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O professor José Luiz Oreiro, professor de economia da UnB, analisou os impactos da crise energética na Alemanha e as consequências das tarifas de Trump para a indústria automobilística europeia. Ele chamou as medidas do presidente dos EUA de "maluquice" e alertou para os riscos à economia global.

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Transcrição
00:00A atividade empresarial da zona do euro praticamente não cresceu em maio.
00:06O setor de serviços contraiu pela primeira vez desde novembro.
00:11O índice que reúne serviços e indústria caiu para 50,2 em maio,
00:17vindo de 50,4 em abril, indicando contração da atividade industrial.
00:24Sobre isso eu converso com José Luiz Oreiro,
00:27que é professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília,
00:31a quem eu começo a conversa agradecendo aqui a presença no Conexão.
00:35Professor Oreiro, a gente tem uma medida, um dado aí, que é os tais 50 pontos.
00:42Dali para cima tem uma taxa de confiabilidade.
00:45Dali para baixo liga ali um amarelo piscante de atenção.
00:49Olhando para a zona do euro, a gente vem de 50,4, agora 50,2,
00:54ou seja, estamos muito perto nessa margem limite de segurança.
01:00A gente deve ter corte de taxa de juros e tudo mais,
01:03mas por enquanto queria começar a nossa conversa falando especificamente
01:07da capacidade industrial da zona do euro,
01:10que a gente tem gigantes industriais,
01:12a exemplo da Alemanha, da Europa, da Itália em certa medida.
01:17O que isso reflete?
01:18Parece numericamente uma contração pequena,
01:21mas esse amarelo piscante de atenção já está aceso na opinião do senhor, professor?
01:27Bom, boa noite a todas e todas.
01:30Obrigado pelo convite.
01:31Quando a gente fala da zona do euro e da União Europeia,
01:35que são duas coisas diferentes,
01:37a gente tem que ter em mente que é uma área muito heterogênea.
01:40E, basicamente, os números que foram divulgados hoje
01:45mostram a fraqueza da economia alemã,
01:49mais do que das outras economias do euro.
01:52Por exemplo, saiu um relatório recente no Fundo Monetário Internacional
01:57mostrando a pujança da economia da Espanha,
02:00que cresceu no primeiro trimestre de 2025, 0,6%.
02:06Uma taxa muito maior do que a média da zona do euro
02:12e muito maior do que a da economia da Alemanha.
02:15Então, o problema da área do euro e da União Europeia
02:19chama-se Alemanha.
02:22É a Alemanha que está com problemas de competitividade na sua indústria.
02:26E qual é a razão dos problemas de competitividade na indústria alemanha?
02:30A razão está em que a Alemanha fez, há muitos anos atrás,
02:36uma opção energética e, a posteriori, se mostrou equivocada,
02:41que foi fechar as suas centrais nucleares
02:44e depender da importação de gás da Rússia,
02:49que, no final dos anos 90, início dos anos 2000,
02:53era extremamente barato
02:55e fazia com que a indústria alemã
02:58tivesse uma vantagem de custos
03:00sobre o resto das indústrias dos demais países europeus.
03:06Então, a Alemanha, em 2007, por exemplo,
03:10um pouquinho antes da crise de 2008,
03:13ela chegou a ter um superávit em conta corrente
03:16do balance pagamentos de 8% do PIB,
03:20enquanto que os países do sul da Europa,
03:23como a Grécia, tinha um déficit em conta corrente
03:27de 15% do PIB
03:28e a Espanha tinha um déficit de 10% do PIB.
03:32Bom, tudo isso muda com a guerra da Ucrânia.
03:37Quando a Rússia invade a Ucrânia,
03:39esse fornecimento de gás russo
03:43a um preço baixo para a indústria alemã termina
03:48e os alemães estão agora com um problemaço
03:51do ponto de vista energético,
03:53porque eles fecharam as suas usinas nucleares,
03:57eles têm que importar gás liquefeito dos Estados Unidos,
04:00que é muito mais caro do que o gás russo
04:04e, portanto, isso afeta negativamente
04:07a competitividade da indústria alemã,
04:10lembrando que o modelo de crescimento econômico da Alemanha
04:16foi, até 2016 e 2017,
04:20um modelo de crescimento baseado
04:22nas exportações de produtos manufaturados.
04:25Agora, professor Oreiro,
04:27me lembrei aqui de Nelson Rodrigues,
04:30que ele tinha dois personagens fictícios,
04:32mas que ajudavam a explicar
04:34quando algo sai do nosso planejamento.
04:37era o imponderável de Souza
04:40e o sobrenatural de Almeida,
04:42que, em geral, ele usava na crônica esportiva
04:44para explicar quando é que o Bangu goleava o Flamengo.
04:48Agora, a gente trazendo aí o sobrenatural de Almeida
04:51e o imponderável de Souza,
04:52além da questão na Rússia,
04:55a guerra, que acabou com essa oferta
04:58de combustível barata,
05:00como o senhor muito bem lembrou,
05:01nós temos agora o tal espaço de Donald Trump.
05:04Só pegando muito rapidamente,
05:06a gente lembra aí de quatro, cinco marcas automotivas
05:09que são as joias da coroa da indústria alemã.
05:13Volkswagen, Mercedes-Benz, Audi, Porsche, BMW
05:17e que o consumidor americano mais engenharado
05:20adora essas marcas.
05:23E esses carros exportados para os Estados Unidos
05:24ficaram num estalar de dedos da noite para o dia
05:2725% mais caros.
05:29Ou seja, houve um impacto.
05:31Então, a gente tem, de um lado, a Rússia,
05:33que parou de fornecer o combustível
05:35e está vindo de outro lugar para a Alemanha.
05:37Agora, o tarifácio, o que deve ser
05:40dessa locomotiva econômica da Europa,
05:45da Zona do Euro, da União Europeia,
05:46vamos colocar assim, daqui para frente?
05:49Porque a OCDE ontem apresentou um relatório
05:52e a taxa de crescimento da Alemanha
05:54ainda é muito modesta para esse e para o próximo ano.
05:57Bom, é importante frisar que o Donald Trump,
06:02fazendo as suas alegorias,
06:04é como se fosse um elefante tendo ataque epilético
06:07numa loja de cristais.
06:09Quer dizer, as políticas que o Donald Trump está adotando,
06:12elas vão ter um reflexo negativo profundo
06:15sobre a economia mundial,
06:17vão reduzir a taxa de crescimento do comércio mundial
06:20e vão ter impacto negativo na própria economia dos Estados Unidos.
06:24Quer dizer, esse exemplo que você colocou
06:26da indústria mobilística é bem claro.
06:29Quer dizer, o Trump reclama de que os Estados Unidos
06:35não conseguem vender carros para os europeus,
06:38enquanto que os americanos importam muito os automóveis
06:41da Europa, principalmente da Alemanha.
06:44A razão é muito simples.
06:45Os automóveis europeus são muito superiores
06:48aos automóveis americanos,
06:49do ponto de vista de economia de combustível,
06:52do ponto de vista tecnológico,
06:55do ponto de vista de design, etc.
06:58A indústria automóvelística americana,
07:01nos últimos 15 anos,
07:03ela perdeu muito espaço.
07:05Em 2008, só para você ter uma ideia,
07:08em 2008, os Estados Unidos ainda eram
07:11o maior produtor mundial de automóveis.
07:13Hoje, o maior produtor mundial de automóveis
07:15é a China.
07:18Os Estados Unidos, hoje,
07:20produzem menos automóveis do que a União Europeia.
07:24Os automóveis europeus são
07:26mais competitivos em termos de preço,
07:29mais competitivos em termos de economia de combustível,
07:33mais competitivos em termos de tecnologia embarcada
07:37do que os automóveis norte-americanos.
07:40Então, simplesmente colocar uma tarifa de importação
07:45na expectativa de que isso vai substituir
07:48importações que os americanos fazem
07:51por produtos feitos nos Estados Unidos,
07:54isso simplesmente não vai acontecer,
07:57porque a indústria automobilística americana,
07:59hoje em dia, é incapaz de competir
08:02com a indústria automobilística europeia
08:05e com a indústria automobilística asiática.
08:07Eles só produzem aqueles carros gigantescos,
08:10aqueles que eu chamo de Panzer,
08:12aquelas que na Espanha chamamos rancheiros,
08:15mas que não são os carros
08:18que a imensa maioria dos consumidores
08:20norte-americanos desejam.
08:22Agora, professor Oreiro,
08:24variações do mesmo tema, sem sair do tom,
08:27eu vou até mudar de câmera aqui,
08:28vou pedir para a gente mostrar o telão
08:30que me acompanha, que é o seguinte,
08:33aqui eu fui atrás do tamanho
08:35da exportação de aço para os Estados Unidos,
08:39que aço é usado em vários setores da indústria,
08:41linha branca, produção de eletrodomésticos,
08:44exemplo de geladeira, máquina de lavar roupa,
08:48mas também muito para a indústria automobilística.
08:51E a partir de hoje, essa enorme quantidade de aço
08:54importado pelos Estados Unidos ficou simplesmente
08:5750% mais caro.
08:59Já tinha ficado 25%,
09:00o Trump dobrou a aposta,
09:03falando, olha, em questão de 48 horas,
09:05eu vou dobrar a taxação do aço para os Estados Unidos.
09:09vários setores usam, de defesa até eletrodomésticos,
09:13e tudo ficou muito mais caro, difícil planejar.
09:16Eu acho importante a gente balizar aqui,
09:19o Brasil está em segundo lugar nessa lista,
09:22o primeiro maior exportador de aço para os Estados Unidos
09:25por causa da fronteira seca é o Canadá,
09:28o Brasil está em segundo lugar com 4 milhões de toneladas
09:32de exportação por ano.
09:34Infelizmente, professor Oreiro,
09:35a gente tem um restinho de tempo,
09:37menos de um minutinho,
09:39mas eu queria que o senhor fizesse uma projeção
09:41desse custo, aumentado ainda mais
09:43para uma cambaleante indústria automobilística
09:46e outros setores da indústria dos Estados Unidos
09:49que vão passar a comprar uma matéria-prima
09:52fundamental, 50% mais cara.
09:56Então, isso é um tiro no pé.
09:58Quer dizer, o aço é um insumo básico
10:01para a indústria automobilística.
10:03Então, olha a loucura do Donald Trump.
10:06Se ele quer tornar a indústria automobilística
10:09norte-americana mais competitiva,
10:11ele fez exatamente o contrário do que vira a ser feito.
10:15Quer dizer, ele está tornando o insumo básico
10:18para a indústria automobilística americana
10:1950% mais caro.
10:21Isso não faz nenhum sentido,
10:23ele não tem nenhuma estratégia,
10:24não é uma estratégia de substituição de importações
10:28ou produção local.
10:30É simplesmente maluquice do Trump,
10:32que é um absoluto ignorante em termos econômicos.
10:36Professor Oreiro, obrigado pelos esclarecimentos,
10:38mas agradeço ainda pela sinceridade.
10:42O senhor que não poupou adjetivos ao Donald Trump,
10:45tenho certeza que nós vamos nos falar aí,
10:47porque ele vai nos dar muitos subsídios
10:51para a gente tentar explicar o que ele está pensando.
10:54Professor José Luiz Oreiro,
10:55que é professor do Departamento de Economia
10:56da Universidade de Brasília.
10:58Mais uma vez, muito obrigado, até a próxima.
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