- há 4 meses
No Papo Antagonista, Claudio Dantas e Renan Ramalho entrevistaram o procurador de Justiça Roberto Livianu, que criticou as mudanças aprovadas pela Câmara na Lei de Improbidade, que pune desvio ou mau uso de recursos públicos e condutas desonestas de gestores. Segundo o presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, a lei foi "destruída" após as alterações.
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NotíciasTranscrição
00:00Duas boas-vindas ao Procurador de Justiça, Roberto Liviano, que já esteve conosco aqui antes no Papo Antagonista.
00:09Muito boa noite, doutor Liviano, bem-vindo novamente.
00:14Muito boa noite, um prazer estar com vocês aqui no Papo Antagonista.
00:19Muito bem, a gente vai fazer um bate-papo aqui com o Renan Ramalho também, nosso repórter de Judiciário.
00:27E o motivo da nossa conversa é um só.
00:31O que fizeram com a lei de improbidade administrativa, doutor?
00:36A lei foi destruída nesta semana.
00:42Simplesmente passou-se um rolo compressor em cima da lei de improbidade.
00:48Em primeiro lugar, esta lei foi objeto desta manobra a partir de um projeto que é de 2018, o projeto 10.8.8.7.
01:01O projeto inicialmente era positivo do deputado Roberto de Luceno.
01:06Ocorre que em outubro do ano passado, o deputado Zaratini, que era o relator,
01:11ele apresentou um substitutivo que desfigurava totalmente o projeto original.
01:17E esse substitutivo de Zaratini, ele não foi debatido em audiência pública nenhuma.
01:24Não houve nenhum tipo de possibilidade à sociedade apresentar o seu ponto de vista em relação a isso.
01:31Então, desde outubro do ano passado, apresentou-se esse substitutivo.
01:35E na terça-feira, foi apresentado o relatório final.
01:39E esse relatório final foi protocolizado às 17h10 e às 17h11 já começou a ser votada a urgência de votação.
01:49Que foi aprovada em oito minutos.
01:51Oito minutos depois, a urgência de deliberação estava aprovada.
01:57E no dia seguinte, quarta-feira, ela foi realmente aprovada por 408 votos.
02:03Agora, reparem, urgência de votação para quê?
02:07Para aliviar as penas de corruptos.
02:10Não é urgência de votação para aliviar o sofrimento da pandemia.
02:15Não é urgência de votação para aliviar o sofrimento da fome ou da desigualdade social.
02:21Não, é urgência de votação para resolver problemas de corruptos.
02:26Aliás, o presidente da Câmara tem duas ações por improbidade.
02:31O líder do governo, Ricardo Barros, tem ação de improbidade.
02:35Então, essas pessoas respondem por isso.
02:38E o que foi feito na quarta-feira?
02:41Foram aprovados dispositivos que bloqueiam a possibilidade da aplicação plena da lei de improbidade.
02:52Foram criadas barreiras graves em relação a isso.
02:56Se eu aproveitar o ensejo, o senhor mencionou o Arthur Lira, mencionou o Ricardo Barros.
03:02São políticos que têm interesse em 2022.
03:06Essa modificação, neste momento, ela pode ter impacto naqueles futuros candidatos,
03:13aqueles que querem participar.
03:15Quer dizer, eu estou limpando a barra daqueles que, de repente, têm alguma pendência
03:19ou ainda processos em tramitação, justamente para limpar a ficha deles, a capivara deles,
03:27para as eleições de 2022?
03:29Cláudio, o impacto imediato, essa nova lei, se aprovada pelo Senado,
03:38ela trazendo regras mais benéficas, ela se aplica de imediato.
03:44E para não complicar a vida do internauta que está nos acompanhando aqui,
03:49eu quero mencionar coisas muito simples de entender.
03:52Em primeiro lugar, foi aprovada uma regra que cria um prazo de apenas seis meses
03:59para o Ministério Público concluir uma investigação.
04:02Então, vamos imaginar que o MP tenha um caso complicadíssimo
04:07com investigações para ouvir pessoas em vários países, dezenas de países,
04:13colher documentos em vários países,
04:16quebras de sigilo bancário, telefônico, fiscal de várias pessoas.
04:22Isso é comum acontecer, Cláudio.
04:25Pode ser que nós tenhamos várias e várias pessoas investigadas
04:28e é comum que uma investigação dessas dure quatro, cinco, sete anos.
04:33Isso é absolutamente frequente.
04:35Quando você cria um limite de seis meses para durar uma investigação,
04:41o objetivo é apenas um, impedir a efetividade da lei.
04:46Em segundo lugar, quando você cria honorários de sucumbência
04:50para uma instituição pública algo absolutamente impossível de existir na prática,
04:57porque não existe, você pode ter honorários de sucumbência
05:00para os particulares não proporem ações temerárias.
05:05Então, você desestimula ações temerárias com honorários de sucumbência.
05:09Agora, instituições públicas não podem ser condenadas a pagar honorários de sucumbência.
05:14Aí o autor do substitutivo dirá,
05:17não, mas isso aqui é para o promotor não usar abusivamente do poder que ele tem,
05:22não perseguir os políticos.
05:24Mas, para isso, eles fizeram a lei de abuso de autoridade.
05:28A lei de abuso de autoridade já pune promotores que usem abusivamente do poder.
05:34Para que você condena o Ministério Público a pagar honorários de sucumbência,
05:39uma instituição pública, há apenas um propósito,
05:43impedir o Ministério Público de cumprir a sua função.
05:48Não existe outra razão.
05:50Então, prazo para investigar e honorários de sucumbência,
05:54existe uma razão, impedir a aplicação da lei de improbidade
06:00e garantir a impunidade por lei.
06:04É isso.
06:05Renan Ramalho.
06:09Procurador Roberto Liviano, boa noite, tudo bem?
06:12Boa noite, Renan.
06:13Procurador, no dia da votação, a gente acompanhou até quem votou contra,
06:17quer dizer, todo mundo falou que a lei atual de improbidade,
06:22ela favorece a perseguição do prefeito, do gestor,
06:27ela impede que o secretário tome qualquer decisão,
06:32porque lá na frente a justiça pode interpretar aquilo como um ato de improbidade,
06:38com base nos princípios da administração pública,
06:43que às vezes podem dar abertura a interpretações diferentes e futuras.
06:49Quer dizer, todo mundo diz que ingessa a administração pública.
06:54Isso é verdade?
06:55Renan, essa é uma historinha, uma história da carochinha que foi construída,
07:04uma versão, para tentar desmontar a lei de improbidade.
07:10O bom administrador público, o bom prefeito,
07:14ele não tem medo de lei de improbidade nenhuma.
07:17Pode ser branda, pode ser dura,
07:20porque o bom prefeito, o bom administrador, Renan,
07:23ele presta contas com absoluta lisura,
07:27ele é transparente, ele é correto,
07:29ele faz licitações absolutamente claras, limpas, induvidosas.
07:35Esse tipo de administrador, ele não tem medo de uma lei mais dura.
07:39Quem tem medo de lei dura é aquele que faz coisas obscuras,
07:45coisas duvidosas, coisas discutíveis,
07:48que podem ser alvo de questionamentos pelo Ministério Público.
07:53Esse, infelizmente, poderá ser processado.
07:57Então, essa história do engessamento é uma conversa que foi criada,
08:02é uma narrativa que foi criada para tentar desmoralizar a lei.
08:07Assim como a história da insegurança jurídica do artigo 11,
08:12não tem insegurança jurídica nenhuma.
08:15Essa história de listar as condutas proibidas,
08:18listar condutas é só no direito penal que se exige.
08:21No direito administrativo, não se exige coisa nenhuma de listar condutas.
08:25Essa é uma historinha que se criou
08:27para desmontar a essência da lei de improbidade.
08:32O bom prefeito, o bom administrador,
08:35não tem medo de leis duras.
08:37Simplesmente ele cumpre a lei, ele presta contas,
08:40ele faz os editais de licitação com clareza
08:43e não tem nada de engessamento, coisa nenhuma.
08:46Ele faz as coisas corretamente,
08:48ele pode trocar ideias,
08:51se aconselhar, interagir com o Ministério Público
08:54e haverá uma boa gestão em relação ao patrimônio público.
08:59Não haverá qualquer tipo de problema.
09:02Essa é uma versão, uma narrativa que se construiu
09:04para se tentar desmoralizar a lei de improbidade.
09:09Aquele que age corretamente não tem do que temer.
09:12Eu mesmo, com a edição da nova lei de abuso e autoridade,
09:16não mudei absolutamente nada no meu comportamento.
09:19Essa lei fere a Constituição em vários pontos.
09:22Para mim, não mudou nada.
09:23Eu agi, eu ajo como sempre agi,
09:27para mim não mudou absolutamente nada.
09:28Quem cumpre a lei, quem tem compromissos éticos,
09:32quem age corretamente,
09:33não tem por que se preocupar com lei mais dura,
09:36lei menos dura.
09:37A realidade é exatamente a mesma.
09:39Agora, procurador, uma última pergunta aqui
09:45sobre o teor que foi aprovado lá na Câmara.
09:48Eles estão suprimindo condutas culposas,
09:52ou seja, por imperícia, por imprudência, por negligência.
09:56Tudo isso vai ser, vai passar impune.
10:00Olha, no momento de pandemia,
10:02o tanto de barbeiragem que é feita na administração,
10:06a gente vê isso até na presidência da República.
10:09Isso vai ficar por isso mesmo?
10:10Quer dizer, o Ministério da Saúde agora pode fazer o que quiser
10:14na administração do recurso público de saúde?
10:18Isso passa batido agora?
10:20Como é que vai ser isso?
10:22Pois é, Renan, você tocou num ponto fundamental.
10:26Em 1992, quando foi feita a lei de improbidade,
10:31como é que você protegia o patrimônio público?
10:33Basicamente, usando o Código Penal.
10:36E por isso é que foi feita a lei de improbidade,
10:39justamente para você poder combater
10:41os atos atentatórios ao patrimônio público,
10:46tanto geradores de lesão, de dano,
10:49assim como os atos com enriquecimento ilícito,
10:51assim como as violações a princípios
10:53da administração pública,
10:55tenham eles ocorrido com dolo ou culpa.
10:58É da essência da lei de improbidade
11:00punir as improbidades dolosas e culposas.
11:04Foi isso que se quis fazer em 1992,
11:07na época o Brasil viveu o impeachment de Fernando Collor.
11:11Foi por isso que fizemos essa lei avançada,
11:14elogiada no mundo todo,
11:16uma das leis mais modernas
11:17para proteger o patrimônio público.
11:19O que aconteceu na quarta-feira
11:21foi uma virada de mesa
11:23para ter impunidade,
11:27para termos impunidade desses atos.
11:30O que se fez foi deixar de punir
11:34todas as improbidades culposas.
11:37E não só isso.
11:38Legalizou-se o nepotismo,
11:41legalizaram-se todas as improbidades
11:43com violação de princípios.
11:45As carteradas,
11:47o não fornecimento de informações
11:49a jornalistas baseadas na rede de acesso à informação,
11:53os desvios de vacinas
11:54e tantas e tantas e tantas outras situações.
11:59Ou seja,
12:00é um legalizou
12:02para uma série de atos ilícitos.
12:05É isso que aconteceu.
12:07É a lei da impunidade.
12:08Doutor Roberto Liviano,
12:09muito obrigado pela presença aqui no Papo Antagonista.
12:12O programa permanece aberto
12:13para futuras colaborações.
12:15Uma boa noite.
12:15Sempre um prazer falar com vocês
12:18e convido quem está nos acompanhando aqui
12:20a nos seguir lá no Instagram,
12:22no Roberto Liviano Oficial,
12:24e o Não Aceito Corrupção.
12:25Prazer falar com vocês.
12:27Até a próxima.
12:28Um abraço.
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