No quadro Protagonistas, Simone Palladino conta como transformou o ferro velho da família em um espaço de arte, sustentabilidade e memória. Da liderança no Rally dos Sertões à reinvenção do negócio, Simone mostra como coragem, estratégia e visão podem gerar impacto econômico e social.
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NotíciasTranscrição
00:00Chegou a hora do quadro Protagonistas, que traz histórias inspiradoras de mulheres que transformaram as áreas em que atuam.
00:07A entrevistada de hoje, da Cristiane Pelagio, é uma mulher com uma trajetória singular.
00:12Criada no Ferro Velho do Pai, no interior de São Paulo, ela assumiu por anos a liderança do Rali dos Sertões.
00:18Hoje, como empresária, reinventou o antigo negócio da família, transformando o espaço em um centro de arte, sustentabilidade e preservação da memória.
00:30A protagonista de hoje é Simone Paladino, uma mulher que cresceu entre caminhões, graxa e sucata, no ferro velho que o pai manteve por mais de 50 anos no interior de São Paulo.
00:46Simone depois começou a carreira trabalhando com publicidade.
00:49Depois foi, durante 12 anos, diretora executiva da Dunas Race, empresa que organiza o Rali dos Sertões.
00:57Era uma das pouquíssimas mulheres em posição de liderança no Rali, ajudando a transformar o evento numa referência até mesmo para o Paris-Dakar.
01:07Foi uma vida de estradas, decisões corajosas e muitas conexões.
01:13Depois da morte do pai dela, Simone viveu sua guinada mais profunda.
01:18Poderia ter encerrado o ciclo, mas escolheu recomeçar.
01:21Pegou o ferro velho da família e transformou no depósito Moringa, um espaço de arte, sustentabilidade e memória.
01:30Simone, muito obrigada por ter aceitado o nosso convite, por estar aqui hoje.
01:35Eu sempre começo com a mesma pergunta para todas vocês.
01:38Quem é Simone Paladino?
01:39A Simone Paladino é uma paulistana que foi morar muito cedo em Jundiaí com a família,
01:46por causa do ferro velho, por causa da sucata.
01:51Voltei para fazer faculdade, FAP, e minha vida começou como uma recepcionista numa agência de propaganda.
01:58Então, na MPM.
02:00Então, eu já comecei, já dentro de uma grande agência.
02:04Conheci pessoas bem importantes que só continuam sendo meus amigos até hoje.
02:07E uma coisa acabou puxando a outra.
02:10Fui para a área de produção, produzi para a Vogue, produzi para a L, produzi para fotógrafos importantes.
02:18Fui parar no Rally.
02:20O Rally era uma competição que estava no segundo ano.
02:24E o Marcos, numa conversa, ele é meu amigo de muitos anos.
02:28O Marcos convida Hermílio de Moraes.
02:32Ele me chama de Jacaré.
02:33O Jacaré...
02:35Por que esse apelido?
02:36A gente não sabe, a gente se trata de Jacaré desde muito tempo.
02:39Jacaré, sabe aquele Rally que eu faço, que eu participo, vai acabar?
02:44Que pena!
02:45E se a gente transformasse ele num evento grande?
02:48Fizemos uma reunião e começamos esse grande desafio.
02:53Principalmente porque era um meio completamente masculino.
02:59Então, fizemos essa sociedade e o Rally começou em 1995.
03:04E eu fiz ele por 14 anos.
03:07E resolvi ter minhas filhas.
03:11Então, eu tive três filhas na sequência.
03:14E nunca tinha visto uma filha andar.
03:17E o Rally me consumiu completamente.
03:19Vendi minha parte do Rally e fui morando na Nova Zelândia.
03:22Nossa, a gente já vai chegar lá.
03:25Eu quero voltar para a sua infância.
03:27A minha infância.
03:27Vamos lá.
03:28Sua infância.
03:29Você teve uma infância nada tradicional.
03:31Uma menina no meio de graxa, de caminhões, de ferro.
03:35O que você traz daquela época para lá, para cá?
03:40E quais são as suas melhores memórias dessa infância?
03:43Primeiro que a gente, nós tivemos uma infância pobre.
03:48Meu pai era uma pessoa bem simples.
03:50Minha família é uma família italiana.
03:53Simples.
03:54E a mudança para Jundiaí trouxe para a gente uma ou outra oportunidade.
04:00Então, meu pai sempre foi uma pessoa muito valente.
04:03Eu falo que ele sempre foi muito valente, muito destemido.
04:06E eu acho que muito do que eu sou hoje, muito da minha trajetória é espelhada no meu pai.
04:12E a gente cresceu justamente dessa forma.
04:15No meio da sucata, no meio dos carros antigos.
04:19E esse amor, que a gente nem sabia que era amor, a gente nem sabia que era sustentabilidade.
04:26Até porque nem se usava aquela palavra naquela época.
04:29Para uns era o lixo, porque muito da sucata é o que as pessoas não usam mais e a gente reaproveita muito dela.
04:38Então, essa cultura que a gente teve, quando eu cheguei para fazer, que eu fui trabalhar tanto na área de produção quanto na área de rali, que eu comecei pela produção, eu sempre fui muito curiosa.
04:55Então, eu sempre, quando estava no ferro, eu queria saber como que aquele carro andava, como que ele era feito.
05:03E quando eu fui para a produção, a produção, a gente está sempre na parte de trás.
05:07Então, isso sempre foi o meu grande motivador para saber como que as coisas acontecem.
05:14Não adianta, porque a gente sempre fala que a fotografia, na minha época, que eu fazia a fotografia, que eu fazia a produção, a gente falava que era uma mentira.
05:24Porque o sabão que você usava era sabão em pó para fazer a espuma da banheira.
05:32Isso numa sequência.
05:33E fake news lá atrás.
05:35E eu, então, isso veio muito intrínseco na minha vida, desde muito pequena.
05:44E eu acho que muito do que eu sou hoje, do que eu me tornei, veio a partir de um depósito sucato.
05:51É impressionante, porque você tem várias transições de carreira ao longo de toda a sua trajetória.
05:56Mas aí, voltando para essa questão do Rali dos Sertões mesmo, que acho interessantíssimo.
06:02Você liderou o Rali dos Sertões, você falou durante 14 anos.
06:07Sim.
06:07Como era estar num universo majoritariamente masculino?
06:12O que você aprendeu?
06:14Você teve que aprender a ter uma sensibilidade maior, uma escuta maior?
06:19Isso no meio dos sertões?
06:21O Sertões, ele é uma escola de vários, em vários pontos.
06:30Psicológico, físico.
06:33O começo foi muito difícil.
06:34Você acompanhava o Rali?
06:36Eu acompanhava.
06:37Eu fazia o levantamento junto com os meninos, né?
06:40Junto com o Marcos e com o Dionísio.
06:42Depois eu fazia conferência.
06:43Isso tudo de carro ou de moto.
06:45Você dirigia o carro?
06:46Você dirigia a moto?
06:47Não, eu sempre...
06:49Em momentos a gente dirigiu.
06:50Mas não era a minha função.
06:52Sim, você ficava como...
06:54A minha função era produzir o evento durante todo o ano, que ele demorava 10 meses pra acontecer.
07:00E durante o evento, eu ia no helicóptero fazendo as imagens...
07:04Eu fazia a direção das imagens.
07:07Então, eu tinha meu piloto, que era Marcelino, e meu cinegrafista, que era Luizinho.
07:11Que ficava...
07:12Que a gente tinha um 44 com aquela 360, a câmera 360.
07:18Então, eu voava 10 horas.
07:19É fantástico lá.
07:21Acompanhar tudo de cima.
07:22Hoje, né?
07:23Eu vejo que foi maravilhoso.
07:25Mas durante o evento, a gente voava 10 horas por dia.
07:28Era uma coisa praticamente insana.
07:31É.
07:32E foi muito desafiador o começo, porque...
07:35Como que uma mulher vai naquele tempo, né?
07:41Isso tem 20 e tantos anos que...
07:43Que você começou.
07:44Que eu comecei...
07:4530, né?
07:46Porque 20 que eu parei de fazer, praticamente.
07:48São uns 8 anos que eu não faço mais.
07:51Como que eu falo com 350 homens, pra mostrar pra eles que é o que eu tô falando.
07:55Você tá falando da década de 90.
07:57É.
07:57Eu comecei em 95.
07:58Ah.
07:59Então, eu fiz de 95 a 2007.
08:02E muitas discussões, muitas batidas de mão na mesa.
08:07Pra as pessoas poderem entender que eu sou uma mulher, gente.
08:11Mas os homens te ouviam?
08:12A partir do terceiro ano, eu virei uma líder, que foi muito importante.
08:20Trouxe muito da produção para o Rally e muito do Rally pra minha vida atual.
08:27Porque eu acabei usando isso na criação das minhas filhas.
08:30Eu acabo usando muito isso.
08:33O meu perfeccionismo, o detalhe.
08:36Porque o que fez muita diferença no Rally foram os detalhes.
08:41Porque o Rally tem um monte.
08:42Rally tem no mundo inteiro.
08:44Mas com os detalhes que a gente colocou como mulheres.
08:48Porque eu tinha meu time de mulheres ajudando.
08:51É que eu acredito que tenha feito muita diferença.
08:54Desculpa, pode completar.
08:56É porque é interessante você trazer isso.
08:58Que na minha visão, pelo que você tá me trazendo.
09:01São detalhes que só as mulheres conseguem enxergar.
09:05Se fosse um time de homens com você.
09:08Talvez não houvesse esses detalhes.
09:10Eu, assim, eu não posso te afirmar com certeza.
09:13Mas foram detalhes significantes.
09:18De um todo.
09:21Me dá um exemplo.
09:22Ah, de acomodação.
09:25De como posicionar a produção durante o evento.
09:31O tipo de show que teria numa largada.
09:34Por exemplo, eles faziam largadas promocionais.
09:37Que tinha 2 mil pessoas.
09:39Eu fazia largadas promocionais.
09:40Tinha 40 mil.
09:41Quando você passou a liderar.
09:43Quando eu passei a liderar.
09:44Eu fiz o Paris-Dakar no ano de 2000.
09:46Fui convidada pela Troller.
09:48Pra acompanhar o Paris-Dakar junto com os meninos.
09:50Éramos 25 meninos e eu de mulher.
09:53Eu tava grávida de 4 meias.
09:54E aí, fazer...
09:55Quando você diz fazer, é fazer o quê?
09:57Competir com 4 carros.
09:58E eu era parte da produção junto com os meninos.
10:02Então, essa competição trouxe pra mim um conhecimento.
10:07E eu pude ver o que eles eram.
10:10Porque eu comparava, falava.
10:11Gente, eles são tão modernos.
10:13Eles são tão avançados.
10:15Eles são tão melhores que a gente.
10:16E eles deixam todo esse lixo pra trás.
10:19Olha.
10:20E você, claro, tinha isso desde a sua infância.
10:23Evidentemente.
10:24Exatamente.
10:24Então, quando eu voltei do Dakar.
10:27A primeira coisa que eu fiz.
10:28Eu convidei ambientalistas.
10:30Pra gente limpar o rali pós-rali.
10:33Então, a gente tinha uma equipe que eram os canastras.
10:36A gente passava com o rali.
10:38E eles vinham coletando tudo que ficava pra trás.
10:40Mas isso, por exemplo, não tinha no Paris-Dakar até então.
10:43Não tinha.
10:44Você que conversou com isso.
10:46O Brasil introduziu isso.
10:49E eu fui palestrar em Geneve, na Suíça.
10:53Para os presidentes mundiais.
10:56Por causa desse processo que a gente criou.
10:59E outra coisa importante que a gente fez também.
11:01Presidentes de países, que você tá dizendo.
11:04Mas presidentes de motociclismo.
11:06Ah, tá.
11:06É.
11:07Não um presidente.
11:08Tá.
11:08Não, todos...
11:09Porque a cada dois anos, a cada dois anos, todos os presidentes se reúnem numa convenção.
11:15Desses eventos de motociclismo, etc.
11:17A Federação Internacional de Motociclismo e a Federação Internacional de Automobilismo.
11:23E você foi por causa desse seu projeto.
11:26Por causa desse projeto.
11:27Então, isso hoje é uma lei entre os ralises do mundo todo que você tem que recolher o que você suja.
11:36Quando você trocava o óleo, por exemplo, de uma moto, antigamente ia pro solo, pro lençol freático.
11:44Quando nós começamos a fazer isso, é proibido você mexer no seu carro, na sua moto, no seu veículo, no nosso campo, que não seja coberto.
11:57Então, todo nosso óleo, nosso combustível, ele é reciclado.
12:03Então, nós tínhamos patrocinadores que coletavam esse material pra reciclagem.
12:07Era triste você ver, a gente ver, abrir picada no meio do mato, derrubar árvore, sujar o solo, deixar nosso lixo pra trás.
12:17Então, foi um trabalho de três anos que a gente foi mudando esse conceito.
12:23E hoje é uma lição um, o mundo usa, não só a gente no Brasil.
12:28E você disse que depois você vendeu a sua parte, no rali.
12:34Eu, na verdade, fui fazer uma viagem pra Nova Zelândia pra passar três meses de férias.
12:41Fui, adorei ser mãe.
12:43Eu nunca tinha tido a oportunidade de ver minha filha de um ano.
12:47Minhas filhas eram um, quatro e sete.
12:51E você falou que você não via, quando elas começaram a andar, você não acompanhou porque você tava trabalhando no rali.
12:55Eu tava sempre trabalhando.
12:56Eu saía de manhã às cinco da manhã e voltava às onze da noite.
13:00Então, eu tinha sempre uma notícia, né?
13:02E não era o meu dia a dia.
13:03Andou, falou.
13:04Falou, é.
13:06Nenhuma falou mamãe pela primeira vez, que abriu a boca.
13:09Pior era falar pra babá, né?
13:10É, nossa.
13:12E aí, que eram maravilhosas, que são maravilhosas, continuam.
13:15Rede de apoio é fundamental.
13:17São incríveis.
13:18Eu perdi alguns anos com esse...
13:22Eu ganhei de um lado e perdi de outro.
13:24Não dá pra ganhar todas as vezes.
13:26Então, eu fui fazer essa viagem, foi muito interessante.
13:29Quando no aeroporto eu falei, eu quero fazer isso, eu quero ser mãe.
13:32E todo mundo falou, você não vai conseguir.
13:36Você não vai aguentar.
13:37Como é que você sai da direção executiva, coisa mais louca da vida que eu fazia, viajava.
13:43A direção executiva de uma empresa que organiza o rali dos sertões.
13:47E pra ser mãe...
13:49E eu fui, preparei minha saída por dois anos.
13:54Fui morar na Nova Zelândia.
13:56Filhos, marido, tudo.
13:58Ficamos lá três anos e meio.
14:00Vivemos dois terremotos muito grandes.
14:03Então, foi muito estressante, muito...
14:06Foi horrível.
14:08E meu marido, ele é engenheiro de telecomunicações.
14:11E foi convidado pra trabalhar na Austrália.
14:12Então, a gente teve essa transição.
14:15Nova Zelândia.
14:15E aí, ficamos lá há muitos anos, estamos lá.
14:21Mas, em algum momento, o seu pai faleceu e você voltou pro Brasil.
14:26E você poderia ter...
14:28Não ter dado continuidade ao ferro velho dele.
14:31Só que você resolveu transformar em algo completamente diferente.
14:35Conta isso pra gente.
14:36O depósito, ele era sucata.
14:40Quando o meu pai faleceu, eu vim pro Brasil e falei pro meu irmão, a gente vai fechar.
14:45Aí, viemos pra São Paulo, sentamos com um amigo dele pra oferecer, porque era um grande sucateiro.
14:52É, vamos fechar ou vamos vender?
14:54É.
14:54E a gente ia vender tudo que tinha lá dentro, sem sucateiro.
14:59E aí, ele...
15:00Ah, e aí, filha?
15:01Como que tá o depósito?
15:02Ó, tio, nós vamos fechar.
15:03Não faz isso, minha filha.
15:05Como que você vai fechar o negócio de 50 anos do seu pai?
15:08Falei, eu nem moro aqui, né?
15:09Como que eu vou tocar isso, é?
15:11Aí, não faz isso, minha filha.
15:13Não faz isso, minha filha.
15:16Fui embora, voltei pro Natal.
15:18E aí, a pandemia veio.
15:20E eu não consegui ir embora.
15:21Então, nesse...
15:23Quando a gente tava na pandemia, passando lá o confinamento,
15:27um dos tios da gente falou,
15:28acabei de fechar uma loja no Rio.
15:31Por que você não pega os móveis e põe lá?
15:32Se não der certo, você devolve.
15:34Então, a loja nasceu, não foi pensada,
15:38não foi programada, nada.
15:42Ela nasceu porque ele compra fazendas que vão virar canavial,
15:47tira as madeiras, então nossa madeira é toda reciclada.
15:52E aí, o propósito continuou na família,
15:56como a parte da sucata,
15:58e ainda trabalhando com material sustentável.
16:01E aí, vocês criaram o depósito Moringa.
16:18é ainda no mesmo local onde era o ferro velho do seu pai.
16:24Uma ressignificação, uma transformação.
16:28Você sentiu que algo mudou ali?
16:31Você conseguiu dar uma nova vida pra um espaço antigo?
16:35Olha, eu vou te dizer...
16:35Mesmo que não tenha sido com esse propósito?
16:37É incrível, porque como ele não é nada planejado,
16:44não foi planejado,
16:46a gente usou muito do que tinha lá pra fazer o espaço.
16:51Então, a gente teve...
16:53Além disso, quando estava tudo praticamente pronto,
16:57bom, a gente precisa agora de coisas pra decorar os nossos móveis.
17:01Então, comecei nesse garim...
17:03Vocês vendem móveis e vendem outros objetos também?
17:06A gente vende sucata, vende móveis,
17:09e começamos a trabalhar com a decoração dos artesãos brasileiros.
17:16Então, aí eu comecei a viajar, a garimpar,
17:19sentar com o artesão,
17:20porque eu vi a possibilidade de mostrar esse artesão
17:24não com uma forma de artesanato,
17:27porque o artesanato é uma coisa muito barata.
17:28Então, eu chamo isso de artesanato,
17:31porque eu trabalho com os mestres,
17:34eu trabalho com as pessoas que têm peças únicas.
17:38Então, o universo é um pouco diferente
17:41de só a gente falar que a gente vende móveis.
17:45E o que eu acho interessante também,
17:48além dessa parte, como você falou, que tem sucata,
17:51você consegue enxergar beleza
17:53no que as pessoas querem descartar.
17:55Exatamente.
17:56E a gente faz um trabalho também,
17:59junto com o Pimp My Carroça,
18:00que é aqui em São Paulo,
18:01que são os coletores,
18:03as carrocinhas.
18:06Então, a gente vai nos galpões deles
18:09com o lixo que eles recolhem,
18:11que eles fazem a separação.
18:13Algumas das peças a gente compra para ajudar,
18:16porque eles reinvestem nas carroças,
18:18e a gente leva isso também como material para a gente,
18:23e a gente transforma em arte.
18:25Ou a gente convida um artista
18:26para mexer com esse trabalho,
18:28ou a gente manda para algum artesão
18:30inventar, reinventar o processo.
18:35Então, a gente não trabalha com coisa importada.
18:38O nosso trabalho é com o brasileiro.
18:41É com o que eu sempre tentei fazer no Rally,
18:44que a gente pudesse ter um evento
18:46que prestigiasse a nossa cultura,
18:50o nosso país, a nossa mão de obra.
18:53Então, é diferente.
18:56Não é só uma loja.
18:59Impressionante, porque você fez,
19:01como eu já disse aqui,
19:02uma transição de carreira várias vezes,
19:05e no final você consegue costurar tudo isso.
19:08Você acabou de costurar aqui nessa última fala.
19:11Aí, voltando a essa questão especificamente de mulher,
19:15o que mais te indigna no espaço que é mulher hoje,
19:19que é dado ou negado para as mulheres?
19:22A diferença é porque a gente não é mais ou menos
19:26porque é mulher.
19:28A gente, nós somos, muitas vezes,
19:30nós somos muito mais do que muito homem.
19:34Então, foi feito um livro de 30 anos do Rally.
19:39E falaram assim para mim,
19:41ah, nós reservamos duas páginas para você
19:44na área das mulheres.
19:45Eu falei, eu não entendi.
19:48Porque durante todos esses anos,
19:51eu fui um homem, muito mais homem do que muito homem.
19:55Eu é que estava lá, decidindo coisas importantes.
19:59Então, por que uma ala de mulher?
20:02Você está falando de algo que aconteceu agora.
20:05Agora.
20:06Impressionante.
20:07Agora.
20:08Assim, ano passado.
20:09Então, por que que foi reservado para mim?
20:12Vou te colocar na...
20:13Não.
20:14Você vai me colocar como uma executiva.
20:17Uma líder.
20:18Uma líder que eu fui e que sou, né?
20:22E aí, foi mudado isso, mas...
20:25Eu tive que...
20:25Aí, você é a única mulher na ala dos homens.
20:28É.
20:28Ainda continua com a parte das mulheres.
20:30É, se entende.
20:31Então...
20:32Não, não entendo.
20:35E ainda bem que você foi firme.
20:37É, pois é.
20:38Vou fazer uma entrevista com você para a ala das mulheres.
20:40Não.
20:41Não vou.
20:42Obrigada.
20:43Ah, não quero.
20:44Exatamente.
20:45Exatamente.
20:46Ó, infelizmente, o nosso tempo acabou.
20:47Ouvir sua história é delicioso, de verdade.
20:50E eu sempre acabo com a mesma pergunta também.
20:53O que significa para você ser protagonista da sua própria vida,
20:57da sua própria história?
20:58Eu tenho um pouco de medo desse protagonismo,
21:02porque quando você se coloca numa forma de protagonista,
21:04você praticamente está sozinha.
21:07Então, às vezes, eu fico um pouco receosa com esse avanço meu,
21:14com essa inquietude, com essa vontade de conhecer mais.
21:17Mas, ao mesmo tempo, se a gente não se colocar nessa posição,
21:23a gente não consegue levar as pessoas junto com a gente.
21:25Então, para mim, é uma mistura de desafio e coragem.
21:37Eu acho que é interessante esse ponto que você traz.
21:40Eu já entrevistei várias mulheres aqui e essa questão do protagonismo
21:45ser algo solitário, você que está me trazendo.
21:49Não é?
21:49Para mim, ele é solitário, porque quem que está junto ali, né?
21:54Quem que está vendo eu chorar?
21:55Quem que está me vendo chorar?
21:57Quem que está me vendo no dia a dia o que realmente é difícil?
22:02Porque depois que quando o negócio já está resolvido, você escuta,
22:05parabéns, nossa, está lindo, está maravilhoso.
22:08Parabéns, você chegou aqui, mas ninguém viu o tanto que você esteve
22:14no caminho até chegar lá.
22:17E esse caminho, ele é solitário.
22:20Ele não é, não tem aquele monte de gente atrás,
22:23quando você está dentro do seu quarto, pensa.
22:25É você com você.
22:26É você com você.
22:27Simônio, muito obrigada.
22:29Obrigada, eu adorei.
22:30A delícia, viu?
22:31Obrigada pelo convite.
22:32Obrigada a você.
22:33Muito obrigada mesmo.
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