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A crescente parceria entre China e Irã vai além da diplomacia. A especialista em relações internacionais Kelly de Souza Ferreira, da PUC Campinas, explicou em entrevista ao Real Time como funciona o comércio bilateral entre os dois países e o papel estratégico dessa aliança em meio às tensões globais do conflito entre iranianos e israelenses.

Acompanhe em tempo real a cobertura do conflito entre Israel e Irã, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/conflito-israel-e-ira/

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Transcrição
00:00O conflito entre Israel e Irã também pode respingar nas relações comerciais da China.
00:05Pequim é o principal parceiro comercial dos iranianos nas duas pontas, importações e exportações.
00:11A gente vai falar sobre isso com a Kelly de Souza Ferreira,
00:14que é diretora de Relações Internacionais da PUC Campinas e pesquisadora do Observatório da China.
00:19Bom dia para você, Kelly. Seja bem-vinda ao Real Time.
00:23Bom dia. Muito obrigada pelo convite.
00:26Professora, até que ponto essa guerra pode prejudicar a China?
00:30A China exporta cerca de 40% do seu petróleo ali da região do Oriente Médio
00:37e boa parte desse petróleo vem do Irã justamente se beneficiando de taxas muito mais baixas
00:43ali com relação ao petróleo em comparação aos outros vendedores da região.
00:48Um conflito na região desestabiliza esse recebimento de petróleo
00:52e qualquer alteração no petróleo não é apenas um problema que nós pensaremos aqui no Brasil
00:59com relação ao transporte, falta gasolina, diesel, essas coisas.
01:02No caso da China, isso causa problemas muito maiores, além de problemas como calefação,
01:08que ali nós temos agora o quê? Estamos no verão, mas se isso se prolongar pode respingar no inverno.
01:14Ele tem usinas termoelétricas, então a geração de eletricidade vem da queima de combustíveis fósseis,
01:21por mais que a China esteja tentando reduzir isso.
01:24E isso vai ofertar, logicamente, a competitividade chinesa e a produção chinesa
01:29e acaba respingando em toda a economia chinesa, desestabilizando um pouco o país.
01:34A gente fala em economia chinesa desestabilizada, a gente pode prever também ondas de choque
01:40se espalhando pelo mundo, porque o que acontece na China hoje mexe profundamente em países
01:45como o Brasil, inclusive.
01:48Exatamente. No caso, quando a economia chinesa agora tem algum desequilíbrio,
01:52ela afeta as cadeias de produções mundiais, então isso vai acabar respingando em outros países.
01:58E outro ponto é que o Partido Comunista Chinês, para ele manter uma coisa muito curiosa
02:04em países que têm um sistema de governo muito parecido com a China,
02:08uma grande dificuldade é a sucessão.
02:10No caso da China, ela não tem essa dificuldade. Por quê?
02:12Justamente porque as sucessões não causam nenhum desequilíbrio,
02:17nenhuma perturbação econômica e social.
02:19Uma perturbação econômica por causa de uma guerra no Irã, por exemplo,
02:23pode acabar um pouco com a estabilidade e perturbar a tranquilidade,
02:27de certa forma, do Partido Comunista Chinês.
02:30A gente viu essa conversa que o Xi Jinping teve com o Putin,
02:35mas pelo menos até agora parece uma coisa um pouco incipiente.
02:38A China tem mantido a tradição de ficar longe das guerras que não são dela,
02:43dos conflitos que não são dela.
02:45Mas você não acha que falta um pouco mais de envolvimento da China,
02:47pelo menos em negociações de paz?
02:50Eu falo de Ucrânia, falo de Irã também, de Israel?
02:54No caso da China, é extremamente pragmática.
02:55Uma coisa que nós temos de pensar, muitas vezes o envolvimento americano
02:59não foi só apenas para uma mediação, mas também para um processo de state building,
03:03de construção do Estado, que ao longo dos anos nós vimos que não deu muito certo.
03:08No caso da China, ela ainda vai tentar se manter afastada,
03:10justamente porque ela não quer ninguém opinando em assuntos internos.
03:15E para você fazer essas construções de paz, muitas vezes você vai ter de barrar em interferências,
03:21você vai se esbarrar em interferências internas do país.
03:25Isso é algo muito delicado.
03:27O que nós vemos agora, o que já é um grande avanço do posicionamento chinês,
03:32é justamente a China colocar o que ela deseja, a paz, ela sugerir até mesmo essa mediação.
03:39Junto à Rússia ela não se manifestou, mas, por exemplo, junto ao Irã ela se manifesta.
03:43Temos de lembrar que a China não é um país neutro ali na região,
03:47devido à aproximação que ela tem com o Irã,
03:50mas considerando uma evolução, o comportamento chinês, por exemplo,
03:53nós tivemos no início dos anos 2000, com o conflito do Sudão,
03:57que foi necessária uma pressão internacional para que a China se posicionasse
04:01e uma pressão em cima das Olimpíadas de Pequim, que aconteceria naquela época,
04:05a China agora já está se movimentando, já está falando abertamente sobre esse assunto
04:11e se posicionando, que deseja a paz, um discurso um pouco mais, como fala,
04:15um pouco mais contundente, isso já é uma grande evolução do comportamento chinês.
04:21A gente falou aqui dos interesses da China no Irã.
04:23A China também tem uma relação comercial intensa com o Israel?
04:27Eu tenho a impressão que não, né, professora?
04:29Não, não é tão... tem alguma relação com o econom...
04:33tem algumas trocas com o Israel, mas não é tão intensa quanto ao Irã.
04:37Imagino que Israel tem uma troca comercial muito mais intensa com a Europa e Estados Unidos, né?
04:42Exatamente.
04:44E o que você acha que deve acontecer na evolução desse conflito agora entre Israel e Irã?
04:50Porque a gente está vendo o Irã numa posição aí de não negociar enquanto os bombardeios não pararem.
04:55E o Trump, por outro lado, dizendo que não quer simplesmente um cessar-fogo,
05:00quer resolver a situação.
05:01É um impasse difícil de resolver, não é, professora?
05:03É um impasse um tanto difícil de resolver, mas um conflito internacional não adianta.
05:09Ela não vai para a mesa de negociação enquanto o cessar-fogo não for alcançado.
05:13Porque quanto mais essa parte de violência se prolonga,
05:17mais difícil fica você atingir algum resultado nas mesas de negociações.
05:21É por isso que nós estamos vendo nos últimos dias uma pressão internacional,
05:25inclusive da própria China, de colocar para os Estados Unidos que ele deve ajudar
05:29a alcançar um cessar-fogo e não a colocar mais lenha no conflito.
05:36Se a gente falar do programa nuclear iraniano, o Irã vem batendo nessa tecla já há muitos anos,
05:42que é um programa pacífico, é um programa científico, é um programa para gerar energia.
05:46Só que o Irã várias vezes não convenceu, né?
05:49Parece que não tem credibilidade, porque várias vezes desrespeitou normas da Agência Internacional de Energia Atômica,
05:55acordos que havia firmado. Por que você acha que agora alguém deve acreditar que o Irã realmente
06:04quer ter um programa nuclear para fins pacíficos?
06:08Eu não acho que o ponto é pensar em acreditar ou não no Irã nesse momento,
06:13mas tentar verificar por que o Irã deseja tanto ter um armamento nuclear.
06:17Quando dois países têm armamento nuclear, automaticamente eles desestimulam um ataque um ao outro,
06:23porque uma guerra entre eles e o uso de um equipamento nuclear pode ser uma mútua destruição,
06:29além de acabar com os outros países ao redor da radiação, ela acaba se espalhando.
06:34No caso ali do Oriente Médio, nós temos Israel que tem acesso a equipamento nuclear.
06:39Então, a questão de o Irã ter, ele é muito difícil você justificar e até mesmo acreditar,
06:46ou até mesmo ver o Irã como uma questão de ter esse armamento ou não,
06:52de uma forma nociva. Na verdade, o que acontece?
06:55Se todo mundo tiver um armamento nuclear, automaticamente a probabilidade de um conflito nuclear, ele reduz.
07:01Enquanto você só tem uma potência, por exemplo, um país na região,
07:05ou no caso desse conflito envolvido tendo armamento nuclear,
07:08a probabilidade do uso desse armamento é muito maior do que se dois tiverem.
07:13A gente tem notado ultimamente a retórica nuclear aumentando muito.
07:17Antigamente não se falava de possibilidade de um ataque nuclear.
07:20A gente viu a Rússia fazendo isso já algumas vezes, inclusive recentemente.
07:25Esse aumento, pelo menos da retórica nuclear, é algo com que a gente deve se preocupar?
07:31A questão desse aumento da retórica nuclear, eu creio que é muito mais um reflexo da sequência de crises
07:38que nós estamos tendo. Está tendo um esgotamento no relacionamento político dos países
07:42e uma troca que nós podemos dizer de sistema internacional.
07:46Os Estados Unidos deixam de ser a grande potência, o hegemon, que consegue manter uma...
07:52Eu não vou dizer manter uma ordem, mas colocar pelo menos um padrão de comportamento internacional
07:58para agora uma ordem que nós temos multipolar, no qual nós temos Rússia, Estados Unidos, China.
08:04Agora nós temos uma Europa mais unida, uma Alemanha, que quer se colocar no dorso europeu de força.
08:10Então nós teremos múltiplos polos.
08:12Até que esses países consigam coordenar os seus discursos e esforços
08:16e criar uma rede de confiança entre eles, eu acho que nós escutaremos em diversos momentos,
08:22em conflitos, quando eles estão no auge, essa retórica nuclear.
08:25Kelly de Souza Ferreira, diretora de Relações Internacionais da PUC Campinas.
08:30Muito obrigado pela participação hoje aqui no Real Time. Bom dia.
08:34Bom dia e obrigado pelo convite.
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