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  • há 2 dias
Nos últimos anos, o pistache foi de semente exótica para o ingrediente preferido de sorveterias e padarias descoladas. É a mania da vez, assim como cupcakes, paletas mexicanas e temakis já foram um dia. Entenda como esses fenômenos surgem – e por que é quase impossível resistir a eles.

Para ler a reportagem completa que serviu de base para o vídeo, acesse: https://super.abril.com.br/sociedade/a-febre-do-pistache-e-a-psicologia-por-tras-das-modas-gastronomicas

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Diversão
Transcrição
00:00Essa é uma cena de Sex and the City, de um episódio que estreou em 2000.
00:04A Miranda e a Carrie estão comendo cupcakes e conversando sobre o novo cara que a Carrie está afim.
00:09O papo dura um minuto, mas foi o suficiente para levar milhares de pessoas em busca dos cupcakes da Magnolia, a padaria da cena.
00:16Ainda hoje, ela é um ponto turístico para os fãs da série que visitam Nova York.
00:20A primeira vez que um cupcake apareceu num livro de receitas foi em 1796, mas eles nunca receberam muita atenção.
00:27Brownies, cookies e até muffins eram doces muito mais populares.
00:31Nos anos 90, algumas padarias de Nova York aproveitaram as sobras de massa de bolo e as colocaram para assar em forminhas de muffin.
00:39Eram cupcakes iguais aos que as pessoas faziam em casa, mas com um toquezinho profissional.
00:43Foi um fenômeno que coincidiu com os primeiros blogs gastronômicos e com os canais de TV 100% focados em comida.
00:51Era o início da febre dos cupcakes.
00:53Nos últimos anos, teve um monte de manias gastronômicas como essa.
00:57Bacon, temaki, paleta mexicana, frozen iogurte, abacate, food truck.
01:03A mais recente delas é o pistache.
01:05Já faz um bom tempo que ele está por toda parte.
01:08Tem bolo, panetone, macarrão e até perfume de pistache.
01:12Em 2024, o Brasil importou mil toneladas do ingrediente, o triplo em relação ao 2022.
01:17É uma tendência global.
01:20Desde 2019, o interesse por pistache dobrou na internet.
01:23Mas por que será que todo mundo resolveu comer pistache?
01:27Vamos entender melhor essa história e descobrir por que o nosso cérebro não resiste a uma modinha.
01:40O pistache vem da Ásia Central.
01:42Ele é uma drupa, fruto com uma única semente, que é a parte que a gente come.
01:46É da mesma família da manga e do caju.
01:49As suas árvores podem viver mais de 300 anos.
01:51No século I, os romanos levaram o pistache para a Europa.
01:55Lá, a planta gostou do clima mediterrâneo, especialmente no sul da Itália,
02:00já que ela precisa de verões secos para crescer.
02:02No século XIX, o pistache chegou até os Estados Unidos.
02:06Mas ele passou décadas apenas como uma decoração de jardim.
02:10Nos anos 70, muitos agricultores americanos passaram a plantar pistache,
02:14sobretudo na Califórnia.
02:16Na época, a semente recebeu mais incentivo do governo em relação a outros cultivos.
02:21Essa mudança coincidiu com uma queda nas exportações do Irã,
02:24que era o maior produtor de pistache.
02:26E foi assim que os americanos ganharam espaço.
02:29Em 2008, uma safra ruim no Irã fez os Estados Unidos assumirem a liderança nesse setor.
02:34E assim seguem até hoje.
02:36Os americanos colhem mais de 409 mil toneladas de pistache por ano.
02:40É um mercado avaliado em mais de 1 bilhão e meio de dólares.
02:44Em 2009, surgiu a Associação Americana de Produtores de Pistache.
02:48Ela divulga pesquisas científicas, faz parceria com chefes de cozinha e promove o ingrediente pelo mundo.
02:54Todo esse lobby tem dado certo.
02:56O consumo per capita de pistache nos Estados Unidos triplicou desde o começo do século XXI.
03:02Por lá, muita gente começou a tomar pistache graças ao Starbucks,
03:06que foi uma das primeiras redes de fast food a lançar uma bebida com esse sabor.
03:10Hoje, 90% da produção mundial de pistache vem dos Estados Unidos, da Turquia e do Irã.
03:15No Brasil, o preço da semente importada pode bater 200 reais o quilo.
03:20Existem alguns planos para cultivar pistache no Ceará, mas esse é um futuro distante.
03:25Por ora, o produto vai continuar bem caro por aqui.
03:28Se o pistache é um rombo no seu vale alimentação, por que a gente continua comendo ele?
03:33E por que será que a gente embarca em outras modinhas tão caras quanto essa?
03:37Bom, o primeiro motivo é o nosso paladar.
03:39Milhões de anos de evolução transformaram a gente em amantes de gordura e açúcar,
03:44grandes fontes de energia que eram difíceis de conseguir na selva.
03:48Caçar um animal ou ir atrás de uma árvore cheia de frutas podia ser bem perigoso.
03:53Por isso, sempre que os nossos antepassados conseguiam essas coisas,
03:57era importante comer o máximo possível.
03:59Essa preferência ficou enraizada no nosso DNA.
04:02Bebês já nascem gostando de chocolate.
04:04Por outro lado, coisas azedas e amargas podiam ser sinal de comidas venenosas ou estragadas.
04:10É por isso que muita gente torce o nariz para um giló ou para um queijo mofado.
04:15Mas tudo bem, dá para adquirir esses gostos se você insistiu um pouco.
04:18Nosso paladar também depende do ambiente em que a gente está.
04:22Comer é um evento social, e saber o que tem no prato das outras pessoas pode nos dar dicas de sobrevivência.
04:28É que nem quando você experimenta cerveja e descobre que aquilo é amargo pra caramba,
04:32mas continua bebendo para se encaixar na rodinha da festa.
04:36É por causa desse efeito manada que muitas manias gastronômicas podem surgir.
04:40Mas não é só isso.
04:42Alimentos da moda costumam ser caros e pouco acessíveis.
04:45É a mesma lógica por trás dos itens de luxo.
04:48São produtos que oferecem status, respeito e a sensação de pertencer a um grupo exclusivo.
04:53O pistache reúne tudo isso.
04:55É gorduroso, combina com um monte de sobremesas, é meio exótico e caro.
05:00Algumas modas têm uma origem mais simples que a do pistache.
05:04O dadinho de tapioca, por exemplo, foi inventado 20 anos atrás pelo chefe Rodrigo Oliveira.
05:09Ele resolveu fritar uma massa de tapioca que tinha ficado dura demais.
05:13E hoje você encontra esse petisco em qualquer boteco.
05:16Mas a verdade é que muitas dessas manias recebem um empurrãozinho da indústria alimentícia.
05:21No final do século XX, as dietas low-fat tinham acabado com a reputação do bacon nos Estados Unidos.
05:27Foi aí que os produtores suínos se uniram com redes de fast food e lançaram um bacon pré-cozido.
05:33Esse bacon não precisava ser frito nas lanchonetes, o que facilitou pra caramba o trabalho dos funcionários.
05:39Foi um sucesso e que inundou os restaurantes com as tirinhas de porco.
05:43No Brasil, a Nestlé fez um marketing pesado em cima do leite condensado.
05:47A campanha ganhou força nos anos 60 e era voltada para as donas de casa.
05:52A Nestlé também organizava livros de receitas e trocava cartas com milhares de clientes.
05:58Deu muito certo.
05:59O Brasil hoje é o maior consumidor de leite condensado.
06:02Histórias como a do bacon e a do leite condensado eram muito comuns no passado,
06:07quando havia menos opções no mercado e a indústria ditava o que a gente comia.
06:11Essa lógica ainda é verdade na maioria das vezes.
06:14Mas as coisas, pouco a pouco, estão mudando.
06:16Hoje, o setor alimentício gasta milhões em pesquisas pra descobrir o que as pessoas estão consumindo.
06:22A competição é muito mais alta, então ganha quem ouvir melhor o cliente.
06:27E isso pode ser muito bom.
06:28Afinal, são as empresas que devem atender às exigências do consumidor.
06:32Não o contrário.
06:33Esse é o único jeito de garantir que modas e tendências surjam em cozinhas, e não por meio de lobby.
06:39Só não vale ressuscitar o tomate seco.
06:46O Brasil hoje é o único jeito de garantir que modas e tendências surjam em cozinhas.
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