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  • há 6 semanas

Categoria

Pessoas
Transcrição
00:00Até que ponto as brigas na escola ou piadinhas que enfatizam uma característica não tão legal do outro são naturais na escola?
00:13Você sabe como identificar se o seu filho está sendo vítima de bullying?
00:18Agora vamos conversar com o Alexandre que por 10 anos sofreu agressões dos amiguinhos da escola.
00:26Por que o direito entrou na tua vida?
00:27O direito entrou dentro de muitos fatores porque quando eu era moleque eu sofri bullying.
00:34Sofri bullying por uns 10 anos seguidos na minha vida.
00:37Porque gordinho descoordenado vem com luminoso.
00:39Sofreu bullying, vai sofrer bullying.
00:41Como que você era como estudante diante de uma realidade dessa?
00:45Como que você aprende num convívio assim, nada saudável?
00:51O grande problema do convívio nada saudável é aquela história,
00:54e uma mentira contada um milhão de vezes começa a se tornar verdade.
00:58Você começa a acreditar nos outros.
00:59Esse é um grande problema.
01:01E tantas pessoas falam, seu lixo, você não vai conseguir nada, você não vai ser nada.
01:03Você começa a acreditar nisso.
01:05Quantos anos atrás foi?
01:07Assim, o pior bullying da minha vida, que acho que foi o mais marcante de toda a minha vida,
01:11aconteceu em 98.
01:13E como foi que vocês identificaram você, sua mãe, sua família, o bullying?
01:20Quando não se conhecia bullying ainda, não se tratava assim?
01:23Então, na época não se falava bullying, assim, era uma brincadeira de criança,
01:27que foi levado para a direção da escola, eu estava na oitava série.
01:30Foi assim, brincadeira de criança, foi tratado como um problema meu em relação às pessoas.
01:37O problema era você?
01:38O problema era eu, era eu que não me adaptava às pessoas.
01:42E daí, assim, foi colocado panos quentes na coisa, só que assim,
01:48qual foi uma das grandes medidas que a escola tomou que tornou minha vida um inferno.
01:53Ao invés de levar e resolver na direção, ou com os professores,
01:57ou com alguma forma dentro do corpo profissional da escola.
02:02Então, a diretora, a orientadora pedagógica, não me lembro exatamente na época,
02:06ela foi dentro da sala e deu uma bronca geral em todo mundo.
02:09Certo.
02:10E, assim, aquela implicância, aquela raiva que eles tinham, que era setorizada,
02:13que eram três, quatro alunos, passou a ser uma sala inteira,
02:16e depois passou a ser duas, três, e de repente era um bloco inteiro, um andar inteiro.
02:21E aí, passou aqui durante muitos meses, eu tinha que me esconder na biblioteca
02:26para me esconder do bullying, para não sofrer bullying.
02:30Até porque quando eu andava nos corredores do colégio, ninguém queria falar comigo.
02:34E não tinha ninguém que te defendia?
02:36Não, não tinha ninguém, porque todo mundo, porque assim,
02:37quando acontece bullying na escola, eu só percebi isso depois.
02:42Quem assiste o bullying tem medo de ser vítima, então acaba não se metendo.
02:46Eu acho que o sadismo mesmo é de meia dúzia ali.
02:49E qual foi o capítulo final dessa história?
02:53O capítulo final que eu mudei de escola, mudei daquela escola, mudei para uma outra.
02:57Dei, quando, no meio do ano, era perto da mesma escola onde eu estava.
03:01Só que assim, os alunos que praticavam bullying comigo, não satisfeitos com aquilo,
03:04eles descobriram onde eu estava estudando.
03:06E daí foram fazer um paredão com todo mundo lá, do outro lado da rua da escola,
03:11para espalhar para todo mundo quais eram os apelidos que eu recebia.
03:16Pegou na outra escola isso?
03:18Assim, durante um tempo, foi aquela tentativa, assim, alguns começaram,
03:21mas daí como eu já tinha feito algumas amizades, aquilo meio que me ajudou a superar.
03:27E daí também, na época, eu comecei a aprender um instrumento musical,
03:33daí comecei a escrever algumas letras, então isso acabou me ajudando a me enturmar com as pessoas melhor.
03:39E acabei até achando algumas qualidades em mim das quais as pessoas também gostavam.
03:44Então isso me ajudou muito.
03:45O que acaba com o bullying?
03:47Existe uma cultura natural da competitividade.
03:54E quanto mais competitivo um ambiente é, mais violento ele tende a ser.
03:58Então, a partir do momento que a escola deixar de fazer com que os alunos tenham essa competição entre si
04:05e passem a se ajudarem mutuamente,
04:08você vai ver que todos os alunos vão descobrir que o outro coleguinha tem uma especialidade que ele não tem,
04:13que todos os coleguinhas são especiais e que nesse auxílio, nessa troca de conhecimentos,
04:18nessa troca de saberes, todo mundo sai ganhando, todo mundo acaba sabendo um pouquinho mais.
04:22Mas existe uma tendência, assim, a tratar pela igualdade no sentido linear, né?
04:29Que todo mundo seja do mesmo jeito, não igual, né?
04:34Ah, sim. Essa padronização, não só do físico, como a padronização da roupa, a padronização do gosto.
04:40As pessoas têm que ter hoje o mesmo gosto musical.
04:42A padronização do aprendizado, todo mundo tem que aprender igual, né?
04:46Sim, igual, todo mundo tem que ser inteligente da mesma forma.
04:49As pessoas não têm hoje a possibilidade de ser inteligente de forma diferente, tá?
04:52Então, assim, a partir do momento que as escolas mudarem esse parâmetro e mostrarem para todo mundo
04:57que cada aluno tem a sua inteligência específica,
04:59cada aluno é ali, na sua individualidade é especial,
05:03certamente o bullying vai diminuir nas escolas.
05:06O que você perdeu da tua infância, do teu aprendizado, por conta desses relacionamentos?
05:16Olha, eu achei, realmente, assim, no final do meu período escolar,
05:21eu sempre achei que eu tinha perdido muitas chances de me relacionar com as pessoas,
05:26de ter amiguinhos, de ir nas festas.
05:28Porque você não ia nas festas?
05:29Porque ninguém me convidava, ninguém queria o cara estranho na festa, né?
05:33O cara estranho não vai, meu.
05:34Eles não gostam disso.
05:36Então, assim, depois de tudo isso,
05:40eu achei que eu tinha perdido essa possibilidade de interagir com as pessoas.
05:45Mas depois de algum tempo, eu percebi que o bullying foi a pior e a melhor coisa da minha vida.
05:49Porque eu fiz disso um dos motivos para a minha própria vida.
05:56E eu percebi que eu aprendi a curar os meus problemas ajudando as pessoas.
06:03Encontrei a minha cura nas pessoas que eu consegui ajudar.
06:06Eu acho que essa é a grande sacação da coisa.
06:10É o que você faz com o que é dito para você.
06:12Ou você se derrota e dá razão para todo mundo.
06:15Ou você fala, não, eu não sou isso.
06:18E vai, segue em frente, dá a volta por cima e prova para você mesmo que você pode.
06:22E pode mais, sabe?
06:23Porque as pessoas, elas não devem, por exemplo, sonhar em vencer.
06:30As pessoas têm que sonhar até vencer.
06:33E eu acho que essa é a grande sacação da coisa.
06:36É continuar, é ser forte, resiliente, confiar em si mesmo.
06:40Não baixar a cabeça, né?
06:41Não baixar a cabeça e não dar bola para o que as pessoas falam.
06:43Você falou que a maior parte de toda essa agressão que você sofreu na escola,
06:48esse bullying, né, que hoje tem um nome, foi por conta do seu sobrepeso.
06:53Você, uma das coisas, né, você chegou a pesar quantos quilos?
06:59Assim, eu já cheguei a pesar mais de 100 quilos.
07:02E você, em algum momento, resolveu emagrecer.
07:04É, emagrecer fácil.
07:05Cansei desse papo de ser gordo, né, porque eu esqueci de ser zoado.
07:08Não que as pessoas não sejam felizes com o próprio ser, mas porque ser zoado por causa disso.
07:13Porque se ninguém me falasse nada, tá tranquilo.
07:15Porque, na verdade, é claro, tem a questão da saúde, mas essa questão estética e social é muito importante no mundo em que a gente vive.
07:24Então, chegou uma hora que, não, não sei, vou emagrecer e tal e, né, e decidi mudar o meu físico.
07:30Isso também, de uma certa forma, infelizmente, ajudou muito.
07:34Não deveria ser legal isso.
07:36Não, eu emagreci e fico tudo tranquilo.
07:39Não, não, sabe, as pessoas devem se aceitar e a sociedade deve se tratar as pessoas como elas são,
07:45independentemente de físico, porque a beleza é um ponto de vista.
07:49A beleza é o que está dentro da gente, né.
07:51E diferentes todos somos, né?
07:52Sim, todo mundo é bonito de um jeito diferente.
07:57As pessoas não devem ser apontadas por aquilo que elas, né, pelo seu caráter físico, pela cor da pele, pela, né, pela sua condição social, financeira,
08:07mas sim pelo que tem dentro dela.
08:09Porque todas as pessoas têm a sua luz própria, que são diferentes.
08:13E é por isso que elas se tornam bonitas.
08:15E o resto?
08:17Esse tipo de preconceito, o resto é besteira.
08:19O preconceito está no olho das pessoas.
08:22Eu aprendi com o tempo que o problema é delas, né, com elas mesmas, não comigo.
08:27Aham.
08:28E quando você entendeu isso?
08:29Quando eu entendi isso, primeiro eu passei a me aceitar e eu passei a perceber que, a olhar as minhas qualidades e a desenvolver essas qualidades.
08:39E aí a vida fica mais tranquila de se levar, né.
08:41E exclusivo para você que nos acompanha pelo G1 Paraná.
08:46Essa conversa continua assim que o painel terminar.
08:49O Alexandre vai mostrar como identificar o bullying e o que pode servir de prova para processos judiciais que envolvam esse tipo de agressão.
08:58E fique com a gente, porque o painel volta logo depois do intervalo.
09:02E aí

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