No Visão Crítica, os professores, Roberto Dumas (economia), José Souza (relações internacionais) e Gustavo Macedo (economia) debatem se a aproximação entre Lula e Donald Trump é o primeiro passo para o fim do tarifaço que penaliza o aço, o alumínio e o agronegócio nacional.
Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/phDcXZOj20s
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00:00Então, o contexto que nós temos agora em 2021, as tensões especialmente a partir da gestão do presidente Trump, da segunda gestão,
00:11e problemas que envolvem o que ficou conhecido vulgarmente como o tarifácio.
00:15Mas não só, que algumas questões correlatas, notas, interferência sobre instituições aqui no Brasil,
00:21e agora o recente encontro da ONU, que parece uma novela mexicana que pode terminar com um final feliz,
00:26mas a gente não sabe o que vai acontecer.
00:28Para conversar sobre esse amplo espectro, isso é tão importante, afinal, nosso parceiro comercial hoje não é o maior,
00:34mas foi durante uma boa parte do século XX, mas as nossas relações têm dois setos,
00:40e lembrar que além da economia e política, nós temos a questão, uma relação cultural fortíssima com os Estados Unidos,
00:45nós convidamos três professores para dialogar entre si, e eu colocando as questões, e vocês certamente acompanhando e vão gostar.
00:53Já esteve conosco o professor Roberto Dumas, e que também passou pela China, eu vou aproveitar e explorar a questão da China com o professor Roberto Dumas,
01:02e agradecer que ele compareceu mais uma vez aqui ao Visão Crítica, o professor José Souza,
01:08doutor em Ciência Política e professor de Relações Tradicionais da Faculdade Rio Branco,
01:13o professor, eu não me referi, mas o professor Roberto Dumas é professor do INSPR,
01:18e o professor Gustavo Macedo, também do INSPR, e BIMEC, professor de Economia.
01:22Bem, temos três professores, e eu começo a rodada com o professor Dumas.
01:28Causou surpresa ao senhor os episódios da última Assembleia Geral da ONU,
01:34num momento que é natural, o Brasil abre, tradicionalmente, desde 1948, às 47, na verdade,
01:42quem conta essa história é o seu chanceler Saraiva Guerreiro, no seu livro de memórias,
01:47o Brasil abre a Assembleia Geral da ONU, e o primeiro presidente brasileiro que lá foi,
01:54foi o João Batista Figueiredo, do qual Saraiva Guerreiro era o chanceler, em 1982.
01:58Aí criou-se uma espécie de tradição do presidente brasileiro, não é o embaixador brasileiro na ONU que fala,
02:05mas o embaixador ou o presidente brasileiro que lá vai, como foi agora o presidente Lula,
02:09como outros presidentes já foram.
02:11Pergunta ao senhor, e o segundo a falar é o presidente norte-americano, afinal, é em Nova Iorque a sede da ONU.
02:17Causou surpresa esse encontro, ou se está dando muita relevância a um mero encontro social?
02:22Veja, era óbvio que, de certa maneira, eles iam acabar se encontrando.
02:28Agora, eu acho que foi, eu acho que o mercado, a população, os agentes econômicos estão um pouco otimistas demais em relação à química
02:40que surgiu entre Lula e Trump. Por quê?
02:44Porque na conversa que eles tiveram pelo telefone, Lula deixou bem claro, ele colocou a agenda de pedidos que ele quer.
02:52Ele não colocou a agenda, porque Trump fala, a gente conhece um pouco do psiquê, desse pouco tempo do primeiro mandato de Trump,
03:01como é que ele pensa e como é que ele gosta de trabalhar.
03:04Ele quer que algumas coisas vão, caiam no colo dele.
03:07Então, o Lula colocou o seguinte, olha, eu quero falar sobre a Ben Magnitsky,
03:11eu quero falar que eu tenho déficit comercial com os Estados Unidos,
03:15e gostaria que abaixasse as tarifas dos 40%.
03:19Sim, mas o que você tem de troco?
03:22Então, eu vejo que, de certa maneira, isso daí é interessante, abrimos um caminho,
03:28mas eu vejo também que pode ser um copo meio cheio, meio vazio.
03:32Ao invés de colocar o Scott Bassett para negociar, colocou o Marco Rubio,
03:36que é justamente a parte mais dura, a linha dura do governo Trump.
03:43É óbvio que, no final das contas, quem vai decidir sobre o que vai fazer com o Brasil ou não vai ser Trump.
03:50Mas colocar o Marco Rubio, que decidiu sobre a lei Magnitsky, em relação aos membros do STF,
03:56transforma, de uma certa maneira, um encontro que, talvez, essa química foi um pouco exagerada.
04:02Agora fica a questão, como é que vai ser o próximo encontro?
04:07O que o Brasil tem de oferecer?
04:10Porque Trump sempre fala, eu fiz um grande negócio, mas eu quero saber o que eu vou ganhar nisso daí.
04:17E, de certa maneira, o bom, pelo menos, é que não foi colocado nada sobre o aspecto de soberania.
04:24Ou seja, não falaram nada de Bolsonaro, família de Bolsonaro, ou coisa persecutória, etc.
04:32Vamos falar de terras raras, vamos falar de big techs, e isso é um ponto importante.
04:39Mas eu quero saber se essa química continua e o que nós temos no bolso para oferecer para Donald Trump
04:46para que essa química continue, apesar de termos Marco Rubio.
04:50Não precisava.
04:52Talvez ele não faça nenhum problema, mas não precisava o Marco Rubio.
04:56Poderia ser muito melhor o Scott Bassett.
04:58Professor José Souza, como dizem os mais novos, não sou eu, porque para mim a expressão match,
05:06eu lembro do tênis, mas existem outras associações.
05:08De um match, de um match.
05:10Dos tempos contemporâneos, de aplicativo.
05:14Eu pergunto para o senhor, deu match dessa, ou é também um certo, um exagero desse encontro,
05:22e depois, que parecia só um encontro, normalmente, Casos está circulando ali,
05:27mas depois teve o telefonema e a possibilidade até de um encontro pessoal, não numa data tão distante.
05:33Acho que foi só um acidente, existe possibilidade de avançar nessa conversação?
05:36Muito boa noite, Vila. Obrigado pelo convite.
05:40Cumprimento o Dumas e o Gustavo Macedo.
05:43Cumprimento também a audiência da Jovem Pan.
05:47Desculpa, senhor.
05:49Acabei respondendo de uma vez.
05:51Estamos cumprimentados.
05:54Olha, se a gente pegar o cenário de três meses atrás,
05:57a gente tinha uma relutância importante dos Estados Unidos em até sentar para a negociação.
06:04Então, a gente observa, a forma de fazer política do Donald Trump é bastante peculiar, para dizer o mínimo.
06:13Eu me lembro, no primeiro termo dele, no governo, ele meio que inaugurou a política externa pelo Twitter.
06:21E naquele episódio, a bola da vez era a Coreia do Norte.
06:25Então, ele lançava determinadas declarações no Twitter sobre a Coreia do Norte.
06:32E os analistas corriam para entender o que estava acontecendo,
06:36se o que ele estava falando no Twitter era uma diretriz de política externa
06:40ou se era algo, uma bravata, por assim dizer.
06:44Então, me lembro também de dizer, na época que ele assumiu o governo dos Estados Unidos,
06:51da mesma forma que o Obama não fez tudo o que a gente esperava,
06:56o Trump não vai fazer tudo o que a gente teme.
06:59Mas, de fato, ele avançou em várias agendas que eram polêmicas
07:06e que demonstraram aí uma disposição para mudar as peças no tabuleiro do sistema internacional
07:15de uma maneira bastante significativa.
07:18E ele continua dessa forma.
07:20Então, sempre ele dá, vamos dizer assim, um cavalo de pau para um lado ou para o outro,
07:25recua em certas decisões e depois avança novamente.
07:31Então, é um movimento que os outros atores estão sempre esperando uma mudança brusca,
07:41uma mudança drástica, mesmo que ele tenha que retomar algo que ele tinha dito ao contrário
07:48momentos antes, momentos que eu digo semanas, meses e assim por diante.
07:52Então, essa disposição anterior de não negociar muda com esse encontro
07:58e eu acho que é uma mudança significativa.
08:02Então, de não sentar para negociar e agora estar negociando,
08:06agora a gente precisa ver qual é essa pauta.
08:08A gente está falando de uma pauta aí de 2024, o comércio entre os dois países,
08:16de entre 80 e 90 bilhões de dólares.
08:18Não é pouca coisa.
08:20Então, a gente entende que a política é feita com interesses,
08:23ela é feita com narrativas, ela é feita com ideologia,
08:27ela é feita com bravatas, mas também existe um substrato concreto.
08:33E esses setores produtivos, essa troca que é deficitária para o lado do Brasil,
08:40que em raros momentos o Brasil consegue um superávit comercial com os Estados Unidos.
08:45Esse substrato concreto, ele mobiliza setores, ele mobiliza empregos, ele mobiliza renda.
08:52E isso é importante para os Estados Unidos, isso é importante para o Trump,
08:55e ele sabe disso.
08:57Portanto, esse direcionamento para a negociação, eu vejo como positivo,
09:06eu vejo como uma situação que o Brasil pode e deve manobrar,
09:14independente de quem necessariamente esteja à mesa.
09:17Eu acho que as personalidades também contam na política,
09:21mas acho que abre-se uma oportunidade para o Brasil.
09:26Vai depender muito também do que a gente tem para colocar.
09:29Mas eu vejo que abre uma oportunidade para o Brasil,
09:32e o Brasil, tradicionalmente, tem uma diplomacia desenvolta.
09:36A gente passou um tempo obscuro recentemente,
09:40um alinhamento automático que não dava nenhum tipo de contrapartida para o Brasil,
09:48e isso foi problemático, mas acho que dá para fazer uma retomada,
09:53e ao mesmo tempo que o Brasil também está diversificando,
09:56inclusive nesses três meses, a sua pauta comercial com outros lugares.
10:01Então, entendo que abre-se uma oportunidade,
10:04e aí a gente vai ver como que essa negociação vai se desdobrar.
10:08E eu acho que vale dizer também que quando a gente vai falar do tarifácio,
10:15o Brasil não é o principal objeto que está na mira dos Estados Unidos
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