No Fórum Econômico Oriental, Vladimir Putin reforçou a aliança com China e países do Sul Global. Em entrevista ao Conexão, o professor Waldir da Silva Bezerra analisou os recados políticos, a posição do Brasil com Celso Amorim e os impactos da guerra na Ucrânia.
🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!
Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC nas redes sociais: @otimesbrasil
📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:
🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais
🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562
🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube
🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings
00:00E nessa sexta-feira, durante o Fórum Econômico Oriental, Vladimir Putin reforçou a relação estratégica com a China e outros países do chamado Sul Global.
00:14Putin afirmou que a Rússia tem muitos interesses, abordagens e valores comuns.
00:20E sobre isso, eu converso aqui com o professor Valdir Bezerra, que é mestre de relações internacionais, um estudioso de Rússia e formado, inclusive, pela Universidade Estatal de São Petersburgo, a quem eu agradeço muitíssimo a presença.
00:39O professor Valdir, um habituê da nossa programação, mas hoje nós conseguimos trazê-lo aqui direto no estúdio, que a gente usa uns recursos para ficar ainda mais claro.
00:47E eu ressalto aqui a biografia do professor Valdir da Silva Bezerra, que ele estudou na Rússia, em São Petersburgo, ou seja, ele conhece a Rússia de dentro para fora.
01:00Valdir, muito obrigado pela sua presença.
01:03Por mais que o Putin tenha participado de um fórum econômico do Oriente, falou-se mais de guerra do que de economia propriamente dita.
01:12E é por aí que eu queria ir. Até porque a gente termina uma semana que tivemos uma notícia muito importante.
01:20A presença do Putin numa parada militar que entrou para a história, principalmente da China, comemoração dos 80 anos do final da Segunda Guerra,
01:29no palco do Pacífico, a libertação dos chineses do Império Japonês.
01:35Mas houve outros recados, Valdir.
01:38Eu queria começar com essa foto para a gente ilustrar, porque na política, na diplomacia,
01:44às vezes as notícias são mais pelos gestos, mais pela semiótica, a imagem, do que para o discurso em si.
01:53O anfitrião Xi Jinping, ao lado diretamente do presidente russo Vladimir Putin,
01:59e na outra ponta aqui, o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un.
02:05Obviamente que essa foto aqui não é um acaso, né, Valdir?
02:09Seus conhecimentos de Rússia e do cenário geopolítica, vamos começar por aí.
02:14Putin na China, numa parada militar, nesse momento de rusgas com os Estados Unidos,
02:20e essa foto fala por si só.
02:22Mas complemente o que a gente não consegue ver só aqui na fotografia.
02:25Primeiramente, boa noite, Marcelo. Obrigado pelo convite para estar participando novamente do Conexão.
02:32E realmente a gente percebe que de todos os líderes que estiveram em Pequim
02:36para poder assistir esse desfile militar, existe três que se destacam.
02:41E são países que durante mais de 40 anos, no período da Guerra Fria,
02:46se opuseram ao Ocidente do ponto de vista político e do ponto de vista econômico.
02:51E nesse momento presente, eles voltam a se opor ao Ocidente em diferentes segmentos.
02:57A Rússia, no âmbito militar, com a guerra na Ucrânia.
03:01A China, na questão da hegemonia econômica global, na disputa que ela tem com os Estados Unidos.
03:06E a Coreia do Norte, por ter se nuclearizado durante os anos 2000,
03:10para poder proteger o seu regime de influência externa,
03:14e que acaba, consequentemente, causando instabilidade no leste asiático,
03:17e colocando em risco alguns parceiros americanos na região,
03:21como é o caso da Coreia do Sul e como é o caso do Japão.
03:24Então, esses três líderes que ganharam destaque nesse desfile militar de Pequim
03:28são uma sinalização para o Ocidente de que eles estão mais unidos do que nunca,
03:32até mesmo num momento em que esses países têm sofrido uma grande pressão externa
03:38por parte da administração de Trump.
03:39Excelente.
03:40Valdir, chama muita atenção o assessor especial para o Palácio do Planalto,
03:47o embaixador Celso Almarim, mas daqui a pouco eu chego aqui para a gente falar
03:51da diplomacia brasileira nessa foto.
03:54Antes, para a gente encerrar, a China e essa parceria com Putin, com a Rússia,
04:02o Xi Jinping faz um discurso, ele sabia que o mundo inteiro estava ouvindo, Valdir,
04:06e ele termina dizendo, agora a China é um país imparável.
04:12Estamos vendo uma Guerra Fria 2.0?
04:15Eu sei que a gente já está na terceira década do século XXI,
04:18isso aí já caiu em lugar comum, né?
04:20Mas estamos vendo uma repaginação da geopolítica,
04:25essa bipolarização está muito clara, de um lado os Estados Unidos e do outro lado a China.
04:30Veja, Marcelo, tanto a Rússia, como a China, como a Coreia do Norte,
04:36e até mesmo o Irã, que também está representado nessa foto,
04:40eles se sentem cercados militarmente pelas estruturas ocidentais
04:45que foram formadas no período da Guerra Fria.
04:48Então, ainda existe um sentimento comum de que o inimigo ou adversário desses países
04:55seja justamente os Estados Unidos.
04:57E essa mensagem que eles passam com esse desfile militar foi justamente para demonstrar força.
05:02Fato é que, inclusive, o Trump mencionou que ele sabia que o desfile militar era direcionado para ele,
05:08ele acabou assistindo e parece que ele entendeu a mensagem.
05:11Perfeito.
05:12Agora eu queria chegar aqui, né?
05:15O Brasil ganhou essa nomenclatura faz muito tempo, né, Valdir?
05:18A Suíça dos Trópicos.
05:20A nossa diplomacia é internacionalmente reconhecida como o Brasil sendo um país que conversa com todo mundo e tudo mais.
05:30Porém, numa situação em que nós temos um player importante agora no século XXI, chamado Donald Trump.
05:35Ele já colocou a sua lista de desafetos de países.
05:40O Brasil recebeu um tarifato de 50%.
05:42A gente entendeu em que lista nós estamos.
05:45O Celso Amorim, assessor especial para a presidência da República para assuntos internacionais,
05:51ao lado do presidente do Irã, a quem os Estados Unidos, junto com Israel, vociferam já faz tempo.
05:59O Brasil, nessa postura de Suíça dos Trópicos, a gente conversa com todo mundo,
06:04não é muito arriscado, às vezes, não escolher um lado, né, ficar ali no meio do caminho?
06:10Ou aqui você acha que o Brasil escolheu um lado, sim, né?
06:15O Celso Amorim aparece exatamente atrás do Xi Jinping e essas chamadas family photos não são, por acaso,
06:23as pessoas são colocadas estrategicamente, né, elas não ficam se espalhando aleatoriamente.
06:29Mas qual que é a tua análise para essa foto aqui?
06:32Brasil, Irã, China e Rússia, tendo a certeza que o Donald Trump estava vendo esse retrato, Valdir?
06:41O Brasil, do ponto de vista político, ele é talvez, de todas as lideranças que estiveram presentes nesse evento em Pequim,
06:49aquela que tem a situação mais complexa.
06:51Porque ele está geograficamente no continente americano, então ele está mais próximo dos Estados Unidos.
06:57Ele exerce, os americanos exercem uma influência mais direta no nosso território.
07:03E, ao mesmo tempo, né, o Brasil tenta manter boas relações com o Ocidente,
07:08tanto é que o Lula, ele é frequentemente convidado para participar das reuniões do G7.
07:13Perfeito.
07:13Mas, ao mesmo tempo, o Brasil é parte dos BRICS, que tem sido entendido, né,
07:18e a questão de percepção nas relações internacionais é muito importante,
07:21o BRICS tem sido entendido como um grupo que vem se opor à hegemonia ocidental.
07:25E o Brasil é um dos fundadores.
07:28Inclusive, existem dois tipos de guerra que ocorrem no mundo, uma guerra militar e outra guerra econômica.
07:33E os americanos têm imposto uma guerra econômica aos BRICS, com o Brasil incluso.
07:37Então, a presença do Celso Amorim nesse desfile demonstra que o Brasil, ele entende esses perigos que ocorrem, né,
07:43em relação à sua política externa, e de que, nesse momento, ele está mais alinhado aos países dos BRICS
07:49do que, necessariamente, ao Ocidente coletivo.
07:51Um novo gráfico que nós fizemos, ele parece um pouco confuso, mas é um gráfico orbital.
07:57Eu vou explicar.
07:59Aqui, a gente tem valores em dinheiro, na escala do bilhão, né, de milhões e bilhões de dólares,
08:07e aqui a proporção do PIB.
08:09Então, a gente entende que o maior orçamento militar do mundo continua sendo dos Estados Unidos,
08:15mas esse gráfico também leva em consideração o tamanho da população.
08:19Então, nós estamos falando aqui de 345 milhões de habitantes, com esse orçamento militar perto,
08:26que ultrapassa os 3% do PIB e a maior economia do mundo.
08:31A China, em segundo lugar, com 314 bilhões de orçamento militar.
08:38Aqui nos Estados Unidos, a gente está falando da casa dos 900 bilhões, perto de um trilhão.
08:42A China, com um orçamento militar que é generoso, 314 bilhões, porém, com uma população
08:48perto de 1 bilhão e 400 milhões de habitantes, porém, tem pouco mais, menos de 2% do seu PIB.
08:58E a Rússia, aqui, que tem 170, 180 milhões de habitantes, mas que tem um orçamento militar
09:07perto dos 7% do seu PIB.
09:10Ou seja, Valdir, nestas proporções, nós estamos falando de um país, a Rússia,
09:16muito armado, por uma população muito menor que os Estados Unidos e muito, muito menor do que a China,
09:23e que ainda se opõe ou se põe no mundo como uma potência militar.
09:28Agora, para a gente encerrar, eu queria falar sobre a guerra na Ucrânia,
09:32mesmo que rapidamente, porque a gente está partindo para o final do jornal.
09:35O Putin, se encontrando com o Trump, prometendo uma reunião que não está acontecendo,
09:42você acha que ele saiu vitorioso mais nesse capítulo?
09:46Resumidamente, ele está empurrando com a barriga?
09:48Do ponto de vista simbólico, foi sim uma vitória para o Vladimir Putin,
09:53até porque houve tentativas de isolamento da Rússia desde o começo da guerra na Ucrânia, em 2022,
09:59que foram capitaneadas justamente pela Europa Ocidental e pelos americanos.
10:04A gente falava da administração de Joe Biden naquele momento,
10:07e ele sendo recebido nos Estados Unidos, que é a nação líder do Ocidente,
10:12demonstra que a Rússia já não está mais tão isolada como se queria fazer demonstrar.
10:17Do ponto de vista prático e de resolução do conflito na Ucrânia,
10:21esse encontro entre Trump e Putin não foi suficiente.
10:24Eles chegaram a determinados entendimentos, faltam alguns pontos de acordo ainda entre a administração americana
10:30e a administração russa, mas um acordo de paz na Ucrânia, que seja de longo termo, seja sustentável,
10:36vai precisar envolver quatro atores.
10:38Rússia, Estados Unidos, a União Europeia e a Ucrânia, que é o lado também diretamente envolvido.
10:44Esse denominador mínimo comum entre esses quatro atores vai ser muito difícil de atingir.
10:49Bom, agora, o que é fácil é consultar o Valdir, que sempre tem a resposta na ponta da língua.
10:55Eu sei que ele sempre nos atende aqui com enorme qualidade.
10:59Eu acho que a gente vai falar com o Valdir ainda muitas vezes aqui na presença ou remotamente,
11:04porque essa guerra, infelizmente, não tem esses acenos do final.
11:09Valdir.
11:10Valdir da Silva Bezerra, que é mestre em relações internacionais,
11:14cuja formação passa pela Universidade Estatal Russa de São Petersburgo,
11:19um estudioso de Rússia e uma referência aqui para a gente quando o assunto é o leste europeu.
11:25Obrigado, Valdir.
11:26Até uma próxima oportunidade, que vai ser em breve.
Seja a primeira pessoa a comentar