No Papo Antagonista desta terça-feira, Claudio Dantas e Diego Amorim entrevistaram o embaixador Paulo Roberto de Almeida, que falou sobre a imagem de Lula no exterior após os escândalos de corrupção envolvendo o PT e a desastrosa gestão de Dilma Rousseff. -- Cadastre-se para receber nossa newsletter: https://bit.ly/2Gl9AdL
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00:00Eu te pergunto uma coisa, nós temos conversado muito com os agentes de mercado e a maioria não gostaria de ter um Lula de volta.
00:11O senhor citou o Lula, obviamente, dentro do quadrado que nós estamos discutindo, que é dessa política externa, que trabalha muito com o discurso, com gestos e com essa criação de um ambiente favorável.
00:29A gente conversa muito com esses agentes de mercado que resistem muito a esse retorno do Lula, que optam, ou preferem, melhor dizendo, uma alternativa, uma terceira via, ainda que isso não esteja, que não haja ainda um candidato, não haja um nome definido.
00:48Com a sua sensibilidade, o senhor que conversa com gente que está do lado de fora, que está no exterior, que pensa, que olha o Brasil, porque a gente tem sempre, sou pesar, não é um problema apenas de imagem do Bolsonaro, etc.
01:05Quando se fala, vamos falar de economia na época do Lula, mas a economia na época do Lula, é claro, ela também se valeu de um movimento internacional de alta, de explosão, de boom das commodities.
01:18E eu costumo sempre frisar aqui, para que os nossos espectadores não se deixem levar pela narrativa política, que nós perdemos a chance, inclusive, de aproveitar essa alavancagem internacional, que o Brasil acaba sendo arrastado junto, por ser um fornecedor de commodities.
01:37Perdemos uma grande oportunidade de melhorar a nossa infraestrutura, de pegar essa riqueza e fazer o país se desenvolver, saneamento, estradas, ferrovias.
01:52A gente acabou fazendo obra em outros países, fora o que foi desviado, o que foi roubado pela cleptocracia petista.
02:01O que o senhor tem ouvido lá fora em relação a essa possível sucessão presidencial no Brasil?
02:08Pois não, eu assisti a uma sucessão presidencial tão complicada quanto a atual, digamos assim, justamente a do Lula.
02:14Eu estava nos Estados Unidos, trabalhando com o embaixador Hobbes Barbosa na embaixada em Washington.
02:20Nós íamos a Nova Iorque algumas vezes e falávamos com os investidores, as reuniões do fundo monetário eram em Washington ou em outros países,
02:27e os banqueiros brasileiros estavam todos presentes.
02:29Bom, em 2002, quem assustava mais os banqueiros, os investidores, era o próprio Serra, que era considerado um intervencionista.
02:37Eu ouvi, antes das eleições até, banqueiros elogiando o Lula.
02:41As pessoas esqueceram o Serra e falaram só do Lula.
02:44Ou seja, o Lula já tinha feito a carta ao povo brasileiro e estava sendo o queridinho dos meios econômicos.
02:49E ele foi eleito triunfalmente e teve um bom governo, digamos, porque ele não chutou o pau da barraca, como se diz,
02:56ou seja, respeitou o tripé econômico implantado pelo Arminio Fraga, pelo Pedro Malan, flutuação cambial, responsabilidade fiscal, superávit primário.
03:05E ele teve um certo sucesso em termos de crescimento, que foi muito atraído, muito impulsionado pela demanda mundial,
03:11sobretudo pela China, que consumia um quarto, um terço de todas as commodities do mundo e do Brasil exportava.
03:18Deve só já 600 dólares a tonelada. O minério de ferro chegou a 200 dólares a tonelada, não é?
03:24Isso eu vi em Xangai, em 2010, na sede da Vale do Rio Doce, rios de dinheiro, oceanos de dinheiro vindo ao Brasil pela alta das commodities.
03:34Mas, na verdade, o crescimento do primeiro mandado do Lula, até 2008, antes da crise, não foi excepcional.
03:40O crescimento teve abaixo da América Latina, que se situa mais ou menos na média mundial,
03:45e três vezes menor do que o crescimento dos emergentes dinâmicos da Ásia.
03:48Ou seja, o Brasil já perdeu oportunidades durante o governo Lula por falta de reformas de segunda ou terceira geração.
03:56A reforma primeira foi a estabilização, a reforma segunda, em 1999, foi a flutuação cambial e metas de inflação.
04:05E a terceira etapa deviam ser reformas estruturais, administrativa, laboral, educacional, sobretudo tributária, não é?
04:11E o ambiente macroeconômico, de política industrial, política comercial, política agrícola,
04:16compatíveis com um país objeto de crescimento. Não se teve isso.
04:22Hoje você assiste a mesma coisa. Uma fase agônica, uma fase agônica de indefinição de políticas.
04:30Os investidores estão muito atentos, gostariam de ter algo.
04:33O Lula não convence, porque o Lula não trouxe o crescimento que se esperava.
04:38O Brasil poderia ter crescido mais que a América Latina, não tanto quanto os emergentes da Ásia,
04:43mas pelo menos um pouco acima da média mundial, o que ele não fez.
04:47Não fez em nenhum momento, não é?
04:49E depois, com a crise e com os outros problemas, o Brasil veio abaixo.
04:52Então, o Lula não convence, sobretudo por uma visão míope desse sul global,
04:57de relação com os oprimidos do sul, com outros hegemônicos do norte.
05:01O BRICS foi uma grande decepção, diga-se de passagem.
05:05Então, o Lula não convence, sobretudo pela mega corrupção que passou a ser revelada a partir da Lava Jato em 2014.
05:13A mega corrupção e a incompetência da dona Dilma selaram o destino do Lula e ele elegeu o Bolsonaro.
05:20Agora, ironicamente e contraditoriamente, o Bolsonaro parece que vai eleger o Lula,
05:26porque a imagem que o eleitorado, não os grandes investidores, o eleitorado tendo Lula,
05:31é de uma fase de crescimento, compra carro, crediário, aumento do consumo, inclusão social,
05:36matrícula universitária com bolsas, etc.
05:39É uma boa imagem, que não é a melhor imagem possível, mas é a imagem que o eleitorado gostou,
05:44e o eleitorado, a classe média, sobretudo, votou contra o PT em 2018,
05:50porque ele provocou corrupção, incompetência, desemprego, recessão.
05:55Agora, talvez, se volte contra o Bolsonaro por corrupção, por recessão, por incompetência,
06:01ou seja, os mesmos fatores que elegeram o Bolsonaro em 2018.
06:04Que difícil esse ciclo vicioso que a gente não consegue escapar.
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