A COP30 enfrenta impasse nas negociações e falta de consenso sobre combustíveis fósseis. Converso com Carolina Pavese, professora de relações internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia, sobre os riscos ao Brasil, ao capital político do presidente Lula e o impacto da ausência dos EUA nas decisões climáticas.
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00:00Para que a gente possa se aprofundar um pouco mais, para nos aprofundarmos nas discussões sobre o momento final da COP30 e essa falta de acordo entre os países,
00:12o que podemos esperar do documento final da Conferência do Clima, eu converso agora com Carolina Pavese, que é professora de Relações Internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia,
00:24a quem eu agradeço muitíssimo a disponibilidade de falar conosco aqui, numa noite de sexta-feira, de um feriado prolongado,
00:33muito obrigado por manter o compromisso conosco e o compromisso com a notícia.
00:38Professora Pavese, não temos dados concretos para fazer uma análise, não que eu queira entrar no campo da futurologia,
00:46mas trazer para algo que é difícil nós vermos com números, é uma análise um pouco mais intangível, que é o capital político.
00:57O presidente Lula, que já tem uma projeção internacional, o ano que vem tenta provavelmente a reeleição,
01:04tenta também se situar cada vez mais no que eu chamo de na mesa do banquete da administração global,
01:12levar o Brasil e a administração dele a um ponto de uma grande reputação, a COP30 lhe cacifaria para mais ou para menos.
01:25A gente vai saber com certeza disso com a resolução final, com o documento final.
01:30Mas agora, esse desgaste, os problemas que tivemos ao longo da COP, estruturais que não necessariamente esbarram
01:38na administração federal brasileira, mas o que eu quero dizer é, quais os riscos agora, professora Pavese,
01:45dentro desse cenário da inserção brasileira no cenário internacional, na sua expertise como professor de relações internacionais,
01:54o Brasil pode ter, depois da resolução da COP30, para cima ou para baixo.
02:01Então o COP está meio cheio ou meio vazio, dependendo do que sair.
02:05Agora, essa extensão, empurrando com a barriga, provavelmente madrugada dentro,
02:11chance de se estender ao longo do final de semana e não termos a tal da COP histórica,
02:18aquela resolução ambiciosa com que o presidente Lula falou com tanta veemência no discurso de abertura da COP30.
02:26Eu falo porque eu estava lá ouvindo de perto.
02:28Queria saber a sua análise, o que pode sobrar para o Brasil aí, de capital político para o Brasil,
02:35barra o presidente Lula, no final dessa COP?
02:38Perdão pela minha longa introdução, lhe passo a palavra agora.
02:41Bom, boa noite, Marcelo.
02:43Então acho que eu vou seguir o seu raciocínio de olhar esse COP um pouco meio cheio, um pouco meio vazio.
02:49Primeiro é importante a gente entender a dinâmica desse tipo de negociação.
02:54É de praxe, de fato, que as resoluções mais polêmicas sejam deixadas para o último momento
03:01e também é comum que a COP avance madrugada dentro ou então se estenda por um dia, dois dias a mais
03:09para que se chegue nesse acordo final.
03:11Então esse processo que a gente está vendo faz parte desse jogo das negociações e é rotineiro, digamos assim.
03:19Até porque, como a Marina estava enfatizando, é necessário consenso.
03:24E aí nós temos 198 partes do acordo da Convenção Quadro do Clima da ONU
03:31que precisam concordar com tudo que vai estar nessa delegação.
03:36Então imagina que esses países, e aí a gente inclui a União Europeia também,
03:40têm interesses, têm economias muito diferentes e graus de comprometimento
03:47e de capacidade também de se comprometer com a agenda climática também em diferentes níveis.
03:53Então é um arranjo muito complicado para a gente chegar nesse consenso
03:58e é normal ter esses entraves no final das negociações.
04:03Dito isso, agora olhando o copo um pouco mais vazio,
04:08há de fato esse risco de que o Brasil não entregue o que o presidente Lula se comprometeu,
04:14inclusive lá em 2023, antes mesmo de assumir o terceiro mandato,
04:21no Egito, quando ele participou da Copa do Egito,
04:23onde ele falou que a Copa 30 seria na Amazônia.
04:27E nesse seu discurso ele já veio sinalizar essa liderança que o Brasil tem
04:32tradicionalmente na agenda ambiental e na agenda climática,
04:38até pelas nossas questões materiais aí, né, de extensão territorial,
04:42de recursos de floresta, não poderia ser o contrário, né,
04:46mas ele vem com essa promessa toda.
04:48E aí essa dificuldade de entregar esse arranjo de negociação
04:52que pelo menos mencione os combustíveis fósseis.
04:55Acho que esse tem sido o grande balde de água fria
04:59dessa proposta de uma resolução que foi apresentada na madrugada de ontem para hoje
05:04e que é um dos documentos sobre os quais está se tentando chegar num consenso.
05:08Não há uma menção sequer à questão dos combustíveis fósseis.
05:13E os combustíveis fósseis são de longe a principal causa da crise climática.
05:18Então é um pouco hipócrita ou até, como alguns colocaram, negacionista
05:23a gente ficar falando de um acordo para resolver um problema
05:27sem citar e sem querer endereçar, de alguma forma, a causa principal desse problema.
05:35Professora Pavese, uma pena a gente ter mais só alguns minutinhos de conversa,
05:40mas eu queria juntar grandezas.
05:43Primeiro, falar da reputação do Brasil hoje.
05:45Olhando para a Bolsa de Valores,
05:47hoje ela terminou em queda, mas olhando um largo de tempo aqui,
05:51de meses, dos últimos meses, isso, a Bolsa de Valores do Brasil
05:56tem batido recordes consecutivos.
05:59Claro que eu estou falando do índice B3 Bovespa.
06:02Isso é reputação.
06:04O presidente Lula, junto com a diplomacia brasileira,
06:08o vice-presidente, o Ministério de Comércio Exterior,
06:13conseguiu mudar uma situação tarifária.
06:16Tudo bem, tem o peso da inflação nos Estados Unidos, de fato,
06:19mas houve uma negociação cujo resultado favorece o Brasil.
06:23Então, eu estou colocando isso num balai que eu estou chamando de reputação.
06:27Olhando para a COP30, um pilar das decisões planetárias
06:33não esteve presente e sequer deu bola,
06:37deu de ombros para a COP30.
06:39Estou falando da delegação americana na presença física do presidente Donald Trump.
06:45O que a gente aprende nas relações internacionais, professora Pavese,
06:48é que poder não deixa vácuo.
06:50Na ausência de uma figura importante como a do presidente Trump,
06:55quem que pode tomar esta liderança ou esse spot de luz
06:59sobre as discussões climáticas que já foram mais caras
07:04para outros governos americanos,
07:06a exemplo dos democratas, e agora não tanto para o republicano Donald Trump.
07:11Somado isso, o momento reputacional do Brasil,
07:14que recentemente foi presidente do G20, presidente do BRICS,
07:18liderou o Mercosul e agora a COP30.
07:21Teve ali um quarteto de lideranças muito importante.
07:28O Brasil pode pegar essa cauda de cometa
07:31com os Estados Unidos colocando um passo atrás
07:36nessas decisões climáticas?
07:37Olha, Marcelo, a ausência da presença do governo federal norte-americano,
07:45também estive na COP, a gente viu que tinha um estande dos estados,
07:49da representação dos estados.
07:51Então, havia o que a gente chama de paradiplomacia,
07:53o que é importante porque nos Estados Unidos
07:55a gente tem uma agenda muito descentralizada,
07:58os estados têm muita autonomia.
08:00Então, quando a gente fala de mudanças climáticas,
08:02tem uma posição de Trump,
08:04mas tem posições muito antagônicas em governos importantes.
08:07E aí, o principal deles é a Califórnia.
08:09Então, tem muitos estados americanos
08:12muito comprometidos com as questões climáticas.
08:15E isso gera esse racha interno.
08:17Para o Brasil, o que isso vai representar,
08:20você desenhou um cenário de recuperação
08:23de uma posição de protagonismo
08:25nas relações internacionais e na diplomacia internacional.
08:29A gente viu durante o governo Bolsonaro,
08:32por uma questão de política externa isolacionista,
08:35uma retirada do Brasil desses principais fóruns
08:39e não se fazendo valer das cartas que a gente tem na manga
08:43para poder se colocar como uma potência importante.
08:47E o papel do Brasil de destaque
08:49é justamente a sua diplomacia,
08:51a sua capacidade de diálogo,
08:53tanto com países do chamado sul global
08:56como com os países do norte.
08:58É isso que também atrai o Brasil
09:00dentro das relações internacionais.
09:03E é isso que a gente espera que aconteça na COP,
09:06que a gente veja o Brasil sendo capaz de promover esse diálogo
09:10entre partes com interesses antagônicos
09:13para que a gente chegue em uma resolução de fato ambiciosa.
09:16Senão vai ser uma grande oportunidade perdida
09:19não só para o Brasil,
09:20mas principalmente para as questões climáticas,
09:23visto que a gente já está longe
09:25dessa meta de um grau e meio,
09:27já se perdeu a meta do Acordo de Paris mais ambiciosa
09:30e a gente caminha para um desastre climático.
09:33É isso que está em jogo.
09:34Professora Pavés, o que a gente entende
09:36é que a COP terminou, mas não acabou ainda.
09:39As discussões atravessam a madrugada,
09:41devem se estender para o final de semana.
09:44Então já mantenho um convite
09:45para nós estendermos também a nossa conversa
09:48numa próxima oportunidade em breve
09:50para saber aí, com vias de fato, com dados concretos,
09:54quais os desdobramentos políticos, reputacionais
09:57e principalmente por onde anda
09:59ou para qual caminho vamos trilhar
10:01a esse resto de século com ou sem aquecimento global.
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