Como as Havaianas transformaram um resumo da brasilidade em ícone mundial da moda?

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As Havaianas nasceram em 1962 e se tornaram um dos maiores ícones do Brasil. De Kombis que cruzavam o país vendendo chinelos a colaborações com grifes, a marca construiu um império de borracha e estilo. Hoje, as legítimas não são apenas sinônimo de conforto, mas também de brasilidade sem esforço, presentes em passarelas internacionais, tapetes vermelhos e coleções de luxo.

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00:00Você talvez não saiba, mas a sandália mais famosa do Brasil tem alma nipônica.

00:08Sim, Senhor, lá em 1962, a Alpargatas se inspirou nas Zori,

00:14aquelas sandálias japonesas feitas de palha de arroz,

00:16e lançou um modelo de borracha que viria a revolucionar o país dos pés pra baixo.

00:24Nasciam as Havaianas.

00:26O nome? Uma viagem tropical.

00:28Havaianas veio da ideia de paraíso.

00:31Era pra remeter ao Havaí, a ilha dos sonhos, das ondas perfeitas, dos colares de flores.

00:38Mas o paraíso mesmo foi aqui, no Brasil, nas quebradas, nas praias,

00:42nas casas simples e nas passarelas internacionais.

00:47E se você acha que a marca sempre viveu de likes e embaixadores globais, segura essa.

00:53Em 1964, as Havaianas começaram a rodar o país de Kombi.

00:58Era o início da era dos vendedores viajantes, figuras quase níticas que cruzavam estradas de terra,

01:05enfrentavam calor de 40 graus e estacionavam suas Kombis em frente ao comércio local.

01:11A população corria, não só pra comprar Havaianas, mas pra ouvir as notícias da cidade grande.

01:17As sandálias vinham com cheiro de novidade e de asfalto quente.

01:22Recuse imitações. Exige as legítimas sandálias marca Havaianas.

01:27No começo só existia Havaianas azul e branca.

01:30Elas eram baratas, resistentes e vendidas em caminhões, feiras e armarinhos.

01:35Eram tão populares que nos anos 1980 viraram praticamente arroz com feijão.

01:41O Ministério da Fazenda incluiu chinelos na lista de produtos cipados, ou seja, com preço tabelado pelo governo,

01:49pra garantir que ninguém ficasse descalço, mesmo com a inflação galopante.

01:54A grande virada veio nos anos 90.

01:56A galera do marketing teve um estalo.

01:59Por que não transformar a sandália do povo num objeto de desejo?

02:02Nasciam ali as Havaianas top, coloridas, ousadas, com um sola de uma cor só.

02:09A marca começou a brincar com estampa, com tiras, com humor nos comerciais.

02:13Primeira vez no Brasil?

02:14Sim, sim.

02:15Rapaz, vamos adorar.

02:15O Brasil é lindo, mas não é tão bello como a Argentina.

02:19Baby!

02:20Ué, para de minhas Havaianas?

02:22Eu deixei ali com aquele cara.

02:25Havaianas, todo mundo usa.

02:27Era oficial, as Havaianas tinham deixado de ser só chinelo pra virar ícone cultural.

02:36Nos anos 2000, elas botaram pé no mundo.

02:40Kate Moss apareceu com uma, Gisele desfilou com outra.

02:44E as Havaianas pisaram em mais de 100 países, sempre com aquele jeitinho despretensioso

02:49de quem sabe que não precisa de salto alto pra chamar atenção, sabe?

02:57A ideia do valor simbólico, ela começou a prevalecer sobre o valor econômico, né?

03:01Então, esse reposicionamento não trata meramente de um reposicionamento via preço,

03:07ou seja, estabelecer um preço mais alto pro produto.

03:10Ao contrário, eu vejo nitidamente uma discussão de valor, né?

03:15Entendendo que os conceitos de valor e preço são conceitos diferentes

03:19e que se complementam na medida em que a estratégia se mostra bem-sucedida,

03:25como é o caso de Havaianas.

03:25Então, há um aumento significativo de preço daquele produto popular dos anos 60, 70 e 80.

03:33Esse aumento vai sendo gradativamente bem-sucedido na medida em que o valor percebido

03:39ele é incrementado dentro da estratégia que a Alpargatas, através das Havaianas, utilizou.

03:47E que poder é esse?

03:48É impossível não destacar o achado que é a bandeira do Brasil e botar a bandeirinha ali no cabedal do produto.

03:56É impossível não lembrar que naquele momento houve, talvez, uma conjunção astral muito significativa e improvável,

04:06dado que o que a gente está vivendo historicamente.

04:08Então, no final dos anos 90 até o 2000 e talvez até 2010, o Brasil viveu, o Brasil como um país, viveu um boom da sua imagem diante do mundo.

04:21Operamos a Olimpíada, Copa do Mundo, Capra da Economist.

04:25O país era realmente reconhecido como uma coisa espetacular.

04:30O destino para o qual as pessoas gostariam de vir conhecer.

04:34Então, esse destino turístico se materializou simbolicamente num pedaço de borracha chamado Havaianas.

04:44Usar Havaianas passou a simbolizar, portanto, mais do que proteger os pés ou mais do que as legítimas,

04:51passou a simbolizar um país livre, que gostava da vida ao ar livre, adorava estar na praia,

04:57que se representava simbolicamente a partir de um imaginário construído internacionalmente.

05:06Sabe o que acontece quando um ícone popular entende o seu próprio poder?

05:10Ele começa a andar por aí com companhias de peso.

05:13Porque se lá no começo Havaianas estacionava de Kombi na frente do armarinho,

05:18hoje ela divide espaço com grifes como Valentino, Dolce & Gabbana e Yves Saint Laurent.

05:23Quem diria que aquele chinelo que atravessava quintal de terra e beira de praia ia acabar nas passarelas?

05:33Pois é, as Havaianas que já foram consideradas coisa de pobre,

05:37por quem não entende nada de ícones culturais,

05:40hoje estão no pé de celebridades, modelos e fashionistas do mundo inteiro.

05:44Desfilaram na São Paulo Fashion Week, pisaram forte nos tapetes vermelhos mais chiques da Europa

05:50e, claro, viraram símbolo máximo da brasilidade sem esforço.

05:56Uou, do brasileiro de coração, do brasileiro de sangue.

06:01E do brasileiro que vai representar em Paris, mas que não chegou aqui caminhando sozinho.

06:06Mas não parou por aí.

06:08A marca entendeu cedo que estar no mundo não era só exportar sandália,

06:13era exportar estilo, alma e colaborações de resposta.

06:21Missoni, com seus zigzags glamurosos.

06:24Valentino, com Havaianas dignas de passarela.

06:27Saint Laurent, provando que elegância também pode ser de dedo.

06:31Dolce & Gabbana, porque até a Itália se rendeu ao samba do chinelo brasileiro.

06:37Ah, e até a Disney, porque quem não ama um toque de infância no meio da sofisticação?

06:44Cada collab virou item de colecionador.

06:48Um twist entre o luxo e o popular.

06:50Entre o design de passarela e a ginga da calçada.

06:54É o Brasil que deu certo nos pés.

06:56Quero 10 pares da vermelha.

06:58Eu quero tudo 39.

07:01Apesar de atravessar mercados e gerações,

07:05a Havaianas nunca perdeu a sua essência,

07:07porque ela parte de uma ideia de um produto muito funcional,

07:11muito simples, muito prático de usar,

07:13e que começa como um produto popular, de preço baixo,

07:16e graças a isso conquistou grande capilarização no mercado nacional,

07:21mas também investiu muito em marketing e em moda,

07:25também no desenvolvimento de produto,

07:27pegando carona num momento em que o Brasil tinha grande projeção internacional,

07:30e se posicionando e cristalizando a sua imagem junto com a desse estilo despojado,

07:36que o mercado exterior olha pro Brasil e procura no Brasil quando quer comprar alguma coisa.

07:42E é claro que o produto original é o que eles mais veem atrás, né?

07:45Aquela Havaiana com a parte de cima branca e a parte de baixo azul clara ou preta,

07:50mas a marca também foi muito esperta, muito rápida,

07:53e ir lançando outros produtos,

07:55tem toda uma grade de cor,

07:57senta na loja, é aquele arco-íris de Havaiana,

07:59uma delícia de ver,

08:00mas também ir criando outras linhas de produtos,

08:02como as alpargatas,

08:04as roupas também,

08:06tem toda uma linha de verão ali,

08:08também puxando pra esse estilo também,

08:10que vem junto com o produto.

08:12Então, como marca,

08:14ela funciona muito bem.

08:15Ao mesmo tempo, em trabalhar com o produto principal,

08:18que deve ser esse pilar de vendas deles,

08:20mas também oferecer um mix,

08:21oferecer todo esse conjunto de lifestyle

08:23que complementam essa ideia do que é brasilidade.

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