O ex-procurador-chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, disse no Papo Antagonista de hoje que a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que o condenou a ressarcir quase R$ 3,4 milhões por diárias da Operação Lava Jato é uma ação de "um ministro da área política" do tribunal, se referindo a Bruno Dantas, o relator do caso.
Deltan, que hoje busca o cargo de deputado federal pelo Paraná, disse que a corte passou por cima de 15 pareceres de quatro órgãos diferentes, incluindo o próprio TCU.
"Todo mundo falou que as decisões foram sábias e foram econômicas. Tanto é que foram investidos R$ 3 [milhões], R$ 4 milhões, e foram recuperados R$ 15 bilhões", disse o procurador. "Quer coisa mais sábia que isso? Investir um dinheiro e recuperar 7.000 vezes mais?"
Em entrevista a Claudio Dantas, Deltan chamou a decisão de "uma invenção, uma peça de ficção", e disse que a decisão da corte passa uma mensagem sombria sobre o combate à corrupção.
"É uma peça de defesa de um sistema corrupto, é uma peça que manda uma mensagem pra sociedade de perda de esperança —de que não combatam a corrupção. 'Não ouse combater a corrupção nem ouse enfrentar o sistema corrupto, porque vocês vão se ferrar e vão para a forca'", disse o ex-procurador. "Uma forca de R$ 3 milhões [em] que estamos pendurados, por conta de quatro ministros políticos que foram delatados na Lava Jato."
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00:00Bom, a reação do sistema está aí, o TCU hoje condenou você, o Janô, a ressarcirem os cofres públicos por recebimento de diárias, de passagens, de gratificações durante o período da Força-Tarefa da Lava Jato.
00:18E nós acompanhamos o julgamento, acompanhamos inclusive a sua defesa, a manifestação do seu advogado, que deixou claro que você mesmo nem recebeu essas diárias.
00:31Enfim, mas o melhor é você mesmo fazer a sua defesa diretamente aqui. Naturalmente, essa é uma decisão que nos causa surpresa, não nos surpreende, mas nos causa surpresa institucional.
00:49A gente fica realmente assustado com a capacidade de reação e de perseguição. Mas enfim, eu quero a sua avaliação, como é que você entende essa decisão, o que você pretende fazer?
01:06Legal, Cláudio. Bom, Cláudio, eu não vou apresentar a minha defesa aqui, vou apresentar os fatos, os fatos como eles são.
01:12O que estava em jogo, em discussão desse caso no Tribunal de Contas? Estava em jogo se a decisão de você montar uma Força-Tarefa de especialistas para atuar no caso de repercussão nacional,
01:22recuperar dinheiro, colocar gente atrás das grades, foi uma decisão sábia, econômica ou não. Se tinha alguma possibilidade melhor, mais econômica, para a gente fazer a mesma coisa.
01:32É isso que está em jogo. O que não está em jogo nessa discussão? Não está em jogo se houve qualquer tipo de apropriação de dinheiro público,
01:38não está em jogo se procuradores ganharam diárias sem trabalhar. Não, nada disso está em jogo. Todo mundo concorda que os procuradores trabalharam,
01:47que as diárias foram pagas por deslocamentos, que as pessoas vinham para a política trabalhar, que eram especialistas dos temas.
01:53Tudo isso está, digamos, não é objeto de discussão. Tudo isso é área de concordância.
01:58Só que um ministro da área política, que foi o ministro Bruno Dantas, instaurou esse processo e levou ele à frente contra todo mundo,
02:06porque todo mundo falou que as decisões foram sábias, as decisões foram econômicas,
02:10tanto é que foram investidos 3 milhões, 4 milhões para recuperar 15 bilhões de reais.
02:15Quer uma coisa mais sábia do que isso? Você investir o dinheiro e recuperar 7 mil vezes mais?
02:20E se você tivesse feito com pessoas que não eram especialistas, muito, muito provavelmente esse resultado não teria acontecido
02:25ou não chegaria perto disso.
02:26Então, foi um investimento muito eficiente economicamente.
02:30Agora, o ministro levou isso à frente contra 14 manifestações técnicas de 5 instituições diferentes.
02:38Então, você teve o Ministério Público Federal, dizendo que estava tudo certo e regular,
02:43a auditoria interna dentro do Ministério Público Federal, independente, dizendo que estava tudo certo.
02:49Você teve vários procuradores gerais falando, secretários gerais, procuradores-chefes.
02:53Aí você teve a área técnica do Tribunal de Contas da União por duas vezes.
02:57Aí você teve o Ministério Público do Tribunal de Contas falando que estava tudo certo.
03:01Aí você teve a Associação Nacional dos Procuradores da República defendendo, falando que está tudo certo.
03:06E você teve a Justiça Federal, em primeira instância, falando,
03:08olha, tem indicativos de que o ministro que está tocando esse caso quebrou a impensualidade,
03:13está atropelando tudo e, se tivesse qualquer irregularidade, não teria nada a ver com o Deltan.
03:18Por quê?
03:18Porque o Deltan não recebeu, não pagou, não autorizou, não atuava na área administrativa e, sim, nas investigações e processos.
03:25Então, a condenação que você vê hoje é uma invenção, é uma peça de ficção que busca responsabilizar quem não é responsável,
03:34se vingando da lava jato de quem combateu a corrupção.
03:37É uma peça de defesa de um sistema corrupto, é uma peça que manda uma mensagem para a sociedade de perda de esperança,
03:43de não combata a corrupção, não ousem combater a corrupção, não ousem enfrentar o sistema corrupto,
03:48que vocês vão se ferrar, que a gente vai pendurar vocês na forca.
03:50Uma forca de 3 milhões de reais, em que a gente está pendurado nessa forca,
03:56por conta de quatro ministros que tomaram decisão, na área política, superando toda a área técnica,
04:01e quatro ministros que, diga-se, Cláudio, foram delatados na lava jato.
04:06E aí os procuradores que fazem a lava jato são investigados, condenados pelos ministros,
04:12delatados na lava jato, investigados por práticas de corrupção, lavagem de dinheiro e por aí vai.
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