- 02/06/2025
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NotíciasTranscrição
00:00Olá, bom dia, bem-vindos e bem-vindas a mais um Ponto de Vista. Hoje nós estamos recebendo
00:14aqui um dos mais importantes cartunistas pernambucanos. Estou falando de Samuca Andrade,
00:21ou simplesmente Samuca, como é mais conhecido. Ele está completando agora em 2025, 40 anos
00:28de carreira. Samuca, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite. Seja muito bem-vindo.
00:33Olá, Fernando. Eu que agradeço. É um prazer estar aqui para falar de minha carreira,
00:39de quando comecei e de toda a história do cartunista, da charge da caricatura.
00:44Samuca, a gente, esses 40 anos de carreira que você está fazendo coincide um pouquinho
00:49com a minha carreira também. A gente começou quase na mesma época, né? Você talvez um
00:54ano antes, em 85, que você está fazendo 40 agora. Eu comecei em 86, trabalhamos até
00:59juntos, né? Numa experiência de jornal comunitário, né? Que o governo Miguel Arraes tinha na época
01:06e foi ali que a gente se conheceu, né? E agora você está fazendo esses 40 anos de carreira.
01:13Como é fazer essa retrospectiva de 40 anos de charges, de cartuns, de caricaturas?
01:20Tá. Eu já desenhava desde pequeno, né? Eu sou filho de... meu pai pastor, minha mãe professora.
01:29Tiveram seis filhos. Eu sou irmão de cinco, eu sou o quarto. Meu irmão mais velho, com a diferença de 12 anos
01:35de idade, que já era cartunista, Clériston. E eu tive muita influência dele em casa. Minha mãe e a família
01:43dela, o pai dela, o pai dela, meu avô, gostavam muito do cinema mudo e minha mãe tinha uma... comprava muito gibis em revista em quadrinhos, que na época tinha um cesto de gibis em casa.
01:57Então, eu aprendi a ler com o Maurício de Souza e a minha formação, assim, do quadrinho, da leitura, do cartun e da charge foi já desde pequeno, né?
02:12Você aprendeu a ler com o Maurício de Souza a Turma da Mônica, né?
02:16A Turma da Mônica. E aí gostava muito de desenho animado também, já gostava de desenhar e por influência de meu irmão.
02:23Então, tinha dois irmãos que desenhavam, eu costumo até, a gente brinca lá em casa, né?
02:27Que quem não seguiu a carreira de artista, nem de cartun, foi o único que conseguiu ter uma casa com piscina.
02:34E nós artistas, assim, temos a alegria de trabalhar com o que gostamos.
02:41E eu fui para o interior, por meu pai ser pastor, ele era convidado para trabalhar em outros lugares e saiu de Camaragibe.
02:52Camaragibe, onde ele tinha, a gente morava na Boa Vista, ele é pastor da primeira igreja batista de Camaragibe.
02:58De lá ele foi para Juazeiro da Bahia, depois para Araripina, isso na década de 75, 76, 77, eu tinha 11, 10 anos.
03:09E por minha mãe ser professora, ela tinha todo um material, um arsenal em casa, que era um mimeógrafo, e rodava a prova.
03:16E aí eu aproveitava, comprava papel e usava o carbono e fazia revista e quadrinho, álbum de figurinha.
03:23Já era um empreendedor com 5 anos, fazendo desenhos e vendendo na escola.
03:29Para comemorar esses 40 anos de carreira, você está lançando esse livro aqui, né?
03:35O Fino Traço de Samuca.
03:37Como foi que surgiu a ideia de fazer esse livro, que mostra charges, cartuns, caricaturas que você fez ao longo de muitos anos, né?
03:47Como foi que surgiu a ideia desse livro?
03:49Esse é um livro comemorativo.
03:50Eu já publiquei um livro de cartun, esse, o Sem Palavras.
03:57O Sem Palavras foi um projeto do Funcultura, foi aprovado pelo Funcultura.
04:02E foi o meu, segundo livro de cartun, eu tinha publicado um independente, que é A Vida por Uma Linha.
04:08Foi um livro menor, pequeno, foi um livro feito muito rápido, quando teve um dos salões de humor aqui,
04:15que era Laílson, quem era o organizador do salão.
04:21E aí, para eu me apresentar, os cartunistas que vieram de fora, numa época que a internet ainda era muito devagar, escassa, começando ainda,
04:31o impresso era muito valioso para você apresentar o seu trabalho e o portfólio, né?
04:36Então, em um mês, eu criei um livro de cartun, chamado A Vida por Uma Linha.
04:41E aí, para a minha surpresa, foi premiado no primeiro prêmio, o HQ Mix, que é um prêmio de quadrinhos, cartuns da área,
04:52que a gente chama, costuma chamar do Oscar do quadrinho.
04:56Quem apresenta é Sérgio Grossman.
04:58Já o igual são os organizadores, é uma premiação em São Paulo Nacional.
05:03E aí eu fui premiado o melhor livro de cartun do ano.
05:06A partir daí, depois eu fiz um coletivo com Laílson, Cléreston, Miguel, eu e Ronaldo fizemos um livro de charge,
05:18foi também premiado no HQ Mix em 2021.
05:22E depois eu aprovei o Sem Palavras no Fundo Cultura, que também foi premiado no HQ Mix.
05:28Então, assim, nós aqui de Pernambuco temos uma escola, né?
05:33Uma tradição já, né?
05:34Uma tradição de cartun.
05:35E esse daí foi um livro também, produção independente, pela minha editora, mas que foi um livro para comemorar mesmo, né?
05:46Assim, eu nunca tinha feito, por exemplo, uma publicação de um livro de charge, só coletivo.
05:51Charge é muito difícil você lançar um livro de charge, porque ele é, a diferença da charge e do cartun, o cartun é atemporal.
06:00O cartun é uma piada gráfica.
06:02A charge é muito em função do momento, né?
06:04Do fato, da notícia.
06:05Aquilo que está sendo comentado naqueles dias, naquela semana, de repente, né?
06:11É em cima da notícia, ela é local, a charge pode ser global, mas se você fizer uma charge com o prefeito,
06:17ela pode não atravessar fronteiras, né?
06:19Sei lá, um cara ali, um leitor lá do Peru, da Argentina, pode ver a charge e não saber do que se trata.
06:26Quem é o personagem, do que é que está falando, né?
06:28Como você faz com o Trump, um personagem mundial com o Papa, então ela tem um reconhecimento global.
06:35Tem essa diferença da charge do cartun por conta disso.
06:38Você se expressa, não é, pelo desenho.
06:41O que é que é desenhar para você, se você tivesse que definir?
06:44Eu digo que a minha linguagem é um alfabeto, principalmente o cartun.
06:50O cartun, ele é muito facilmente compreensível em toda língua.
06:53Então, geralmente, a natureza do cartun é sem texto, mesmo quando tem um texto, é um texto pequeno, assim,
07:01não necessariamente tem cartun com balão, mas a natureza do cartun é uma piada sem texto.
07:08Então, ele é uma linguagem universal.
07:10O bom cartunista, Samuco, ele faz parecer fácil criar um cartun ou até uma charge política, né?
07:18Como foi que surgiu para vocês, como é que surgem essas ideias?
07:22Elas chegam, assim, no estalo ou alguém comenta alguma coisa e a partir dali você vê que dá para fazer algum desenho?
07:32Como é que surge a ideia de um cartun, uma charge ou até uma caricatura, às vezes?
07:37O cartun eu acho um pouco mais difícil do que a charge.
07:40Eu tenho realmente, assim, na minha veia de chargista, uma característica do jornalismo.
07:49Então, se você tem já o fato, fica mais fácil você saber aquele assunto que você vai criar, uma piada, uma crítica.
07:59Já o cartun, não, ele surge do nada.
08:01Você fica procurando, tem uma inspiração, uma ideia, alguma coisa.
08:05A gente costuma dizer que o cartun é mais poesia, é uma poesia desenhada, né?
08:09A gente selecionou o Samuca, mas termine o que você está dizendo.
08:13Não, então, aí já a charge, não, sei lá, o resultado de um futebol, você sabe o que vai fazer com aquele assunto no outro dia, né?
08:19Assim, o esporte na lanterna hoje, né?
08:21É muito bom você fazer uma charge com... é fácil.
08:24Ou qualquer um que estiver nessa situação, você pega, bota o mascote do time, né?
08:30O leão, o timboa, a cobra, com a lanterna já é uma charge.
08:34Nós selecionamos alguns desenhos seus, né?
08:37Vamos começar pelos cartuns, então.
08:39E a gente vai comentando em cima.
08:41Vamos soltar aí, olha, essa imagem aí, um cartun, né?
08:44E são cenas, como você falou, cenas do cotidiano, né?
08:49A gente pode ir rodando para a próxima, essa aí também, né?
08:53São imagens, se você quiser comentar alguma coisa em cima delas.
08:57É, são assim, a primeira, por exemplo, é uma mulher fumando e a caveirinha, né?
09:02A questão da saúde, né?
09:03A segunda é uma coisa mais inusitada, um cara, sei lá, num bar paquerando ou ele está ali...
09:14A ideia do cartun, por exemplo, eu posso pensar numa coisa, mas o leitor pode ver outra.
09:21Pode ver outra.
09:22É, então assim, é uma coisa que pode ser interpretada da forma como cada um vê, né?
09:28Assim, ele é muito rico por conta disso, né?
09:30Essa daí é um músico e, sei lá, Deus está dando lá a oferta.
09:35Ele tocou tão bem, né?
09:36A recompensa pela...
09:36A recompensa pela apresentação dele.
09:38Mas outro pode ver outra coisa, ter outra ideia em cima do que ele está vendo também, né?
09:43Samuca, mudou muito a maneira de desenhar, de quando você começou para agora.
09:47Você começou desenhando no lápis, papel, hoje você ainda desenha assim também, mas
09:53a tecnologia entrou, de certa forma, em todas as áreas.
09:57Imagino que também para vocês, desenhistas.
10:00Mudou muita coisa.
10:01Mas eu lembro que quando, já que a gente está falando de 40 anos de carreira, né?
10:05Quando comecei, que chegou a introdução do computador, por exemplo, eu levava a charge,
10:09é inacreditável você dizer isso para uma pessoa de menos de 20 anos ou menos de 25 anos, né?
10:15Eu levava a charge no jornal em 7 ou 8 disquetes.
10:20Então, isso aqui, já chegou o computador, mas a gente ia gravar, queria um digital, mas
10:25eu colocava esse suporte.
10:28Hoje é um pendrive, né?
10:29Por exemplo, hoje você manda pela internet, é muito mais rápido, né?
10:32Mas mudou muita coisa, né?
10:34A gente levava a charge no papel para o jornal, ia de carro, para ser fotografada.
10:39Aquela charge era fotografada e transformada num chamado fotolito para depois gravar a chapa
10:44para imprimir a charge, né?
10:46E hoje você pode mandar uma charge para o Japão, para o outro lado do mundo, em questão de segundos, né?
10:53A charge política, Samuco, a gente separou algumas charges também políticas para a gente comentar.
10:59Vamos soltar algumas imagens aí.
11:01Essa aí, por exemplo, eu achei sensacional, né?
11:04Fala da ditadura militar, né?
11:06É o militar passando o uniforme e o sangue ali descendo.
11:10Essa charge foi nos 50 anos, quando fez 50 anos do golpe, né?
11:14Que eles costumam chamar de revolução.
11:16E aí os militares estavam querendo comemorar e ficou aquela polêmica, se comemora, se não comemora,
11:22recebendo críticas, né?
11:23E eu fiz aí um general, se você tiver aposentado, mas ele era da época, passando a roupa para ir para essa festa, né?
11:31Só que a roupa saindo tudo que é...
11:33Saindo sangue pelos crimes cometidos.
11:35Pela tortura, pelos crimes cometidos.
11:37E essa charge foi menção honrosa no prêmio Vladimir Azog.
11:40Tem um anjo do Trump também, né?
11:42Vamos soltar para a gente poder comentar.
11:45Aí o Trump com essa tampa de vaso sanitário, né?
11:51Essa foi na primeira...
11:54No primeiro mandato dele.
11:55No primeiro mandato de Trump.
11:57E essa segunda aí dele foi nesse segundo mandato, quando ele ainda estava candidato, né?
12:02Que eu fiz ele no Elefante.
12:04É a próxima charge, né?
12:06Tem uma próxima aí do Trump?
12:09Essa daí.
12:09Essa daí.
12:10Ele com o cabelo de República de Banana, né?
12:13Ele com o cabelo de...
12:14Feito uma banana, né?
12:17Já já a gente volta com mais desenhos do livro.
12:20Mas eu queria voltar um pouquinho no tempo, Samuca.
12:23Como foi que o desenho entrou na tua vida?
12:26Você falou rapidamente que foi desenhando, mimografando alguns desenhos, fazendo histórias em quadrinhos, né?
12:33E falou rapidamente do Maurício de Souza, né?
12:37Os gibis tiveram uma grande influência, além do Maurício de Souza, algum outro gibi, alguma outra coisa que você fazia questão de acompanhar quando era criança ou adolescente?
12:49Os desenhos animados, Pantera Cor-de-Rosa, Mau Mau, Fred Flishton, eu ficava muito impactado com...
12:56O cenário da Pantera Cor-de-Rosa me influenciou muito, porque a Pantera Cor-de-Rosa é pouco traço e um cenário quase inexistente, mas que você mesmo desenhava, complementava esse cenário, né?
13:10Então, eu aprendi muito com isso.
13:12Fred Flishton, que era um desenho em 2D, eu ficava encantado quando Fred Barney ia correndo e a paisagem ia passando de fundo, era o mesmo desenho, a casinha passando várias vezes.
13:22Eu ficava pensando, como é fácil você criar uma ilusão para a gente, né?
13:28Que está correndo em alta velocidade, atravessando uma cidade com o mesmo desenho, né?
13:34Então, eles tinham uma técnica fantástica, né?
13:37Do desenho.
13:38E no gibi, além de... eu gostava de Recruta Zero, de Bolinha, Luluzinha, Maurício de Souza, claro, era muito...
13:46Na minha casa tinha muitos gibis de super-herói também, na época que minha mãe gostava, era Fantasma, Mandrake.
13:53E aí, um que me impactou muito, que eu acho que o que mais me influenciou no meu traço, foi Renato Canini.
13:59Renato Canini era um desenhista gaúcho e ele foi o primeiro a assinar, como brasileiro, a assinatura dele nos estudos Disney, né?
14:11Disney contrata vários desenhistas do mundo inteiro, mas a assinatura é Walt Disney.
14:15E alguns têm esse privilégio de assinar, e o Canini assinava as histórias de Zé Carioca.
14:21Então, quando eu ia na banca, eu procurava se era desenho de Canini.
14:25Quando eu via que era desenho de Canini, opa, eu comprava.
14:28E o que era incrível é que ali tinha muito cartoon na história em quadrinho.
14:32Ele fazia um pano de fundo, além de ter a história principal, que era Zé Carioca, Nestor, Rosinha, os personagens.
14:38Ele tinha um pano de fundo que era uma crítica social.
14:41Então, ele fazia charge cartoon, além da charge, numa linguagem muito subliminar,
14:46mas que era perceptível com o cenário que ele construía, fazer essa crítica, que era a realidade do Rio de Janeiro, né?
14:53Muito bem, Samuco, a gente vai fazer um rápido intervalo.
14:56Você que está acompanhando essa história, essa conversa da gente, fique aí.
15:00A gente volta já, já.
15:11Ponto de Vista está de volta.
15:17Hoje estamos recebendo aqui Samuca Andrade, cartunista pernambucano,
15:21que está completando 40 anos de carreira.
15:24Hoje, um pouco menos, Samuca, mas grande parte do campo de trabalho dos desenhistas,
15:29cartunistas, chargistas, eram os jornais impressos, né?
15:33Você teve uma experiência praticamente em todos os jornais aqui de Pernambuco, não foi?
15:39Isso, né? No começo da entrevista, trabalhei, tive o privilégio de trabalhar com você no primeira página, né?
15:45A primeira página era um jornal mural e eu fazia as ilustrações, que eram fotografias, ilustrações,
15:54jornal mural distribuído nas escolas.
15:56A partir daí, eu trabalhei no... fiz a primeira charge como profissional no Diga Olinda.
16:04Era um jornal semanal chamado Diga Olinda.
16:06Depois teve uma primeira folha de Pernambuco, antes dessa folha que existe hoje.
16:11Era um jornal preto e branco, acho que durou uns três anos.
16:15E eu trabalhei lá como ilustrador, como chargista, fazia tirinha, tinha muito desenho nesse jornal.
16:22Tirei algumas férias dos chargistas no Jornal do Comércio e depois trabalhei três anos,
16:28e depois 14 anos no Diário do Pernambuco, fazendo uma charge diária,
16:32revezando com outros cartunistas, colegas meus, assim.
16:36Era um espaço excelente.
16:39O espaço de um jornal impresso é muito nobre, sempre foi, porque é uma vitrine.
16:47Então, a gente, além de ficar conhecido na sua cidade, é uma referência.
16:52Hoje em dia, na internet, a diferença para a época do jornal impresso.
16:57E hoje é que um desenho surge, uma ideia viraliza, mas com poucos dias ele pode sumir do mapa.
17:07Um jornal impresso, não.
17:08Às vezes, o pessoal até levava para o trabalho uma crítica e colocava no mural,
17:12quando era pertinente, ou espalhava, ou arquivava, virava um documento também.
17:19Era um documento histórico.
17:20Um dia desse, eu fiz uma pesquisa no arquivo público e tive acesso aos jornais da década de 50.
17:25Fiquei impressionado como tinha ilustração, caricatura e charge.
17:29Como essa questão de charge, caricatura, cartoon, o Brasil é muito rico em talentos, né?
17:39Tem esses desenhistas, tem algum desenhista que te inspirou mais?
17:44Não só no início da carreira, como você já falou, de alguns,
17:49mas que são referências para você, que você admira muito?
17:52Olha, os de fora, o Saul Steinberg, o Samper, que é um cartunista francês, o Kino.
18:02Aqui no Brasil...
18:03O Kino é o criador da Mafalda, né?
18:05Da Mafalda, né?
18:06E é um excelente cartunista.
18:08Fora o livro da Mafalda, os livros de cartuns de Kino são excelentes.
18:13Ele tem umas coletâneas maravilhosas, né?
18:15Inspirou muitos cartunistas brasileiros.
18:17E aqui a gente tinha Bojalo, o próprio Ziraldo.
18:23E depois veio a geração Chiclete com Banana, né?
18:25Que foi Angeli, Glauco e Laerte, que influenciou muita gente, né?
18:30Eu ia correndo assim, ficava alucinado para comprar as revistas e colecionava, né?
18:36E era uma década muito boa.
18:39Na década de 80 e 90, foi o boom dos quadrinhos na banca, né?
18:43Hoje em dia está tudo na mão, no celular e virtual, né?
18:48Verdade.
18:49Samuco, vamos falar um pouquinho mais agora de caricaturas, né?
18:53As caricaturas são aquele desenho que, às vezes, só de olhar, você já sabe quem é o caricaturado, né?
19:01E muitas vezes, todo caricaturista tem um estilo próprio.
19:05Muitas vezes, a gente vendo uma caricatura, a gente sabe até quem foi o caricaturista,
19:10não só o caricaturado, né?
19:12Isso é muito interessante na caricatura, né?
19:15É, tem os chargistas que eles são...
19:18Eles fazem a charge a partir da caricatura, né?
19:22Eu posso citar até alguns, assim, como o Paulo Caruso, o Chico Caruso.
19:26O Paulo não está mais conosco, né?
19:28Mas tem uma obra excelente.
19:30São o clássico da caricatura.
19:33Então, eles fazem a caricatura e, a partir dessa leitura, dessa caricatura, vem a charge.
19:41Outros, é o contrário.
19:42Fazem a charge, a ideia e a caricatura é um componente, como é o meu caso e de vários outros, né?
19:49Nós não somos caricaturistas natos.
19:51E alguns que eu posso citar aqui, Batistão, que é um excelente caricaturista,
19:58Fernandes, que é aquela caricatura clássica.
20:01A gente usa a caricatura como elemento, né?
20:04Mas até, por exemplo, quando eu fazia charge na época do governo Dilma, como exemplo,
20:11eu passei praticamente o primeiro ano querendo acertar a Dilma.
20:16Até você fazer aquele boneco que vira um personagem seu, mas que você reconhece a Dilma.
20:22Mas se você olhar as primeiras Dilma que eu fiz, o cabelo era de um jeito,
20:25até ela ganhar uma forma e um formato e virar um personagem da minha charge.
20:30A gente separou algumas caricaturas suas também.
20:32Vamos rodar agora, para a gente comentar em cima.
20:35Aí o Alfred Hitchcock, né?
20:37São caricaturas mais minimalistas, né?
20:40Que são mais a minha característica de traço, pouco traço e para formatar o desenho, né?
20:46Vamos para a próxima.
20:49Aí o Capiba.
20:50Isso.
20:54Se você quiser fazer algum comentário em cima.
20:56Ariano Suassuna.
20:58É fácil caricaturar a Ariano?
21:01Ariano Suassuna, sim.
21:02Ariano Suassuna é fácil.
21:03Tem outros que nem tanto, né?
21:05Que você demora um pouquinho a achar, né?
21:08Mas o Ariano é bem característico, né?
21:10Assim, as expressões dele, né?
21:13Temos mais aí.
21:14Chico Sainz.
21:16Muito colorido.
21:18Essa é Liz.
21:20É Liz, isso.
21:21Como foi que você pensou nesse bolcão aí dela?
21:25Foi através da imagem mesmo, né?
21:27Das imagens dela.
21:27E assim, e aquela história.
21:29O que é que representa mais é Liz, né?
21:31O canto, a fala, né?
21:33A voz, né?
21:34Então, o bolcão tem que estar em primeiro plano, né?
21:38E além de também, Fernando, do espaço de charge, internet para você publicar, para quem quer.
21:46A gente, eu organizo aqui um salão de humor.
21:48E o salão de humor iniciou muita gente na profissão, né?
21:52Tem um cartunista, famoso caricaturista brasileiro da região ali.
21:57Ele era de Campina, de São Paulo.
22:01De Campina, de São Paulo.
22:02Ele, Dálcio, ele começou no Salão do Piracicaba.
22:06Quando ele ganhou o primeiro prêmio, foi convidado a trabalhar no jornal.
22:09Então, isso incentiva bastante.
22:11E a gente está organizando aqui o quarto salão de humor internacional.
22:16É o SIG, Salão Internacional de Humor Gráfico de Pernambuco.
22:19E nós estamos no quarto e vem cartunista do mundo inteiro.
22:25E é impressionante como o Irã, o Irã é um país que tem muita representatividade.
22:30Então, eu acho que como um país que vive uma censura, libera muito essa veia cômica e do humor
22:39como forma de expressão e de grito, não é?
22:42De modo geral, as violências estimulam muito a arte também, né?
22:48Porque você, através do humor, você denuncia aqueles problemas que os países enfrentam.
22:54E é muito forte a participação do Irã nos salões de humor, em geral.
23:01Temos mais duas caricaturas suas aí para a gente comentar em cima.
23:05Vamos ver.
23:07Aí a...
23:07Clarice Lispector.
23:08Clarice Lispector, né?
23:09Você lembra de quando fez esse desenho dela?
23:13Eu acho que faz uns três ou quatro anos.
23:17E qual foi a maior inspiração para dar essa forma?
23:19A máquina e o cigarro, né?
23:21Porque várias fotos que você, naquele imaginário, as fotos belíssimas, preto e branco, né?
23:27Aquela expressividade que ela já tinha no próprio olhar, né?
23:30A força dela, a força da poesia nela.
23:34Você via nas fotos, na maneira dela sentar, de se portar.
23:37Então, colar, toda exuberante, né?
23:40E a máquina que não podia deixar, né?
23:43Que era o instrumento de trabalho dela na época, né?
23:46Temos mais uma.
23:47Eu acho que é a última que nós selecionamos.
23:50Aí, Oliver Hard, o Gordo e o Magro, clássicos.
23:53Você deve ter feito a partir de alguma foto, né?
23:57Que são...
23:59Acho que tem até uma foto bem característica deles dois, assim, juntos, né?
24:03É, o Gordo e o Magro e Chaplin foi muita referência para mim, como cartunista, inclusive, né?
24:08Porque usavam muito a mímica, né?
24:10Então, a mímica está muito presente no cartoon.
24:13Então, eu me inspirei bastante nessa dupla e Charles Chaplin é um ícone, né?
24:18Samuco, a gente falou já de alguns caricaturistas que te inspiraram, alguns chargistas também.
24:25E eu tenho alguns nomes ainda que não falamos.
24:28Por exemplo, as cobras do Luiz Fernando Veríssimo, né?
24:31Que era uma tirinha de jornal e que teve um período grande, né?
24:37Você gostava das cobras do Luiz Fernando também?
24:40O forte era o texto, o forte era o texto, né?
24:42Sim.
24:42Nas tirinhas cobras.
24:44E nessa mesma época também era o Enfio, né?
24:47Sim.
24:48Então, o Enfio tinha o Fradim, tinha a Graúna, que era basicamente uma crítica social muito forte, né?
24:55Que na década de 70 e 80, isso foi bastante representativo, né?
25:00Esses dois, né?
25:01Assim, são os ícones do humor gráfico, né?
25:05E Jaguar?
25:06Jaguar é excelente, né?
25:07Jaguar, da época do Pasquim, Jaguar.
25:10Jaguar é hilário.
25:11Jaguar, você conhece ele pessoalmente, ele é uma figura por si só, engraçadíssima.
25:16Nani também, né?
25:18Nani fez o prefácio desse meu livro aqui.
25:21Nani faleceu na época da Covid, né?
25:23Ele pegou Covid.
25:24E Nani, eu acho que assim, Nani é impressionante como ele fazia de 5 a 10 chaves por dia.
25:30Era uma fábrica.
25:33Loredano.
25:34Loredano é um dos melhores caricaturistas do mundo.
25:36Assim, é impressionante o traço dele.
25:39E tem um traço característico que você identifica como um desenho dele, né?
25:43Isso, isso.
25:44A composição dele, a composição gráfica do Loredano é impressionante.
25:49Um outro que me chama muito a atenção é o Lan, né?
25:52O Lan.
25:52Que foi, que é italiano, né?
25:54Se não me engano.
25:55E foi durante mais de 30 anos caricaturista e chargista do Jornal do Brasil.
26:02Isso.
26:02E o Lan gostava muito do carnaval.
26:04Ele se encantou com o carnaval brasileiro, né?
26:08Ele desenhava as mulatas, né?
26:10Então ficou...
26:11Acho que ilustrou muito para bares e revistas, né?
26:14Os cartões do Lan.
26:15Sempre usando a indumentária do carnaval com pano de fundo.
26:20Eu vou mostrar aqui a capa desse outro livro.
26:23Você falou do Nani, né?
26:24Foi esse livro aqui que ele fez o prefácio.
26:26O livro é Sem Palavras e ele exatamente escreveu Sem Palavras no prefácio dele.
26:31Com C, com C.
26:33Sim, com C.
26:35Que é um livro também de desenhos.
26:37Foi...
26:38É mais antigo, lógico.
26:39Esse acabou de ser lançado, né?
26:41São desenhos que o Samuca fez também ao longo de vários anos e reuniu nesse livro aqui Sem Palavras.
26:51Samuca e o Laerte, que também tem um desenho bem característico.
26:58O Laerte é um dos maiores desenhistas e cartunistas, a Laerte, né?
27:02Ele, assim, tinha o Chiclete com o Banano e a revista.
27:07Depois virou Los Três Amigos, que eram Laerte, Angeli e Glauco.
27:12Eles desenharam juntos.
27:14E soube muito tempo depois que era Laerte que desenhava tudo.
27:18Desenhava pelos três.
27:19Tanto o personagem de Glauco, como o personagem de Angeli.
27:24E nos bastidores, o Samuca fez também caricaturas aqui, né?
27:29Fez a minha caricatura.
27:31Cadê aqui, Samuca?
27:33Olha aí.
27:35Vejam aí o que é que vocês acham.
27:37Podem julgar, podem dar as suas opiniões.
27:40Você que está assistindo ao ponto de vista.
27:43Qual o traço que eu tenho que você procurou valorizar mais, destacar mais, Samuca?
27:50Cabelo e os óculos.
27:51Cabelo e?
27:52E os óculos.
27:53Uhum.
27:55É, está parecido.
27:58Olha aqui de novo, gente.
27:59E a gente está chegando ao fim da nossa entrevista.
28:02Eu vou mostrar de novo aqui o fino traço de Samuca.
28:05O livro custa R$ 60,00 e pode ser comprado no site da editora www.euescrevaeditora.com.
28:14Você está vendo aí na tela.
28:15Samuca, muito obrigado pela entrevista.
28:18Foi um prazer ter você aqui no Ponto de Vista.
28:20Eu que agradeço, Fernando.
28:21Muito obrigado.
28:22Foi um prazer.
28:23E obrigado a você também que acompanhou até aqui.
28:26Obrigado por sua companhia e audiência.
28:28A gente volta na semana que vem.
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