00:00Há mais de uma década, ela visita carceragens de delegacias e penitenciárias para conversar com os presos.
00:16Casei muito cedo e tive 10 filhos, sendo 7 daqui, 3 daqui.
00:25Depois que todos os meus filhos nasceram, é que eu tive condições de voltar a estudar.
00:32E a senhora estava com quantos anos?
00:34Eu estava com 28. Já tinham nascido todos.
00:38E a senhora se formou em Direito?
00:39Eu me formei em Direito. Então, durante mais ou menos 12 anos, eu fui vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos.
00:48E aí eu comecei, dentro do sistema penitenciário, a cuidar um pouco mais.
00:55E, neste meio tempo, aconteceu um fato lamentável, triste para a família, que eu falei que eu tenho 8 filhos.
01:05Um dos meus filhos, policial, em razão de uma operação comum entre eles, ele acabou, ele e colegas dele, sendo presos.
01:17E aí foi que eu tomei conhecimento com os bastidores do sistema penitenciário.
01:25Toda quarta-feira, isso durante mais de 4 anos, eu estava presente como advogada.
01:33E no sábado, eu era mãe.
01:37Então, eu levantava de madrugada, fazia o lanche para levar para ele, ia para as filas, junto com qualquer outra mãe.
01:47E ali eu ia conversando, conhecendo todas aquelas mazelas, aqueles sofrimentos, a luta das famílias, o que acontecia.
01:57Aí eu entrava, ele era policial, então ele estava em uma ala especial.
02:04Mas, no momento em que todos se reuniam, que as famílias estavam, eu tinha a oportunidade de conhecer histórias,
02:15de conhecer o que existia lá dentro.
02:18E foi aí, porque até então, o que eu fazia?
02:22Eu já estava na ordem, eu já era vice-presidente dos Direitos Humanos,
02:26mas eu ia, como a maioria das autoridades vão, eu ia na diretoria.
02:32E na diretoria, eu ficava sabendo como é que está isso, aquilo, aquele outro.
02:38E aí eu comecei a entrar.
02:40Eu não me satisfez mais em ficar falando com a diretoria ou com os funcionários e agentes.
02:47E quando acontece algum movimento lá dentro, por parte dos presos, rebelião, eles pedem a presença da senhora?
02:54A minha presença.
02:55Então, eu, em 2010, eu já participei das negociações.
03:01Então, desde 2010.
03:03Em 2014, eu participei de 11 rebeliões.
03:08Quer dizer, 11 negociações.
03:11E por que a senhora acredita que eles chamam a senhora?
03:14Eu nunca prometo.
03:15Eu sempre digo a eles, eu não tenho o poder decisório.
03:22É um horror, um absurdo o que é o sistema penitenciário.
03:26As pessoas que estão fora, que é o que nós tentamos fazer com que a sociedade compreenda que eles praticaram.
03:33Eu digo isso sempre para eles.
03:35Vocês escolheram ter esta dívida.
03:38Vocês poderiam ter comprado uma casa, um carro, uma geladeira e iam ter de pagar.
03:44A dívida de vocês foi para com a sociedade.
03:47E vocês estão pagando.
03:49Então, desde aquela época que eu entro, isso quanto há 12 anos, 10, 12 anos, que eu entro e falo com os presos.
03:57Eu vou nas galerias, mas apesar de tudo, hoje tem uma coisa muito boa, que é aquela remissão pela leitura.
04:06Eles são obrigados a ler para poder ter uma remissão.
04:11Então, eles têm 30 dias para ler um livro.
04:15Esse livro, depois, é submetido à pedagoga e eles têm a remissão.
04:23Mas isso acontece também dentro?
04:25Em todas as penitenciárias do Paraná.
04:27Para os presos do Lava Jato também?
04:28Todos.
04:29E quem lê mais?
04:29Sim, então, eles estão lendo.
04:31E quem lê mais ali?
04:32Tem um interesse maior ali?
04:33Todos eles têm.
04:34Todos leem.
04:35Eu, inclusive, já levei muitos livros.
04:38Eu levei livros excelentes para eles, porque nós temos uma biblioteca no Conselho.
04:43Então, todos eles leem.
04:45Que sentimento que mobiliza a senhora?
04:48Estar lá, a voltar para lá, a não deixar de ir para lá?
04:54Atender um chamado no meio de uma rebelião para negociar do lado deles?
04:59O sentimento que me leva é que eu acredito que o todo é feito de partes.
05:05E que eu estou fazendo a minha parte.
05:07E que se todos fizessem um pouquinho, é possível, sim, o recomeço.
05:13Eu não uso a palavra ressocialização, porque eu acho assim que é uma mentira.
05:18Isso não existe.
05:19Se muitos deles que estão lá, o perfil daqueles que estão lá, a maioria são pobres, são pretos, não têm escolaridade.
05:29Não precisa construir penitenciária, porque na hora que você dá trabalho, escola, você está fazendo com que eles não sejam mais um número dentro da marginalidade, mas que passem a ser um número dentro da sociedade.
05:45O painel volta no próximo sábado, mas você pode falar comigo durante a semana.
05:49Grave um vídeo, diga o que achou do nosso programa e mande pelo aplicativo Você na RPC.
05:55Faça como o Valdivino.
05:57Ô galera, eu sou o Valdivino de Ponta Grossa, estou ligadinho na RPC, assistindo ao programa Painel.
06:06Oi Adriana, eu sou seu fã número 1.
06:08Ô Valdivino querido, muito obrigada.
06:11Tenho todos um sábado maravilhoso.
06:13Maravilhoso. Tchau.