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  • há 4 meses
O deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ) conversa com Felipe Moura Brasil, de O Antagonista, sobre a atuação da Câmara, do governo Bolsonaro e dos setores que dependem de aglomerações, como o cultural e o gastronômico, durante a pandemia de coronavírus. Assista.

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Transcrição
00:00Salve, salve, leitores e espectadores de O Antagonista, eu sou Felipe Moura Brasil e
00:04recebo mais um convidado especial nessa minha série de entrevistas durante a pandemia de
00:09coronavírus, o deputado federal Marcelo Calero, do Partido Cidadania, lá do meu Rio de Janeiro,
00:15que é, aliás, deputado, onde o senhor está nesse momento.
00:18Boa tarde.
00:19Boa tarde, Felipe, boa tarde a toda audiência do Antagonista, site e portal que eu frequento
00:25com bastante assiduidade.
00:27Muito obrigado pela oportunidade de falar com você e com todo o pessoal.
00:32Primeiro, deputado, como é que estão sendo essas sessões virtuais aí do Congresso Nacional?
00:36O senhor está conseguindo participar aí da sua casa?
00:40A pauta está cheia, está vazia, estão trabalhando terças, quartas e quintas?
00:45Como é que está essa situação nesse momento?
00:47Eu acho que a gente conseguiu dar uma resposta bastante rápida, Felipe, em termos tecnológicos.
00:53É claro que a falta de uma reunião no recinto da Câmara e mesmo nas comissões é importante,
01:02a gente não pode deixar de destacar isso, porque é nesses encontros pessoais que a gente
01:07acaba chegando a consensos, que a gente acaba fazendo articulações em torno de textos e
01:13mesmo em torno de iniciativas.
01:17E é claro que não estar reunido fisicamente causa um prejuízo a essa dinâmica.
01:22Eu acho que a gente, com várias áreas, a gente está tentando se reinventar um pouco,
01:27reinventar o nosso ofício.
01:29E, claro, eu acho que a gente tem que tomar cuidado, Felipe, porque nesses momentos de crise,
01:34às vezes surgem ideias mirabolantes, como se um momento complexo como esse tivesse soluções
01:43fáceis.
01:44Momentos complexos são difíceis e, portanto, tem soluções também difíceis.
01:48O que eu estou querendo falar com isso?
01:50Nós temos tido uma demanda muito grande em relação a medidas provisórias, o que é
01:53natural.
01:54O Poder Executivo está se valendo das medidas provisórias para trazer ao Parlamento vários
02:00temas.
02:00Isso é normal, faz parte, inclusive, desse contexto.
02:04Então, acho que o nosso trabalho agora, eu mesmo apresentei alguns projetos de lei,
02:08mas ele tem que estar focado, sobretudo, no aprimoramento dessas medidas provisórias que
02:13o Executivo traz, minha visão.
02:16E, por outro lado, também a nossa missão constitucional de fiscalizar.
02:21A gente não pode esquecer que um dos grandes pilares do trabalho legislativo é a fiscalização.
02:26Então, a gente está procurando ter menos ideias mirabolantes, como eu falei, mas participar
02:32desse esforço conjunto, sociedade, governo, num momento – e a gente precisa sublinhar
02:36isso – que é um momento de guerra, não é, Felipe?
02:39A nossa geração nunca viveu isso.
02:42O Brasil, de certa forma, viveu situações semelhantes de uma maneira muito, eu diria,
02:49colateral.
02:51Participamos do esforço da Segunda Guerra Mundial, mas não fomos atingidos em nosso território
02:55terrestre.
02:56Então, para a gente é uma novidade.
03:00Agora, precisamos encarar essa novidade com a total seriedade e compromisso patriótico
03:06que ela merece.
03:08Certo.
03:08E, na Câmara dos Deputados, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou que vai
03:12cortar em 150 milhões de reais as despesas previstas para esse ano e que o valor será
03:18destinado ao Ministério da Saúde para o combate à Covid-19, o coronavírus.
03:24Na crise que enfrentamos, escreveu Rodrigo Maia, todos precisam contribuir e este é
03:28o nosso primeiro passo.
03:30Então, são 150 milhões de reais de corte na Câmara.
03:33No entanto, uma polêmica que tem sido retomada nos últimos dias é em relação ao direcionamento
03:40do fundão eleitoral, até do fundo partidário também, fundão eleitoral 2 bilhões, parece
03:45que tem um bilhão a mais de outro fundo que poderia ser direcionado e o Rodrigo Maia acabou
03:50vetando.
03:51O pessoal do Partido Novo, que havia proposto, se rebelou aí nas redes sociais, criticou
03:55o presidente da Câmara.
03:57Qual é a sua posição a respeito desses temas, desse direcionamento de verba para o
04:02combate à pandemia?
04:03Eu sou totalmente a favor.
04:05Eu acho que nós temos que dar, sim, o exemplo.
04:08Sou a favor, inclusive, de que haja redução no salário também dos parlamentares e de outros,
04:14isso é importante falar, de outros cargos, sim, outras carreiras também do funcionalismo
04:20público.
04:21Acho que seria um exemplo, sim, a ser dado, especialmente essas carreiras cujos salários
04:29são naturalmente maiores.
04:31É claro que eu não acho que isso tem que ser parte de um debate, isso não pode deixar
04:37de ser parte de um debate maior, mas eu não quero entrar nessa, muitas vezes a gente tende
04:42a satanizar determinadas funções ou determinadas categorias e essa satanização você acaba colocando
04:51na conta delas, dessas categorias, todos os problemas do Brasil.
04:55Nós temos questões de desigualdade muito fortes para enfrentarmos como sociedade e essa
05:00desigualdade, Filipe, naturalmente ela fica escancarada num momento de crise como essa,
05:05como esse.
05:07Então, não se trata de satanizar, mas sim há um simbolismo em nós destinarmos o fundão
05:12eleitoral para o combate com a pandemia e também um simbolismo muito grande em haver
05:18uma redução salarial, tanto por parte dos parlamentares quanto de outros cargos, outras carreiras
05:22no funcionalismo público de uma forma geral.
05:25Agora, a gente precisa destacar também uma coisa, Filipe, o trabalho gigantesco que
05:29o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem feito, primeiro em mobilizar recursos nessa
05:35situação totalmente atípica que o parlamento está vivendo, recursos que eu digo humanos
05:40e tecnológicos, que tem viabilizado o trabalho do parlamento, como ele bem falou, o parlamento
05:45só fechou na ditadura e não fecharia mais, promessa que ele conseguiu cumprir.
05:50E, por outro lado, em fazer um trabalho que deveria caber ao governo, um trabalho de articulação
05:54das forças políticas, um trabalho de mobilização das forças políticas, que não só não existe
05:59nesse momento como não existe desde o início do governo Bolsonaro, eu temo dizer.
06:04Agora, deputado, houve um debate também sobre adiamento das eleições.
06:10Nós estamos aqui gravando essa entrevista, quarta-feira, 8 de abril de 2020, eleição aconteceria
06:15naturalmente em outubro, ainda temos aí uns meses pela frente, cada especialista tem falado
06:22no número de meses em que vai haver esse isolamento social, ninguém sabe ao certo quando é que o mundo
06:28vai voltar à normalidade e se voltar à normalidade que nós vivíamos antes dessa pandemia, porque
06:35certamente muitas medidas vão ser tomadas por vários países, vai ter mudança também
06:40na autonomia dos países, produtos que eram importados, o país vai querer produzir, porque
06:44está vendo que depender de outro país num momento como esse é muito difícil.
06:48Então, a gente vive hoje um cenário de muita incerteza.
06:51Agora, o Rodrigo Maia mesmo preferiu deixar essa discussão para a eleição, me parece,
06:56se o senhor me corrija se estiver errado, um pouco mais para frente, conforme for sendo
07:00feita essa avaliação permanente, diária, que está sendo feita sobre o impacto do coronavírus
07:05no Brasil e até no sistema de saúde nacional também.
07:08Como é que o senhor avalia o que pode acontecer com a eleição desse ano?
07:13Filipe, a gente tem que ter muita cautela quando a gente trata de um tema como adiamento de eleições,
07:18porque isso pode abrir um precedente muito perigoso para a nossa jovem democracia.
07:23A gente tem que lembrar que a conquista de eleições livres, diretas e periódicas é
07:27muito recente na história do Brasil.
07:29Então, esse tema tem que ser visto com a cautela devida.
07:32Eu acho que a gente tem que separar duas situações.
07:34A primeira situação é possível adiamento, possível alinhamento de eleições municipais
07:39com as eleições gerais, eleições presidenciais e estaduais.
07:43Eu acho que esse alinhamento já foi rejeitado pelo parlamento algumas vezes, mais de uma.
07:52E, mais do que isso, eu pessoalmente me posicionaria contra.
07:56Acho que essa discussão é extemporânea, ela não é oportuna.
07:59Se isso acontecer em algum momento, tem que ser decorrente de um planejamento muito bem
08:04feito, em que os mandatários sejam eleitos para mandatos, digamos, de seis anos, para
08:08fazer com que essas eleições sejam coincidentes.
08:11Essa história de prorrogar mandato abre um precedente, como eu falei, perigosíssimo,
08:17nocivo para a nossa democracia.
08:19Eu acho que todas as forças políticas devem repudiar qualquer tentativa nesse sentido.
08:23Esse é o primeiro ponto.
08:25Só para concluir esse ponto, deputado, só para as pessoas terem a noção exata.
08:28Esse ano é um ano de eleição municipal, 2020, quer dizer, os prefeitos concluem mandatos
08:35de quatro anos, nesse momento.
08:37E essa hipótese que o senhor cogitou seria para uma extensão de dois anos, até, do mandato
08:43desses prefeitos, para que a eleição ocorresse junto com a eleição presidencial de 2022,
08:48quando o atual presidente Jair Bolsonaro completa os quatro anos.
08:51Quer dizer, prefeitos que foram eleitos para cumprir quatro anos teriam seus mandatos
08:56prorrogados e aí é claro que dá uma sensação até de injustiça em relação a isso, porque
09:02não era o tempo previsto.
09:04Então, isso gera uma tremenda discussão a respeito.
09:07Na verdade, eu acho que a própria discussão desse tema já revela o quão frágil a nossa
09:11democracia.
09:12Porque em qualquer país em que a democracia fosse um ativo com a importância que deve ser,
09:19jamais se cogitaria a hipótese de uma barbaridade dessa, de uma maluquice dessa.
09:25Não há outra palavra para classificar isso, extensão de mandato.
09:28O sujeito foi eleito para quatro anos.
09:30Os brasileiros foram às urnas para eleger pessoas para um mandato de quatro anos.
09:34Eu cito como existem vários precedentes, inclusive, na Constituição de 1946, aqui mesmo
09:39no Rio de Janeiro, quando nós nos transformamos em estado da Guanabara.
09:44Houve uma lei que determinou o fim da Câmara dos Vereadores, isso chegou ao Supremo Tribunal
09:48Federal, a Câmara dos Vereadores de então foi extinta, claro que a história é muito
09:54maior que essa, estou aqui resumindo, mas não sem fruto de um debate intenso e por eleições
09:59da Assembleia Legislativa da Guanabara.
10:00Ou seja, é uma questão que é muito séria, muito grave você mexer em mandatos, seja
10:06para encurtar, seja para estender.
10:08Não faz parte do nosso repertório democrático.
10:10Não devemos trazer essa discussão com nenhum grau de seriedade, como se fosse uma discussão
10:17séria.
10:18Agora, o outro assunto é nós, trata-se de nós discutirmos, perdão, a possibilidade
10:27de que as eleições não aconteçam em outubro por questões de ordem sanitária.
10:31Essa é uma discussão que o Tribunal Superior Eleitoral tem que fazer, é claro, com a participação
10:37de todas as forças políticas do Parlamento e ela deve acontecer no momento oportuno, que
10:42não me parece ser agora.
10:45E nós temos várias alternativas, como, por exemplo, postergar as eleições de repente
10:49para a última, ao final de semana de outubro, mudar a data do segundo turno.
10:55Eu acho que tudo isso são possibilidades que devem estar postas à mesa no momento devido
11:01e oportuno.
11:02Legal, deputado.
11:04E a questão do comportamento do presidente Jair Bolsonaro em relação a essa pandemia
11:10de coronavírus.
11:11A gente viu que do pronunciamento dele na TV no dia 24 para o pronunciamento no dia 31,
11:17já houve alguma mudança de tom ali, apesar de que na manhã do dia seguinte, ele que
11:23pregou a união no dia 31 já estava atacando governadores com base ali numa fake news, um
11:29homem que tinha gravado um vídeo na Seasa de Belo Horizonte, que estava em higienização,
11:34mas continuava abastecida, ao contrário do que aparentava.
11:37Então, a gente tem visto o presidente da República pregar muito mais a volta da economia,
11:44desde lá o começo, do que a preocupação com o isolamento social temporário, embora
11:50depois tenha corrigido um pouco o discurso e entrado num embate permanente com o ministro
11:55da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
11:58Me parece que o isolamento social temporário é necessário, desde que se mantenha, claro,
12:04o abastecimento, que se mantenha também algum socorro, principalmente a população de baixa
12:10renda.
12:10E o Brasil é um país continental que tem densidades demográficas diferentes, então
12:14o relaxamento dessas medidas restritivas também precisaria obedecer a diferença entre
12:21as localidades.
12:22E esse é o ponto que me parece que não estava o presidente e o ministro conseguindo chegar
12:30a um acordo a respeito disso, essa necessidade de dialogar a respeito de como essas medidas
12:38serão relaxadas para que a economia ande, mas tendo a prudência de preservar as vidas.
12:45Então, um ficou com um discurso e outro com outro, parecendo não haver alguma conexão,
12:51algum diálogo.
12:53E, claro, a maneira como o presidente colocou isso na televisão foi uma maneira bastante
12:58beligerante, acabou gerando muitas reações e parece que só complicou esse diálogo.
13:04Os militares parece que intervieram aí nos últimos dias, o próprio Congresso, o STF.
13:09Quer dizer, como é que o senhor analisa toda essa situação?
13:12Estou tentando aqui só dar um panorama.
13:15Felipe, eu acho que, como eu falava, nos momentos de crise as nossas desigualdades ficam esgarçadas
13:20e aí os atributos de uma liderança também ficam mais à mostra.
13:25Infelizmente, o que a gente vê hoje é um presidente que só tem conseguido enfatizar
13:30todos os defeitos que a gente já tinha, sobre os quais a gente já tinha alertado desde a
13:35sua posse, ou desde a sua eleição.
13:37Infelizmente, ele não se engrandeceu, ele, ao contrário, se apequenou e deixou que os
13:43seus defeitos, os seus tormentos, tomassem conta de maneira integral da sua personalidade.
13:49O que é uma tristeza para o Brasil, porque, mais do que nunca, nós precisamos de uma liderança
13:53lúcida e que consiga apontar com planejamento os passos que serão tomados pela nação nos
14:01próximos próximos semanas, nos próximos meses.
14:04Infelizmente, o Bolsonaro não tem conseguido fazer nada disso, ao contrário, ele tem usado
14:08o seu cargo, a sua magnitude, a sua projeção para desinformar os brasileiros, criar falsos
14:16atritos ou desnecessários, para dizer o mínimo, dentro de uma lógica que ele sempre cultivou,
14:24que é uma lógica do conflito, como você falou, num tom sempre muito beligerante, e que
14:30tem deixado os brasileiros sem o devido balizamento de ações.
14:36É claro que o poder, não existe vácuo de poder, e aí, em muito boa hora, o ministro
14:42Mandetta assumiu a liderança desse leme para que, então, conduzisse o país diante dessa
14:49tempestade.
14:51O que acontece?
14:53Nós temos que ter presente o seguinte, não cabe agora cobrar do governo uma medida, por
14:59exemplo, de flexibilização do isolamento, que cabe sublinhar, é a única medida, até
15:05agora, comprovadamente eficaz na interrupção da disseminação da doença.
15:11Então, assim, o que cabe, sim, é nós cobrarmos do governo medidas econômicas e sociais para
15:17minimizar os efeitos dessa que é a única medida, como eu falei, eficaz para deter a doença.
15:25Esses mecanismos são, alguns deles já foram postos, inclusive, com muito atraso, Felipe.
15:32Alguns deles foram postos, mas não foram implementados, ou não tem uma perspectiva de implementação
15:38com a agilidade que mereceriam.
15:41Ou seja, falta uma coordenação geral, falta uma liderança, e essa liderança quem dá
15:46é o presidente da República.
15:48Eu acho curioso, Felipe, porque volta e meia o Bolsonaro tem um arrobo de autoridade,
15:53diz da caneta, que tem tinta.
15:55Ou seja, ele trata de cuidar com muito esmero dos seus atributos enquanto chefe do Poder
16:03Executivo.
16:04É nessas horas que esses atributos deveriam estar sendo usados na sua plenitude.
16:09E o que a gente vê é um presidente que se retrai e que usa teorias, muitas vezes conspiratórias
16:16e meias-verdades, para esconder a sua própria incompetência.
16:21Eu só espero que ele não queira esconder a sua incompetência atrás de uma pilha de
16:25corpos, que é o que a sua falta de liderança e a desinformação que ele gera pode acabar
16:32resultando.
16:33E aí, eu não sei se você vai entrar nessa polêmica da cloroquina...
16:39Claro, o senhor fica à vontade, eu ia entrar.
16:41Mas, se eu quiser falar agora, diga.
16:43A cloroquina é o medicamento que está sendo debatido, o seu uso, a sua eficácia, porque
16:49ainda não houve tempo suficiente para se coletar uma base significativa de dados a ponto de
16:56se garantir cientificamente a sua eficácia, ao mesmo tempo em que existe uma urgência de
17:02tratamento de pessoas que podem perder a vida a qualquer momento.
17:07E aí, isso gera um tremendo debate sobre o seu uso, o grau do seu uso, a maneira, inclusive,
17:12de comunicar à população a liberação do uso e quem pode usar, de quem é a decisão,
17:19entre o consentimento do paciente, do familiar, quando o paciente já está entubado.
17:23Tem uma série de nuances de questões que, muitas vezes, justamente por uma defesa política
17:29de determinada posição, acabam se perdendo, né, deputado?
17:34E eu estou vendo nas redes sociais que o senhor está atuante aí.
17:37Qual é a sua posição a respeito?
17:39Felipe, eu acho que uma das faces mais cruéis do populismo de pessoas como o Bolsonaro é
17:43vender, como eu falava antes, soluções fáceis para problemas difíceis.
17:47A gente tem que lembrar que o Bolsonaro é um dos autores da lei, daquela famigerada lei,
17:53infame lei, que autorizou a utilização da chamada pílula do câncer, que foi sancionada
17:59pela Dilma, contra qualquer evidência científica.
18:02Então, o parlamento, como um passe de mágicas, trouxe um elixir para os doentes de câncer,
18:08iludindo uma série de pessoas e fazendo que muitas delas abandonassem o seu tratamento
18:12convencional.
18:13E eu temo que nós estejamos diante de um caso como esse, pelo seguinte, hoje, inclusive,
18:18o Bolsonaro acabou tweetando uma entrevista do doutor Kalil e ele falava sobre o uso da
18:25cloroquina que ele fez, mas a importância de que esse uso seja feito de uma maneira
18:30criteriosa.
18:31Ele, por exemplo, recomenda que seja feito dentro de um hospital, para os pacientes internados,
18:36para que se possa justamente monitorar os efeitos colaterais do remédio.
18:40Além disso, ele fala para que seja utilizado para pacientes em determinado estágio, não
18:49necessariamente para pacientes que estão assintomáticos e, de novo, pacientes que
18:53estejam em internação médica.
18:56E junto com antibióticos, junto com outros medicamentos, ele não dá a certeza de que
18:59foi a cloroquina.
19:00Só que aí o que acontece?
19:01O Bolsonaro politiza ou ideologiza um discurso em torno de um remédio que se torna um verdadeiro
19:07elixir e quer elevar esse remédio à condição de política pública contra a doença.
19:14Ora, existem outras políticas muito mais importantes que a gente precisa ter em conta para justamente
19:18evitar que a pessoa fique doente e precise ir para o hospital e precise tomar um remédio.
19:23O Brasil até agora não foi eficaz na testagem, o Brasil não foi eficaz na instalação de
19:29barreiras sanitárias e, sem isso, nós não conseguiremos sair do isolamento social com
19:34a agilidade que nós gostaríamos.
19:37Ontem eu fiz uma comparação.
19:40É aquela coisa.
19:40Imagina que você tem uma pilha de roupa para passar na sua casa.
19:44Você escolhe.
19:45Ou você passa um bocado por dia ou você passa tudo de uma vez.
19:48Se você quer que o isolamento social acabe logo, esse isolamento precisa ser feito de
19:52uma forma eficaz.
19:53Ou seja, a roupa precisa ser passada de uma vez só.
19:56Se nós tivermos um isolamento social, mais ou menos, e isso está sendo estimulado por
20:01várias autoridades, inclusive pelo presidente da República, nós teremos esse isolamento
20:06mais diferido no tempo.
20:08Isso é muito ruim.
20:09Acabei de ver uma notícia de que a Itália voltou a ter um pico de casos e está pensando
20:16em desflexibilizar a flexibilização que havia feito da quarentena.
20:21Imagina a situação em que o Brasil consegue sair em algum momento desse isolamento social
20:28e depois, se há uma segunda onda de doença, a gente tem que voltar à quarentena ou ao
20:35isolamento social.
20:35Imagina a tragédia socioeconômica que isso não vai representar.
20:39Porque o dinheiro é um recurso finito.
20:41É uma das leis mais básicas da economia.
20:43Nós estamos empregando todos os esforços, como eu falei, para amenizar os efeitos desse
20:48isolamento.
20:48Agora, ele tem que ser feito de uma maneira séria, de uma maneira eficaz.
20:53E, para isso, a concorrência, a ajuda do presidente da República é essencial.
20:58E nós não estamos vendo isso.
20:59Nós estamos vendo um líder partidário, como se fosse um líder de torcida.
21:05E o tratamento dessa doença se transformou em mais um flaflu.
21:09em mais uma razão de conflito, em mais um momento de dividir o país.
21:14Quando, na realidade, quando um país está em guerra, o que nós precisamos é que haja
21:18uma união nacional em torno das diversas forças políticas.
21:23Eu lembro sempre, Felipe, do meu avô me contando como foi a Segunda Guerra Mundial no Brasil.
21:29E ele me falava do racionamento que havia.
21:33As famílias ganhavam cupons de farinha, cupons de arroz.
21:37Se faziam pilhas nos centros da cidade, onde havia doações de panelas e de outros materiais
21:43para que, então, pudessem ser transformados em equipamentos para o fronte.
21:49Exatamente essa mesma situação.
21:51Nós estamos numa guerra.
21:52Só que, ao invés de ter um inimigo externo, nós temos um inimigo viral, um vírus.
21:59Portanto, não podemos deixar de encarar essa situação como uma situação extrema
22:03e não nos fiarmos em soluções mágicas, em elixir, em panaceias.
22:12Lembrando que, na nossa história recente, sem contar os exemplos anteriores da nossa história republicana,
22:20nós não podemos achar que a cloroquina ou qualquer outro remédio é a nova pílula do câncer.
22:27Temos que sempre estar atentos às evidências científicas.
22:33Isso não é exatamente se posicionar contra o teste e o monitoramento da cloroquina
22:40nesse momento em que muita gente está à beira da morte.
22:44É claro que há o risco do medicamento gerar arritmia cardíaca, por exemplo,
22:50principalmente para quem já tem problemas cardíacos.
22:52Há outros evidências hepáticos, visuais, principalmente com uso crônico.
22:58No entanto, é preciso criar as condições para os testes, para os monitoramentos,
23:04para a distribuição, ciente de que os médicos ainda estão lidando com algo novo.
23:10Houve uma pesquisa da Fiocruz, inclusive, que, pelo que saiu no jornal, foi inconclusiva.
23:16Embora tenha havido ali um pouco a mais de sucesso no uso da cloroquina do que sem,
23:23só que dentro de uma margem que eles não consideram significativa para cravar a eficácia do medicamento.
23:30Nos Estados Unidos, os estudos talvez já estejam mais avançados.
23:33O Donald Trump tem citado a cloroquina também.
23:36Então, quer dizer, é preciso haver a criação da condição para o uso,
23:42mas é preciso que se saiba que a medicina exige a responsabilidade com a vida alheia.
23:47E as pessoas não podem nem sair se automedicando,
23:51nem simplesmente embarcar numa onda de que isso aí resolve todos os problemas
23:57e imediatamente o isolamento social, por exemplo, já teria de ser relaxado.
24:01É dizer, não é assim.
24:02As coisas precisam caminhar com uma certa prudência,
24:04que, claro, quando as pessoas estão à beira da morte,
24:07ela é flexibilizada em razão de aquilo se tornar uma última esperança.
24:11Exatamente, Felipe.
24:12Eu acho que você falou duas palavras-chave aí,
24:15que são prudência e responsabilidade.
24:18Nós estamos lidando com vidas,
24:21e mais do que isso, como eu falei,
24:23um presidente da República,
24:25ele tem uma capacidade de projeção da sua fala enorme.
24:29Qualquer coisa que ele diga impacta diretamente na vida cotidiana das pessoas.
24:35Portanto, há que se ter responsabilidade.
24:38E eu digo que, seja a cloroquina, seja a azitromicina,
24:43qualquer outra medicação,
24:45nós temos que deixar os médicos tomarem suas decisões
24:49com base em indícios e evidências que eles possam ter
24:52e no entendimento particular que eles tenham com os seus pacientes.
24:55não obrigando ou desobrigando por conta de qualquer tipo de balizamento ideológico.
25:03Isso seria o pior que a gente poderia viver.
25:06Como se agora houvesse torcida a favor ou torcida contra um remédio.
25:12Evidentemente, não se trata disso.
25:14Se trata aqui, sim, de ter responsabilidade sobre falas
25:18e deixar que os médicos, que as associações médicas,
25:21que as confederações médicas possam atuar da maneira responsável,
25:25como sempre atuaram.
25:26O que eu percebo, deputado, é que às vezes tem dois exemplos disso.
25:30No caso do isolamento social,
25:32o Bolsonaro foi muito relutante no começo
25:35em relação ao isolamento social.
25:37Eles chegaram, inclusive, a lançar aquela campanha
25:40que o chefe da SECOM, Fábio Vangarto,
25:43disse que não foi campanha,
25:44embora tenha sido divulgada nas redes sociais do próprio governo,
25:48divulgada pelos filhos do presidente,
25:49a campanha Brasil não pode parar.
25:52Então, se cria aquela defesa daquela posição,
25:56depois se fala em isolamento vertical,
25:58até para amenizar,
25:59mas no começo era uma coisa meio contrária ao isolamento,
26:02porque o país não pode parar,
26:04porque a economia tem de funcionar.
26:06E, a partir daí, que não tinha nenhuma base
26:09de um estudo científico defendendo aquilo
26:11naquele momento que ia na contramão do mundo,
26:14os bolsonaristas, principalmente nas redes sociais,
26:17e os filhos do presidente,
26:18para tentar legitimar aquela posição,
26:21começaram a compartilhar uma série de notícias
26:23e aí a gente ia averiguar
26:25a notícia não significava exatamente aquilo
26:28que eles estavam querendo dizer.
26:29Por exemplo, o Eduardo Bolsonaro compartilhou uma notícia
26:31do recuo da Itália
26:33e, quando a gente foi ver,
26:34uma notícia de um mês antes do recuo
26:36do qual a Itália se arrependeu
26:38quatro mil mortes depois.
26:40O prefeito de Milão, inclusive, reconheceu isso
26:42expressamente, dizendo que aceitava as críticas,
26:45inclusive, a respeito das decisões anteriores.
26:47Houve lá a campanha Milão não pode parar,
26:50não pode fechar,
26:51é muito parecida com essa que eles tentaram lançar aqui.
26:53Então, é anunciado também um vídeo
26:55de um brasileiro no Japão,
26:56mostrando os japoneses nas ruas.
26:58Naquele mesmo dia, a governadora de Tóquio
27:00pediu para as pessoas ficarem em casa,
27:01agora o presidente do país já está pedindo
27:04para as pessoas ficarem em casa de novo.
27:06Quer dizer, tudo para legitimar aquela posição
27:08que não estava muito bem embasada.
27:11Em relação à coroquina,
27:13parece que é a mesma coisa,
27:14quis fazer logo lá de trás,
27:16seguindo uma declaração do Donald Trump,
27:18e agora ficam fazendo de tudo
27:20para legitimar aquela posição,
27:22que no final das contas,
27:24pode ser até um medicamento útil e eficaz e tal.
27:29Mas é preciso respeitar as etapas
27:32da experimentação, do teste, do monitoramento.
27:35O que eu estou dizendo é isso,
27:36é sempre uma defesa política,
27:38sem um embasamento completo ainda,
27:40para depois poder dizer que avisou, etc.,
27:43que defendeu desde o começo.
27:45E a gente fica nesse grande flaflu do debate virtual.
27:49A grande preocupação é a criação e a validação
27:52de um discurso político,
27:54o que sempre é muito ruim para o país,
27:57e agora está sendo pior ainda,
27:59porque, de novo, nós estamos tratando de vidas.
28:00E aí, Felipe, a gente não pode deixar de falar também
28:03do fato de que, a partir disso,
28:06a credibilidade do país vai sendo minada
28:08e a própria recuperação econômica
28:10fica bastante comprometida.
28:12Porque vamos imaginar, gente,
28:13que país vai querer investir,
28:16ou que investidor vai querer depositar a sua confiança
28:19num país que tem como presidente
28:22alguém que se dedica a negar a ciência,
28:25ou que se acha, digamos,
28:28um hais de determinada solução
28:32e acaba defendendo ela
28:33sem qualquer tipo de evidência científica.
28:37Ou um país em que o presidente da república
28:39se dedica de maneira bastante assertiva
28:43a criar conflitos,
28:45alguns totalmente artificiais,
28:48mas outros ele se aproveita
28:50de algum tipo de conflito
28:51e amplifica aquilo.
28:53Então, a nossa credibilidade,
28:55é isso que a gente precisa entender,
28:57e falo aqui como diplomata, inclusive,
29:00ela está sendo minada
29:02constantemente por esses comportamentos,
29:05por esse comportamento presidencial,
29:07por essas ações presidenciais.
29:09O Brasil tem virado chacota internacional.
29:13Isso já acontecia desde antes,
29:14com a atuação errática
29:16do chanceler Ernesto Araújo,
29:19e vem piorando cada vez mais.
29:21E aí não podemos deixar de falar também
29:22sobre os últimos acontecimentos
29:24relacionados à China,
29:26que revelam uma total descoordenação
29:29desse governo, Felipe.
29:30Porque, assim,
29:31a última palavra de política externa
29:34tem que ser sempre do Itamaraty.
29:36Você deixar que um ministro da Educação
29:39fugindo totalmente das suas atribuições,
29:42se valha da rede social
29:43para fazer ataques a um país.
29:45E aí não estou defendendo
29:46a ditadura chinesa, não.
29:47É ditadura mesmo.
29:49E censurou diversos dados
29:51a respeito da doença.
29:53Agora, nós temos que ter
29:54o mínimo de estratégia.
29:56E aí vem com um papo frouxo.
29:58Ah, mas a rede social é minha, pessoal.
30:01Não estou falando como ministro de Estado.
30:03Pelo amor de Deus.
30:04Quer dizer que o cara chega em casa,
30:06ele tira a roupa de ministro de Estado
30:07e passa a ser um cidadão
30:09sem qualquer cargo no governo?
30:10É inacreditável isso.
30:12É brincar com a nossa inteligência.
30:15Fazer pouco da nossa inteligência.
30:17Então, eu gostaria de chamar a atenção
30:19das pessoas para isso.
30:20Esse comportamento que algumas acham bonitinho,
30:23que podem achar um tanto quanto peculiar
30:26e achar lá a sua graça,
30:29isso resulta em problemas econômicos graves.
30:33E problemas econômicos trazem problemas sociais também.
30:36Especialmente no momento em que todas as forças econômicas e sociais
30:40precisarão ter tenacidade
30:42para se reinventarem, de certa forma,
30:45se reorganizarem
30:46e depois dessa pandemia,
30:49ou de passar desse ciclo pior da pandemia.
30:52A gente tem duas opções aqui.
30:54Ou o nosso comportamento econômico é em V,
30:56ou seja, estávamos no patamar,
30:58vamos reduzir e depois vamos conseguir voltar a esse patamar.
31:01Ou então vai ser uma ladeira.
31:04Inclusive com a possibilidade de que
31:06a nossa economia tenha uma derrocada ainda maior
31:09depois de passar desse ciclo.
31:11Se as nossas forças econômicas
31:13não tiverem condições para se reorganizarem.
31:16E, de novo, insisto nisso.
31:18Essas condições econômicas de reorganização
31:20têm que ser dadas prioritariamente
31:22pelo Poder Executivo Federal.
31:24E tem muita gente nas redes sociais
31:26que só entende ser contra ou a favor,
31:28defender ou atacar.
31:30E um governo, muitas vezes,
31:31precisa ter coesão e estratégia,
31:33como o senhor disse,
31:34para lidar com determinado problema.
31:36Então, a China é parceira do Brasil,
31:38parceira, inclusive, do governo Bolsonaro.
31:40A ministra da Agricultura, Tereza Cristina,
31:43votou lá, fez a pressão, a articulação
31:49para que fosse eleito o candidato chinês lá na FAO,
31:54que interessava ao Brasil naquele momento
31:56e que até irritou essa escolha do Brasil
31:58aos americanos.
32:00Depois, precisou fazer também uma diplomacia
32:02com os americanos para resgatar a sua parceria.
32:05O próprio Bolsonaro já se encontrou
32:06com o presidente da China
32:07e falou que a China estava dentro do futuro
32:10das relações com o Brasil, etc.
32:13E gera aí um superávit para o Brasil também.
32:16São mais de 30 bilhões de dólares
32:18de compra de produtos agrícolas brasileiros.
32:21E nada disso, citar nada disso,
32:24é defender o comunismo,
32:25é defender ditadura comunista.
32:27Não é nada disso, mas se você quer
32:29que seja investigada a China
32:31por responsabilidade de encobrir,
32:35alertar mal, dar orientação errada,
32:37não alertar a comunidade internacional
32:39dos riscos da pandemia no começo,
32:42é preciso haver uma articulação diplomática internacional
32:44entre vários países,
32:46talvez, provavelmente,
32:47capitaneada pelos Estados Unidos,
32:49que tem lá um relatório de inteligência
32:51sendo descoberto, entregue ao executivo
32:56com todos os dados, as informações
32:58do que aconteceu de errado,
32:59e aí se cobra, se investiga, se pune
33:02da maneira correta.
33:03Agora, um ministro do governo
33:05ficar fazendo acusação em rede social
33:07enquanto a outra ministra está lá
33:09fazendo negócio com o país,
33:11fica uma grande confusão.
33:12Felipe, na diplomacia a gente tem
33:15uma ferramenta que a gente chama
33:17de encapsulamento de crises,
33:20ou seja, nós garantimos que uma crise
33:22pontual com determinado país
33:25ela fique circunscrita ao tema daquela crise.
33:28Exato.
33:28Você trata, vou colocar numa cápsula,
33:31o nome já está falando,
33:32o governo Bolsonaro faz o contrário,
33:35ele amplifica, ele abre a cápsula
33:37e faz com que ela contamine
33:38todo o ambiente das relações bilaterais.
33:40É uma coisa absolutamente inacreditável
33:43e uma própria falta de coerência.
33:47Uma certa vez eu questionei
33:49o Ernesto Araújo a respeito disso,
33:50porque ele falava com tanta ênfase
33:52das ditaduras, que o Brasil
33:53não deveria apoiar as ditaduras e tal,
33:56ideologizando totalmente
33:58as relações exteriores brasileiras,
34:01indo ao contrário, inclusive,
34:02do interesse nacional.
34:04E aí eu perguntei sobre a proximidade,
34:05por exemplo, da família Bolsonaro
34:07com o ditador da Arábia Saudita,
34:08com a ditadura da Arábia Saudita,
34:10que persegue cristãos, inclusive,
34:12e que mata jornalista.
34:14Vamos ser claros aqui.
34:16Então, se o recorte que a gente vai fazer
34:19a partir de agora
34:20é países democráticos e países ditatoriais,
34:23que façamos esse recorte por inteiro,
34:25e não ao sabor de certas conveniências.
34:28E, ao mesmo tempo,
34:29a gente tem que lembrar o seguinte,
34:30que esses recortes nenhum país faz,
34:32porque seria uma diplomacia infantil.
34:35Seria uma diplomacia que não leva em conta
34:37ao interesse nacional.
34:39O interesse nacional tem que prevalecer
34:40em qualquer cenário.
34:43Não importa,
34:43o dinheiro não tem cheiro,
34:45não importa a avaliação
34:48que a gente possa fazer.
34:49É claro que há casos extremos
34:50e que são regulados,
34:52inclusive, pelo direito internacional,
34:54mas, fora desses casos extremos,
34:55nós temos que lembrar sempre
34:57o interesse dos brasileiros,
34:58do bem-estar do Brasil.
35:00E eu acho que esse é mais
35:01um efeito colateral
35:02que a gente tem
35:03nessa relação com o governo, Felipe.
35:05E eu pego aqui,
35:06inclusive,
35:07as minhas próprias declarações
35:08no início do mandato de Bolsonaro,
35:10que, apesar de não ter participado,
35:13obviamente,
35:13da eleição dele,
35:14nunca fiz campanha nem para ele,
35:15nem para qualquer outro candidato
35:17a presidente da República,
35:18nunca manifestei apoio
35:20a quem quer que fosse,
35:21nós estávamos com toda a boa vontade.
35:25E o que nós vimos
35:26foi uma sucessão de erros
35:28e, mais do que isso,
35:29a tomada de rumo
35:31completamente em dissonância
35:33com o que o Brasil esperava,
35:35com o que, de fato,
35:36era a expectativa.
35:38E aí, ao mesmo tempo,
35:40o que a gente vê
35:41é uma radicalização
35:42de um discurso
35:43que vê qualquer pessoa
35:45que faça qualquer tipo de crítica
35:46ao presidente
35:47ou às suas ações
35:48como um inimigo a ser abatido.
35:50Isso é extremamente contraproducente,
35:52isso é extremamente ruim
35:54para a nossa democracia
35:55e para a nossa economia,
35:57e para a nossa sociedade.
35:59Nós não avançamos
36:00do ponto de vista
36:01civilizacional ou econômico
36:03se nós considerarmos
36:05qualquer tipo de crítica
36:07ou qualquer tipo de
36:08adversário ou opositor
36:11como um verdadeiro inimigo.
36:14Eu lembro sempre
36:14que a Bíblia traz exemplos disso,
36:18aqueles que têm o poder
36:20sem qualquer tipo de contestação,
36:22e essas pessoas
36:25acabam se perdendo,
36:26porque elas se acham
36:27todas poderosas
36:28como se fossem
36:29verdadeiros deuses.
36:30E, mais do que isso,
36:33eu acho que
36:34a ponte
36:35para um regime totalitário
36:36a partir disso
36:37é muito curta.
36:39Então, nós temos
36:39que ficar muito atentos,
36:41porque, muitas vezes,
36:43inclusive,
36:43é usado um discurso
36:45de que quem critica
36:45o presidente
36:46ou quem critica o governo
36:47é contra o país,
36:49é contra a nação,
36:50como se aquela pessoa
36:52fosse ungida por Deus
36:54e encarnasse a pátria.
36:56Isso é um discurso
36:57extremamente perigoso
36:58que tem uma origem,
36:59inclusive, fascista.
37:00Eu evito essas ativações
37:02o máximo possível,
37:04mas é só a gente estudar.
37:05Inclusive, estou aqui
37:05com o livro
37:06Anatomia do Fascismo,
37:08que eu recomendo a todos,
37:09do Paxton,
37:10porque é isso.
37:12Nós temos que estar atentos, sim,
37:13em poder ser fiscalizado.
37:16E vem a acusação
37:17de que a qualquer crítica,
37:18a qualquer ressargo,
37:19você quer derrubar o governo,
37:20você se aliou ao PT,
37:22aquela coisa toda que acontece,
37:24mesmo quando o presidente,
37:27sem reconhecer,
37:28acata a crítica,
37:29porque muda o discurso
37:31depois da pressão que recebeu.
37:33Então, muda,
37:34se comporta como você estava cobrando,
37:37no entanto,
37:37a militância dele
37:38continua atacando
37:39quem cobrou
37:40que ele fizesse aquilo
37:42que considera,
37:43no meu caso
37:44e de outras pessoas,
37:45aquilo que era
37:46o comportamento correto.
37:47Mas entrando aqui
37:48no tema final
37:49da nossa conversa,
37:51deputado,
37:51queria falar um pouco
37:52de cultura,
37:52aproveitando que o senhor foi
37:53secretário de cultura
37:54do Rio de Janeiro,
37:56como é que o senhor vê
37:57que isso interfere
37:59em qualquer negócio
38:01que envolva aglomerações?
38:02A pandemia agora
38:04tornou muito difícil
38:06a vida dos donos de bares,
38:08restaurantes,
38:08dos artistas
38:09que dependem de shows.
38:11Então,
38:12como é que o senhor está vendo
38:12esse cenário?
38:13Pelas pessoas,
38:14inclusive,
38:15que o senhor conversa,
38:16a gente está vendo
38:16muitos artistas aí
38:17fazendo lives
38:18nas redes sociais,
38:19mas o que se projeta
38:20para os próximos meses
38:22para a vida dessas pessoas
38:24que dependem desses eventos?
38:26Esses setores,
38:27como você falou,
38:28a gastronomia,
38:29o setor turístico,
38:30a cultura,
38:31eles dependem de aglomeração,
38:32eles vivem por conta
38:33da aglomeração,
38:34então você determinar
38:35que não haja aglomeração
38:36é, na realidade,
38:37acabar com a própria razão
38:38de ser desses setores.
38:40O que a gente está
38:41tentando organizar
38:42é fazer com que eles
38:44tenham seus instrumentos
38:46já de financiamento
38:47habituais garantidos
38:48para o dia seguinte,
38:49porque se a gente tem
38:50um arrasamento total
38:52desses setores,
38:53a gente não consegue fazer
38:54como eu falei,
38:55que eles se reorganizem,
38:57que no dia seguinte
38:57eles voltem a produzir.
38:59Há uma série de atividades
39:00que podem ser feitas
39:02durante um período
39:03de isolamento,
39:05como, por exemplo,
39:06o trabalho de planejamento,
39:08de pesquisa,
39:09de roteirização,
39:11e eu acho que o governo
39:12tem condições
39:13de dar ferramentas
39:14para que esse trabalho
39:15prossiga.
39:17E quando a gente fala
39:17do setor cultural,
39:18por exemplo,
39:19Felipe,
39:19a gente não está falando
39:20só do artista,
39:21a gente tem que lembrar
39:21que tem toda uma cadeia
39:23por trás desse setor,
39:25desde os técnicos,
39:26o cara que cuida
39:27da iluminação,
39:28o cenógrafo,
39:28o cara que trabalha
39:29na bilheteria,
39:30os próprios restaurantes
39:32que vivem muito
39:32da área cultural também,
39:35porque o sujeito
39:35que vai ao teatro
39:36acaba indo jantar fora.
39:38Então,
39:38nós estamos falando
39:38de uma cadeia
39:39que está muito interligada
39:40e que ainda vejo
39:43carente de medidas
39:45governamentais
39:46mais assertivas.
39:47Eu sei que hoje
39:48tem uma live,
39:48por exemplo,
39:49do Ministro do Turismo
39:50com a Regina Duarte.
39:51Eu realmente espero
39:52que dessa live
39:53surjam
39:53algumas propostas concretas.
39:56Já no dia 17 de março
39:58eu havia mandado um ofício
39:59para a Regina Duarte,
40:00para o Ministro do Turismo,
40:01sugerindo algumas medidas.
40:03Nenhuma delas
40:03foi implementada.
40:04Todas elas diziam a respeito,
40:05como eu falei,
40:06a instrumentos que já existem
40:07nesse setor.
40:08Não se trata,
40:09não é hora de reinventar a roda,
40:11é hora de fortalecer
40:13mecanismos que já existem.
40:16O que eu espero realmente
40:17é que o governo
40:17esteja sensível
40:18a essas áreas
40:19e a esses setores também.
40:20E o que o senhor achou
40:21da escolha da Regina Duarte?
40:22Ela consegue articular ali,
40:25mesmo sendo patrulhada
40:27muitas vezes
40:28por essa turma
40:29da militância virtual,
40:30como a gente viu no começo,
40:32antes mesmo
40:33dela tomar posse,
40:34quando ela começou
40:35a fazer escolhas ali,
40:36que envolviam pessoas
40:38que tinham um histórico
40:40de diálogo
40:40com a esquerda.
40:42E aí,
40:42esse pessoal
40:43não gosta
40:45de que essas pessoas
40:46integrem o governo
40:47de maneira nenhuma.
40:49O senhor sabe,
40:49como secretário da cultura,
40:51que nesse meio artístico
40:53há muitas pessoas
40:54realmente de esquerda
40:55e é preciso dialogar
40:57com elas
40:58em relação,
40:59pelo menos,
41:00aos mecanismos em comum.
41:02Então,
41:02como é que o senhor vê
41:03a sobrevivência política,
41:06profissional
41:06da Regina Duarte
41:07nesse ministério?
41:09Eu mesmo tenho sido
41:10vítima disso,
41:10Felipe,
41:11porque,
41:12como você falou,
41:13qualquer pessoa
41:13que critica o governo
41:15agora virou de esquerda.
41:17Eu não faço parte,
41:18não tenho nada
41:19contra as pessoas de esquerda,
41:20ao contrário,
41:20ou tenho muitos amigos
41:21na esquerda
41:22e não acho nenhum
41:23demérito
41:24ser de esquerda.
41:26Acho até ridículo
41:26você falar isso,
41:27cada um tem a ideologia
41:28que tem,
41:31mas,
41:31quando eu me tornei
41:32ministro da cultura
41:34no governo
41:35que resultou
41:35do impeachment
41:36da Dilma,
41:38eu sofri muito
41:40críticas de pessoas
41:41da esquerda,
41:41fui perseguido
41:42literalmente na rua.
41:43Então,
41:44acho hoje engraçado
41:45quando eu vejo
41:46alguém no Twitter
41:47dizendo
41:47esse esquerdista
41:48do Marcelo Calero,
41:49acho graça,
41:50porque,
41:51alguns meses atrás,
41:53era justamente
41:54o contrário,
41:55mas,
41:55enfim,
41:56coisas de um Brasil
41:57pluralizar.
41:57Foi detonado pelos pedidistas
41:58por entrar no governo
41:59do Michel Temer.
42:00Eu citei aqui
42:01o senhor como secretário
42:02de cultura
42:03do Rio de Janeiro,
42:05porque foi ali
42:05um período maior
42:07do governo Temer,
42:08o senhor acabou saindo
42:09em meio
42:10àquelas
42:10acusações
42:12em relação
42:13a uma questão
42:14imobiliária
42:15de Salvador,
42:16Geddel Vieira Lima,
42:17no meio disso tudo.
42:19É bom até
42:19fazer as coisas.
42:21Pelas quais
42:22ele acabou
42:22condenado agora
42:23por improbidade
42:24administrativa
42:25e lembrando sempre
42:26que a raiz
42:27das minhas denúncias
42:29e as investigações
42:29foram aprofundadas
42:30e acabou se chegando
42:32ao bunker
42:33de 51 milhões
42:33de reais,
42:34dinheiro esse
42:35que vai ser usado
42:35no combate
42:36à Conavide
42:37por força
42:37de um pedido
42:38do PGR
42:39e mais do que isso
42:40descobriu-se
42:40que aquele edifício
42:41que ele queria
42:42que eu aprovasse
42:43lá no IPHAN
42:44era usado
42:45no esquema
42:45de lavagem
42:46de dinheiro
42:46que envolvia
42:47aquela montanha
42:49de 51 milhões
42:50de reais.
42:51Mas estou fazendo
42:51esse parênteses
42:51porque eu acho
42:53uma pena
42:54que novamente
42:55o olavismo
42:56queira ideologizar
42:59o trabalho
42:59da Regina Duarte.
43:00Eu acompanhei
43:01o início
43:01da gestão dela,
43:02tive a oportunidade
43:03de estar com ela
43:04falando sobre
43:04o setor do audiovisual,
43:05vi uma pessoa
43:06muito
43:07obviamente envolvida
43:10porque se trata
43:11de um segmento
43:11no qual ela atua
43:12já faz mais de décadas,
43:14ou já faz décadas.
43:16Exatamente,
43:17ela conhece por dentro
43:18e muito atenta
43:19às demandas,
43:20querendo aprender
43:21e querendo se interar
43:24de toda essa malha
43:25burocrática
43:26muito inerente
43:27à Brasília.
43:28Então,
43:29eu acho uma pena
43:30que agora
43:30queiram ideologizar
43:32essa postura dela
43:35e querer etiquetar.
43:37E a isso eu me referia,
43:38ou seja,
43:39eu vejo no Brasil
43:40hoje uma necessidade
43:42de você ser etiquetado
43:43o tempo inteiro.
43:44Então,
43:44se você fala mal
43:45do Bolsonaro,
43:46você é de esquerda.
43:48Se você fala
43:49bem do Guedes,
43:51você é de direita.
43:53Pelo amor de Deus,
43:54eu acho que nós somos
43:55muito mais do que isso,
43:56né?
43:56Essa tentativa
43:58de compartimentar
43:59as pessoas,
44:00colocá-las em determinado
44:02compartimento,
44:03isso na realidade,
44:05de novo,
44:06estigmatizar,
44:07isso faz parte
44:08de uma estratégia política
44:10para levar
44:12a permanência
44:12de certos grupos,
44:13certos grupos políticos
44:15que sobrevivem
44:16dessa polarização,
44:17que não têm
44:18uma criatividade
44:19e que não conseguem
44:21enxergar,
44:21além de etiquetas
44:23e de compartimentos
44:24onde eles se colocaram
44:26ou foram colocados.
44:27Pelo amor de Deus,
44:28eu acho que
44:28o país que tem
44:30o nível de desigualdade
44:32econômica e social
44:33que nós temos,
44:34que tem uma trajetória
44:35histórica tão pesada
44:36como nós temos,
44:37uma trajetória
44:38em pessoas que foram escravizadas,
44:40uma trajetória
44:41em que a desigualdade
44:42foi reforçada,
44:44inclusive em períodos
44:44recentes da nossa história,
44:46como foi na ditadura militar.
44:47Nós temos que olhar
44:49para além da caixinha,
44:51nós temos que buscar
44:52soluções criativas
44:53para esses problemas
44:53que são problemas
44:54centenários no país,
44:56sem o que nós nunca
44:57vamos avançar
44:58como civilização
44:59e nunca conseguiremos ter
45:00a segurança
45:01que nós queremos,
45:03o progresso econômico,
45:04o progresso social
45:05e, de novo,
45:07mais do que nunca
45:08é preciso lideranças políticas
45:10que tenham capacidade
45:11de fazer pontes,
45:12liderar o país
45:13para além
45:13de interesses
45:14mesquinhos,
45:15pequenos,
45:16eleitorais,
45:17que vêm
45:17a cada ciclo
45:18eleitoral.
45:21É isso aí,
45:21além de todos
45:22esses problemas velhos,
45:23temos problemas novos,
45:24reais e concretos
45:26que vão exigir
45:27muitas atitudes
45:28para além
45:29desse flaflu
45:30político e ideológico.
45:31Deputado Marcelo Caler,
45:32do Partido Cidadania,
45:33do Rio de Janeiro,
45:34muito obrigado
45:35por essa entrevista,
45:35por essa conversa,
45:37seja sempre bem-vindo
45:37aqui ao Antagonista.
45:39Muito obrigado a você,
45:40Felipe,
45:40parabéns pelo trabalho
45:41seu e dos seus colegas.
45:42Um grande abraço.
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