08:08você acaba amarrando os Estados Unidos em um acordo que dificilmente seria ratificado
08:13pelo Congresso americano, porque é tema sensível da política externa, né?
08:16O grande jogo geopolítico.
08:18E a gente viu, Fábio, hoje à tarde, no Congresso americano,
08:22diferentes líderes políticos, inclusive, apoiando a guerra comercial com a China
08:28e que ainda deveria continuar e que talvez não fosse o momento de fazer concessões.
08:33apesar de que tem pressões internas do empresariado que sofre muito pela elevação do custo de produção
08:39e competitivamente no mercado global podem estar perdendo a dianteira que teve na década passada.
08:47Vladimir, você vê hoje a China como um antagonista com mais força do que aquele que era a China
08:55durante o primeiro mandato de Donald Trump, quando também houve uma guerra comercial?
08:58A China está hoje numa posição superior à que ela tinha em 2018?
09:03É um sim enfático por dois motivos, Fábio.
09:07Primeiro, porque em 2018 ela foi pega de surpresa e teve que correr atrás para sair dessa crise
09:13e tentando firmar novas parcerias.
09:15De lá para cá, como a China tem uma unidade política e uma continuidade muito duradoura,
09:20ela já imaginava um segundo mandato do Trump poderia ter retorno.
09:23E, portanto, ela firmou múltiplos acordos e, além disso, muitos projetos de investimento amadureceram.
09:32E, portanto, portos, aeroportos, ferrovias, que são alternativas para o comércio internacional dos Estados Unidos,
09:38que não existiam, hoje já estão prontos.
09:40E o segundo é o Xi Jinping.
09:43O Xi Jinping se fortaleceu dentro da China, obteve pela primeira vez um terceiro mandato desde a década de 1970
09:51e cada vez mais é visto como a pessoa capaz de liderar a China pela próxima década,
09:58inclusive antecipando a possibilidade de um quarto mandato nessa competição global.
10:02E, cada vez que os Estados Unidos batem de frente com a China, ele acaba se reforçando,
10:08tendo, inclusive, colocado como um negociador linha dura que cresceu com ele dentro do partido
10:14para lidar com os Estados Unidos, ou seja, para ter contato de primeira notícia, né?
10:19Não precisar ter a notícia através do ministro de Relações Exteriores ou um diplomata de menor linha.
10:26Admir, para a gente encerrar, dada toda essa dificuldade no avanço da negociação dessa vez,
10:32especialmente entre Estados Unidos e China, mas também nas outras frentes,
10:35porque a gente está vendo que não está avançando em outras frentes, né?
10:38Fora aquele pré-acordo com o Reino Unido, não saiu mais nada de concreto agora com nenhum outro país.
10:44Dada essa situação, com a perspectiva de uma guerra comercial mais prolongada,
10:50quais são os principais desafios e quais são as principais oportunidades para o Brasil?
10:55Bem, hoje o Donald Trump esteve com o primeiro-ministro alemão e prometeu que vai sair um acordo com a União Europeia,
11:01mas, mais uma vez, sem dar muitos detalhes.
11:04O Brasil trabalha aí e vai continuar trabalhando na corda bamba, tendo que atender aos múltiplos mercados.
11:11A nossa parte de agricultura, de indústria e de serviços tem economias diferentes com as quais se relacionam.
11:20Portanto, o agro depende dos BRICS e precisa continuar lidando com eles,
11:26mas cada dia corre mais risco de sofrer sanções indiretas pela disputa Estados Unidos e Rússia e Estados Unidos e China.
11:34Por outro lado, a nossa indústria ainda importa muito matéria-prima e também maquinário da Europa e dos Estados Unidos.
11:42Portanto, tem que trabalhar com fazer concessões e apoiar críticas feitas ao mercado chinês,
11:49que, óbvio, também conseguiria com maior facilidade fazer dumping e causar um estrago muito grande aqui.
11:55Então, o discurso do Itamaraty, imagino eu, tem que ser o mesmo,
11:59pregando pelo multilateralismo para que a gente não corra o risco de ficar em relações bilaterais,
12:05fechando acordo com a União Europeia e depois desagradar os Estados Unidos,
12:08ou desagradar a China e vice-versa, fazer um acordo com a Rússia e causar todo um desequilíbrio com outros acordos.
12:15O melhor cenário para a gente é, diante as oportunidades, aproveitá-las no curto prazo,
12:20mas no longo prazo é tentar reforçar a OMC e acordos multilaterais,
12:25porque o nosso posicionamento global realmente não deveria estar focado em apenas um país ou um continente do mundo.
12:33Vladimir Feijó, analista internacional, doutor em Direito Internacional,
12:37muito obrigado, Vladimir, pela sua análise aqui ao vivo no Radar mais uma vez
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