Quase 36% das exportações brasileiras para os EUA podem ser afetadas pelas novas tarifas impostas por Trump. A economista-chefe da Lifetime, Marcela Kawauti, analisou os impactos no agronegócio, energia e indústria. O risco político e a instabilidade fiscal ampliam as incertezas para o Brasil.
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00:00Quase 36% das exportações brasileiras para os Estados Unidos devem sofrer impactos com as tarifas adicionais de 50% impostas por Trump,
00:10de acordo com um levantamento feito pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
00:18Essa parcela correspondeu a 14,5 bilhões de dólares em 2024.
00:23A economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos, a Marcela Kaualt, está aqui ao vivo no Money Times para conversar com a gente sobre esses impactos.
00:31Felipe Machado também nos acompanha. Então, boa tarde, Felipe. Boa tarde, Marcela.
00:36Olá, boa tarde.
00:37Antes de começar, só dar parabéns para o nosso aniversariante do dia, Felipe Machado.
00:43Obrigado, obrigada, Natália. Obrigado a todos.
00:45Muito bom, trabalhando, firme e forte.
00:47Com certeza, claro.
00:49Marcela, vamos lá. Desculpa a pausa aqui, só para um cumprimento.
00:53Mas queria começar te perguntando, né, esse tarifato de 50%, ele já atinge quase 36%, então, como eu mencionei, né, das exportações brasileiras.
01:02Então, a gente está falando de setores muito estratégicos, né, café, carne, frutas, calçados, móveis, máquinas.
01:08Que segmentos têm sido os mais impactados até agora e que impactos, né, que efeitos ainda estão por vir?
01:14Boa tarde, parabéns, Felipe.
01:18A gente vê as tarifas ainda assustando a economia brasileira, ainda colocando a economia brasileira com um grau de incerteza muito alto.
01:28Em primeiro lugar, porque essas tarifas são muito maiores do que os outros países.
01:33Então, quando a gente compara, por exemplo, até mesmo com a China, esses 50% que vão ser cobrados em relação a alguns produtos,
01:42são maiores até mesmo do que a China, que era aquele país que o Trump falava tanto durante a sua campanha no ano passado.
01:51Em segundo lugar, quando a gente fala de setores, a gente tem setores específicos que vão ser bastante afetados.
01:57principalmente o agronegócio, ainda que alguns produtos relacionados ao agronegócio tenham entrado ali naquela extensa lista de exceções, né,
02:08que caíram ali para 10%, ainda tem muitos produtos que têm a tarifa de 50%.
02:14E aí esses setores acabam tendo, né, que, enfim, provavelmente vão vender menos para os Estados Unidos a partir de agora
02:22por conta desse aumento do custo para o americano.
02:27Também tem setores importantes que participam da pauta de exportação brasileira para os Estados Unidos,
02:33como o setor de energia e até mesmo vendas de equipamentos e aeronaves, que também sofrem de alguma maneira.
02:39E vale lembrar que mesmo os setores que estão fora dos 50%, estão ali no que a gente chama de tarifa mínima,
02:46que é 10%, que ainda assim é acima do ano passado.
02:50E ainda tem produtos específicos que caem em tarifas também específicas,
02:55que são, por exemplo, aço e alumínio, que têm as tarifas de 20%, 25%.
03:00Tudo isso para dizer que a gente tem um cenário melhor do que a gente tinha no começo da semana passada,
03:06com alguma negociação ali que avançou, mas ainda assim a situação para o exportador brasileiro ficou muito mais difícil ao longo de 2025.
03:16Certo. Felipe, sua pergunta para a Marcela.
03:18Legal. Marcela, obrigado pela mensagem.
03:21Marcela, a gente tem visto aqui, o Donald Trump, por exemplo, ele tinha aplicado tarifas em relação à Índia
03:27e depois, após um comentário do primeiro-ministro indiano dizendo que ia continuar a comprar petróleo da Rússia,
03:34ele aumentou as tarifas.
03:36Vocês trabalham com esse cenário?
03:37Quer dizer, a posição do governo Lula, do presidente Lula, criticando, de certa forma,
03:43o posicionamento do presidente Donald Trump, pode trazer mais tarifas para o Brasil?
03:47Tem algum tipo de cenário que vocês estão planejando nesse sentido?
03:52Esse ponto que você trouxe é bastante importante.
03:55A gente tem as tarifas ali sendo colocadas por conta de questões comerciais
04:00e tem tarifas que também estão sendo colocadas por conta de questões geopolíticas
04:06e por conta de questões eminentemente políticas relacionadas à política doméstica.
04:11No caso do Brasil, quando a gente teve o anúncio do Trump dos 50%,
04:16a gente já tinha um obstáculo muito relevante, que foi o caráter político da carta de divulgação
04:23que citava ali questões domésticas também.
04:26Quando o Trump falou, desde a semana passada, sobre a questão da relação com a Rússia,
04:32que ele também sancionaria países que compram produtos russos,
04:37isso também acende um alerta em relação ao Brasil.
04:39Existe ali uma corrente de comércio com a Rússia que envolve não só questões de energia,
04:45petróleo principalmente, mas também questões de fertilizantes também.
04:50E há também comércio de muitos países com a Rússia de grãos, milho, trigo,
04:56que são questões importantes da pauta de comércio russa.
05:00Então, dada a vasta gama de produtos que o Brasil tem em relação comercial com a Rússia,
05:05isso acaba também acendendo um alerta e colocando a expectativa de que as negociações,
05:13que um novo avanço de negociações pode demorar bastante para acontecer em relação a esses produtos da pauta comercial
05:21que acabaram ficando fora das isenções.
05:24Isso acaba indicando para a gente que provavelmente as incertezas em relação à economia brasileira
05:30vindas da política externa do Donald Trump vão continuar ao longo das próximas semanas, pelo menos.
05:38Então, Marcela, mesmo que está ali no papel ou na lista,
05:41a gente vê uma certa fragilidade, uma instabilidade.
05:45Então, parece que são tempos de uma incerteza permanente, sem data para terminar.
05:49E aí, nesse contexto, eu queria te ouvir sobre o seguinte,
05:53o que o governo federal e associações setoriais já falam em medidas emergenciais,
05:58em pedidos de apoio para as empresas.
06:02O que você acha que, na prática, a gente pode esperar, e você gostaria de ver,
06:07de ações governamentais e negociações também multilaterais
06:11que realmente possam fazer a diferença num momento como esse?
06:14É bom deixar claro que as incertezas, elas são muito custosas para a economia brasileira.
06:23A gente tem aqui, por exemplo, vamos pensar numa empresa
06:27que precisa se planejar para o segundo semestre.
06:30É muito difícil para essa empresa se planejar
06:33se ela não sabe a que custo ela vai conseguir vender os seus produtos para os Estados Unidos.
06:38Em alguns casos, cerca de 80% da produção é vendida para os Estados Unidos,
06:44como é o caso da manga, por exemplo.
06:46Então, só para dizer que incerteza, por mais que pareça que,
06:50enquanto não é fato, não impacta a economia,
06:53mas a incerteza também acaba sendo uma âncora puxando a economia para baixo
06:58e puxando a atividade econômica, os empresários acabam adiando projetos.
07:03Com relação ao que pode ser feito pelo governo,
07:07a principal frente tem que ser a frente de negociação internacional mesmo
07:12para conseguir dirimir esse problema de uma vez por todas.
07:16Mas a gente sabe que a frente de negociação internacional
07:20não é difícil somente para o governo brasileiro,
07:23é difícil para todos os governos.
07:25A gente vê as políticas protecionistas do Donald Trump
07:28sendo colocadas sobre todos os países.
07:32E a forma errática como isso é feito,
07:35ou seja, a gente não sabe exatamente,
07:37não existe um planejamento,
07:38a gente não sabe qual o próximo passo a esperar,
07:42isso também dificulta as negociações.
07:44Mas ainda assim, essa deveria ser a primeira frente
07:47para resolver essa questão.
07:49Em segundo lugar, o governo tem colocado ali como ideia,
07:53tem ventilado a ideia de fazer um pacote de apoio
07:56aos setores atingidos,
07:58que pode ser bastante interessante,
08:00mas que também pode ter um problema ali
08:03de adicionar um peso para a questão fiscal.
08:06Por um lado, os setores que vão ser impactados pelo tarifácio
08:10podem precisar, por exemplo, de subsídio ao crédito,
08:14algum tipo de ajuda financeira para se reerguer
08:17após uma redução drástica das suas vendas externas.
08:21Mas, por outro lado,
08:22esse pacote tem que ser muito bem desenhado
08:25para que não adicione peso sobre a questão fiscal brasileira.
08:29Vale lembrar que, desde o ano passado,
08:32a gente tem ouvido os economistas falarem bastante
08:34da questão fiscal, das contas públicas.
08:37Na semana passada, a gente viu o resultado fiscal
08:40pior do que o antecipado pelo mercado.
08:42Então, gastos adicionais podem colocar peso
08:46sobre as nossas contas públicas.
08:48E se esse programa não for muito bem desenhado,
08:51aquilo que é para ser temporário
08:53pode se tornar algo permanente
08:55e impactar as contas públicas no longo prazo.
08:57Então, é importante que o governo estude bem
09:00esse tipo de ajuda.
09:01Esse tipo de ajuda pode ajudar,
09:04especialmente o agronegócio brasileiro
09:06a passar por esse momento mais difícil.
09:09Mas, de novo, tem que ser uma coisa
09:10muito bem direcionada
09:12para fazer a ajuda necessária
09:14e para que esse programa acesse,
09:16uma vez que esse problema tenha sido superado.
09:19Perfeito. Felipe, mais uma sua.
09:21Legal. Marcela, bom, problema superado,
09:23você está sendo super otimista, né, Marcela?
09:25O que eu queria te perguntar é justamente isso, né?
09:28A gente tem seis meses do presidente Donald Trump no cargo
09:31e temos mais pelo menos três anos e meio.
09:34Isso se ele não conseguir mudar a Constituição
09:36e ser reeleito, mais uma vez,
09:38que parece que está se encaminhando para os Estados Unidos
09:41para virar uma autocracia.
09:42Como é que é possível, que cenário você vê
09:45mais a médio e longo prazo para o Brasil?
09:47Por exemplo, uma possibilidade seria fazer
09:50um desacoplamento, né?
09:51Quer dizer, separar totalmente a economia dos Estados Unidos.
09:54Como é que vai dar para viver três anos e meio,
09:55no mínimo, com esse mundo que ninguém sabe
09:57o que vai acontecer?
10:00É verdade.
10:01É muito difícil imaginar
10:02quando esse problema vai ser superado, né?
10:05A gente já teve alguns momentos
10:07em que o mercado entendeu
10:08que o pior tinha ficado para trás.
10:10Um desses momentos foi o final do mês de junho, né?
10:14Quando a gente parecia ter tido ali
10:16boa parte dos anúncios das tarifas já feitos
10:20e parecia que a partir daquele momento
10:21que a gente teria seriam negociações.
10:24E aí o começo de julho trouxe para a gente
10:26uma surpresa bastante negativa,
10:28que foi o tarifaço 2.0.
10:30Esse problema vai ser superado
10:32quando finalmente o presidente Donald Trump
10:34colocar todas as cartas na mesa,
10:36colocar todas as tarifas que ele tem ali como necessidade,
10:42que ele entende como necessárias
10:43para impulsionar a economia doméstica
10:46e a partir daí a gente começa a ter negociações.
10:50O problema é, de novo, né?
10:51A questão errática com que essas tarifas
10:53têm sido divulgadas.
10:55A gente nunca sabe qual vai ser o próximo passo.
10:58E provavelmente a gente vai ter aí três anos e meio
11:01de muita incerteza relacionada à economia americana.
11:05Talvez não mais das tarifas,
11:07enfim, é de se imaginar que em algum momento
11:09a gente chegue num equilíbrio,
11:11ainda que esse equilíbrio vai ser pior
11:13do que o ano passado,
11:15mas as incertezas em relação à economia americana,
11:18elas têm se exacerbado.
11:20Tem a questão das tarifas,
11:22tem a questão fiscal,
11:24que é muito importante, né?
11:25A dívida pública americana está em quase 100% do PIB.
11:28Tem a questão também da briga ali do presidente americano
11:32com o presidente do Banco Central.
11:34E tudo isso a gente vê precificado no dólar.
11:37A gente vê o dólar americano perder força,
11:40inclusive, né?
11:41Parece que a nossa moeda se valorizou,
11:43mas no fundo o que aconteceu
11:44foi que o dólar americano se desvalorizou.
11:47Justamente porque o mercado coloca ali no preço do dólar
11:50essas incertezas em relação aos Estados Unidos.
11:52Então, provavelmente, a gente ainda vai ter um mandato,
11:56até o final do mandato do Donald Trump,
11:58a gente ainda vai ter bastante volatilidade nos mercados
12:02por conta disso.
12:03Inclusive, aqui no Brasil, então, Marcela,
12:06você acha que é pouco provável que no curto prazo
12:09as coisas se acomodem?
12:10E aí, também tem quem fique projetando efeitos internos
12:13da queda nas exportações.
12:15Você acha que é possível que a gente tenha
12:17alguma sobra de produtos
12:19que possam reduzir os preços aqui internamente
12:22e acabar afetando positivamente a inflação, por enquanto?
12:25Ou isso prejudicaria demais os produtores, as cadeias regionais?
12:29Como você vê essa possibilidade aqui internamente?
12:34Bom, em primeiro lugar, a respeito da sua primeira pergunta,
12:38a volatilidade certamente vai afetar a nossa economia.
12:42A gente vê, por exemplo, o que aconteceu na sexta-feira passada.
12:45A gente teve dados do mercado de trabalho americano
12:48muito piores do que tinham sido antecipados pelos economistas.
12:52E a gente viu a nossa Bolsa de Valores também responder negativamente
12:57por conta disso.
12:58Se os Estados Unidos, o maior país do mundo,
13:02com maior PIB, tem ali alguma expectativa
13:04de desaceleração da economia,
13:06certamente isso acaba refletindo no restante do mundo.
13:11Ainda que esse repasse de desaceleração para o Brasil
13:14seja limitado,
13:16não tem como a gente se afastar dos Estados Unidos
13:19ou romper relações comerciais
13:21com esse que é um grande comprador dos nossos produtos.
13:25Com relação à questão da inflação,
13:28por conta da possibilidade de sobre-oferta doméstica,
13:32isso é algo que pode sim acontecer.
13:34A gente já viu alguns produtos nesse período
13:36em que a gente imaginava que todos os produtos
13:40seriam taxados a 50%.
13:42Houve alguma sobre-oferta de alguns produtos
13:45que não podiam esperar para ser embarcados
13:47e a gente viu uma pequena queda de preços.
13:51Se as tarifas continuarem sendo cobradas,
13:54os produtos que vão ter o tarifácio de 50%
13:58podem ter que ser redirecionados ao mercado interno,
14:02isso acaba gerando uma queda do preço,
14:05mas isso tem um caráter temporário.
14:07Essa queda de preço acontece,
14:09enquanto a produção que já está ali para ser escoada
14:13vai para o mercado interno.
14:16Quando o produtor for programar as próximas safras,
14:20enfim, provavelmente ele já vai programar isso
14:22com uma adequação maior à demanda
14:24e aí essa mudança de preços acaba não acontecendo mais.
14:29E tem uma questão importante,
14:30que desde que as incertezas em relação às políticas externas
14:34do Donald Trump vieram também para o Brasil,
14:38a gente viu a nossa moeda se desvalorizar um pouco.
14:41Então a gente viu os produtos importados
14:44também ficarem mais caros aqui no Brasil
14:47e isso pode compensar em parte
14:50essa queda de preços desses produtos específicos
14:53que foram para o mercado doméstico.
14:55Então as tarifas do ponto de vista de inflação,
14:58provavelmente esses dois fatores vão acabar se compensando
15:03e no final das contas a gente vai ter um efeito nulo,
15:06acaba que nem ajuda nem atrapalha a inflação doméstica.
15:09Nos Estados Unidos, aí sim as tarifas têm um impacto inflacionário
15:13para o consumidor final.
15:14Muito obrigada pela explicação, super didática, super clara, viu?
15:19Marcela Kawaldi, que é economista-chefe da Lifetime,
15:21gestora de recursos.
15:23Obrigada então pela participação, pela entrevista.
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