Fuga de investimentos? CEO da A7 Capital detalha processo alavancado pelo temor de guerra com EUA

TIMES BRASIL - LICENCIADO EXCLUSIVO CNBC

Carlos Hotz, CEO da A7 Capital, analisou o impacto potencial do tarifaço proposto pelos EUA. A medida ameaça empresas como Suzano e Embraer, pressiona a Bolsa brasileira e gera fuga de capital estrangeiro. O governo tenta negociar para evitar perdas maiores.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

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00:00O governo federal insiste nas negociações enquanto mantém conversas com os setores da economia brasileira

00:06e fala em ajudar os que podem ser os mais impactados.

00:10Para analisar esse cenário dentro do tarifaço, eu vou conversar agora com o Carlos Hotz, CEO da Asset Capital.

00:18Carlos, boa tarde para você, obrigado pela sua participação aqui com a gente.

00:22Carlos, eu sei que é difícil falar disso, mas quanto é que a Bolsa brasileira poderia cair com a vigência dos 50% de tarifa?

00:32O quanto dessa possibilidade já está nos preços e o quanto ainda poderia vir?

00:38Boa tarde, Fábio, obrigado pelo convite, prazer estar aqui com vocês.

00:43A nossa Bolsa, o Brasil como um todo, ele é basicamente um país exportador.

00:48Então, quando você tem um tarifaço desse daí vindo de fora, lógico que afeta muito a lucratividade das empresas

00:57e afetando a lucratividade da empresa, você tem um impacto direto no valuation das ações e no preço das ações, consequentemente.

01:06O lado bom é que isso é algo concentrado numa relação comercial com os Estados Unidos.

01:11Então, você não tem impacto em praticamente todos os setores que são exportadores.

01:16A gente tem impacto ali muito significativo em empresas como Embraer, empresas como a Suzano, que são empresas listadas em Bolsa.

01:27Acho que a grande preocupação acaba sendo de empresas que não têm, setores que não têm necessariamente, Fábio, a listagem na Bolsa de Valores.

01:38Acho que é muito embrionário a gente tentar fazer uma conta de perspectiva de impacto na lucratividade das empresas.

01:45Por quê? O cenário como um todo, ele tem oscilado muito.

01:50Então, toda semana, praticamente, a gente tem uma grande novidade.

01:54Há 15 dias atrás, a gente não se discutia o impacto significativo das tarifas no Brasil.

02:00Pelo contrário, há 15 dias atrás, a sensação que se tinha era que o Brasil tinha saído até como um vitorioso

02:07sobre essa questão das tarifas, porque a gente tinha um impacto de 10%.

02:11Então, acho que tem alguns pontos que vão precisar ser avaliados, que são os seguintes.

02:18Qual que vai ser, de fato, a tarifa?

02:21Se vai ser de 50% a partir de 1º do 8º, se isso vai ser postergado ou não?

02:28Se essas tarifas vão permanecer em 50%?

02:30Qual que é a vigência disso?

02:33Se vai existir algum nível de negociação?

02:36Eu acho que tudo isso daí ainda é muito embrionário a analisar.

02:42Então, respondendo a sua segunda pergunta, eu acho que boa parte disso daí não está no preço ainda.

02:47O que o mercado hoje tem precificado no sentido do preço das ações é muito impacto geral,

02:53um atrito muito ruim que se tem entre a principal economia do mundo e o Brasil.

03:01E uma esperança de que isso não vire, de fato, uma guerra tarifária, como bem citou o presidente Lula.

03:09Se a gente entrar numa questão de guerra tarifária, todos os lados saem perdendo.

03:14A economia brasileira, como um todo, sai perdendo.

03:17Mas tem alguns setores, como o setor do suco de laranja, o setor de uva, o setor de carne,

03:24que podem ser amplamente impactados caso, de fato, isso entre em vigor.

03:30E boa parte dessas empresas não estão listadas na Bolsa de Valores.

03:35A gente vem num período de inflação mais elevada e juros muito elevados.

03:41Então, a maioria das empresas brasileiras já estão, no momento aqui, quase que respirando por aparelhos.

03:48A última coisa que a gente precisava agora era, talvez, quando o paciente estava quase vendo uma luz no fim do túnel,

03:58que é a proximidade que a gente tem de, dado que a minha inflação está mais controlada,

04:01da gente talvez entrar num processo de ciclo de redução de juros que aliviaria toda a cadeia aqui do Brasil,

04:10a gente ter esse embate de discussão com um dos principais consumidores nossos aqui do Brasil.

04:19Quer dizer, o impacto, ele, é claro, que embora a gente vá ter um impacto sobre o conjunto da economia,

04:25ele deve ser mais localizado, ele deve ser mais setorial, então.

04:29Perfeito.

04:30Assim, nós estimamos aqui que a gente possa ter um impacto, caso entre em vigor no dia 1º do 8º,

04:37e a gente espera que, de forma diplomática, o governo consiga deixar as ideologias de lado e conversar

04:44para que seja negociado isso, tendo em vista até todo o histórico que a gente viu de justificativa da questão tarifária.

04:54Se a gente for olhar o déficit comercial da balança aqui no Brasil,

04:58que isso consiga, em algum momento, ajudar na questão da negociação,

05:03mas a gente vê ainda muitas especulações.

05:06Então, seriam setores pontualmente muito afetados, né?

05:10Eu comentei da Suzano, mas isso passa pela questão da Embraer.

05:15Hoje, começou a circular no mercado um temor envolvendo ali o setor financeiro,

05:21de que, eventualmente, o Trump poderia escalar a questão de punições ao Brasil

05:27e criar algum tipo de sanção ao sistema financeiro, o que seria muito ruim,

05:32não só para as ações dos bancos, mas para o sistema financeiro como um todo,

05:37uma fuga de capital generalizada.

05:40Então, assim, a gente torce para que as coisas aconteçam em menor intensidade possível,

05:46ou até mesmo que essa imposição da tarifa seja adiada,

05:51para que aconteça algum tipo de negociação.

05:54Não acontecendo, o que tem hoje mapeado seria muito mais concentrado

05:59em alguns setores específicos, tá?

06:02O que a gente vê é que o comportamento das ações na Bolsa

06:06é um comportamento de aversão a risco.

06:08Então, assim, a gente já vê o investidor estrangeiro

06:10retirando um saldo financeiro muito elevado agora no mês de julho,

06:15então, praticamente, todo o recurso que o investidor estrangeiro

06:18vinha colocando ali em maio, junho, ele está retirando agora,

06:22com essas incertezas de, poxa, isso vai ficar no sentido setorial,

06:29isso vai ficar sendo impacto ali muito no sentido de tentar forçar alguma negociação,

06:35ou isso pode escalar para o sistema financeiro como um todo, né?

06:39Agora, eu queria te fazer a mesma pergunta inicial em relação ao dólar.

06:46Quanto no preço do dólar já está embutido esse tarifaço,

06:50ou para quanto ele poderia ir?

06:53Pergunta nada fácil para você.

06:55Se, de fato, esse patamar de 50% entrar em vigor.

06:59A expectativa de dólar é onde os economistas,

07:05a única certeza é que eles vão errar nas projeções.

07:08Então, é muito complicado fazer a projeção de dólar,

07:11mas acho que dá para a gente comentar sobre o comportamento do dólar.

07:14Quando o Trump, na semana passada,

07:16ele comentou sobre o movimento de impor as tarifas aqui no Brasil,

07:23a gente viu o dólar acelerando alto,

07:26chegando a trabalhar novamente acima do 5,60,

07:29só que hoje a gente trabalha com,

07:32praticamente num momento de desvalorização do dólar,

07:35não só contra o real, mas nas moedas como um todo.

07:39Então, a gente já viu o dólar voltando a ceder.

07:42Acredito que, a não ser que você tenha uma mudança muito grande

07:46do que está hoje mapeado,

07:47o que seria uma tarifa de 50% do Brasil

07:52sendo aplicada em 1º do 8º ou negociando.

07:55Mas o governo brasileiro não retalhando,

07:59ontem o ministro Haddad,

08:01em uma entrevista à rádio,

08:02ele deu um tom mais,

08:05diferentemente do presidente Lula,

08:06ele deu um tom um pouco mais brando com relação a isso,

08:10dizendo que o governo brasileiro não vai retribuir na mesma moeda,

08:15não vai prejudicar a população americana,

08:17as empresas americanas.

08:19Acho que tudo isso, Fábio,

08:20ajuda a conter uma possível saída de capital do Brasil.

08:25Contendo essa saída de capital do Brasil,

08:27a gente pode ver o dólar um pouco mais acomodado

08:30do que o dólar escalando,

08:32como foi nesse primeiro momento.

08:34Por quê?

08:35Por conta de uma questão aqui do Brasil,

08:37propriamente dito,

08:38uma valorização do real?

08:40Acho que não.

08:40Toda essa questão de tarifa,

08:42essa importação de inflação que os Estados Unidos estão tendo,

08:47naturalmente,

08:48tem feito com que o dólar se desvalorize

08:51frente a todas as moedas globais.

08:54Então, acho que o fato do Brasil não entrar nessa briga,

08:56até porque fica sendo uma briga injusta,

08:58o Brasil querer brigar de igual para igual

09:01com a economia dos Estados Unidos,

09:04eu não quero nem pensar nessa hipótese,

09:06porque seria algo muito doloroso para a nossa economia.

09:09Então, acho que isso faz com que o dólar hoje

09:12esteja no nível mais acomodado

09:14do que for a primeira reação do mercado

09:18quando o Trump impôs a tarifa de 50%

09:21ou sinalizou que iria impor a tarifa de 50%.

09:25Carlos Hotz, CEO da Sete Capital,

09:28muito obrigado, Carlos, pela sua análise aqui.

09:31Uma boa tarde para você.

09:32Eu que agradeço.

09:33Obrigado pelo convite.

09:35Valeu.

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