O Documento JP analisa o Acordo de Paris e suas metas contra as mudanças climáticas. Além disso, também analisa a urgência climática e o papel de liderança do Brasil ao sediar a COP30 em Belém.
Assista à íntegra em: https://youtu.be/AEVAwEoyYqM
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00:00As lições de Kyoto mostraram ao mundo que, sem compromisso coletivo, o clima não espera.
00:06E depois de anos de avanços e recuos, uma nova geração de acordos surge com outro espírito, inclusivo, global e urgente.
00:18Duas décadas depois, na capital francesa, veio o compromisso global de limitar o aquecimento a um grau e meio.
00:24Em 2015, nasceu o Acordo de Paris. Desta vez, países se comprometeram a manter o aquecimento global bem abaixo de dois graus, buscando o limite de um grau e meio.
00:38O Brasil foi um dos principais articuladores. Thelma Krug é cientista e foi vice-presidente do painel do clima na ONU, o IPCC, e participou diretamente das negociações desse acordo.
00:49Ela lembra que o Brasil sempre foi respeitado pela capacidade de construção diplomática e pela base científica.
00:58A diplomacia brasileira sempre foi muito respeitada nas COPES.
01:03O Brasil sempre foi muito respeitado, não só dentro do G77 China, mas eu diria nas negociações mesmo.
01:13E eu ouvi muito, né, vários países dizendo que o Brasil tinha um preparo muito grande e tinha uma capacidade de negociação muito concreta.
01:24A cientista explica por que o Acordo de Paris foi um marco, mas também um teste de realidade para o mundo.
01:30Eu vejo que a gente avançou muito. Se nós não tivéssemos tido, por exemplo, o Acordo de Paris, o balanço geral que foi feito em 2023,
01:42do que havia sido alcançado até aquele ponto, se isso não tivesse acontecido, nós estaríamos com mais ou menos uma projeção
01:51e de estar numa trajetória de emissões que nos levaria a 4 graus Celsius de aumento da temperatura média global.
01:59Ou seja, hoje nós devemos estar, se pegar o agregado das contribuições que foram feitas de redução de emissões,
02:07hoje nós devemos estar por volta de 2,8.
02:09Não é o ideal, mas é melhor do que se nós não tivéssemos tido o Acordo de Paris.
02:14As NDCs são a base do Acordo de Paris, as contribuições que cada nação define para reduzir as emissões.
02:23Na teoria, elas representam um compromisso global com a redução.
02:28Na prática, poucos governos cumpriram o que prometeram.
02:32Cada, digamos, décimo de grau, se a temperatura sobe, se estabiliza em 1,6 graus Celsius,
02:39acima dos níveis médios da pré-revolução industrial.
02:43Então é esse o horizonte de tempo que a gente está usando como comparação.
02:48E cada décimo a mais, 1,7, 1,8, a gente vai se aproximando de 2 graus e as consequências são mais severas.
02:54O resultado é um planeta cada vez mais quente e uma corrida contra o tempo.
03:01Até agora, 29 conferências climáticas já foram realizadas pela ONU.
03:05Entre conquistas e frustrações, na prática, poucos cumpriram.
03:10A ciência tem sido clara.
03:12Cada relatório do IPCC deste ano mostra que o planeta já aqueceu cerca de 1,3 graus em 2025,
03:21em relação ao mesmo período pré-industrial.
03:24Mas o impacto não é uniforme.
03:27Em partes da Europa, da África e da Amazônia, as temperaturas já passam de 2 graus.
03:33Como explica o climatologista José Marende.
03:36Já tem estudos recentes nos Estados Unidos que mostram que na onda de calor de 2022 na Europa morreram como 60 mil pessoas.
03:44Ou seja, não é o fato de que a pessoa cai na cidade no calor, pum, acabou, não.
03:51É um efeito que as pessoas ficaram doentes, ficaram com internação hospitalar,
03:56particularmente os idosos, crianças, pessoas com doenças, coração, respiratórios.
04:01Muitas vezes esse calor vai acompanhado de seca e aí você tem os incêndios.
04:09Vem a fumaça que piora a situação.
04:12Então, eu tenho estudos que mostram realmente os impactos diretos na população.
04:16Ondas de calor, faz pouco, apareceu um estúdio de ondas de calor,
04:20dizendo que é um inimigo silencioso que mata mais pessoas.
04:25E antes, 20 anos atrás, se você procurava uma certidão de óbito,
04:30não aparecia onda de calor, aparecia doença respiratória, coração, mas agora já estão começando a aparecer essas informações.
04:38Então, já com onda de calor, podemos ter impacto direto na população, na saúde.
04:43E agora a janela está se fechando.
04:47A COP30 pede que os planos climáticos nacionais devem ser renovados e aprimorados a partir de 2025.
04:55Mais de 100 países deverão entregar suas novas NDCs.
04:59E as prioridades são claras.
05:01Triplicar a capacidade de energia renovável, dobrar a eficiência energética,
05:07restaurar ecossistemas e reduzir o metano.
05:10E para atingir a meta é preciso mudar a forma como produzimos, consumimos e financiamos energia.
05:18O Brasil tem uma das matrizes mais limpas do mundo.
05:22Mais de 80% da energia elétrica vem de fontes renováveis,
05:26mas continua aumentando as emissões pelo desmatamento, transporte, na indústria e na exploração de combustíveis fósseis.
05:33O desafio é crescer valorizando o que o meio ambiente tem a oferecer.
05:41Então, trazendo a natureza como um foco e sabendo que ela é até um terço das soluções,
05:48também entendo que vai ser um grande sucesso avançar nesse sentido.
05:52A importância de serem criadas ferramentas, mecanismos financeiros,
05:59para que realmente essa lacuna entre o que se promete e o que se efetivamente faz aconteça,
06:07parte muito do princípio de que existam mecanismos que possam financiar o que a gente chama
06:15da transição energética e da contribuição que a natureza tem para mitigar e adaptar a mudança climática.
06:25O mundo já vive uma revolução energética.
06:28A energia solar é hoje a mais barata em 70% dos países.
06:33O custo da eólica despencou 60% em uma década.
06:38E o hidrogênio verde surge como a fronteira tecnológica do século.
06:42O Brasil pode ser um dos grandes exportadores desse novo combustível limpo,
06:47aproveitando a capacidade renovável e a matriz híbrida.
06:52No Brasil, a transição depende de infraestrutura, capacitação e tecnologia nacional.
06:59Não é muito fácil para os países desenvolvidos, né, Patrícia?
07:04Porque a energia é um grande gargalo.
07:07E eles têm ali um lock-in da energia muito grande,
07:10ou seja, fazer toda uma substituição disso para energias renováveis,
07:16que é a meta que a gente tem.
07:19E para 2030 triplicar o volume de renováveis que a gente tem globalmente
07:26e dobrar a eficiência energética globalmente também,
07:30a gente vê que essas coisas estão avançando devagarinho.
07:33E em ritmo lento de investimentos, a transição energética deixa os impactos.
07:40A crise climática já gera perdas econômicas de centenas de bilhões de dólares por ano no mundo.
07:46No Brasil, tragédias como a do Rio Grande do Sul
07:49mostraram que a falta de adaptação pode custar décadas de desenvolvimento.
07:54Cada décimo de grau a mais é uma conta maior para o planeta, para a economia e para a vida.
08:02A prevenção é sempre melhor do que o enfrentamento da emergência.
08:11Se preparar, se antecipar, então ter redução de emissões por um lado,
08:14mas também estratégia de adaptação, avaliando riscos,
08:18então ter vendo quais são os riscos do percento,
08:20então a gente corre risco de mais enchentes, mais secas.
08:24O que é preciso fazer para reduzir a vulnerabilidade das nossas diferentes regiões,
08:30das diferentes cidades, da população brasileira.
08:34O Brasil é um dos poucos países do mundo com potencial para reduzir emissões
08:38e ao mesmo tempo gerar crescimento a partir da natureza.
08:42Mas o desmatamento ainda é o principal obstáculo.
08:46Nós precisamos dar uma grande escala para essa nova socioeconomia de floresta em pé,
08:52acelerar muito a industrialização e, lógico, um grande desafio.
08:58Combater o crime, o crime organizado.
09:03O crime organizado está atacando os biomas brasileiros há muitas e muitas décadas
09:08e, especialmente na Amazônia, nós temos que zerar o desmatamento,
09:15porque senão nós vamos passar do ponto de um retorno muito rapidamente.
09:19A cada hora, o Brasil perde o equivalente a 200 campos de futebol em floresta.
09:26São cerca de 9 mil quilômetros quadrados desmatados por ano na Amazônia,
09:32uma área maior que o estado de Sergipe.
09:35Essa destruição é o principal desafio para que o país cumpra as metas climáticas.
09:41Mas não só a proteção da floresta, mas também a restauração daqueles ecossistemas
09:49que foram devastados em algum momento,
09:52porque isso também contribui para capturar o carbono de atmosfera.
09:56E, por fim, a gente sabe que existem alguns lugares, não só da Amazônia,
10:01mas de outros ecossistemas que são críticos,
10:04que é necessário fazer algum tipo de produção,
10:07seja agricultura, seja pecuária.
10:09E, nesse caso, outro papel que a natureza tem é no ingerir o uso sustentável,
10:16a partir de técnicas de agricultura de baixo carbono,
10:21da integração da agricultura, pecuária e floresta.
10:25Enfim, são formas que a gente faz para proteger,
10:28restaurar e gerir de forma sustentável o solo.
10:32Mas o clima está mudando mais rápido do que a política,
10:35do que os investimentos e da ação.
10:38A crise climática não é futura, é presente.
10:42Menos água, mais perda agrícola, mais doenças, mais desigualdade.
10:47Eu não sou muito otimista que a gente não ultrapasse 1,5%.
10:54Mas eu sou otimista que talvez isso seja um choque de realidade,
11:00porque você vai começar a ter todos aqueles eventos extremos,
11:04muito frequentes, muito intensos, a gente já está sentindo na pele isso hoje.
11:08Segundo o Banco Mundial, cada dólar investido em prevenção
11:13evita até 7 dólares em perdas econômicas decorrentes de desastres climáticos.
11:19No Brasil, essa conta já chegou e é alta.
11:23Só a tragédia climática do Rio Grande do Sul, em 2024,
11:27gerou prejuízos estimados em mais de 30 bilhões de reais,
11:32entre infraestrutura, moradias e agricultura.
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