No Visão Crítica, Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, aborda a urgência da agenda climática na COP30.
O ambientalista foca no cerne da crise, afirmando que "o grande problema do aquecimento global é o excesso de carbono". Ele enfatiza que o aquecimento é "danoso ao ecossistema global" e que o carbono é um problema que gera uma série de outros, como eventos climáticos extremos.
Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/EJY9M4xijUA
Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal: https://www.youtube.com/c/jovempannews
00:00O que é isso e por que isso é importante? Por favor, explique a quem nos acompanha.
00:04Bom, o grande problema do aquecimento global é que você tem excesso de carbono na atmosfera.
00:11A atmosfera global, ela atingiu um patamar de excesso de carbono que chega a ponto de provocar um aquecimento
00:20e esse aquecimento, ele é danoso para os ecossistemas globais.
00:25Isso é assim danoso do ponto de vista de desequilibrar mesmo as correntes marítimas do Atlântico,
00:32toda a área equatorial com a possibilidade de uma queda, a gente chama de fenecimento da floresta amazônica
00:40e outras florestas tropicais como do Congo e também como da Indonésia.
00:46O problema do permafrost que é o gás metano que está no Polo Norte e lá você pode com o calor,
00:54com o aquecimento, esse metano se soltar e agravar ainda mais a situação.
01:00Ou seja, o carbono na atmosfera em excesso, ele é um problema que gera uma série de outros problemas, né?
01:07Então nós precisamos eliminá-lo.
01:10E quando você fala de sequência...
01:11E ele é produto do quê?
01:12Explica, desculpe, esse carbono é produto do quê?
01:15Para quem nos acompanha, é de onde vem esse carbono?
01:18Vamos lá.
01:18É da queima de combustível fóssil, né?
01:21E 70% do problema global, hoje do aquecimento global, decorre da área de energia e da queima de combustível fóssil,
01:33que é carvão, que é a queima do petróleo, a gasolina, enfim, os combustíveis fósseis, né?
01:39Inclusive o gás, que se diz que é tão bonzinho, né?
01:42Mas o gás natural também é fóssil e ele gera uma série de substâncias na atmosfera que não são desejáveis.
01:50Então nós temos que nos livrar disso.
01:52Qual foi a fórmula mágica que a humanidade encontrou?
01:55Vamos fazer um valor do carbono por tonelada e aí as pessoas podem comprar a tonelada de carbono fazendo com que você mantenha uma floresta, por exemplo,
02:08e tenha o equivalente em carbono e assim você pode continuar a emitir, ir se adaptando, continuando a emitir gás de efeito estufa, mas compensando em carbono.
02:21Só que essa conta, Vila, ela tem que ser feita de uma forma adequada, ela tem que ser verdadeira.
02:29Se eu usar uma métrica equivocada do cômputo de quanto vale a tonelada de carbono em termos de impacto ambiental futuro,
02:38eu vou fazer uma conta errada e eu posso provocar um mal maior, porque à medida que se pensa que vai estar se resolvendo o problema,
02:47na verdade você não está fazendo a retirada de carbono necessária para que você possa ter um futuro seguro.
02:57E aí eu queria dar um exemplo disso.
02:59A tonelada de carbono, ela é negociada, por exemplo, na área marítima para transporte de carga, por volta de 100 euros a tonelada.
03:09Isso para compensar.
03:10Mas, um estudo recente da Universidade de Stanford, eles fazem uma projeção que aponta que o impacto futuro da tonelada de carbono,
03:22para você compensar aquele impacto, você vai ter que gastar 1.200 dólares por tonelada.
03:30Então, a humanidade se movimenta tentando resolver o problema, precificando o impacto a 100 dólares a tonelada.
03:41E, por outro lado, o valor real desse impacto é 10 vezes maior.
03:47Então, eu diria que nós estamos em um impasse enorme hoje, porque a gente está deixando de adotar uma métrica adequada
03:56com relação ao impacto que se pretende evitar no futuro, né?
04:01Então, o mercado de carbono consiste nessa tentativa de, através de um mecanismo de compra de queda de carbono
04:09e manutenção de florestas e contenção de emissões, você chegar a um bom resultado futuro,
04:17a um ponto que você possa, de novo, equilibrar a atmosfera planetária
04:22com um nível de carbono que não seja excesso de carbono, que provoca todo esse desequilíbrio que hoje nós temos, né?
04:31Então, eu acho que esse é o ponto fundamental que não está devidamente colocado, inclusive, nas conferências climáticas.
04:42Ou seja, se você usa uma métrica que não é adequada do ponto de vista científico,
04:48talvez a gente esteja fazendo um cálculo subestimado.
04:52E isso é muito perigoso.
04:56Eu até brinquei, eu pergunto outra vez ao Carlos Bocuí, eu perguntei ao Fábio Feld no outro dia aqui,
05:03se ele já foi chamado ao longo, e ele falou diversas vezes ao longo da minha vida.
05:07Eu pergunto se o senhor foi chamado de ecochato, ou seja,
05:10é aquele que fala contra o desenvolvimento econômico,
05:14como se tivesse uma contraposição entre defesa do meio ambiente e desenvolvimento econômico.
05:19Como conciliar isso?
05:21Como é isso para o senhor?
05:22Eles falavam muitas dessas questões.
05:24Eu sou ecologista, mas não sou chato.
05:26Eu já cheguei até ver isso muito antigamente, camiseta.
05:28É muito interessante usar a palavra biodesagradável, né?
05:35E, de fato, isso acontece, porque a gente contraria, né?
05:38Eu acho que a contraposição, até eu elogiei o nome do seu programa, que é a visão crítica.
05:45Através da visão crítica, que a gente forma a consciência,
05:48que a gente se desenvolve com relação àquelas questões que não são claras para a sociedade.
05:55E você precisa lançar foco, lançar luz no problema para chegar a um bom resultado, né?
06:01Então, o setor econômico, na verdade, ele vive numa zona de conforto.
06:06Ele não quer se transformar.
06:10E isso a gente chama de business as usual.
06:12Os negócios, como sempre foram, né?
06:15É confortável, né?
06:16Você manter apenas a preocupação de lucratividade e não a real preocupação de impacto.
06:23Por exemplo, Vila, eu digo a você, o produto interno bruto,
06:28à medida que a gente usa para medir a riqueza de um país,
06:33será que, de fato, ela mede riqueza, né?
06:35Então, essa métrica está equivocada.
06:37Agora, quando você diz que isso é uma métrica equivocada,
06:42é claro que você balança todo o setor que está estabelecido
06:47e que sobrevive e tem lucratividade com isso, né?
06:51Então, é muito confortável baixar os cientistas ou os ambientalistas,
06:57que eu acho que os ambientalistas hoje, eles estão muito próximos da ciência,
07:01de eco-chatos, né?
07:03Mas eu diria que nós somos eco-críticos.
07:06Eu acho que esse é o ponto mais adequado de definição de quem nós somos.
07:11Rafael Guimarães, para você, o Brasil, as metas que o Brasil, ao longo do tempo,
07:18assumiu em copes e encontros sobre a questão do meio ambiente,
07:22o Brasil cumpriu, quer dizer, o Brasil pode questionar os outros países
07:26numa certa altura, quer dizer, pode falar grosso, assim, numa linguagem muito vulgar,
07:31porque ele tem cumprido as metas, ou o Brasil fala grosso e, na prática,
07:36é muito parecido com outros com quem ele está criticando.
07:39Ele fala com o coração ambiental, efetivamente, ele está cumprindo suas metas?
07:45Professor, eu vou tentar não ser nacionalista nesse ponto.
07:47Sim.
07:48Mas, historicamente, o Brasil, ele é o país que tem mais florestas preservadas,
07:57ele é o país que, mesmo assim, o maior produtor de alimentos no mundo,
08:02e eu acho que tem um estudo dizendo, eu acho que tem uma quinta aqui de São Paulo,
08:07dizendo que o agronegócio brasileiro, em comparação com outros do mundo,
08:12os principais players do mundo, ele é também um dos mais sustentáveis e, para alguns,
08:16o mais sustentável.
08:17Então, é o país que tem a capacidade de, historicamente, foi o país que mais,
08:25eu acho, que contribuiu com o meio ambiente no mundo.
08:28Nós temos uma energia que, perante outros países, a gente está falando aqui da Índia,
08:32a Índia se comprometeu a reduzir, mas ela aumentou muito a sua capacidade de carvão.
08:38A queima de combustíveis fósseis só aumenta na Índia.
08:44A China tem uma indústria termoelétrica que depende, uma matriz energética termoelétrica muito grande.
08:50Então, os grandes players do mundo, eles estão, assim, muito longe do Brasil,
08:54do ponto de vista de poluir muito mais do que o Brasil.
08:57O que nós temos aqui é de poluição, perante uma métrica, digamos, seria a de vindas de queimadas,
09:05essas queimadas, elas, clandestinas ou não, manejo de florestas e também de queimas de combustíveis fósseis.
09:13Perante o resto do mundo, até que a gente queima pouco combustível fósseis perante o que o mundo anda fazendo.
09:20Então, assim, historicamente, o Brasil não, ele tem que se enfalar grosso, né?
09:24Porque é o país que mais preservou florestas, é o país que tem reserva legal na sua legislação,
09:30que paríssimos casos existem, principalmente os maiores players, nenhum tem essa questão.
09:35Mas, a partir de Paris, houve um comprometimento de que, salvo engano, em 2040,
09:41a temperatura da terra teria que aumentar a um grau e meio do que se viu em Paris.
09:48E essa, infelizmente, essa meta não quista está para acontecer agora, já nesta década.
09:56Então, por isso que Paris foi, diferente das outras COPES,
10:01uma COPES que fez praticamente todo mundo se comprometer.
10:04Naquele momento, o Brasil se comprometeu também,
10:07ainda que, digamos que não tão explicitamente, a reduzir suas emissões.
10:14E essa redução que ele se comprometeu a reduzir em Paris não foi possível.
Seja a primeira pessoa a comentar