Durante o AI Summit, Donald Trump anunciou uma nova política comercial com tarifas entre 15% e 50% para países com os quais os EUA não têm boas relações. O economista André Mirsky analisou o impacto direto sobre o Brasil, especialmente no agronegócio, e os riscos para consumidores americanos.
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00:00E Felipe, durante o evento AI Summit que aconteceu nessa quarta-feira, então, o presidente dos Estados Unidos, como o Felipe estava trazendo aqui, né, Donald Trump anunciou a criação de uma nova política comercial baseada em tarifas simples, a gente está falando de 15 a 50% para países que a Casa Branca não estiver, abre aspas, se dando bem, fecha aspas.
00:20De acordo com o Republicano, a medida tem como objetivo substituir acordos multilaterais por regras diretas e padronizadas.
00:29A gente vai ter agora uma conversa ao vivo para entender melhor, né, o que isso significa e principalmente como é que isso vai afetar a gente aqui no Brasil.
00:36O papo é com o economista e consultor financeiro André Mirski. Tudo bem, André? Boa tarde, bem-vindo de volta ao Money Times.
00:43Boa tarde, Natália. Boa tarde, Felipe. Boa tarde a todos.
00:45Bom, obrigada pela sua disponibilidade. Posso começar te pedindo para explicar, né, para quem que não é muito da área, quais são os objetivos de um governo adotar tarifas tão altas, né, como a gente tem visto, objetivos comerciais, às vezes não necessariamente comerciais, né, geopolíticos também, ideológicos, mas enfim, 50% é o que a gente tem em vista.
01:08Qual que é a tua análise, André, por favor?
01:09Em primeiro lugar, eu acho que é uma espécie de guerra silenciosa, ou melhor, guerra sem armas.
01:16A gente tem um ecossistema no mundo todo em termos de correlação de países que importam, exportam, fazem triangulações, enfim.
01:25Quando você cria uma tarifa, você aumenta o preço e o teu preço de exportação, ele sai da origem de um valor, mas chega no destino com um valor totalmente diferente.
01:37Então, você perde competitividade.
01:41Então, o que acontece, por exemplo, hoje no Brasil com relação aos produtos exportados para os Estados Unidos?
01:47Nós temos para onde exportar sem ser para os Estados Unidos? Temos.
01:51Isso consegue se fazer de um dia para o outro? Não, demora tempo.
01:54E nesse intervalo, o que acontece pior é que a gente tem perdas de empregos, produtos perecíveis, que é o caso, por exemplo, do agronegócio brasileiro, podem se estragar.
02:06Enfim, tem prejuízos que são muito maiores do que efetivamente negociar.
02:11Então, o governo, como diz o Donald Trump, ele impõe tarifa, não negocia tarifa, ele está impondo tarifa, porque minha casa é a minha regra.
02:20Então, ele está usando o poder americano para poder, de fato, conquistar aquilo que ele quer em termos de negócios no mundo.
02:29E não são necessariamente comerciais, são outras iniciativas.
02:34Certo. Felipe, sua pergunta para o André.
02:37Legal, André. Boa tarde para você.
02:39André, a gente sabe também, a gente tem falado bastante sobre isso, que quando essas tarifas forem aplicadas de forma pragmática,
02:47os preços nos Estados Unidos provavelmente também vão aumentar, porque é claro que o Brasil não vai abaixar os seus preços 50%
02:54ou outro país não vai abaixar na mesma medida.
02:56Então, esse preço vai ser sentido pelos consumidores e pelas empresas americanas que importarem esses produtos.
03:02Você acha que quando esses produtos chegarem com preço mais caro no mercado americano,
03:08o Donald Trump pode ter algum senso e pode voltar atrás nesse sentido com as tarifas?
03:14É interessante essa pergunta, Felipe, justamente porque a guerra que ele está tendo hoje, interna com o Fed, vai justamente nesse sentido.
03:23Se você tiver o aspecto da tarifa aumentando o preço para o consumidor americano, vai gerar uma inflação.
03:29E essa inflação vai no sentido totalmente oposto àquilo que é necessário para baixar as taxas de juros.
03:35Por isso que muitos têm se falado no mercado e especulado em termos do Donald Trump se ele vai demitir o Jeremy Powell ou não,
03:43se ele vai canetar ou não vai canetar, porque justamente o que vai acontecer aumentando o preço para o consumidor,
03:50as taxas de juros americanas não vão baixar tão cedo, nem americana nem qualquer outra, portanto,
03:55porque é uma coisa que a inflação vai no sentido contrário a isso.
03:57Quem que o senhor acha que deve sentir mais os efeitos, mais rapidamente, quanto tempo leva e por quê?
04:06Principal o efeito no agronegócio do caso, por exemplo, da carne bovina que tem.
04:11Para você ter uma ideia, a carne bovina que vai ser consumida para os Estados Unidos daqui a duas semanas,
04:17que se nada ficar definido até lá vai ser tarifada em 50%, ela já está em transporte para os Estados Unidos.
04:24Então, o que vai acontecer? Se não for consumida, se não for comprada, ela estraga e é um prejuízo.
04:32Então, o setor agrícola que tem uma cadência de fornecimento, época de pós-safra, enfim,
04:40todo o planejamento desse envio das mercadorias pode ser afetado, num primeiro momento, de forma muito grande.
04:48Aí, vamos passar para uma segunda fase, que seria, de fato, a adaptação aos mercados alternativos.
04:57Isso caso a tarifa, de fato, seja implementada a partir de 1 de agosto.
05:04Certo.
05:05André, não fiquei curioso agora com esse seu comentário, me veio uma coisa à cabeça aqui.
05:09Por exemplo, você usou o exemplo da carne e de outros produtos do agronegócio, com certeza vão passar por esse mesmo problema.
05:20Essas mercadorias que já estão em movimento, estão indo para os Estados Unidos, elas têm contratos,
05:25elas foram importadas, contratos assinados e tudo mais.
05:28As empresas americanas podem simplesmente falar que não querem mais receber lá,
05:32ou elas seriam obrigadas, teoricamente, a receber e pagar essa tarifa lá no porto, na hora de receber?
05:38Como é que funciona essa mecânica, essa logística?
05:41É, o que acontece é que o preço que elas pagaram ao consumidor brasileiro, ao produtor brasileiro,
05:47normalmente são utilizados em contratos de futuro, portanto, já pagaram lá atrás.
05:52Mas isso é o preço que foi pago pela matéria-prima proveniente do Brasil.
05:57Quando chegar no mercado americano e for desalfandegada, aí, se as tarifas estiverem em vigor,
06:03vai ser aplicado de imediato, porque é no dia que for a entrega da mercadoria.
06:09Então, sim, de fato, elas podem, efetivamente, o fato de rescindirem contrato com as empresas brasileiras
06:18não vai acontecer porque elas já pagaram, inclusive, e já fizeram.
06:22O que vai acontecer é, vai mudar o panorama das próximas compras, justamente por conta da questão do dinheiro.
06:29E aí vai de encontro, o que a gente falou logo na primeira pergunta.
06:33O efeito desse tarifaço principal, ele é, num primeiro momento, para o consumidor americano.
06:40Porque, diferente do Brasil, em relação a boa parte dos outros países,
06:45os nossos produtos, eles fazem parte da mesa do americano.
06:49Café, suco de laranja, o Brasil é o principal exportador para os Estados Unidos.
06:54Os Estados Unidos consomem 75% do suco de laranja dele é brasileiro.
06:59Então, você, em todo o filme, você sabe perfeitamente a cultura americana,
07:03é o café e, principalmente, o suco de laranja.
07:06Então, eles não têm uma capacidade de substituição imediata.
07:11E aí, vai acabar pagando um preço muito mais alto.
07:14E vai, de fato, a alimentação sendo afetada diretamente por esse aumento de custo direto
07:21para o consumidor, vai impactar na inflação.
07:23Mas aí, respondendo a tua pergunta, no caso das empresas brasileiras,
07:27o Comodos trabalha com contratos futuros.
07:30Então, no Brasil, essa carga que está indo para o caminho, ela não vai ser prejudicada.
07:35Porém, a cadeia, digamos assim, de continuidade disso vai.
07:40Entendi.
07:40E pegando o embalo numa pergunta parecida com a do Felipe,
07:43eu fiquei pensando assim, então, o que já está embarcado,
07:46não necessariamente vai contar com a tarifa anterior.
07:49Se desembarcar, se chegar lá nos Estados Unidos,
07:52depois, a partir do dia 1º de agosto, já incide, então, a nova tarifa.
07:56Não tem essa de, ah, mas eu mandei antes.
07:58Não tem isso, né?
07:59Não, não.
08:00Exatamente.
08:01Até porque você tem uma situação interessante
08:03quando começou até a questão do tarifácio no dia 2 de agosto.
08:06O principal efeito imediato foi o esvaziamento de portos logísticos por conta de material vindo da China para os Estados Unidos
08:19que, de repente, não quiseram desembarcar justamente para não ter que pagar a tarifa que naquele momento estava em vigor.
08:27Aliás, aqueles altos e baixos de tarifas, 130% hoje, 100% amanhã, 200% depois da manhã, enfim,
08:36aquela truca e destruca do que foi feito entre o Xi Jinping e o Donald Trump,
08:41o principal efeito foi a mercadoria, de acordo com o que ia sendo descarregada e desalfandegada,
08:46pagavam as tarifas no momento.
08:47Então, é de fato uma situação que trava o comércio internacional,
08:53trava o trânsito das mercadorias,
08:57que nessas indefinições que aconteceram,
09:01nós estamos passando nos últimos 90 dias,
09:02não só pela questão das tarifas que mudam o panorama, digamos assim,
09:07do comércio internacional, o frete internacional,
09:11mas também a questão da guerra que houve no Oriente Médio,
09:14que também mexeu com a parte do state de Osmoos.
09:17Então, houve uma série de fatores que nós vamos ver lá na frente
09:21as empresas de transporte marítimo,
09:25os seus balanços vão estar extremamente afetados por conta disso, com certeza.
09:29Nossa, mais uma sua, Felipe.
09:31André, você lembrou uma coisa interessante,
09:34eu queria saber a sua opinião como especialista.
09:36A gente viu que tem até uma empresa americana de suco de laranja,
09:39que importa suco de laranja,
09:41que está dizendo que, na verdade, está questionando na justiça,
09:44se essa carta que o presidente americano enviou para o Brasil,
09:46na verdade, foi um post numa rede social,
09:49se ela tem o efeito de um documento legal,
09:52ou se seria necessário algum outro documento
09:55para que o Departamento do Estado,
09:57na hora que ele chega ali na alfândega americana,
10:00ela não precisa receber algum tipo de documento oficial
10:02dizendo quais são as tarifas, para quais produtos e tal,
10:05ou só aquela carta já tem efeito de uma lei?
10:07Eu acredito que não.
10:11Isso é um âmbito mais jurídico, mas eu acredito que não,
10:14porque justamente o que caracteriza a administração do Donald Trump
10:19é a informalidade com a forma como ele avisa sobre as suas decisões.
10:28Nós tínhamos até governos anteriores,
10:29você tinha uma situação que era o porta-voz da Casa Branca,
10:33vinha e dava as notícias em momento certo, horário certo,
10:38convocava os jornalistas, enfim.
10:39E hoje isso é totalmente fora do padrão.
10:43Você tem todos os grandes anúncios que repercutem,
10:46por exemplo, no mercado financeiro.
10:48Estamos falando de qualquer anúncio.
10:50Eu me recordo há uns quatro meses atrás,
10:53no meio do carnaval,
10:55quando nós tivemos uma informação via Twitter,
10:59ou via rede social do Donald Trump,
11:01que os Estados Unidos estavam aumentando as suas reservas em criptomoedas.
11:05Num sábado atado, as criptomoedas dispararam violentamente
11:08por uma questão que era um rumor,
11:10não era de fato uma verdade.
11:12Então, quando você me diz assim,
11:14o importador está pondo em causa,
11:17não é a carta que vai fazer com que as tarifas sejam postas em prática.
11:22É o decreto presencial que vai ser feito no dia,
11:24dizer assim, olha, a partir de hoje,
11:26isso é oficial e é feito.
11:28Essa carta serviu, digamos, como...
11:32Tem muita gente que diz que não recebeu carta nenhuma,
11:34que há muita informação e contra-informação,
11:39até porque os motivos justificando esse 50% do tarifácio em relação ao Brasil,
11:46eles não são claros.
11:48Oficialmente é uma questão de uma intervenção
11:53na nossa política interna, no nosso país,
11:57não faz sentido nenhum, nem ele tem poder para fazer isso.
12:00É o que eu digo, ele não está tarifando,
12:03ele está impondo uma restrição para entrar na casa dele,
12:07vai ter que pagar isso.
12:08E isso ele faz por decreto no dia que for necessário,
12:11não é obrigada.
12:11A carta é só uma formalidade para poder gerar essa confusão.
12:16E, André, imagino que isso esteja fazendo parte do seu dia a dia,
12:21conversas com clientes, etc.
12:23Nesse cenário de tanta incerteza,
12:25o que você tem apontado para os seus clientes de caminhos,
12:29pensando aqui em pequenas, médias empresas,
12:31para se proteger de alguma forma, para se posicionar?
12:35Porque a gente tem muitos empreendedores,
12:37tem gente por trás de grandes negócios,
12:39mas tem também pequenos e médios que ficam completamente perdidos.
12:43Natália, eu tenho acompanhado toda essa questão do tarifácio
12:49desde o primeiro momento,
12:51e aquilo que a gente tem visto mais coerente
12:54é que é tudo fogo de palha.
12:57Tudo a gente costuma...
12:59Nós já tivemos a questão da China,
13:01que todo mundo sabia que eles teriam que chegar
13:03a um determinado momento e iriam se entender,
13:07porque não há independência entre os países.
13:10Então, quando você me pergunta o que eu aconselho,
13:14para já uma cautela e, de fato,
13:18uma estratégia muito clara de que as coisas vão acontecer,
13:23mas podem não acontecer no tempo que a gente quer.
13:26Então, se você perguntar para qualquer economista
13:28as previsões para o ano de 2025 no início do ano,
13:32nós teríamos um ano estável,
13:34teríamos um ano tranquilo,
13:36inclusive com previsão de baixa das taxas de juros,
13:39e, por conta dessa questão da guerra comercial,
13:43justamente o mundo hoje todo está,
13:47digamos assim, desestabilizado,
13:50não tem uma tranquilidade.
13:53O Copom, quando passou a taxa Selic para 15%,
13:58avisou, caso as condições se mantiverem inalteradas,
14:04nós vamos pensar em baixar a taxa de juros
14:06mais para frente.
14:08Isso que ele quis dizer é exatamente isso.
14:11Se as condições internacionais não verem nenhum tipo
14:14de efeito específico para que mude o panorama
14:18da inflação brasileira,
14:20ele poderia baixar a taxa de juros.
14:23E aí, eu me recordo,
14:25hoje o preço do barril do petróleo está fechando
14:27em cerca de 66 dólares o barril.
14:28Quando estourou a guerra de Irã e Israel,
14:32ele pulou para 80.
14:34Se tivesse continuado a 80,
14:36ou subisse para 85, 90,
14:39nós hoje teríamos uma gasolina no posto
14:41muito maior do que era previsível lá atrás.
14:45Então, a palavra hoje é,
14:47nós estamos numa instabilidade,
14:50não por situações de catástrofe natural,
14:52como foi o caso da Covid,
14:54ou de outras situações que fogem ao nosso controle,
14:57mas por uma reorganização mundial
15:00de acordo com o homem.
15:04E, de fato, você repara que a China saiu de foco,
15:08fechou nos 30%,
15:09Japão, que é um país estratégico para os Estados Unidos,
15:13já chegou ao acordo de 15%,
15:15a União Europeia está em vias de fechar um acordo
15:19em torno de 15%,
15:20que é a taxa que não só o mercado já absorveu
15:25em termos de resultados futuros,
15:28a Bolsa já absorveu essa diferencial,
15:33como também é aquilo que se considera aceitável
15:36para o timing que a gente necessita.
15:39Então, nesse momento,
15:41uma estratégia, uma previsibilidade,
15:44uma cautela é essencial,
15:46porque está tudo mudando de uma hora para a outra.
15:48Está certo.
15:49Quero agradecer, André Mirs,
15:51que é economista e consultor financeiro,
15:52pela entrevista e pelos insights ao vivo aqui
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