Donald Trump viajou para o Alasca (EUA) para se encontrar com Vladimir Putin, em uma reunião vista como simbólica para pressionar pela paz na Ucrânia. Paulo Velasco, professor de política internacional da UERJ, ao Real Time, analisou os impactos e a estratégia por trás do encontro, criticado pela União Europeia.
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00:00Aposta alta, você vê aí na tela a postagem que Donald Trump fez do Truth Social, a rede social dele nesta manhã, ao embarcar para o encontro com Vladimir Putin no Alasca.
00:10Na tarde de hoje, esse encontro aí que está previsto para mais ou menos às quatro e meia pelo horário de Brasília, é visto como decisivo para tentar colocar um fim na guerra da Ucrânia.
00:19Apesar de não contar com nenhum representante europeu, nem mesmo o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, ele está sendo visto aí pela União Europeia como uma encenação, né, para que Putin adia sanções americanas ou então tenha vantagens econômicas dos Estados Unidos.
00:35É sobre essa reunião emblemática que eu converso agora com Paulo Velasco, que é professor de política internacional da UERJ.
00:42Boa tarde, professor. Seja muito bem-vindo ao Real Time.
00:46Muito boa tarde, Marcelo. É um prazer sempre falar com vocês.
00:49Bom, o que é que você acha que tem de simbologia aí nesse lugar escolhido no Alasca, né, que também é um antigo território russo, inclusive, dentro de uma instalação militar que foi estratégica durante a Guerra Fria?
01:02Marcelo, bastante simbolismo, né, inclusive a diplomacia é feita por vejas de símbolo também, né, em primeiro lugar, como você bem colocou, né, foi um território russo até meados do século XIX, né, quando foi comprado naquele momento pelos Estados Unidos, né,
01:17Isso, de certa maneira, contribui um pouquinho para a retórica russa, né, de que os territórios não são estanques, estáticos, né, e podem mudar de mãos e mudar de donos, né.
01:28Naturalmente, o que a Rússia quer dizer com isso, né, é que parte ali dos territórios ucranianos, né, hoje ocupados pela Rússia, cerca de 20% dos territórios ucranianos ocupados pela Rússia, né,
01:37poderiam se trocar de mãos também, né, e passarem a ser, né, parte da soberania russa, então, essa é a primeira simbologia, né.
01:44Além disso, é um território muito próximo da própria Rússia, né, a distância ali, né, das duas partes, né, mais próximas, né, entre o Alasca e a Rússia, né,
01:53disto cerca de 55 milhas, Marcelo, cerca de 90 quilômetros, né, então, é um local muito seguro para o Putin ir, né, na medida em que ele não precisará
02:01sobrevoar estados hostis, né, lembremos que ele não veio à cúpula do BRICS em julho deste ano ao Rio de Janeiro, né,
02:07porque ele sobrevoaria vários estados hostis, né, então é o caso quando ele desloca para o Alasca, né,
02:13e, é claro, né, de alguma maneira, né, é uma posição também confortável, né, para o líder russo, né, estar ali dialogando
02:19com alguém que ele considera um interlocutor positivo, né, que é o Donald Trump, né, apesar de algumas rusgas, né,
02:25recentes, né, algumas tensões, né, e, inclusive, ameaça de sanções que vieram de Washington, né,
02:33o Putin e o Trump se reconhecem, né, de fato, como interlocutores importantes, né, os dois se respeitam,
02:39se admiram, de certa maneira.
02:42Por que que você acha que o Trump não convidou o Zelensky nesse momento?
02:46Esse é um ponto crucial também, Marcelo, existem distâncias muito profundas, né, pelo menos até aqui
02:52nas disposições de Moscou e de Kiev, né, Rússia e Ucrânia não se entendem sobre um ponto básico e fundamental, né,
03:00que é justamente o controle dos territórios ali, né, hoje ocupados pela Rússia, né,
03:04a Rússia basicamente, né, diz que tanto a Crimeia, anexada em 2014, quanto as províncias anexadas em 2022,
03:12né, Zaporizia, Kersson, Luhansk, Donetsk, são hoje território russo, né, e que qualquer tentativa de paz, né,
03:19ela precisa passar pelo reconhecimento da Ucrânia de que perdeu esses territórios.
03:23Isso é muito difícil de ser aceito pela Ucrânia, né, porque significa renunciar, né,
03:27a soberania, o controle soberano, né, de cerca de 20% do território do país, né,
03:32então o Trump, claro, né, se ele quer, de alguma maneira, né, usar a reunião de hoje, a cúpula de hoje, né,
03:37como um dividendo político, né, para a Casa Branca, né, não faria sentido colocar à mesa, né,
03:42Putin e Zelensky, né, porque dificilmente ele conseguiria algum tipo de resultado
03:46para depois poder comemorar e celebrar como ele gosta de fazer, Marcelo, nas redes sociais, né,
03:50reiteiro, as posições de Putin e Zelensky são posições muito distantes,
03:54o que de alguma maneira faz com que a reunião de hoje seja muito mais uma encenação
03:58e um encontro simbólico do que algo que poderá, de fato, pelo menos a curto prazo, encerrar o conflito.
04:04O que me chamou atenção nos últimos tempos foi uma certa mudança de semântica,
04:07uma mudança de linguagem, para não falar, assim, que a Ucrânia vai ter que ceder território
04:12para acabar com a guerra, o Trump vem dizendo, assim, que a Ucrânia vai ter que trocar território.
04:16Você acha que pode estar havendo uma negociação, por exemplo, para a Rússia dar um pouquinho
04:20e pegar um montão?
04:22Pode, isso aconteceu em outros momentos, né, já vimos algo parecido, né,
04:26acontecer em alguns conflitos internacionais, né, inclusive algumas mediações, né,
04:30de disputas territoriais, fronteristas, né, assim foram feitas, né,
04:34para nenhum dos dois lados sair de mãos vazias, né,
04:36às vezes um lado fica com uma parte pequena e o outro fica com uma parte grande.
04:39Ainda assim, eu acho difícil, né, que vejamos de fato a Rússia renunciando ali, né,
04:45a algum pedaço do território, né, sabemos que a Ucrânia conseguiu, né,
04:48alguma incursão em território russo já no ano passado, né,
04:52embora seja uma presença muito pequena, né, eu acho difícil, né,
04:54que o Putin de fato, né, decida trocar territórios, né,
04:57eu acho que o Putin vai tentar, né, assumir, né, a postura vantajosa que tem na guerra,
05:02né, a gente sabe, Marcelo, que ao longo do último ano, o último ano e meio,
05:05a Rússia tem conseguido um avanço importante, né, e constante, né,
05:10para dentro da Ucrânia, não, né, em termos de extensão,
05:12mas tem conseguido avançar um pouquinho, né, ao longo do tempo,
05:16mantendo posições estratégicas, né, agora nos últimos dias conseguiu alguns avanços marcantes
05:21ali na região de Kerson, na província de Kerson, né,
05:24então acho que o Putin, ele tem um poder de barganha muito maior do que tem o Zelensky, né,
05:28dificilmente a Rússia vai aceitar ceder qualquer parcela de território,
05:31por menor que seja, para a Ucrânia, como forma de consolidar o seu controle
05:36sobre todos esses territórios hoje ocupados pela Rússia.
05:39Bom, se essa é a situação, e o Zelensky também não está disposto a abrir mão de território,
05:43a gente tem aí, é uma situação bastante difícil, né,
05:46talvez o Trump tivesse, que está mais tentando convencer o Zelensky aí
05:50a ceder território, porque, pelo jeito que você falou, a Rússia não vai, né.
05:54Eu acho difícil, eu acho improvável, né, é verdade que a Rússia também,
05:59ela revela, né, algum tipo de exaustão, né, por conta desses três anos e meio já quase de conflito,
06:05do ponto de vista econômico e financeiro, Marcelo, a Rússia tem muitas dificuldades, né,
06:10então tem havido um déficit crescente, né, nas contas russas,
06:14temos visto, inclusive, o governo americano de Trump pressionando parceiros importantes, né,
06:18como a Índia, por exemplo, né, com sobretassas e tarifácio elevado, né,
06:23porque o país compra hidrocarbonetos da Rússia,
06:27então a Rússia tem vendido menos, tem obtido menos divisas com a venda de petróleo e de gás para o mundo,
06:32então vemos uma Rússia também, né, já cansada um pouco do conflito,
06:36enfrentando uma situação econômica de maior incerteza,
06:38apesar, claro, né, de toda aliança que tem com a China, né,
06:41de estar conseguindo contornar, em alguma medida, as sanções ocidentais,
06:44mas vemos desafios, né, então, isso pode fazer, né,
06:47a Rússia, em alguma medida, topar, né, algum tipo de acerto, né,
06:52mas dificilmente um acerto que passe pela sessão de território russo, né,
06:55isso é muito improvável, e como você bem colocou, né,
06:58vemos uma intransigência, pelo menos na retórica, né,
07:01por parte do governo ucraniano em admitir a perda de território para a Rússia, né,
07:05mas se houver um aumento da pressão ali do governo americano, né,
07:08contra a Ucrânia, é bem possível que vejamos ele ceder em alguma medida, né,
07:12porque a Ucrânia não sobrevive no conflito sem o apoio financeiro e militar americano,
07:16então, se o país, né, se vir na iminência de perder esse apoio,
07:20né, pode ser que vejamos, né, uma Ucrânia em posição de vulnerabilidade,
07:24cedendo, né, as pressões norte-americanas e topando algum tipo de acordo de paz,
07:28que signifique, sim, a perda de território.
07:30Agora, e essa suspeita aí da União Europeia de que o Trump está participando da reunião
07:35apenas para atrasar tarifas contra o país, você acha que tem fundamento?
07:39Eu acho que o Putin, ele está querendo ganhar tempo, não há dúvida disso, né,
07:45o Putin, ele sente, sim, né, a possibilidade de haver impactos econômicos severos, né,
07:52se o Trump, de fato, cumpriu o que vem ameaçando, né, de, na eventualidade de não avançar fogo
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