Trump aposta na diplomacia e mira cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia; veja análise

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Após intermediar o cessar-fogo em Gaza, Donald Trump tenta repetir o feito entre Rússia e Ucrânia. Em encontro com Volodymyr Zelensky, o republicano descartou, por ora, o envio de mísseis Tomahawk e aposta em negociações diretas com Vladimir Putin. Confira a análise de Vitelio Brustolin, professor da UFF.

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00:00Diz respeito à guerra entre Rússia e Ucrânia, com as articulações do presidente Donald Trump

00:06no sentido de tentar resolver também esse conflito, depois de ter um papel decisivo

00:13no cessar-fogo na faixa de Gaza, como a gente acompanhou nos últimos dias.

00:18Hoje, Donald Trump recebeu o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na Casa Branca

00:22num encontro que buscou abrir espaço para um cessar-fogo também ali, nesse caso,

00:27também um cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia.

00:30Trump sinalizou que, por hora, não pretende enviar mísseis Tomahawk a Kiev,

00:36apostando em um acordo diplomático.

00:39Essa demanda de envio desses mísseis vinha sendo apresentada pelo líder ucraniano Volodymyr Zelensky.

00:44O gesto reflete a nova fase da política externa americana.

00:49Para a gente falar desse cenário envolvendo Estados Unidos, Rússia e Ucrânia,

00:54eu vou conversar agora com o Vitélio Brustolin, da UFFF e pesquisador de Harvard também.

00:59Vitélio, boa tarde para você. Obrigado pela sua presença aqui.

01:01A gente teve, então, há pouco esse encontro presencial na Casa Branca de Donald Trump,

01:06mais uma vez com o Volodymyr Zelensky.

01:08Zelensky vinha apresentando essa demanda para o envio de mísseis Tomahawk

01:12para apoiar a Ucrânia nesse conflito.

01:15E Trump, portanto, sinalizou de forma contrária.

01:17Como é que você lê, Vitélio, para a gente aproveitar o calor dos fatos de hoje,

01:22esse novo encontro, essa demanda apresentada por Kiev e essa recusa de Trump?

01:27Qual seria o papel desses mísseis na pressão a Vladimir Putin em busca de um cessar-fogo, por exemplo?

01:34Boa tarde, torce. Boa tarde a todos.

01:36Olha, o Trump não disse que não enviará.

01:40Disse que, por enquanto, vai priorizar a conversa com o Putin na Hungria,

01:45Hungria do Orbán, um país da OTAN, Hungria,

01:48mas o Orbán é visto como um aliado do Putin na União Europeia.

01:53Então, essa ameaça do envio dos mísseis Tomahawk,

01:57ela é fundamental porque o Zelensky afirma que a Rússia só vai negociar sobre pressão,

02:04que a Rússia só respeita a força, nas palavras do Zelensky.

02:08O que tem acontecido, Tulsi, é que a Ucrânia está alvejando refinarias russas,

02:14conseguiu reduzir a produção de petróleo e derivados russos em 17%,

02:20e isso a gente olhando só para o mês de setembro, em agosto foi 18%, em julho foi 15%.

02:28Isso e a variação do preço do petróleo em países que estão deixando de comprar petróleo russo,

02:35como a Índia, segundo o Trump, tem afetado a economia russa.

02:40E os mísseis Tomahawk, eles têm, em algumas configurações, alcance de até 2.500 quilômetros.

02:47Então, o que acontece?

02:48Grande parte da defesa anti-aérea da Rússia está concentrada na fronteira com a Ucrânia.

02:54Os drones que a Ucrânia produz, que conseguem passar desse perímetro,

02:58têm conseguido alvejar em profundidade o território russo, inclusive perto da Sibéria,

03:05porque não há defesa anti-aérea para um país tão grande,

03:09já que concentrou a sua defesa na fronteira com a Ucrânia,

03:12e o território é realmente o mais extenso do mundo,

03:15é quase três vezes a extensão do território do Brasil, para a gente ter uma noção.

03:19Se os mísseis Tomahawk forem fornecidos para a Ucrânia,

03:22a economia russa pode acabar sofrendo ainda mais com essa guerra,

03:28e isso poderia desequilibrar Putin no poder.

03:33Vitellio, o fato de Trump ter tido um papel muito importante

03:38em negociar um cessar-fogo entre Israel e Hamas,

03:42um cessar-fogo na faixa de Gaza,

03:44cria um clima político favorável para que ele consiga repetir o feito também

03:48entre Rússia e Ucrânia?

03:49Isso foi, inclusive, perguntado hoje na Casa Branca.

03:54Na verdade, o Hamas ainda não entregou as armas,

03:57e o Trump está ameaçando usar a força para que o grupo seja desmilitarizado,

04:02o que não seria fácil de qualquer forma.

04:04Mas houve a entrega dos reféns e dos prisioneiros,

04:07a troca dos reféns pelos prisioneiros palestinos,

04:11e uma pausa, um cessar-fogo nessa guerra no Oriente Médio.

04:15Pelo menos até o momento, é só a primeira fase dos 20 tópicos do Trump.

04:19Mas sim, a sua pergunta vai nessa direção,

04:23o Trump está aproveitando esse viés de apaziguador que ele tem vestido

04:31e tem sido elojado por líderes mundiais, inclusive pelo Zelensky,

04:35e pelo Putin, por conta disso.

04:38Então, ele pode tentar, sim, o cessar-fogo na Ucrânia.

04:42Aliás, é isso que o Zelensky está pedindo,

04:43que haja uma fase de cessar-fogo.

04:46Eu só vou complementar com os dados de salário de soldados russos.

04:52Os soldados do Tartaristão, por exemplo, da Rússia,

04:56que recebiam pagamento único por um ano de guerra de 33 mil dólares,

05:01agora estão recebendo 8.500 dólares,

05:03justamente por causa da falta de receitas russas.

05:06E os soldados da Chuvacha, outra região da Rússia,

05:10também o pagamento único caiu de 26.500 dólares para 8.500 dólares.

05:17Então, realmente, nós percebemos os efeitos que,

05:21tanto as sanções quanto essa estratégia da Ucrânia de alvejar as refinarias russas,

05:25quanto essa estratégia tem forçado o Putin a negociar, Tutsi.

05:32Vitélio, ontem o Trump conversou com o Putin por telefone,

05:37postou, inclusive, nas redes sociais o resumo que ele fez dessa conversa,

05:43e disse que a conversa foi muito boa,

05:45que vai se encontrar novamente com o Putin presencialmente,

05:48dessa vez na Hungria,

05:50e falou ali que, durante a conversa,

05:51eles trataram também de comércio entre Estados Unidos e Rússia

05:55para quando essa guerra com a Ucrânia acabar.

05:57Quer dizer, misturou dois assuntos ali,

06:00a guerra em si com o comércio bilateral.

06:04Qual o papel do comércio nessa conversa?

06:07Poderia, inclusive, servir como argumento

06:10para tentar convencer Putin a um cessar-fogo?

06:15Essa pergunta é ótima porque ela tem várias frentes.

06:19O Trump considera as relações internacionais

06:22como um viés mercantilista.

06:24Ele quer tirar proveito para os Estados Unidos,

06:26inclusive, as armas durante o governo dele,

06:29diferentemente do governo Biden,

06:31as armas fornecidas para a Ucrânia não são doações,

06:33são compradas por países europeus e cedidos, doados à Ucrânia.

06:38Então, há uma diferença em como o Trump vê

06:41as relações internacionais e geopolíticas.

06:45Desde o começo, ele vem acenando com um acordo benéfico para a Rússia,

06:50que seja comercialmente favorável tanto aos Estados Unidos quanto à Rússia.

06:54ele tem jogado com isso como um instrumento para fazer a paz na região.

07:02De qualquer forma, a Rússia, nesse momento, depende grandemente da China.

07:07Das mais de mil empresas que saíram da Rússia por conta das sanções,

07:12os espaços foram ocupados por empresas chinesas,

07:16que é vista como parceiro sênior nessa relação.

07:19Então, ao mesmo tempo, o Trump consegue, se chegar a um acordo com a Rússia,

07:25tirar um pouco do poder da China sobre a Rússia,

07:28já que, por conta do isolamento diplomático e comercial imposto à Rússia,

07:33ela ficou muito mais dependente da China

07:35e a China vista como o principal rival dos Estados Unidos.

07:39Vitélio Brustolini, pesquisador da UFF e de Harvard.

07:44Muito obrigado, Vitélio, pela sua participação aqui.

07:46Um bom fim de semana.

07:48Obrigado. Boa tarde a todos.

07:49Boa tarde.

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