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00:00Olá, bem-vindos e bem-vindas ao Ponto de Vista.
00:12O Diário de Pernambuco completou neste mês de novembro 200 anos,
00:17uma data histórica do jornal mais antigo em circulação na América Latina.
00:22E como parte das comemorações do bicentenário,
00:25o jornalista Enio Benin lançou o livro Diário de Pernambuco 200 Anos,
00:31um trabalho de fôlego com muita pesquisa.
00:34Por isso, hoje, o nosso convidado é o jornalista Enio Benin,
00:38que veio contar um pouco do que foi escrever esse livro.
00:42Enio, seja muito bem-vindo e obrigado por ter aceitado o nosso convite.
00:46Fernando, obrigado pelo convite, né?
00:47Porque sempre é importante a gente estar falando um pouco do nosso meio, da imprensa,
00:52e ainda mais o jornal, que não só é o mais antigo em circulação da América Latina,
00:58mas também do hemisfério sul, né?
01:01No hemisfério sul só tem o Diário de Pernambuco com tanto tempo em circulação.
01:05Antes da gente entrar no livro mesmo que você escreveu,
01:09eu queria te perguntar exatamente isso.
01:10Qual a importância, né, de a gente ter um jornal completando 200 anos?
01:15Isso é muito bom para todos nós, pernambucanos, né?
01:17Tudo. Eu classifico o Diário como o nosso maior patrimônio histórico que a gente tem,
01:23é o acervo do Diário de Pernambuco.
01:25Nas minhas pesquisas para fazer o livro, eu identifiquei que muitas teses de mestrado,
01:30teses de pós-graduação, de doutorado, têm o Diário como fonte de pesquisa.
01:35Então, daí você já vê a importância, né?
01:37Em várias áreas diferentes, área de cultura, área de política,
01:41em todas essas áreas as pessoas vão pesquisar no acervo do Diário, né?
01:44A atual direção fechou um acordo com a Universidade Federal
01:49para digitalizar esse material em qualidade
01:53para que facilite ainda mais essas pesquisas da gente que escreve livros
01:57e também quem está na universidade fazendo seus estudos, né?
02:01A gente teve, Enio, no início do mês, uma festa para comemorar esses 200 anos.
02:06É um fato que realmente a gente deve comemorar, né?
02:09Eu lembro que o Globo fez 100 anos agora, né?
02:12O Diário de Pernambuco já está com 200.
02:13Então, a gente está rodando até algumas imagens aí da festa.
02:18Foi importante essa celebração, né?
02:21Essa é outra marca do Diário de Pernambuco,
02:23são essas festas que viram eventos da cidade.
02:27Foi assim no centenário, em 1925.
02:30Foi assim no Sesc Centenário, em 1975.
02:35E agora, nos 200 anos, mais ainda.
02:37Então, esses eventos mobilizam a sociedade
02:40para mostrar a importância do diário, né?
02:43A gente teve também, no dia 7, a abertura da Cápsula do Tempo,
02:50lá no Instituto Arqueológico.
02:52Foi uma cápsula que foi guardada na década de 1920,
02:56com a determinação de quem criou a cápsula
02:59de só ser aberta nos 200 anos.
03:01Então, foi um evento que lotou o Instituto Arqueológico
03:06de pessoas curiosas de saber.
03:08Quando se abriu, descobriu lá tinha jornais,
03:10edições antigas do Diário de Pernambuco,
03:13a edição comemorativa do centenário.
03:15Então, é bom porque a gente vê,
03:18num momento desse,
03:19a importância do trabalho da imprensa, né?
03:21Agora, vamos falar propriamente do livro, né?
03:25Que é um livraço.
03:26Eu tenho ele aqui.
03:28Para escrever um livro desse,
03:29em primeiro lugar, eu imagino que você
03:31precisou ser um cara muito organizado, né?
03:34Porque são 200 anos que você tinha que pesquisar.
03:38A gente está falando de dois séculos, né?
03:42Qual foi o método que você usou para escrever o livro?
03:45Primeiro, a gente, num grupo de pessoas,
03:47definiu quais assuntos iriam entrar.
03:52Esse era uma lista fria.
03:54Depois, com essa lista,
03:55eu comecei a fazer as pesquisas, né?
03:57Então, a gente ia definindo
03:59o que é que devia entrar
04:00e o que é que devia ficar de fora.
04:02Eu adotei alguns critérios.
04:04Por exemplo, assuntos que tenham sido tratados pelo Diário,
04:08assuntos nacionais, locais,
04:10que tenham sido coberturas importantes do Diário.
04:13Outros fatos em que o Diário se envolveu diretamente
04:17enquanto jornal, né?
04:19E os fatos que, digamos assim,
04:23internacionais, como guerras mundiais,
04:26tragédias, epidemias.
04:29Então, assim, esse foi o critério que eu adotei.
04:31Esses três grandes ramos da cobertura.
04:34Agora, Enio, você tem uma história bem simbólica,
04:37que você fala até logo na introdução do livro,
04:40que é uma...
04:41Estou pensando aqui na história que você contou,
04:43do seu avô, logo na introdução.
04:46O seu avô que quis...
04:49Foi quem primeiro fez você ler o Diário de Pernambuco,
04:52com mais frequência, né?
04:54E ele quis que você guardasse uma edição de 1975,
05:00quando o Diário fez 150 anos.
05:02Meu avô paterno, João de Deus Bening,
05:05foi quem me estimulou a ler,
05:06a gostar de ler.
05:08E o Diário de Pernambuco era um desse mês.
05:09Foi onde, junto com as histórias em quadrinhos,
05:12foi onde eu aprendi a ler, foi com o Diário.
05:13Então, eu gostava de duas áreas do jornal nessa época,
05:18que eram as tirinhas, né?
05:20Que tinham do Fantasma, a Brukutu.
05:22Você tinha nove anos, né?
05:23Nove anos.
05:24E aí, o meu avô, ele pegou essa edição do Sesc Centenário,
05:28dos 150 anos,
05:29e escreveu em cima para Enio, o Lins Bening,
05:33dizendo que, quando o jornal completasse 200 anos,
05:37e eu teria 59 anos de idade,
05:39que eu comparasse as duas edições.
05:41Ele jamais imaginaria...
05:42Meu avô morreu em 78,
05:45que eu, posteriormente, trabalhasse no Diário,
05:48porque eu trabalhei no Diário de Pernambuco
05:49durante oito anos,
05:50entre 1990 e 1998.
05:54Passava pela cabeça de João de Deus,
05:56que eu chamava de Dudu,
05:57era o apelido dele,
05:59que eu fosse trabalhar no Diário,
06:02e depois, por uma coincidência,
06:04escrever o livro dos 200 anos, né?
06:07Que foi uma coisa que aconteceu,
06:08que não estava prevista,
06:09porque eu iniciei esse ano de 2025
06:12sem saber que iria fazer esse trabalho.
06:15O livro foi lançado no dia 7 de novembro,
06:17que é a mesma data, né?
06:19Foi uma sexta-feira,
06:20a mesma data do primeiro número do Diário de Pernambuco, né?
06:23Como foi lançar esse livro, Enio?
06:26A gente tem até...
06:27Enquanto você vai respondendo como foi lançar,
06:29a gente vai soltar algumas fotos desse dia do lançamento aí.
06:32Foi muito bom,
06:34porque a gente fez uma mesa redonda
06:36com a participação de
06:38Ângelo Castelo Branco,
06:40que foi...
06:40que trabalhou comigo no livro,
06:42de João Alberto,
06:43que todos conhecem, né?
06:44João Alberto é um patrimônio do jornalismo pernambucano
06:47e do Diário de Pernambuco.
06:48Eu até brinquei com ele no dia,
06:50porque ele começou a trabalhar no Diário em 1966,
06:53que foi o ano que eu nasci, né?
06:55Por aí você vê.
06:56Então, ele contou histórias.
06:57Ângelo contou histórias também.
07:00Ricardo Novellino,
07:01Fernando, que trabalha no...
07:03Todas essas pessoas participaram dessa mesa redonda.
07:06E eu assinei livros para um público variado de pessoas,
07:10tanto de pessoas estudiosas,
07:12pessoas ligadas à área de história e da área de jornalismo,
07:15como pessoas que realmente ficaram interessadas,
07:18porque o Diário de Pernambuco é uma marca muito forte, né?
07:22Talvez, ao longo da história de Pernambuco,
07:25não tenha tido um jornal com uma marca tão forte.
07:28O fato de você ter o nome do Estado no jornal,
07:31isso dá uma força também ao jornal, né?
07:33Então, foi...
07:34O lançamento foi muito interessante por esse aspecto.
07:37Agora, Enio, como foi que surgiu o Diário de Pernambuco, né?
07:41A gente tem aqui,
07:43numa das primeiras páginas logo do livro,
07:45a gente tem a reprodução do número 1, né?
07:49Do Diário de Pernambuco.
07:51Então, era um folheto, né?
07:54Praticamente.
07:55E era uma coisa só de anúncios.
07:57É só de anúncios, focado em anúncios, né?
07:59O fundador, Antonino José de Miranda Falcão,
08:03ele tinha envolvimento, ele teve envolvimento com a Confederação do Equador,
08:07um ano antes, né?
08:08E estava desejando fugir um pouco dessa parte política, né?
08:12Focando num jornal que tivesse anúncio.
08:15Ao longo do século XIX e do século XX,
08:18a gente viu talvez centenas de jornais surgirem e desaparecerem.
08:22E o Diário conseguiu permanecer durante esse período todo, né?
08:26O Antonino, ele ficou no jornal até 1835,
08:31quando ele vendeu para Manuel Figueroa de Faria.
08:35Esse Manuel Figueroa, ele já editava livros,
08:37livros inclusive...
08:38Ele tinha um perfil conservador,
08:40mas ele editava livros liberais, né?
08:43De autores franceses.
08:45E ele dá um grande impulso ao Diário de Pernambuco
08:48durante o período em que ele e a família ficaram à frente do Diário de Pernambuco.
08:53O Diário passou por grandes reformas, aumentou de tamanho,
08:57começou a diversificar as fontes, as letras utilizadas no jornal,
09:02começou a ilustrações, os anúncios começaram a ter ilustrações.
09:06Essa família fica à frente do jornal
09:09durante praticamente todo o Segundo Reinado
09:12e até o início da República, né?
09:17A década de 1890.
09:19No início do século XX, 1901, o jornal estava em dificuldades,
09:24o jornal termina sendo leiloado, né?
09:27E é adquirido pelo famoso conselheiro Rosa e Silva, né?
09:33Que começou, digamos, a utilizar o jornal de uma forma mais política, né?
09:38Na época, o conselheiro Rosa e Silva
09:40era a principal liderança conservadora de Pernambuco,
09:44tinha alcunha de vice-rei do Norte,
09:47para você ver, por causa da influência que ele tinha em nível nacional, né?
09:51Chegou a ser vice-presidente da República.
09:55Então, pode perguntar.
09:56Qual foi a maior dificuldade que você teve
09:59para selecionar num material tão vasto, né?
10:03Você estava pesquisando em cima de 200 anos de jornal.
10:05O que é que você priorizou, procurou priorizar e deixar de lado também?
10:11O critério principal que eu adotei foi o que o jornal publicou sobre aquele assunto, né?
10:19Se o jornal deu uma grande cobertura sobre aquele assunto,
10:22eu vou colocar no livro.
10:23Se o jornal teve um envolvimento direto naquele episódio,
10:27eu vou colocar no livro.
10:28E grandes fatos de repercussão nacional e internacional.
10:33Tragédias, guerras, eleições, né?
10:36Esse foi o critério.
10:37Alguém já disse que escrever é cortar palavras.
10:40No meu caso, foi cortar episódios históricos, né?
10:44Eu produzi, ao final do meu trabalho,
10:48um material que daria mais um livro de 150, 100 páginas.
10:53Porque eu preferi escrever mais...
10:55E cortar depois.
10:56Cortar do que ficar faltando material, né?
10:58O que era impossível, porque 200 anos é um período muito longo.
11:03Então, eu acrescentei a esse trabalho de pesquisa no jornal,
11:07a bibliografia.
11:09Eu consultei cerca de 40 livros de temas variados
11:13sobre século XIX, século XX,
11:17para enriquecer o texto que eu ia publicar.
11:20Então, por exemplo, tem um episódio importante do século XIX,
11:24que é a visita...
11:25Era a minha próxima pergunta, a visita do Dom Pedro II.
11:28Dom Pedro II a Pernambuco.
11:30Então, eu fui pesquisar o diário do imperador
11:35e pegar detalhes, porque o jornal, ele não dava detalhes.
11:39Ele dava o oficial da programação.
11:43Mas ele registrou a presença do imperador.
11:46Existe uma foto que está no livro da chegada do imperador e da família aqui.
11:54Mas aí eu tinha que aprofundar.
11:56Tinha que ir além do que o jornal publicou.
11:59E aí eu consultei o diário da viagem que Dom Pedro fez,
12:04não apenas a Pernambuco, mas a outros estados da época do que se chamava...
12:07O diário do próprio imperador.
12:09Do diário pessoal do próprio imperador, que depois foi publicado.
12:13Então, eu fiz isso com relação a diversos episódios,
12:17proclamação da república, abolicionismo,
12:20e também os episódios do século XX também.
12:25O diário cobriu as grandes tragédias desde o século XIX.
12:29E entre essas grandes tragédias, pelo que eu já foliei aqui no livro,
12:34estão as enchentes.
12:36Você fala de duas enchentes no século XIX.
12:39Uma de 1842, outra de 1854.
12:45Que destaque esses eventos, essas enchentes tiveram no diário?
12:51Essa é uma coisa interessante, a questão das enchentes,
12:53porque é um problema que a gente continua enfrentando.
12:55Sempre provocadas pelo rio Capibaribe.
12:59É, pela fusão dos rios de uma cidade que, digamos, é de alagados.
13:04Exato.
13:04Então, a cheia de 1854, ela teve tanto impacto do ponto de vista de cobertura,
13:12quanto a cheia, que, digamos, é mais contemporânea,
13:16que é a cheia de 1975.
13:18Durante muito tempo, essa cheia de 1854, ela foi falada,
13:22porque ela destruiu várias obras, deixou muita gente desabrigada.
13:26Então, o impacto dela no século XIX foi tão grande quanto a de 1975 no século XX.
13:35Muito bem, Enio.
13:36A gente vai continuar falando do livro, mas a gente vai fazer agora um breve intervalo.
13:40Você que está assistindo, não saia daí.
13:42A gente volta já já.
13:43Estamos de volta.
13:55Hoje, o Ponto de Vista recebe o escritor e jornalista Enio Benin,
13:59que acaba de escrever um livro sobre os 200 anos do Diário de Pernambuco.
14:04Enio, no livro, você destaca também que o Diário demorou a aderir ao abolicionismo.
14:11Era um jornal conservador e não tinha muito engajamento nessa luta pela abolição da escravatura.
14:18O jornal, o Diário de Pernambuco, ao longo do século XIX e do século XX também,
14:23sempre esteve mais alinhado com as forças mais conservadoras.
14:26No caso de Pernambuco, no século XIX, era o setor da cana-de-açúcar,
14:32que utilizava a mão de obra escrava.
14:34Então, o jornal resistiu, resistiu, até quando era inevitável, tinha muita pressão.
14:41E o jornal, já nos anos finais da campanha abolicionista,
14:46foi que o jornal começou a defender e a publicar artigos em defesa do abolicionismo.
14:54Joaquim Nabuco, que foi, digamos assim, uma das figuras chaves dessa campanha,
15:01quando ele faleceu, no início do século XX, o jornal deu uma grande cobertura.
15:07Então, o jornal, de uma certa forma, se adequou a essa realidade,
15:11da mudança de cenário pró-abolicionismo.
15:15Vamos continuar no início do século XX, porque o jornal mudou de dono
15:20exatamente nesse período aí, 1910, 1911, mudou de Rosa e Silva para quem?
15:28Carlos Benigno Lira.
15:31E com essa mudança de Rosa e Silva para Carlos Benigno Lira,
15:36quais foram as mudanças em termos de política?
15:39O jornal passou a se posicionar de outra forma ou continuou conservador?
15:43Como é que foi?
15:43Voltar um pouquinho para a própria eleição de 1911.
15:47Em 1911, você teve um embate histórico,
15:52que foi o conselheiro Rosa e Silva contra o general Dante Barreto.
15:56Dante Barreto, na oposição, ele era ministro da guerra,
16:01de Hermes da Fonseca, do presidente da república,
16:04e foi convocado pela oposição pernambucana para ser candidato.
16:07Candidato a presidente da província.
16:09Da província.
16:09Que era o governo do estado.
16:11O governo do estado.
16:11E Rosa e Silva ganha a eleição, mas não leva.
16:16O diário, inclusive, eu reproduzo no livro a capa do diário
16:19dizendo o resultado da eleição.
16:21Como os militares estavam ao lado de Dante Barreto,
16:24eles não aceitaram o resultado, fizeram uma recontagem
16:27e deu a vitória para Dante Barreto.
16:30Nesse intervalo aí, na época, quem trabalhava no diário de Pernambuco
16:34e era uma pessoa dos Rosa e Silva, era a Cis Chateaubriand.
16:38A Cis Chateaubriand, muito novinho.
16:40Ele era um dos cabeças do diário.
16:43Então, ele foi para esse embate contra Dante Barreto, contra os aliados de Dante Barreto.
16:47O jornal terminou saindo de circulação.
16:50O jornal ficou sem circular entre 1912 e 1913.
16:56Aí, em 1913, ele foi vendido para Carlos Lira.
16:58E, com Carlos Lira, o jornal teve um impulso muito grande de espaço para os intelectuais.
17:07O jornal também modernizou o prédio da pracinha do diário.
17:12O prédio ganhou aqueles andares superiores.
17:14E o grande, o auge, digamos assim, desse período do Lira foi o centenário de 1925.
17:25Quem organizou na época foi Gilberto Freire.
17:30Gilberto Freire, só abrindo um parêntese, ele começou a escrever muito cedo, com cerca de 18 anos.
17:37Ele foi estudar nos Estados Unidos e passou a colaborar com o diário,
17:42publicando textos que hoje estão reunidos num livro, falando sobre a cultura norte-americana.
17:48Quando ele volta ao Brasil, em 1923, ele vem trabalhar no diário.
17:54E é ele que organiza o centenário do jornal em 1925.
17:59As rivalidades políticas do Estado, elas passaram a ganhar mais destaque também na cobertura do jornal a partir dessa época?
18:09Normalmente, o diário sempre estava alinhado com quem estava no governo.
18:14De uma certa forma, isso era quase que natural.
18:17Nesse período daí, inclusive, nesse período com a família Lira.
18:23Quando tem a Revolução de 30, a Revolução de 30, os Lira tinham muita proximidade com quem foi derrubado do poder,
18:32afastado pela Revolução de 30.
18:34Em 31, eles terminam vendendo o jornal para o grupo Diários Associados, liderado por Chateaubriand.
18:41Esse é o período mais longo de um único proprietário à frente do Diário de Pernambuco.
18:46Ele começa em 1931 e vai até 2015.
18:53Como Diários Associados.
18:54Diários Associados, dia 6 de Chateaubriand.
18:56Ele transcende, inclusive, a própria morte do Chateaubriand, que acontece em 68.
19:02Então, foi o período mais longo de alguém à frente do jornal, foram os Diários Associados.
19:06E nesse período aí dos Diários Associados, mesmo aí ele continuou sendo um jornal conservador.
19:13Até você, antes da gente começar a entrevista aqui, você me falava das eleições de 86.
19:18Isso.
19:18Entre Miguel Arraes e José Múcio Monteiro.
19:21Digamos assim que o jornal nunca foi simpático à esquerda.
19:24Foi sempre uma posição mais conservadora.
19:26Com o Assis Chateaubriand, nos anos 60, por exemplo, eles fizeram campanha contra a doutora Raiz,
19:33da eleição de doutora Raiz.
19:35Apoiaram o golpe como a maioria, não foi o único.
19:37Os grandes jornais brasileiros, todos eles apoiaram o golpe militar de 64.
19:42Na eleição de 86, ele publicava as matérias sobre a Raiz.
19:46Eles deram uma cobertura grande, digna, na volta de doutora Raiz em 79, a volta do exílio.
19:53Mas em 86, havia uma simpatia maior pela candidatura de José Múcio, né?
19:59José Múcio, que hoje é o ministro da defesa do governo Lula.
20:02Que na época era o candidato do PFL contra a doutora Raiz, que disputou pelo PMDB.
20:07Então, havia uma simpatia, mas já era um outro período.
20:10A gente já tinha encerrado a ditadura, as coisas já estavam começando a mudar.
20:15E os próprios jornalistas, né?
20:18Digamos assim que os jornalistas, de uma certa forma, mesmo a partir, digamos, da abertura,
20:23eles começam, de uma certa forma, a quebrar esses muros que existiam de restrição à cobertura da oposição.
20:32Eu acho que desde o início, meados da década de 70, que isso começa a mudar no Diário de Pernambuco
20:38com os próprios jornalistas que, normalmente, tinham posicionamentos mais à esquerda do que a direção do jornal, né?
20:46Eu queria falar mais um pouquinho sobre Gilberto Freire, né?
20:48No século XX, com o diário já consolidado, né?
20:53Gilberto Freire, que tinha começado jovenzinho, como você falou, né?
20:56Falando da viagem dele aos Estados Unidos, voltou ao Brasil, lançou Casa Grande e Senzala em 33, né?
21:05E se tornou um dos intelectuais mais importantes do país, né?
21:10E foi sempre colaborador assíduo do Diário de Pernambuco.
21:14Como era essa relação de Gilberto Freire com o Diário de Pernambuco?
21:19É praticamente impossível você falar do Diário durante esse período que vai da década de 1920, digamos, até 1987, até a morte dele.
21:30Então, durante todo esse período, ele participou do Diário de Pernambuco como colaborador.
21:37E muitas vezes como personagem, né?
21:39Em 87, quando ele veio a falecer, o Diário publicou um texto dele após a morte.
21:48Ele tinha deixado um texto pronto para ser publicado e foi publicado após a morte dele.
21:53Então, ele continuou escrevendo no Diário mesmo após a morte, entendeu?
21:57Então, Gilberto Freire talvez seja o personagem mais ligado ao Diário durante esses 200 anos mesmo.
22:06Como foi que o Diário cobriu, Enio, os grandes eventos do século XX?
22:10Vamos lá, Copa do Mundo, Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial,
22:16O Homem na Lua, Chegada do Homem na Lua, como foram as coberturas do Diário?
22:22Tem uma cobertura interessante que está no livro, que é a da gripe espanhola, a pandemia da gripe espanhola.
22:29O jornal...
22:291918, 19, né?
22:31O jornal, na época, o jornal era governista e demorou um pouco para reconhecer que tinha uma doença séria acontecendo.
22:38Só que, com o passar do tempo, o próprio jornal começou a ser afetado com os funcionários ficando doentes.
22:45E o jornal não tinha como enfrentar a realidade, né?
22:49Começou a registrar a doença.
22:51Ao final da pandemia, Otávio de Freitas, que era o chefe da saúde pública de Pernambuco,
22:57que seria o secretário de Saúde, ele fez um estudo, uma coisa inovadora na época,
23:02um estudo sobre a pandemia em Pernambuco.
23:05E o diário publicou na íntegra esse material.
23:09A cobertura da Primeira Guerra Mundial também, já na gestão dos Lira,
23:14também foi uma cobertura grande, importante, com os principais eventos sendo cobertos.
23:19Durante a guerra e o pós-guerra, depois a ascensão do nazismo na Europa,
23:25o início da Segunda Guerra Mundial.
23:28Então, o jornal, à época, já era abastecido pelas agências de notícias internacionais
23:33e deu grande cobertura da Segunda Guerra, inclusive com um pouco...
23:38A gente aqui era a base militar dos Estados Unidos, no Recife.
23:43Então, o diário também acompanhava, você vai ver no livro também,
23:46eu conto um pouco de como foi essa Segunda Guerra Mundial aqui no Recife.
23:51E isso se repetiu nas eleições.
23:56Quando o Estado Novo cai, em 1945, o jornal se envolveu diretamente,
24:03muito por causa do posicionamento da C. Chateaubriand e do Diários Associados,
24:08que era a oposição de Getúlio Vargas.
24:10E o jornal se engaja na campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República.
24:16O famoso episódio que está no livro, que muita gente já ouviu falar,
24:20que é o assassinato do estudante de Direito Demócrito de Souza Filho,
24:25ocorreu na janela do Diário de Pernambuco,
24:28porque estava ocorrendo um comício no diário...
24:32Na redação.
24:34...pró-candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes.
24:37E lá estava Gilberto Freire novamente.
24:41Gilberto Freire ia discursar, porque muita gente não se lembra,
24:44mas Gilberto Freire foi deputado constituinte.
24:47Em 1946.
24:48Exatamente.
24:49Então, já estava se fazendo campanha e ele foi deputado.
24:53Então, ele ia discursar contra o governo de Getúlio.
24:56Até a chegada do homem à lua, como o diário cobrou?
24:59Essa foi outra grande cobertura do diário.
25:01A gente estava em plena Guerra Fria.
25:04De uma certa forma, era muito influenciado por uma visão pró-Estados Unidos.
25:09Então, o jornal passou semanas dando destaques.
25:14Publicou fotos, gráficos, tabelas.
25:16E quando teve o pouso na lua, ele botou lá como uma grande conquista dos Estados Unidos.
25:24Foi uma grande cobertura.
25:25Isso se repetiu também na cheia de 1975.
25:30O jornal também deu uma grande cobertura.
25:33Tem fotos históricas que são publicadas hoje pelo jornal e circulam na internet.
25:40Os estádios do náutico e do esporte alagados.
25:45Eram verdadeiras piscinas.
25:46Então, foi uma grande cobertura.
25:49Tem aspectos curiosos também.
25:52A questão da perna cabeluda.
25:53Então, tem dois textos do Diário de Pernambuco que falam da perna cabeluda.
26:01O primeiro foi publicado como uma reportagem final de 1975.
26:06E depois tem a famosa crônica de Raimundo Carreiro.
26:10Sim.
26:11Ainda no período da ditadura, ainda.
26:13Em 76.
26:15Em fevereiro de 76.
26:16Então, o Diário participou de episódios desses que estão agora no filme, que a gente está aí, o Agente Secreto.
26:23O Diário de Pernambuco é o jornal que aparece no Agente Secreto.
26:28Então, porque é o principal jornal durante muitas décadas.
26:31Enio, para concluir, eu queria que você falasse o que foi que significou para você escrever esse livro, contando a história do jornal, o Diário de Pernambuco, nesses 200 anos.
26:45O que foi que significou para você escrever esse livro?
26:48Fernando, primeiro, foi uma grande honra.
26:49Eu tenho ligações afetivas com o Diário.
26:53Primeiro, a história do meu avô.
26:55Depois, o período que eu trabalhei.
26:57Tenho amigos trabalhando lá até hoje.
26:59E que eu acho que o jornal, eu acredito piamente nisso, o jornal é o principal patrimônio histórico que a gente tem.
27:07É o jornal que conta a história.
27:08Muitas vezes, pode ser até uma visão mais conservadora.
27:12Mas vão estar lá as histórias contadas.
27:14Então, para mim, foi uma honra.
27:15Sabe?
27:16Digamos assim, é uma coroação dessa minha relação com o Diário de Pernambuco.
27:22Muito bem.
27:22Obrigado pela entrevista, Henrique.
27:24Obrigado, Fernando.
27:25E para você que acompanhou até aqui, obrigado pela companhia e audiência.
27:29A gente volta na semana que vem.

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