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  • há 6 semanas

Categoria

Pessoas
Transcrição
00:00Aos 13 anos de idade, ele entrou para um seminário carmelita, aos 22, tirou os sapatos e fez voto de pobreza.
00:17Acolheu jovens de rua, viveu na calçada e fez trabalho missionário dentro da Cracolândia, em São Paulo.
00:24O homem que está na eterna busca pela humanidade vai conversar com a gente hoje, aqui no painel.
00:32Olha, eu faço isso porque eu sou movido pela solidariedade. A gente vive num país, eu sou eu, você é você e ninguém somos nós.
00:41A paixão pelo tênis e a vontade de ensinar fizeram o Agnaldo dar aulas de graça em Guarapuava.
00:47Eu estou dentro de uma quadra de tênis há 39 anos, então eu sei que é passar uma dificuldade, a gente não ter um material adequado para jogar, não ter um tênis, não ter um agasalho para jogar.
01:02Então eu fui ajudado há muito tempo atrás, lá em Londrina, que sou de Londrina, então eu comecei com bastante pessoas ajudando.
01:09E por que não ajudar? Dar um pouquinho dessa ajuda que eu tive lá atrás para a garotada hoje.
01:16E vamos bater um papo com o dono de um criador de animais em Guaíra.
01:21Que bom ter você com a gente aqui no painel. O nosso programa já está no ar.
01:30A rua, para ele, é fonte de pesquisa, fonte de vida.
01:35Vamos conversar com o Fernando de Góes, que fundou a chácara Meninos de Quatro Pinheiros, que acolhe jovens, usuários de drogas e em situação de risco, para saber qual é agora a nova fase da vida dele nesse trabalho.
01:50Obrigada. De volta?
01:53Por enquanto, ainda não chegou o meu tempo de voltar.
01:57Não?
01:58Eu preciso me humanizar mais, para depois voltar.
02:02Se você precisasse humanizar, a gente precisa renascer mais 10 mil vezes.
02:07Fernando, esse ambiente aqui, Praça Osório, centro de Curitiba, foi um lugar onde você atuou muito até levar os meninos para a chácara.
02:16Muitos saíram daqui, eram moradores desse espaço.
02:18Exatamente. Aqui, Adriana, é um espaço que me marca muito, porque aqui eu fiz várias educações de rua, ou abordagem de rua.
02:25E você está morando na rua ainda?
02:26Sou.
02:28Na rua não, na calçada.
02:29Na calçada.
02:29Você sabe que também estou na calçada de São Paulo, né?
02:33Estou na calçada?
02:33Estou na calçada.
02:34Mas estou fazendo uma experiência.
02:36Estou indo lá na Cracolândia.
02:39Depois, eu estou em um projeto chamado Restauro, com 800 pessoas, todos os dias.
02:43E durmo, durmo lá na calçada da rua São Bento.
02:52Onde a gente estava com um grupo de meninos e meninas, para ouvir as suas histórias devidas e prepará-los para levar eles para a chácara.
03:00Então, aqui é um espaço que me marca muito, porque também aqui é o começo da chácara.
03:04Você resgatou muitos jovens aqui.
03:06Muitos meninos foram resgatados aqui da droga, da violência, da prostituição, para você ensinar eles a re-sonhar de novo.
03:14Vamos sentar ali para conversar mais um pouquinho?
03:16A gente está caminhando aqui, nesse ambiente onde a história começa, né, Fernando?
03:20E o caminhar também tem um significado para a tua vida, não tem?
03:24Tem, porque assim, eu aprendi com o Hipócrita, que ele fala, que o melhor remédio para o homem e para a mulher é caminhar.
03:31Porque caminhar você se renova e alguém comenta que o caminhar é a melhor imagem da esperança.
03:37Como eu sou movido pela esperança, eu gosto de caminhar à procura das pessoas excluídas.
03:43Entre elas, os trecheiros, o andarilho e também os moradores em situação de rua.
03:48Então, caminhar faz parte da minha pedagogia humana.
03:51Fernando, e a sua caminhada é longa, né?
03:55Você, quando fala que vai se propor a caminhar, qual que é o tamanho dela?
04:01Olha, o tamanho é o tamanho da estrada que não tem fim.
04:06Eu, quando eu tenho uma missão muito difícil para realizar, então, para mim, me tornar uma pessoa melhor,
04:13uma pessoa humana e uma pessoa mais leve, eu preciso caminhar.
04:16E a estrada vai me educando para mim ser uma pessoa melhor.
04:21Quando eu faço a caminhada, o meu grande desejo é me encontrar com os trecheiros.
04:26São pessoas que eu sei que faz anos que nunca mais ele recebeu um abraço.
04:31Então, falou Augusto Cury que quando a sociedade te abandona, a solidão ainda é tolerável.
04:37Mas quando você abandona a si mesmo, a solidão é quase que intolerável.
04:41E eu encontrei a Adriana Trecheiros, que, assim, a presença humana faz muito mal para ele.
04:47Fernando, você, para atender os jovens e moradores de rua em situação de grande risco,
04:55você morou na rua, você já passou fome e sede nas suas longas caminhadas,
05:01dentro dessa sua travessia pela vida.
05:06Por quê?
05:06Olha, eu faço isso porque eu sou movido pela solidariedade.
05:10A gente vive num país, eu sou eu, você é você e ninguém somos nós.
05:15Então, como eu não tenho teto para todo mundo, como eu não tenho cama para todo mundo,
05:19nem casa para todo mundo, no mínimo, no mínimo, eu tenho que ser solidário.
05:23Então, eu tenho que fazer parte dessa multidão de pessoas que vivem nas ruas,
05:27no presídio, nos lugares mais difíceis, para poder conviver com elas,
05:33levar um pouco de paz, levar um pouco de esperança.
05:36E aí eu trabalho muito com a pedagogia da escuta.
05:38Mas eu faço uma escuta amorosa, uma escuta ativa e uma escuta qualificada.
05:45E depois dessa escuta, eu trabalho com eles a pedagogia dos sonhos.
05:49Se você perguntar para um andarilho, para um morador de rua, qual é o seu sonho?
05:53O sonho deles é um eterno recomeçar. Ele tinha família, não tem mais. Eles querem.
05:58Tinha casa, não tem mais. Tinha trabalho, não tem mais.
06:02O melhor remédio para o sofrimento é exatamente o acolhimento.
06:05Uma vez eu fui na Cracolândia e um rapaz me pediu um copo de chá.
06:11Eu estava com uma garrafa e com um saco de pão.
06:13Ele me deu um pão e um chá porque faz um mês que eu não como nada.
06:17Ele estava muito debilitado e quando eu colocava o chá, eu pedi que ele segurasse o copo,
06:22ele segurava o copo e toda vez que o copo enchia, caía e me queimava.
06:26Eu já comecei a ficar irritado.
06:28Aí eu lembrei da Maria Tereza, se eu julgo, eu não tenho tempo de amar.
06:33E meu lugar aqui é amar.
06:35Aí eu pedi, então você pode se sentar um pouquinho? Ele sentou.
06:38Aí quando eu olhei na mão dele, Adriano, ele tinha perdido a sensibilidade.
06:42De tanto assim acender aquele cachimbo.
06:44Ele disse, meu Deus, eu vim aqui para fazer uma boa ação e daqui um pouco eu estou julgando.
06:47Ele sentou, eu coloquei papel higiênico em volta do seu copo e dei o pão e ele tomou.
06:53Então quem está na Cracolândia, se você for na Cracolândia, até os cachorros são tristes.
06:57Porque eles veem o dono morrer e não conseguem fazer nada.
07:00Então é muito sofrimento, principalmente das mulheres que são violentadas, que são exploradas,
07:05das crianças, das pessoas idosas.
07:07Se você for em qualquer universidade do Brasil, você vai ver que a maioria são brancos.
07:12E você vai na Cracolândia, a maioria são negros.
07:15Então a discriminação, a falta de política pública é muito grande.
07:21Fernando, você foi para lá e ficou quanto tempo em trabalho na Cracolândia?
07:24Na Cracolândia, Adriano, eu fiquei 14 meses.
07:28Eu ia no outro projeto para desenvolver a pedagogia do sonho.
07:34E passava algumas noites, toda tarde, tinha noite que eu dormia lá na Cracolândia.
07:38Mas todas as tardes eu passava pelo menos 4 horas com os irmãos na Cracolândia.
07:43Essa experiência, você saiu de lá como, Fernando?
07:48Olha, olha, cada escuta que eu fazia mexia muito comigo.
07:52Que me tinha noite que eu não conseguia dormir pensando nessa situação.
07:55Mas eu lembrei, eu não posso ser esponja.
07:58Eu tenho que ser um pouco peneira.
07:59Eu disse, se eu me deixar me abater para essas histórias, eu vou tornar igual a eles.
08:04Eu preciso ter mais força para poder ajudá-los a tirar eles dessa situação.
08:08E nessa pedagogia da escuta, Adriano, um dia foi um traficante que acompanhava a minha trajetória.
08:15E, aliás, não queria que eu ficasse naquele lugar, mas ele me respeitava.
08:18Você sentiu essa resistência?
08:20Bastante.
08:20Mas você ficou?
08:21Mas eu fiquei.
08:22E um dia ele falou assim para mim, você está fazendo uma coisa errada aqui com os noiados, que é o termo que ele usou.
08:29Eu falei assim, então se você me fale, que eu vou me corrigir.
08:31E ele era uma pessoa muito violenta, aí ele falou assim, mas o que é que eu faço de errado?
08:37A coisa de errado que você faz é que você escuta só esses noiados e você não escuta nós traficantes.
08:43Então eu fui descobrindo nessa vivência toda, assim, muita humanidade, muito sofrimento.
08:49Então eu não quero ficar isso só para mim.
08:51Eu preciso partilhar para que as pessoas tenham no mínimo compaixão dessas pessoas que estão do outro lado.
08:58Então eu estou fazendo agora um livro com a história de resiliência de 12 trecheiros, que me deparei.
09:07Trecheiros que na rua ajudaram eles a se restaurar.
09:10E nessa caminhada, Fernando, sua, quando é que Curitiba está no destino final?
09:15Eu tenho muita saudade de Curitiba.
09:17Gosto muito aqui, aprendi muito o que eu faço hoje.
09:20Eu sou muito grato a essa cidade.
09:22Só que nesse momento Deus está pedindo para mim, desça nas águas mais profundas.
09:26Tenho certeza que quando eu voltar, eu vou voltar com uma pessoa muito mais madura e muito mais experiente.
09:34E depois do intervalo, vamos bater um papo com o professor Agnaldo.
09:38Eles autorizaram a abrir os horários para trazer essa molecada aqui da Vila Concórdia para dentro do clube.
09:44É um bairro bastante carente aqui.
09:54Voltamos já!
09:56Tchau!

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