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No programa "Só Vale a Verdade", o historiador Marco Antonio Villa recebe o renomado cientista Paulo Eduardo Artaxo Netto (Professor da USP e Coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável).


O especialista em clima faz um balanço da recém-encerrada COP30 (Conferência do Clima), afirmando que o evento "teve pontos altos e baixos" e que, no geral, "atingiu os objetivos" propostos. Artaxo também revela um ponto de vista polêmico sobre a geopolítica ambiental, mencionando que alguns países ficaram "aliviados pela ausência dos EUA" nas negociações.

Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/s7KT_s3lwJU

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Transcrição
00:00A COP30 atingiu os objetivos que o senhor esperava que ela poderia atingir antes da realização?
00:06Olha, atingiu. A verdade é essa. Como esperado, teve pontos altos e pontos baixos, né?
00:12Sim, sim.
00:13Um dos importantes pontos altos foi a enorme participação da sociedade civil brasileira, né?
00:21Que estava muito presente, muito mais do que nas demais COPs que se realizavam em Dubai, etc.
00:28E, desse ponto de vista, mostrou um vigor da sociedade brasileira enorme, né?
00:34Os documentos finais da COP tiveram também pontos altos, como, por exemplo, uma estratégia de adaptação climática,
00:43uma estratégia para financiamento climático, mas também teve pontos baixos, como, por exemplo,
00:50não apontar uma rota de caminho para o fim dos combustíveis fósseis.
00:55Então, era mais ou menos, para ser sincero, o que a gente esperava que acontecesse desde o começo da COP.
01:01Foi uma decepção de não comparecer alguns presidentes e chefes de Estado de alguns países muito importantes,
01:09por exemplo, Estados Unidos, China, que são grandes polidores, não terem comparecido?
01:14Olha, no caso dos Estados Unidos, não há dúvida que nós ficamos até meio aliviados de os Estados Unidos não estarem presentes,
01:22por uma razão muito simples. Se eles estivessem presentes, o que eles fariam seria basicamente bloquear qualquer possível resolução
01:32envolvendo a questão de combustíveis fósseis, adaptação e etc. e tal, que é a bandeira do atual governo dos Estados Unidos.
01:41Então, o presidente da COP, inclusive, deixou isso muito claro, que ele se sentia até aliviado.
01:47Agora, evidentemente, a China poderia estar mais presente como o maior poluidor do nosso planeta,
01:56que tem que ter compromissos de redução de emissões muito maiores do que eles têm hoje.
02:03Então, teve também nesse ponto altos e baixos.
02:07No caso da sociedade americana, é possível dizer que tem a presença de uma sociedade civil.
02:14No caso da China, é questão um pouco mais complicada pelo regime político chinês e pela tradição bimilenar chinesa.
02:21Se a gente for lembrar, tem Estado centralizado na China até do período anterior a Cristo.
02:25Nesse caso, a China diz, eu leio, acompanho a China,
02:29porque eu gosto, claro, que todo mundo chama atenção que está ocorrendo na China,
02:32porque ela está fazendo um enorme esforço de transição para energias mais lisas.
02:36Mas isso aí não é insuficiente?
02:38Olha, a China instalou mais novas fontes de energia solar e eólica do que o restante do mundo inteiro.
02:49Quer dizer, eles estão fazendo um esforço enorme na transição energética, como a gente chama.
02:54Por outro lado, a demanda de energia hoje da China é tão grande que eles ainda são um país que abrem novas fontes
03:04que queimam carvão, que é a pior forma de energia do ponto de vista de geração gás de efeito estufa.
03:11Então, eles têm uma contradição muito grande.
03:14Eles investem pesadamente na eletrificação do transporte, na ampliação de energia solar e eólica.
03:22que desenvolvem tecnologias muito inovadoras, mas, por outro lado, a demanda de energia é tão grande
03:29que ainda apostam também nas energias fósseis.
03:33Se a gente olhar os resultados até o momento, a trágica guerra russa e ucrânia,
03:38uma delas, entre tantas outras, foi a disparada do custo da energia para a Europa Ocidental,
03:46especialmente para a Alemanha, que retomou, inclusive, a utilização de reaturas nucleares,
03:50que na gestão anterior da primeira-ministra Merkel tinha abandonado.
03:56Então, eu queria colocar duas questões para o senhor.
03:58Como é que fica essa questão hoje de países, no caso da Europa,
04:02que estão retomando a utilização da energia e o Brasil,
04:08que em 1974 assinou um acordo com a Alemanha Ocidental,
04:11a partir dali houve a construção de Angra 1, Angra 2 e Angra 3,
04:16está interrompida a construção, só Deus sabe o que vai acontecer.
04:19O senhor acha, então, na parte A, que a Europa foi uma solução de emergência
04:24e, no nosso caso, o professor, é uma alternativa à energia nuclear?
04:27Veja, foi uma solução de emergência, né?
04:30Porque, evidentemente, o corte da disponibilidade de gás da Rússia
04:34trouxe uma instabilidade energética enorme para a Europa.
04:39Então, foi uma situação de emergência.
04:42No caso do Brasil e também no caso dos demais países,
04:45o grande entrave da energia nuclear,
04:47ela tem vantagens, por exemplo, de não ter a questão da intermitência
04:51da energia solar e energia eólica, mas é uma questão de preço, né?
04:56É muito mais caro, cerca de 3 a 4 vezes a geração do quilowatt-hora
05:02utilizando fontes nucleares, do que, por exemplo, fontes de energia eólica
05:07ou energia solar.
05:09Então, a questão do preço é importante e também a questão do licenciamento ambiental
05:14é um problema. Não se constrói uma usina nuclear em menos do que 12 a 15 anos, né?
05:20E aí você imagina, daqui a 15 anos, será que o preço de energia solar e eólica
05:25não vai estar ainda muito mais barato de tal maneira que construir um reator nuclear
05:30possa ser um péssimo negócio do ponto de vista econômico?
05:34Então, são questões que são problemas importantes da implementação de energia nuclear.
05:40E os preços de energia solar e eólica ainda continuam caindo,
05:45particularmente no Brasil.
05:47O Brasil tem o maior potencial de geração de energia solar e eólica
05:52entre todos os países do mundo,
05:55o que pode fazer com que a gente seja uma potência na geração de energia barata
06:00e sustentável sem emissão de gases de efeito estufa.
06:05E no caso do Brasil, Vila, nós temos ainda uma outra vantagem estratégica.
06:1050% da nossa energia vem de hidroeletricidade.
06:15Então, a intermitência de energia solar e eólica pode ser compensada
06:20durante o dia.
06:22Você usa energia solar e eólica,
06:24durante a noite você usa hidroeletricidade.
06:28É uma vantagem estratégica que nenhum outro país do planeta possui.
06:32E principalmente que a gente tem uma rede de distribuição elétrica
06:36integrada em quase todo o território nacional.
06:40Então, são vantagens estratégicas que a gente deveria explorar com mais efetividade.
06:47Deixa eu aproveitar, já que o senhor está só para ao menos encerrar essa parte de energia nuclear.
06:52Muitos falam, tem a questão do lixo, o que vai fazer com o lixo atômico,
06:57que seria um dos problemas, né?
06:59E em certo momento do regime militar, houve a defesa de construir,
07:03na Jureia, aqui no estado de São Paulo, você que não nos conhece,
07:07no litoral sul, depois de Peruíbe, aí tem a Jureia.
07:10E nós tínhamos um governador aqui muito preocupado com o meio ambiente,
07:13Paulo Salim Maluf, com respeito à coisa pública,
07:16com o cuidado das obras, uma pessoa fantástica.
07:19Um estadista, diriam alguns, do mal.
07:23E quase que havia propósito instalar uma usina atômica na Jureia.
07:29Houve todo o movimento popular, né?
07:30E no governo seguinte, o governo Franco-Motor abandonou-se essa ideia.
07:35E alguns falam o seguinte, olha,
07:37mas será que nós não poderíamos, a partir dali, construir,
07:42que agora voltou ao assunto, uma arma nuclear, quer dizer,
07:45ou seja, apesar do Brasil ter assinado os tratados de não proliferação
07:49e o tratado de Tlateloco e tal,
07:52alguns colocam, há um debate meio torto no Brasil,
07:56mas que apareceu agora outra vez, de construir uma bomba atômica.
07:59Ou seja, só poderíamos falar grosso no mundo se tivermos uma bomba atômica?
08:02Então, Vila, você tocou nos dois outros problemas
08:05da questão da geração de energia nuclear.
08:07Primeiro, a questão dos rejeitos.
08:09O que fazer com o plutônio, por exemplo,
08:12que tem uma meia-vida de 30 mil anos?
08:15Você tem que guardar aquele material pelos próximos 30 mil anos,
08:20porque é um material radioativo muito perigoso.
08:22E segunda, é a questão da proliferação de armas nucleares, né?
08:27Quer dizer, se você aumentar em muito o número de reatores nucleares,
08:31você, com isso, aumenta muita dificuldade de você controlar
08:35o que é produzido nesses reatores nucleares.
08:40Então, são problemas que são adicionais à questão econômica, né?
08:46De que a energia nuclear não consegue ser hoje competitiva
08:50com as fontes tradicionais de geração de eletricidade.
08:53E além do perigo como o de Chernobyl, por exemplo, né?
08:56Sim, além da questão de acidentes nucleares.
08:58Mas, isso eu até colocaria no segundo plano
09:02em relação aos outros três aspectos que são mais importantes.
09:06Sobre Chernobyl, só lembrar quem nos acompanha,
09:09leiam, tenham no Brasil, a Companhia das Letras publicou
09:11quase tudo que ela escreveu, o Prêmio Nobel de Literatura de 2015.
09:16Um dos seus livros, da Svetlana Alexevitch,
09:19ela nasceu na Ucrânia, escreve em Rússia
09:24e morava até recém-vém na Belarus, né?
09:26Era antiga União Soviética, né?
09:27E o relato dela sobre Chernobyl já começa com o primeiro relato
09:32da esposa de um bombeiro que foi levado pra lá
09:34sem que ninguém informasse o que que era
09:36o que estava acontecendo, o incêndio em Chernobyl,
09:40a tragédia, um livro duríssimo.
09:42Mas leiam pra saber as consequências do caso ocorre com o acidente.
09:45Mas, professor, só pra pegarmos então essa questão tão...
09:49É possível então dizer, no Brasil todos dizem...
09:52Será que é uma verdade mesmo que nós temos a matriz mais limpa do mundo?
09:55Não é que todo mundo diz, isso é irrefutável.
09:59Irrefutável.
09:59Nós temos cerca de 88% da nossa eletricidade é gerada por fontes renováveis.
10:07É o maior índice entre todos os países do G20, de longe.
10:12Agora, nós precisamos aproveitar melhor essas nossas boas oportunidades, né?
10:18Então o Brasil tem a chance de se tornar uma potência energética limpa e barata,
10:24produzindo hidrogênio verde pra exportação, por exemplo.
10:27O que o hidrogênio verde? Explica, por favor.
10:29Hidrogênio verde, basicamente...
10:32Hidrogênio é um dos potenciais combustíveis líquidos do futuro, né?
10:37Ele pode ser utilizado em automóveis, por exemplo.
10:40Em vez de você carregar o seu carro na tomada,
10:43você pode utilizar uma célula de combustível movida a hidrogênio, né?
10:49Então o hidrogênio é uma das possibilidades de combustível líquido do futuro.
10:55O que acontece é que o Brasil tem a possibilidade de gerar esse hidrogênio
10:59a partir da eletrólise da água, como a gente chama,
11:03separando o hidrogênio do oxigênio da água,
11:07utilizando energia solar e energia eólica.
11:10Então você gera um combustível que pode ser facilmente transportado
11:15utilizando energias baratas...
11:19É rentável.
11:20Sem emissões.
11:21O problema é que ainda não é rentável,
11:24mas a tecnologia está aí pra trabalhar processos cada vez mais eficientes
11:32pra você reduzir o custo da geração de hidrogênio.
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