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LOBO EM PELE DE CORDEIRO - O M3DICO P3DÓFILO - T01EP01 - ID
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TVTranscrição
00:00Este episódio contém detalhes de abuso sexual infantil que podem ser perturbadores para alguns telespectadores.
00:06Um problema comum nas ginastas é o que chamamos de síndrome cruzada pélvica.
00:12Os atletas precisam confiar em mim. Eu não vou fazer nada que não seja legal.
00:17Larry Nassar tinha uma reputação que nenhum outro médico que eu conhecia tinha. Todos confiavam nele.
00:22Eu me lembro de pensar... Eu atingi a excelência. Eu ficava encantada com aquilo.
00:31Ninguém sabia de fato quanto poder o Larry tinha.
00:35Nassar usou o dinheiro, as medalhas e o poder para cegar todo mundo.
00:39Nos procedimentos que faz com as garotas, alguma vez já ficou excitado?
00:43Eu encaminhava pacientes para esse cara. Eu recomendei ele a outros médicos.
00:47Nossa, ele não está usando luvas. Mas deve estar certo. Ele é o médico olímpico.
00:54É... Eu acho que ele se sentia invencível.
00:57Na minha opinião, isso virou um vício para ele. Ele usava isso como arma.
01:01Quando o poder seduz...
01:10Quando o poder corrompe...
01:15Ele transforma as pessoas em quem mais confiamos...
01:20Em monstros.
01:25Lobo em pele de cordeiro. Abuso de poder.
01:31A Olimpíada de 2024 foi a primeira competição que eu vi e pude sentar e assistir em uns 8, 12 anos.
01:46Simone Biles impulsionou a equipe feminina dos Estados Unidos na final em Paris com Biles em seu melhor momento.
01:52O esporte evoluiu muito desde que eu era competidora.
01:58Eu podia assistir e sentir orgulho do meu próprio passado.
02:03Oi, gente. Bem-vindos ao nosso blog.
02:06As meninas estavam felizes. Não estavam com medo. Estavam melhores psicologicamente. Elas se saíram muito bem.
02:12É um esporte lindo que foi profanado por pessoas ruins por décadas.
02:22Quando eu era criança, eu sentia que nunca me encaixava em lugar nenhum.
02:32Quando descobri a ginástica, foi quando comecei a fazer amigos de verdade.
02:38Eu comecei por volta dos 6 anos de idade, fazendo aula de acrobacia em um estúdio de dança da cidade.
02:45E foi aí que eu me viciei na sensação de voar, em ter força e poder fazer coisas que nenhuma das minhas amigas conseguia.
02:56Eu adoro dançar. Minha mãe me colocou nas aulas de dança quando eu tinha, eu acho, uns 2 anos e meio, 3.
03:05E eu nunca mais parei.
03:06Muitas dores lombares estão associadas ao músculo do bumbum inibido ou fraco.
03:15Então, isso é uma das primeiras coisas que eu avalio.
03:18O desequilíbrio no tronco para tentar resolver esse problema.
03:22Eu conheci o Larry quando eu tinha 8 anos.
03:26E foi em uma competição.
03:28Eu me senti privilegiada por ser atendida por ele, por causa da reputação dele, por ser tão conhecido.
03:36Ele era um médico muito conhecido e eu me senti muito especial por ser atendida por ele, porque ele era o médico olímpico dos Estados Unidos.
03:47Meu Deus, ele era a nata dos médicos.
03:51E eu, eu iria ser atendida por ele.
03:54Toda a minha identidade se baseava no meu sucesso ou fracasso como genasta.
04:01Se eu não pudesse competir, eu não poderia viver minha vida.
04:04E ele estava me ajudando a alcançar meus objetivos.
04:12Eu conheci o Larry Nessar na Universidade de Michigan.
04:15Eu era estudante de medicina em 1991.
04:18E o Larry era bem conhecido na faculdade, porque ele já fazia treinamento atlético com ginastas antes de se tornar médico.
04:25E eu fiquei tão impressionado que não percebi que ele estava apenas um ou dois anos na minha frente.
04:30Achei que ele fosse um docente, mas depois percebi que ele era estudante de medicina.
04:35Ele está progredindo rápido.
04:37Ficamos todos impressionados com o tamanho do avanço que ele conseguiu na área.
04:41Ele era muito esperto, muito inteligente, muito ambicioso para ir longe na medicina esportiva.
04:46Muito ambicioso para trabalhar com ginástica.
04:48Ele era muito apaixonado por isso.
04:50Larry tinha uma reputação muito forte na ginástica em geral.
04:53Larry Nessar assumiu um papel muito importante como coordenador médico nacional do time de ginástica dos Estados Unidos nas Olimpíadas de 1996.
05:05Naquela época, ele tinha pouco mais de 30 anos e ainda era estudante.
05:13Os Estados Unidos ainda não tinham vencido um campeonato feminino de ginástica por equipes.
05:18E era isso que as pessoas esperavam em 1996, naquele último dia da competição de ginástica por equipes.
05:27A última ginasta dos Estados Unidos foi Cary Sturg no salto e teve muita pressão.
05:34Dava para perceber.
05:36Dava para sentir.
05:36Em seu primeiro salto, Cary Sturg caiu e machucou o tornozelo.
05:50Ver alguém assim com tanta dor na TV era muito surpreendente.
05:57O Larry se aproximou, colocou o braço em volta dela e daí ele se tornou um herói.
06:03Ele a protegeu de um jeito bem paternal.
06:08Enquanto ela o abraçava e chorava, ele foi aquele herói, salvador da pátria, que chegou e a protegeu.
06:19Larry foi encarregado de enfaixá-la e tentar ajudá-la naquele momento.
06:24E com o incentivo dos treinadores, ele queria que ela voltasse para o seu segundo salto.
06:28As pessoas, com razão, achavam que Cary Sturg tinha que fazer aquele segundo salto para os Estados Unidos ganharem uma medalha de ouro.
06:43E ela fez o salto.
06:46Conseguiu aterrissar em um pé só.
06:48O que foi uma coisa incrível.
06:50E marcou pontos suficientes para ajudar o time a conquistar o ouro.
06:59Cary Sturg conquistou o primeiro ouro da equipe feminina de ginástica dos Estados Unidos ao realizar um salto com uma perna só.
07:06É um daqueles momentos que ficam na sua memória para sempre.
07:10A reputação do Larry após as Olimpíadas de 1996 era uma reputação que nenhum outro médico que eu conhecia tinha,
07:19porque poucos médicos conseguiam aparecer na TV nacional assim.
07:23Qualquer pessoa envolvida naquele tipo de vitória dramática e importante sairia das Olimpíadas com uma reputação ainda maior.
07:32Larry se tornou a maior autoridade em ginástica no país.
07:37Era ele que você deveria consultar se alguma coisa estivesse errada.
07:42Então, ele conhecia pelo primeiro nome todos os ginásticos de alto nível que passaram pelo programa por 20 anos.
07:56Quando eu tinha 8 anos, eu caí de mau jeito em um salto e as minhas costas estavam doendo um pouco.
08:04E o Larry era o treinador da equipe naquele momento.
08:07E ele me avaliou.
08:10Lesões faziam parte do esporte.
08:13E se eu tinha a oportunidade de fazer alguma coisa para curar aquilo,
08:18eu fazia o que era necessário para poder ficar curada.
08:22Eu lembro que eu sempre ficava torcendo para que ele estivesse nas competições.
08:27E quando eu sabia que ele estaria lá, eu me sentia mais confortável e confiante.
08:33Porque a gente podia dizer a ele quais habilidades a gente usava ou quais truques a gente fazia.
08:39E ele sabia quais movimentos corpóveis eram necessários, onde doía e qual era a lesão.
08:43E com o tempo, eu passei a me consultar com ele semanalmente para fazer o tratamento.
08:53As minhas costas sempre foram um problema.
08:56O Larry era muito tranquilo, muito informal.
09:00E eu achava que ele era muito diferente de todos os outros médicos.
09:04Ele não me intimidava, ele tinha um estilo bem gente boa, sabe?
09:10Desde o início.
09:13Ele era peculiar e cheio de energia.
09:17Um cara engraçado, ele se expressava de forma excêntrica.
09:20Onde você vê um músculo travado, bastante tenso,
09:24isso significa um problema com P maiúsculo aqui, certo?
09:27Ele era um nerd simpático e carismático.
09:34Nerd do tipo,
09:35ah, é assim que o corpo funciona e tudo mais.
09:38Mas também era um cara fácil de conversar.
09:42Ele sempre foi muito gentil com todo mundo, sempre foi muito legal.
09:46Ele nunca teve uma personalidade turbulenta ou agressiva.
09:50Temos que proteger nossos atletas.
09:52Temos que garantir que eles saibam que nos importamos.
09:55Não é só um tapinha nas costas.
09:57Abracem e amem eles.
09:59Escutem e apoiem eles.
10:03Ele me deu vários apelidos.
10:06Ele sempre me chamava de bobinha.
10:08Trazia presentes.
10:11Sempre que ia para as Olimpíadas,
10:12ele vinha com cartões postais e pedia para todas as ginastas assinarem.
10:17Todo mundo que conhecia ele pensava bem dele.
10:20Ele era uma pessoa que eu idolatrava e admirava.
10:29Com o tempo, Larry Nasser virou professor na Universidade Estadual de Michigan
10:34e médico da equipe universitária de ginástica feminina.
10:40Ele não é só um especialista em contusões e tornozelos torcidos.
10:43Ele também realizou pesquisas inovadoras sobre os efeitos da ginástica em crianças com autismo.
10:49Fisicamente, com equilíbrio, autopercepção e força,
10:53essas habilidades ajudam na questão de socialização,
10:57como trabalhar com treinadores, contato visual, audição e resposta.
11:03Larry Nasser não tinha o menor constrangimento de divulgar as coisas boas que ele fazia.
11:10Sem dúvida, eu acho que o Larry tinha objetivos maiores para a ginástica no que diz respeito à assistência médica.
11:18Ele não se tornou a pessoa referência que administrava a saúde e o bem-estar da equipe de ginástica do país,
11:24sendo passivo.
11:25Ele teve que jogar o jogo político, ele tinha que fazer lobby com as pessoas certas,
11:29ele teve que trabalhar muito para chegar naquela posição.
11:31A década de 90 foi o início da ascensão de Larry Nasser, e isso continuou por décadas.
11:40Nasser tinha pacientes da região e do país, e ao viajar para todas aquelas competições,
11:48aumentava a reputação dele exponencialmente.
11:50Na minha opinião, ninguém tinha o conhecimento que aquele homem tinha.
11:57Ele tinha várias fontes de poder reunidas em uma só.
12:01Ele era uma celebridade no mundo da ginástica, ele era um especialista como médico,
12:06tinha um título importante, e ele também tinha amizade com várias ginastas.
12:13Essas jovens ginastas viam Nasser como alguém próximo das pessoas mais poderosas do espaço.
12:20Pessoas que influenciariam suas carreiras e talvez pudessem realizar suas ambições.
12:28Ninguém sabia quanto poder Larry tinha.
12:32Todos confiavam nele.
12:34Ele era o doutor Larry.
12:36O que aconteceu com Larry Nasser me fez questionar todas as interações que tive com ele desde 91,
12:43e abalou minha confiança nas pessoas em geral.
12:50Um problema comum nas ginastas é o que chamamos de síndrome cruzada pélvica, tá?
12:56O que acontece é que os músculos das costas ficam tensos, os flexores do quadril ficam tensos.
13:04Larry fez vários vídeos mostrando suas técnicas para ginastas, treinadores e médicos.
13:12Tem vários desses vídeos no site dele.
13:14Ele divulgava isso para treinadores e outros programas em todo o país.
13:18Ele sempre foi muito dedicado em ajudar outros médicos.
13:23Ele era uma pessoa muito generosa nesse aspecto.
13:25Então, o que fazemos para tentar ajudar essa atleta?
13:29Muitas técnicas que o Larry demonstravam eram coisas que já tínhamos feito antes,
13:33como ajustar o pescoço, a região lombar, o ombro.
13:36Havia alguns vídeos que mostravam um pouco mais a ginasta.
13:42Ele trabalhava bastante perto do assoalho pélvico.
13:45Aquilo me deixava um pouco desconfortável.
13:48Mas nunca pensei que o Larry estivesse fazendo alguma coisa perversa.
13:54Os atletas precisam confiar em mim.
13:56Eu não vou fazer nada que não seja legal.
13:58Por volta dos meus 10, 11 anos, eu sofria de dores nas costas há vários, vários anos.
14:13Então, uma melhor amiga da minha mãe recomendou consultar Larry Nasser.
14:19Foi por volta do final de 96, início de 97,
14:24que eu encontrei com ele pela primeira vez no seu consultório na Universidade Estadual de Michigan.
14:36Sem dúvida, foi durante a primeira consulta com ele
14:40que ele falou que era o cara que saiu correndo para levantar a Carrie Strug.
14:45E eu fiquei...
14:47Eu me lembro de ficar super encantada.
14:50Eu faria o que ele quisesse.
14:52Vamos em frente.
14:54Na primeira consulta, tiveram vários raios-x
14:56e ele ficou bastante tempo em pé atrás de mim,
15:00verificando como a minha pélvis se movia.
15:02Coisas normais para um fisioterapeuta.
15:08E...
15:08Depois ele disse que ia pressionar alguns pontos específicos
15:12na região do meu quadril e da pélvis.
15:17Até hoje, eu me lembro muito bem de pensar...
15:20Nossa, ele não vai usar luvas?
15:25Eu acho que se ele tivesse dito alguma coisa como...
15:30Ei, eu vou mexer dentro da sua vagina, eu teria me posicionado.
15:32Mas na hora eu pensei...
15:36Ele sabe o que está fazendo.
15:37Ele tratou de todas essas pessoas.
15:40Então, isso deve ser normal, né?
15:44Ele era um médico olímpico.
15:45Nossa!
15:47Eles devem escolher entre os melhores dos melhores, né?
15:51Eu me lembro do início do tratamento.
15:56Lembro de deixar o meu corpo e me observar do teto, olhando para baixo.
16:01E da sessão terminando.
16:04Depois eu não consegui olhar nos olhos dele.
16:05Lembro de ir para casa e ficar deitada, olhando pela janela,
16:19com lágrimas escorrendo pelo meu rosto e pensando...
16:22Isso é tão humilhante.
16:23Mas isso é problema meu, é coisa minha.
16:28Eu sou a puritana, eu sou o problema.
16:31Eu não tinha palavras para dizer o que me incomodava.
16:39Eu não entendi o que me incomodava naquela idade.
16:45Eu nunca tinha contado para ninguém, até que a minha amiga me perguntou...
16:50Ele já colocou os dedos dentro de você e eu falei o tempo todo?
16:54E ela respondeu...
16:56Isso não está certo.
16:57Então, contei para minha melhor amiga, que não era ginasta,
17:02e ela disse que era abuso.
17:06Eu não acreditava que ele fosse um abusador.
17:09Na verdade, eu o defendi como um bom médico
17:12e como alguém que estava me ajudando a alcançar os meus objetivos.
17:19Eu cresci achando que médicos eram confiáveis
17:23e, na verdade, tinham me ensinado que médicos podiam tocar em lugares
17:27que outras pessoas não podiam.
17:33Eu conheci ele desde pequena.
17:37Ele era um amigo da família
17:39e uma figura paterna para mim.
17:42Eu tinha vários motivos para confiar nele.
17:45Na terceira série, eu comecei a ser atendida toda semana
17:48para consultas para o pescoço e para as costas.
17:51Eu devia ter uns oito, nove anos na época.
17:57Tinha vezes que ele pulava as minhas costas
18:00e ia direto para a minha região pélvica.
18:03Eu sentia muito nojo e era doloroso também.
18:12Eu confiava nele, então eu sempre achava alguma desculpa, mas...
18:18Eu sei lá, eu acho que no fundo eu sabia que aquilo não era certo.
18:24Nessar abusava de algumas pacientes
18:26quando os pais estavam presentes e não percebiam o abuso.
18:29Na primeira vez que ele me tocou de forma inapropriada,
18:35eu estava olhando para minha mãe
18:36para poder ver a reação dela.
18:39E como ela estava calma e estava conversando com ele
18:44enquanto isso acontecia, eu achei que estava tudo bem.
18:48Ele fazia todos os procedimentos.
18:50Ali mesmo, com eles, ele se colocava entre os meus pais e eu.
18:58Eles estavam lá o tempo todo.
19:04Havia momentos em que os tratamentos internos não tinham fim.
19:11E eu ficava em carne viva com uma dor horrível.
19:16Na cabeça das ginastas, se não houvesse nenhuma dor,
19:22elas não estavam se esforçando o suficiente.
19:25Era uma situação em que se não tivesse dor, não tinha vitória.
19:28A gente não reclamava para os treinadores
19:30porque se reclamasse, a gente era punida.
19:33Então você aprende desde muito cedo
19:36que você não deve reclamar de nada.
19:39Eu acho que essa mentalidade de vencer a todo custo
19:45deixou os atletas de elite, em geral, vulneráveis a abusos.
19:50É que, tá bom, mesmo que eu não gostasse daquilo,
19:54eu tinha que fazer.
19:56Eu não podia reclamar,
19:58eu tinha que aguentar e lidar com aquilo.
20:01Acho que eu era um alvo fácil para ele
20:07porque eu sempre tive essa mentalidade.
20:10Ele usava isso como uma arma.
20:16Na minha opinião, aquilo virou um vício para ele.
20:19Quanto mais tempo se passava, mais descarado ele ficava.
20:23Os abusos pioraram quando eu fiquei mais velha.
20:25Eu acho que ele se sentia invencível
20:29como se pudesse fazer o que quisesse, não seria pego.
20:33Acho que era por isso que ele se achava poderoso.
20:40Larry sempre bancava o bom samaritano
20:42e os treinadores eram os caras malvados.
20:46Por exemplo, quando as atletas estavam com restrição
20:49de calorias e água, Larry costumava entrar
20:52onde elas dormiam e entregava lanchinhos para elas.
20:55Ele sabia qual era o seu chocolate favorito
20:59e ele sabia exatamente como eu gostava
21:02de ter meus tornozelos enfaixados.
21:04Eu sei que parece estranho,
21:05mas aquilo me fazia sentir especial e reconfortada.
21:12Ele sabia que as ginastas precisavam de alguém seguro
21:16com quem contar,
21:18alguém que as tratasse com gentileza e respeito.
21:22Ele também tentou ser amigável com a minha mãe
21:28e desenvolveu um relacionamento com ela sem mim.
21:33A minha mãe nunca me deixaria ir a compromissos
21:36ou ser atendida por ele em competições
21:39sem saber quem ele era ou saber se ele era confiável.
21:43Então ele se esforçou para que ela se sentisse confortável
21:46e para garantir que ela confiasse nele comigo.
21:50Acho que ser super agradável e tentar encontrar uma conexão com a gente
21:58e com os nossos pais
21:59era uma forma de manipulação que ele usava.
22:06Tudo era para passar um ar de cara legal.
22:10Assim as pessoas não duvidariam dele.
22:12Pensando melhor agora, parece tudo muito calculado.
22:17Quando vemos todo o cenário,
22:19dá para perceber claramente que era um aliciamento.
22:23Só que quando tudo estava dividido em casos individuais
22:26e cada uma estava sozinha com ele,
22:28não dava mesmo para perceber.
22:29O abuso que eu sofri com o Larry,
22:39no fim das contas,
22:40foi um dos motivos pelos quais eu tive que abandonar a ginástica
22:44aos 16 anos.
22:50Eu fui atendida por ele desde os 10, 11 anos
22:55até quando ele me disse que se eu não conseguisse me curar
22:59era hora de desistir da ginástica,
23:01que foi quando eu estava na oitava série.
23:05Eu estava completamente desconectada
23:08e por fora do mundo da ginástica
23:10há quase 20 anos,
23:13quando as notícias estouraram.
23:16Eu nunca imaginei que isso se tornaria
23:18um acontecimento nacional
23:20e desencadearia um movimento gigante em todo o mundo.
23:25Indianápolis, agosto de 2016
23:34Eu fazia parte da equipe do jornal Indianápolis Star,
23:39que recebeu um e-mail
23:40de uma mulher chamada Rachel Dan Hollander.
23:44Ao mesmo tempo,
23:45tinha um processo judicial
23:46sendo preparado por uma ginasta de elite
23:49chamada Jamie Dentscher.
23:52Elas alegavam que Nasser,
23:53sob o pretexto da assistência médica,
23:56havia abusado sexualmente delas anos antes.
23:59Ficou impossível não se perguntar
24:01quantas garotas poderiam estar envolvidas nisso.
24:04E aí eu disse,
24:06estamos descobrindo uma coisa
24:07que é muito, muito perversa, droga.
24:09Foi mais ou menos uma semana depois
24:15de eu ter passado com o Larry.
24:18A minha mãe sempre assistia o jornal todas as noites.
24:22E aquela reportagem apareceu.
24:25Nasser também começou a fazer massagens internas
24:28e nada estava fora dos limites para ele.
24:30A minha mãe me chamou para assistir a notícia
24:32e comentou,
24:33filha, olha o que estão falando no noticiário
24:35sobre o Larry.
24:37É muito difícil se posicionar contra alguém
24:40tão famoso quanto ele.
24:44Qualquer ginasta sabe quem é o Nasser.
24:46Eu fiquei chocada.
24:50A minha mãe me perguntou
24:51se aquilo tinha acontecido comigo
24:53e eu continuei ignorando e dizendo
24:56não, não, ele não faria isso comigo,
24:58mesmo sabendo que ele tinha feito sim
25:00e lutando contra aquilo na minha cabeça.
25:05No começo, eu fiquei em choque.
25:08Será que conseguiria fazer parte disso?
25:10Eu não tinha ideia da dimensão.
25:13A minha experiência tinha acontecido
25:14há tantos anos, então
25:16quando eu descobri que havia
25:18outras alegações,
25:20eu senti muitas coisas diferentes.
25:25É que eu nunca falei nada,
25:26então eu senti muita culpa
25:28por não reconhecer
25:30o que tinha acontecido comigo.
25:37Larry me ligou
25:38e não estava nem um pouco incomodado.
25:41Ele disse,
25:42olha, Steve, só estou ligando
25:43para te dizer que
25:44você vai ler um artigo sobre mim
25:47e duas pessoas me acusando
25:49de abuso sexual.
25:52Ele achava que estava no controle.
25:54Era como se ele já tivesse conversado
25:55com várias outras pessoas.
25:57Ele achava que
25:58Jamie Dantier
25:59era louca.
26:01Ele estava tentando
26:02derrubar o depoimento
26:04e as acusações dela,
26:06dizendo que
26:06ela era instável
26:08e louca.
26:09e a minha primeira inclinação
26:11foi confiar nele
26:12e acreditar nele.
26:14Era difícil imaginar
26:16que o Larry faria
26:17uma coisa dessas.
26:20Ele estava recrutando pessoas
26:21para defendê-lo
26:22e fazendo com que as pessoas
26:24o apoiassem.
26:26Todo mundo
26:26que conviveu com o Larry
26:28durante todos aqueles anos
26:29estava moldado
26:30a acreditar
26:32que não havia nada
26:33que ele tivesse feito
26:34que pudesse ser assim
26:35tão lascivo,
26:38pervertido
26:39ou abusivo.
26:41Eu acho que na época
26:43desconfiaram muito
26:45das vítimas
26:45ao invés de apoiá-las.
26:47Eu estava bem ciente
26:49de como todo mundo
26:50estava tratando
26:51as outras vítimas.
26:54A minha amiga da dança
26:56na época
26:56tinha amigos
26:57na família dele
26:58e é claro que
26:59a família dela
27:00também estava
27:01do lado dele.
27:02era muito difícil
27:04me sentir confortável
27:06para querer
27:06falar a verdade.
27:08Daí eu entrei
27:08numa depressão
27:09muito forte
27:10porque eu tinha
27:12que enterrar
27:12o que aconteceu comigo
27:13e não conseguia
27:14falar sobre isso.
27:19Naquela época
27:20Rachel Dunn Hollander
27:22foi até a polícia
27:23da Universidade Estadual
27:25de Michigan.
27:26Houve uma queixa
27:27contra o Larry
27:28alegando que ele havia
27:29cometido atos impróprios
27:31e abusivos com ela
27:32na clínica.
27:34A polícia
27:35da Universidade Estadual
27:36de Michigan
27:37interrogou
27:38Larry Nassar.
27:40Sou Andrea Manford.
27:42Oi, muito prazer.
27:43Larry Nassar.
27:45Durante os atendimentos
27:47das adolescentes
27:48de 10 a 18 anos
27:49já ficou excitado
27:50durante os exames?
27:52Sim, eu fico excitado
27:53durante os exames?
27:54É, se você já teve
27:55uma ereção...
27:56Olha, eu não tento
27:57ficar excitado de propósito
27:58fazendo os tratamentos.
27:59como assim?
28:01Qual é?
28:01Eu não tô tentando
28:02de propósito ter...
28:04ter...
28:05é...
28:07algum tipo de
28:07satisfação sexual
28:08fazendo isso.
28:09Não, não é isso
28:10que eu tô fazendo, sabe?
28:12Olha, quer saber?
28:13Se teve alguma excitação
28:15é que...
28:17é que...
28:19é...
28:19olha...
28:21é...
28:21era por causa
28:22de qualquer outra coisa.
28:24Sei lá, mas eu não tava
28:25tentando...
28:25Como assim outra coisa?
28:26Explica melhor.
28:26Bom, olha...
28:28Olha, quando você é homem
28:29às vezes você tem ereção
28:30sabe como é?
28:31Mas eu não é...
28:32Você tem ereção
28:32quando tá excitado.
28:35Ele sempre usava
28:36uma pochete
28:37e no começo
28:39eu achava que era
28:39uma mania dele
28:40mas...
28:42à medida
28:43que eu fui crescendo
28:45e comecei a refletir
28:46sem dúvida
28:47eu acho que ele
28:47escondia a ereção
28:48com a pochete.
28:50Eu nem sabia
28:51o que era uma ereção
28:52naquela época.
28:53Em setembro de 2016
29:06uma ou duas semanas
29:07depois
29:08da nossa matéria
29:10a Universidade Estadual
29:11de Michigan
29:12demitiu Larry Nasser
29:13Algumas semanas depois
29:16Nasser começou
29:17a receber acusações
29:18criminais
29:19eu fiquei muito
29:21surpreso
29:22com a rapidez
29:23da Universidade
29:24mas como vimos
29:26depois
29:27eles não agiram
29:28tão rápido assim.
29:30Dois anos antes
29:31a Universidade Estadual
29:33de Michigan
29:33recebeu
29:34uma alegação
29:35semelhante
29:36e não lidou
29:37com isso
29:37da mesma forma
29:39que em 2016.
29:42Dois anos antes
29:44Eu pedi pra você
29:45vir voluntariamente
29:46porque isso está
29:47sob investigação
29:48Parece que houve
29:49uma denúncia feita
29:50à medicina esportiva
29:51da Universidade
29:52O que me disseram
29:54foi que a paciente
29:54ficou preocupada
29:56que eu tava tocando
29:57nela de forma inadequada
29:58e eu não entendi
29:59o porquê
30:01Olha, são duas coisas
30:01que me confundiram
30:02porque eu
30:03eu faço isso
30:06regularmente
30:06Esse é um tratamento
30:07sobre o qual
30:08eu dou palestras
30:09e não tem dúvida
30:11de que eu tava
30:11tocando nela
30:12nas partes íntimas
30:13é o que eu faço
30:14Enquanto investigavam
30:21as alegações
30:22de comportamento
30:24inadequado
30:25Larry Nasser
30:26foi afastado
30:28do trabalho
30:29por um breve período
30:30A investigação
30:32de 2014
30:33apurou que
30:34o que Nasser
30:35estava fazendo
30:36era apropriado
30:37e ele foi autorizado
30:39a retornar à prática
30:40sob algumas condições
30:42como fazer os exames
30:44em ambientes clínicos
30:46adequados
30:46ter um acompanhante
30:48presente para menores
30:50e também usar luvas
30:52Mas é claro
30:54que a Universidade de Michigan
30:55deixou aquilo continuar
30:56eles não deram
30:57prosseguimento
30:58Quando as atividades
31:02dele foram questionadas
31:03ele conseguiu manipular
31:05a Universidade de Michigan
31:06Era um mestre
31:08da manipulação
31:09Nasser
31:11Nasser
31:11tinha dezenas
31:13de pacientes
31:14Aquela falta de ação
31:15fez com que
31:16um número incontável
31:18de outras meninas
31:19fossem abusadas
31:20A medida que nós
31:25e outros jornalistas
31:27continuamos investigando
31:28ficou claro
31:29que a Universidade
31:30de Michigan
31:31não era a única
31:32grande instituição
31:33que falhou
31:34com essas crianças
31:35A Federação
31:36de Ginástica
31:37dos Estados Unidos
31:38tinha uma política
31:39de arquivar
31:40as reclamações
31:41se elas não viessem
31:42dos pais
31:43ou dos responsáveis
31:44de uma ginasta
31:45Organizações grandes
31:50poderosas
31:51e importantes
31:51às vezes
31:52consideram
31:53sua própria reputação
31:54e posição pública
31:55mais importante
31:57do que proteger
31:58as crianças
31:59Por anos e anos
32:01elas foram abusadas
32:03por esse homem
32:04que se escondia
32:06à vista
32:06de todos
32:07Alguém que se safou
32:10por tanto tempo
32:11deve ter pensado
32:13que poderia
32:14continuar fazendo
32:15aquilo
32:16e também
32:17se safando
32:18Mais de 60 mulheres
32:21apresentaram
32:22queixas
32:22alegando abuso
32:23sob o pretexto
32:24de exames médicos
32:25invasivos
32:26Novos processos
32:27foram protocolados
32:28ontem
32:28A Universidade Estadual
32:30de Michigan
32:30a Federação
32:31de Ginástica
32:32dos Estados Unidos
32:33e outros sete indivíduos
32:34incluindo Nessar
32:34são apontados
32:35como réus
32:36nos novos processos
32:37As pessoas
32:40descobriram
32:41que o nosso
32:42escritório
32:43estava representando
32:44as vítimas
32:45contra a Universidade
32:46Estadual de Michigan
32:48na região
32:48À medida
32:50que a notícia
32:51se espalhava
32:52eu recebia
32:53cada vez mais
32:54ligações
32:55E depois de
32:5812 ou 20
33:00eu comecei a pensar
33:01Nossa
33:02Será que é verdade
33:04que tinham tantas assim?
33:10Entrei em contato
33:12com o advogado
33:13Liguei para ele
33:15do estacionamento
33:15de uma escola
33:16e eu disse
33:19Oi
33:19Isso aconteceu comigo
33:22Eu estou
33:22pensando em me apresentar
33:25Eu estou com muito medo
33:27E no dia seguinte
33:30eu e o meu marido
33:31acabamos nos encontrando
33:32com o advogado
33:33e decidimos
33:34prosseguir
33:35com o caso
33:36Larry
33:40Larry começou
33:41a trabalhar
33:42em seu caso
33:43criminal
33:43Ele se esforçaria
33:45muito
33:46para se defender
33:47e já tinha
33:48um plano
33:48pensado
33:49para tentar
33:50sobrecarregar
33:51as vítimas
33:52com pesquisas
33:53sobre suas técnicas
33:54médicas
33:55e em seguida
33:56depoimentos
33:56do exército
33:57de apoiadores
33:58que ele tinha
33:58Na época
33:59eu estava
34:00do lado
34:00do Larry
34:01porque
34:01ele era
34:02meu amigo
34:02pensei
34:03que ele
34:04pudesse
34:04ter feito
34:05alguma coisa
34:06que foi
34:06mal interpretada
34:08na pior
34:09das hipóteses
34:10mas nunca imaginei
34:11que ele faria
34:11algo vicelo
34:12Tribunal Memorial
34:14dos Veteranos
34:15Eu fiquei
34:16sabendo
34:16da história
34:17de Nasser
34:17depois que o caso
34:19foi atribuído
34:19a mim
34:20e a minha equipe
34:22chegou e disse
34:23Ai meu Deus
34:24você sabe
34:25qual é o seu caso?
34:27Estava em todos
34:28os noticiários
34:29Começamos
34:32a receber cartas
34:33e para cada
34:35100 cartas
34:35que recebíamos
34:37contra Nasser
34:37havia
34:38umas
34:3910 cartas
34:40dos amigos dele
34:41dizendo que ele
34:42era um cara legal
34:43É um tratamento
34:44Como assim?
34:45Nasser usou
34:46o seu diploma
34:47de medicina
34:47para dizer
34:48as pessoas
34:48que a manipulação
34:49do assoalho pélvico
34:50que ele estava
34:51fazendo nessas jovens
34:52era um tratamento
34:53não era sexual
34:54Ele passou
34:55a culpar
34:56basicamente
34:57as garotas
34:58dizendo
34:59Isso não é verdade
35:00elas estão mentindo
35:01Teve
35:03um juiz
35:04que perguntou
35:06O Miraman
35:06perdeu o juízo?
35:08Eles achavam
35:09que a universidade
35:10e o Nasser
35:12estavam acima
35:13de qualquer suspeita
35:14Nasser
35:15tentava o tempo todo
35:16retomar o poder
35:17porque em algum lugar
35:18na cabeça dele
35:19ele pensava
35:20eu vou apelar a tudo isso
35:21eu ainda estou certo
35:21eu vou vencer
35:22Esse é o poder
35:23e o controle
35:24que os predadores
35:25tem em suas mentes
35:27Enquanto a polícia
35:30investigava
35:31Nasser
35:31eles descobriram
35:33uma coisa
35:33que mudaria
35:35completamente
35:35o caso
35:36Novas acusações
35:38contra o ex-médico
35:39olímpico
35:39já acusado
35:40de abusar
35:41sexualmente
35:41de adolescentes
35:42a polícia federal
35:43disse que Larry Nasser
35:44estava de posse
35:45de pornografia infantil
35:46Nasser
35:58tinha em seus computadores
36:00mais de 37 mil
36:02imagens
36:03de crianças
36:04e ele jogou
36:05todas elas
36:06na lixeira
36:07ele achou
36:08que se jogasse
36:09na lixeira
36:10estava tudo certo
36:11só que a polícia
36:12encontrou
36:13essas fotos
36:14a juíza federal
36:16me disse
36:17que eram
36:18algumas das
36:19piores imagens
36:20de pornografia infantil
36:21que ela já tinha visto
36:23eu não quero nem imaginar
36:24eu não consigo
36:25Nasser foi preso
36:30e foi aí
36:34que a comoção pública
36:35se voltou contra o Larry
36:37ouvi as acusações
36:42de todos os detalhes
36:44eu cheguei a ficar enojado
36:45porque eu estava tentando
36:47entender
36:48como eu pude
36:49apoiá-lo
36:50por um minuto
36:51sequer
36:51levei um tempo
36:53para me conformar
36:54era
36:54uma sensação horrível
36:57meu Deus
36:58encaminhei pacientes
36:59para esse cara
37:00recomendei esse cara
37:01para outros médicos
37:02e a minha maior vergonha
37:04em tudo isso
37:05é que foi
37:06preciso essa pilha
37:07avassaladora de provas
37:08para que a gente dissesse
37:09é aquelas mulheres
37:10já estavam mentindo
37:11você começa a lembrar
37:13de todas as suas memórias
37:14eu deixei passar
37:15alguma coisa
37:16eu não vi alguma coisa
37:17tinha alguma coisa
37:18que eu pudesse ter feito
37:19para impedir aquilo
37:20eu fiquei com muito nojo
37:25muito perturbada
37:26mas
37:26foi um alívio
37:27saber
37:28que tinham provas concretas
37:30que poderiam incriminá-lo
37:31as pessoas
37:32não poderiam mais questionar
37:34se as vítimas
37:35estavam inventando
37:36tinham os processos civis
37:41contra Nasser
37:42tinham os crimes estaduais
37:44relacionados
37:45a abuso sexual
37:47mas
37:48as acusações federais
37:49de pornografia infantil
37:51foram o que fizeram
37:52o mundo dele cair
37:54perto do final
37:55de 2017
37:57Nasser
37:57se declarou culpado
37:59das acusações federais
38:01de pornografia infantil
38:02mas
38:03ele ainda estava
38:03enfrentando
38:04acusações estaduais
38:05relacionadas
38:06a agressão sexual
38:08os advogados dele
38:09estavam tentando
38:10provar
38:11que esse cara
38:12era inocente
38:13naquele momento
38:18dezenas e dezenas
38:19de vítimas
38:20já tinham se apresentado
38:22Larry Nasser
38:23alegou inocência
38:24nos processos estaduais
38:25contra ele
38:26alegando que os tratamentos
38:27que ele realizava
38:28eram técnicas médicas
38:29aceitas
38:30mas tudo mudou hoje
38:31novembro de 2017
38:34os advogados
38:37vieram até mim
38:37e perguntaram
38:38se eu aceitaria
38:39a declaração de culpa
38:41e eu perguntei
38:42o que seria isso
38:43ele se declararia
38:44culpado
38:45de sete acusações
38:46e as demais
38:46seriam retiradas
38:47pela vítima
38:48como você se declara
38:51culpado
38:51conforme declarado
38:52meritíssima
38:53aquilo me atingiu
38:56em cheio
38:56eu queria correr
38:57até lá
38:58socar a cara dele
38:59com força
39:00e dizer
39:00porque não foi
39:01suficiente
39:02para você
39:02ser apenas
39:03o médico
39:04em que elas
39:04confiavam
39:05em janeiro
39:08de 2018
39:09Larry Nasser
39:10retornou
39:10para ouvir
39:11sua sentença
39:12eu resolvi
39:14permitir
39:15que todas
39:16que quisessem
39:16testemunhar
39:17pudessem falar
39:18era a hora
39:19delas
39:19o direito
39:20delas
39:20e a voz
39:21delas
39:21que precisavam
39:22ser ouvidas
39:23eu queria
39:26confrontar
39:27ele
39:27principalmente
39:28dentro do
39:29tribunal
39:30e eu estava
39:31disposta
39:32a expor
39:32o meu nome
39:33se fosse necessário
39:34embora não tenha
39:36sido fácil
39:36encontrar forças
39:37para estar
39:38onde eu estou
39:38hoje
39:39eu estou aqui
39:39como uma sobrevivente
39:41eu não sou mais
39:41uma vítima
39:43no começo
39:45apenas
39:46algumas pessoas
39:47iam falar
39:47mas depois
39:48o exército
39:49cresceu uma a uma
39:50no começo
39:51eu queria
39:51permanecer
39:52anônima
39:52porém
39:53eu não vou
39:53deixar mais
39:54você ter controle
39:54sobre mim
39:55não vou
39:56deixar você
39:56vencer
39:57eu lembro
39:58de ver
39:59o rosto
39:59dele
39:59e na hora
40:01eu pensei
40:02eu
40:02não quero
40:03ter vergonha
40:04do que aconteceu
40:05comigo
40:05e eu quero
40:06poder compartilhar
40:07minha história
40:07e defender
40:08os outros
40:08e daí
40:09decidi
40:09que queria
40:10ir a público
40:10meu último
40:12tratamento
40:12foi em agosto
40:13de 2016
40:14uma semana
40:15depois
40:16ele foi demitido
40:17pela universidade
40:18provavelmente
40:19eu fui a última
40:20criança que ele
40:20agrediu
40:21169 se manifestaram
40:24você deveria ter sido
40:25preso há muito
40:26muito tempo
40:27como você ousa
40:29pedir perdão
40:30a qualquer uma
40:31de nós
40:31elas o enfrentaram
40:32e assumiram o controle
40:34dava pra ver a dor
40:35delas indo embora
40:37eu lembro
40:39de descer
40:40do púlpito
40:40e era como se
40:41um peso
40:42tivesse sido
40:42tirado
40:43dos meus
40:43ombros
40:44sem dúvida
40:47foi uma coisa
40:48muito poderosa
40:49poder expressar
40:50nossa voz
40:50principalmente
40:51pra algumas
40:52de nós
40:52que foram
40:53silenciadas
40:54por tanto
40:54tempo
40:55nessa
40:59finalmente
41:00foi condenado
41:01a 175
41:01anos
41:02de prisão
41:03todos de pé
41:05esse
41:06monstro
41:07nunca mais
41:08deve ver
41:08a luz do dia
41:09e ele não
41:10verá
41:11ninguém pode
41:13violar
41:14seres humanos
41:15daquela forma
41:16então
41:16contanto
41:18que ele nunca
41:18saia de lá
41:19ele recebeu
41:20a sentença
41:21que mereceu
41:21após a sentença
41:29criminal
41:29os processos
41:30civis
41:30contra Larry Nassar
41:31foram encerrados
41:32a Universidade
41:35Estadual de Michigan
41:36pagou 500 milhões
41:37de dólares
41:37às vítimas
41:38os acordos
41:41com a Federação
41:42de Ginástica
41:42e o Comitê Olímpico
41:43e Parolímpico
41:44totalizaram
41:45380 milhões
41:46eu fico
41:49inconformada
41:50e triste
41:51também
41:51por saber
41:52que tinham
41:52pessoas
41:53que poderiam
41:53ter responsabilizado
41:55ele pelo que fez
41:56mas por causa
41:57do poder
41:57que ele tinha
41:58acabaram
41:59se calando
42:00Nasser
42:03usou o dinheiro
42:04as medalhas
42:05e o poder
42:05para cegar
42:06todo mundo
42:07em benefício
42:08do seu próprio
42:08prazer sexual
42:09ele estava
42:10andando
42:11sobre um piso
42:12de vidro
42:12e não percebia
42:13porque
42:14ele era
42:15muito exaltado
42:16por todos
42:17o mal
42:17assume
42:17todas as formas
42:18e tamanhos
42:19o tipo
42:20de mal
42:21que ele retrata
42:22é aquela forma
42:23dissimulada
42:23que pode escapar
42:24da percepção
42:25da sociedade
42:26em termos
42:29de abuso
42:29de poder
42:30esse caso
42:31deve ser um dos piores
42:32ele era
42:34um cara
42:35legal
42:36produtivo
42:37um cara comum
42:38e esses são
42:39os mais perigosos
42:40até hoje
42:44tenho dificuldade
42:46em conciliar
42:47quem eu passei
42:49décadas
42:50acreditando
42:51que ele era
42:53com quem eu sei
42:54que ele é agora
42:55de verdade
42:56eu tentei me conformar
43:00com o fato
43:00de não saber
43:01todas as respostas
43:02e
43:02tá tudo bem
43:04eu sou uma pessoa
43:08melhor
43:09agora
43:10por causa
43:11do que eu superei
43:12e
43:14acho mesmo
43:15que
43:15eu retomei
43:16o controle
43:17sabe
43:19eu sei
43:20que ele
43:20não vai
43:21pro mesmo lugar
43:23que eu
43:24versão brasileira
43:25The Kitchen
43:25Brasil
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