BYD usa frotas de navios para acelerar expansão, e Brasil é alvo principal; especialista comenta

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A chegada em massa da BYD ao Brasil marca uma nova fase no mercado automotivo. Milad Kalume Neto, consultor do setor, explica por que as montadoras chinesas estão dominando, como usam tecnologia, custo e logística a favor, e o que isso significa para o futuro da mobilidade elétrica no país.

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00:00A BYD tem usado uma frota crescente de navios de carga para acelerar a sua expansão no exterior com o Brasil como principal alvo.

00:09O carregamento do fim de maio foi o quarto da montadora a chegar ao país esse ano,

00:14totalizando cerca de 22 mil veículos, de acordo com cálculos da agência Reuters.

00:20Sobre essa invasão chinesa, vamos conversar com o Milad Calumi Neto, consultor do mercado automobilístico e de mobilidade.

00:27Boa noite, Milad, tudo bem?

00:29Turci, tudo bem, prazer estar aqui com vocês, boa noite.

00:32Obrigado, obrigado por ter vindo até aqui.

00:34Milad, antes de mais nada, o que no Brasil que está atraindo tanto o interesse das montadoras chinesas,

00:40além, claro, do tamanho do nosso mercado?

00:42Elas estão vendo potencial aqui para esse mercado de carros híbridos?

00:47Grande potencial, não somente no Brasil, como na América, toda a América do Sul.

00:51E aí a gente não pode esquecer também das restrições que o mercado norte-americano e o mercado europeu

00:56estão impondo as montadoras chinesas.

00:59Então, assim, a gente está num momento muito interessante.

01:02E se a gente conseguir analisar também no longo prazo, tem a questão do acordo Mercosul com a União Europeia.

01:08Que se tudo der certo também, a gente vai conseguir, se todos os astros estiverem alinhados,

01:13se estiver tudo certo, a gente vai conseguir exportar para lá a taxa zero.

01:16Então, é uma vantagem muito competitiva que o Brasil está se colocando.

01:20É um polo de produção que vai atender, com certeza, toda a América do Sul.

01:24Pois é, a gente já tem também algumas dessas montadoras chinesas abrindo suas próprias plantas aqui no Brasil também.

01:31Sim, sim.

01:32Todas as que estão vindo têm planos.

01:34É claro que você...

01:35Vai tudo depender do volume.

01:37Elas vão começar importando, depois elas vão começar com o CKD.

01:41E aí, dependendo da condição do mercado, elas vão para a produção local.

01:45Não há espaço para todo mundo.

01:47Isso é, considerando o mercado brasileiro como um todo, com as tradicionais, com as chinesas, com as novas entrantes,

01:52com absolutamente todo.

01:54Eu costumo brincar que é o seguinte, se todo mundo fala que vai cumprir a participação de mercado,

01:58o mercado deveria ter uns 160%, 170%.

02:00Não tem espaço para todo mundo.

02:02O mercado é único e é 100%.

02:04E é essa pizza que tem que ser dividida com todo mundo.

02:07A localização e a produção local aqui no Brasil, realmente, o brasileiro gosta muito disso,

02:15mas o caminho para isso é muito longo.

02:17E o que os veículos chineses trazem como diferencial, então, que preocupa tanto as outras montadoras?

02:23Bom, traz, primeiro, é uma questão de custo.

02:26Você tem uma verticalização dentro da indústria chinesa muito ampla, então você consegue reduzir custos.

02:32Eles foram muito inteligentes lá atrás em ter investido dentro dos elétricos

02:37e ter, resumindo bastante, abraçado toda essa indústria de baterias.

02:41Então, quem veio depois pagou toda a matéria-prima de uma forma muito mais cara.

02:47Então, eles conseguem produzir num valor que não se compete em nenhum outro mercado,

02:51nem nos Estados Unidos e nem na Europa.

02:53Então, o ponto número um é isso.

02:55Segundo, eles fizeram a lição de casa.

02:57Além de muito estudo, eles fizeram todo o trabalho de infraestrutura interna, de logística.

03:03Você vê os portos chineses são fantásticos.

03:05Então, você tem todo o processo de escoamento da produção deles via portos.

03:09Eles fizeram a lição de casa.

03:10Então, tem uma verticalização muito grande, tem um cuidado com os custos fantásticos

03:15e estão, realmente, como você citou, ainda em determinados nichos, mas estão dominando.

03:20Onde eles estão chegando, estão causando certo incômodo, certa preocupação dentro dos mercados.

03:27As outras montadoras estão correndo para enfrentar essa concorrência?

03:30Demais.

03:30Todas as montadoras...

03:31A gente está num movimento bem interessante, porque a gente escutava, dois, três anos atrás,

03:36todo mundo ia para o elétrico.

03:38Hoje, já nem tanto.

03:39Você tem uma série de situações que esse mercado deu um passo atrás.

03:43E mesmo países ou regiões ou determinadas cidades que já estavam implementando para

03:482032, 35, 100% de veículos elétricos, eles deram um passo atrás.

03:54Então, tem todo esse cenário que está impactando dentro do mercado de elétricos, mas os chineses

03:59vêm para ficar e, cada vez mais, a gente vai ver números crescentes de veículos chineses

04:03nas ruas.

04:04E não precisa falar nomes se você não quiser, mas tem montadora que vai sofrer especialmente

04:09mais essa concorrência dos chineses?

04:13Todas, né?

04:14Se você faz uma análise um pouco mais macro daquilo que já aconteceu, você já vê um

04:18ruído muito grande acontecendo desde o ano passado.

04:21Você tem uma competição muito grande e até...

04:26Eles vieram realmente com uma tecnologia muito forte, com itens de EIDAS, itens de segurança

04:32realmente para adequar.

04:35Diferente daquilo que a gente via de 20 anos atrás, eles estão com produtos muito satisfatórios,

04:40com design muito próprio, veículos urbanos, com uma tecnologia nova a preço competitivo.

04:46Então, assim, não tem como você evitar qualquer tipo de...

04:49E o brasileiro, especialmente falando do nosso país aqui, está gostando desse tipo

04:53de perfil de veículo.

04:55Então, a gente vai ter um ruído maior cada vez mais aí, com eles abraçando o nosso

04:59mercado cada vez mais.

05:00Em duas, acho que a gente pode chamar de grandes vantagens competitivas da China, o que eu

05:05queria pedir para você comentar.

05:07Bom, a primeira é o papel do Estado investindo forte lá no desenvolvimento de tecnologias,

05:11um grande responsável por ter induzido esse desenvolvimento todo.

05:14E o segundo, a própria natureza.

05:16Quer dizer, a gente tem falado, nesse contexto de guerra comercial, das terras raras.

05:20Então, elementos químicos que são fundamentais para a indústria de tecnologia em geral,

05:24inclusive para as montadoras.

05:25E eles estão ali em cima disso.

05:27Quer dizer, a China é a maior produtora de terras raras do mundo, tem as maiores reservas

05:32comprovadas do mundo e está ali para ela, não depende de outro para adquirir.

05:36E falando do mercado automobilístico, tem elementos que eles detêm 100% da capacidade produtiva

05:42no mundo.

05:42Claro que existem desenvolvimentos em outras áreas, mas assim, a grande massa ocorre na

05:47China.

05:47Então, eles estão com o monopólio completo.

05:49Algo que aconteceu ainda em 2009, com o protocolo que eles já assinaram, direcionando toda a

05:54indústria deles para ser eletrificada.

05:56E isso vem lá, final da década de 70, quando eles entenderam que a questão da eletrificação

06:02seria muito importante.

06:03Eles já dominavam toda a parte para a bateria de celular e se tornaram bem onipresentes nessa

06:08questão.

06:09E aí, simplesmente evoluíram para um refino um pouco mais na questão das baterias dos

06:14veículos.

06:14É um caminho sem volta e cada vez mais eles dominam toda essa tecnologia, dominam toda essa

06:19área.

06:20Tem a questão das terras nobres.

06:22Então, é uma situação que se desencadeia com outra e realmente os custos, a gente já

06:28citou aqui, os custos de quem tenta produzir dentro de uma Europa e dentro dos Estados Unidos

06:32são elevados.

06:33A questão do governo, a União Europeia entrou na OMC contra o mercado chinês, existe

06:41alguma questão, mas é um patamar muito inferior àquilo que de fato eles estavam pensando.

06:46Estavam pensando que seriam tarifas de 60%, 70%.

06:48Você vê as maiores por volta de 30% para conseguir entrar dentro do mercado europeu.

06:54Então, o discurso é bem diferente daquilo que a gente viu dentro da União Europeia.

06:58A infraestrutura para a frota eletrificada no Brasil, quer dizer, os eletropostos, seja

07:04em estradas, seja em áreas urbanas, como é que está a oferta disso hoje para as empresas

07:08olharem e se sentirem confortáveis para investir?

07:11Turc, é muito interessante.

07:13Eu sempre elogio muito a Bevetta fazendo um trabalho muito grande de divulgação disso.

07:18Ano passado teve um crescimento fantástico, hoje quem sabe está mais de 11 mil os números

07:22de postos públicos e semi-públicos, mas eu sempre faço uma ressalva.

07:27Por mais que esses números tenham mais do que dobrado de 2023 para 2024, quando a

07:32gente faz uma divisão número de carregadores por área do país, a gente está pior que

07:38o pior país europeu que a Letônia, nesse indexador.

07:43Aí você vira e fala, beleza, a gente tem aqui a questão da Amazônia, das áreas de

07:48baixa densidade demográfica.

07:49Vamos eliminar, a gente fica por volta de quatro vezes inferior ainda à questão da Letônia.

07:54Então a gente tem, vamos olhar o copo cheio, tem um caminho de desenvolvimento muito grande.

07:58E é muito simples, Turc, se ficar o bicho pega e se correr o bicho come, porque a gente

08:03precisa investir nisso.

08:04Porque se a gente não investir, a gente vai ficar atrás dessa tecnologia.

08:08E se a gente investir muito de forma desordenada, a gente pode ser que perca aí a mão e quem

08:14investir vai perder dinheiro.

08:15Então a gente está nesse momento bem conturbado dos análises, inclusive, dessa situação.

08:19Planejamento, né?

08:20Total.

08:21Milad Calumi Neto, consultor do mercado automobilístico e de mobilidade.

08:24Muito obrigado, Milad, pela gentileza da presença aqui.

08:26Eu que agradeço, Turc.

08:27Obrigado.

08:28Obrigado.

08:28Bom feriado para você.

08:29Para todos nós.

08:30Valeu.

08:30Obrigado.

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