Maurício Moura, professor e sócio do Fundo Zaftra, detalha as exceções negociadas no tarifaço dos EUA, o impacto jurídico e político das tarifas de Trump e as perspectivas para setores como café e carne brasileiros. Com Vinicius Torres Freire, discutem também o efeito esperado na inflação e nas eleições americanas.
Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/
🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!
Siga o Times Brasil nas redes sociais: @otimesbrasil
📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:
🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais
🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562
🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube
🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings
00:00Vamos conversar agora com o Maurício Moura, professor da Universidade George Washington e sócio do fundo Zaftra.
00:07E o Vinícius Torres Freire participa aqui também da entrevista.
00:11Maurício, boa tarde para você. Obrigado pela gentileza aqui da sua participação.
00:15Maurício, como é que você avalia essa cara final do tarifaço para essa nova fase, então, a partir das novas tarifas que Trump anunciou ontem?
00:24Bom, boa tarde. Obrigado pelo convite.
00:26Bom, na verdade, nada é final aqui em Washington. A coisa está bastante fluida.
00:32É interessante vocês mostraram aí essas diferentes tarifas de diferentes países.
00:37E tem uma lição que já foi aprendida nesse processo todo, que na verdade todas as negociações aqui em Washington estão sendo baseadas na busca por exceção.
00:46E a gente tem percebido também que o maior êxito tem sido do lado das empresas.
00:51O setor privado tem negociado essas exceções. A gente pode enumerar diversos setores que têm tido êxito.
00:56O setor farmacêutico, o setor agora de aviação, no caso especificamente do Brasil, da Embraer.
01:03Ou seja, a gente está vendo uma movimentação que toda vez que a Casa Branca, de alguma maneira, é pressionada pelo setor privado, principalmente pelo setor privado americano,
01:10ela começa a recuar e aqui já se estabeleceu a sensação de que a negociação está nas exceções.
01:16E aí, obviamente, cada setor agora está fazendo o seu caso de por que o seu setor é especial,
01:22por que o seu setor merece uma tarifa mais baixa, por que o seu setor merece estar isento de tarifa,
01:27que é uma coisa que é novidade em Washington, porque os Estados Unidos costumavam tratar os diferentes setores de alguma maneira com uma certa isonomia,
01:36mas agora não, agora é batalha por cada um mostrar por que o seu setor é especial e merece não ter tarifa ou ter uma tarifa diferenciada.
01:44Vinícius?
01:46Maurício, para ficar ainda no específico, depois dessa primeira rodada, que aparentemente fixa tarifas,
01:53mas não fixa e elas todas não são o que parecem, porque há exceções e as tarifas efetivas são diferentes,
01:58você acha que o Trump vai continuar usando tarifa de modo permanente, contínuo, como modo de pressão de política externa
02:08e vai ainda modificar muitas dessas tarifas? Você acha que o jogo continua?
02:13Bom, o jogo continua e o jogo tem uma complexidade adicional, que eu não sei se vocês mencionaram aí,
02:18mas é importante dizer que tem um processo de 12 Estados americanos, todos eles democratas,
02:24de algumas empresas americanas, que estão questionando a legalidade dessas tarifas.
02:27e muitos dos argumentos que a Casa Branca utilizou para as tarifas, inclusive o caso do Brasil,
02:32são argumentos que eu, conversando com diversos especialistas jurídicos aqui, são argumentos bastante frágeis.
02:38Obviamente que o tempo da justiça americana não é o tempo do mercado e não é o tempo dessas idas e vindas
02:44de negociação comercial que o Trump está tentando impor, mas primeiro tem uma batalha jurídica
02:49e isso deve continuar e deve se aprofundar, inclusive é uma coisa que pode gerar muita incerteza,
02:55pode gerar muito vai e vem em relação a essas tarifas.
02:58O segundo ponto que é importante também, que a gente vê aqui, é uma sensação de que muita gente está trabalhando
03:04para ganhar tempo também, para justamente discutir essas exceções, como eu falei,
03:08as exceções passaram a ser o ponto focal aqui em Washington e tem muita gente também que diz que,
03:14de alguma maneira, eles estão olhando já a eleição de meio de mandato do ano que vem nos Estados Unidos,
03:18em 2026, que pode reduzir bastante o poder da Casa Branca em relação a esse tema de tarifas.
03:24Mas, para responder a tua pergunta, o Trump tem todo o incentivo de continuar usando as tarifas
03:29como um mecanismo dele de chamar atenção, que é uma coisa que é essencial na persona do Trump,
03:35porque lembra, toda vez que ele solta uma tarifa dessa, ele vira o ponto central da discussão da imprensa,
03:41ele faz com que os chefes de Estado, de alguma maneira, tenham que se engajar com ele,
03:44e também, obviamente, o que está acontecendo de maneira recorrente na Casa Branca,
03:48todos os CEOs, donos de empresas e representantes de diversos setores vão lá conversar com o Trump,
03:53ou seja, o Trump com as tarifas está tendo uma atenção que ele nunca teve como político,
03:57que ele nunca teve como chefe de Estado, eu acho que isso vai permanecer,
03:59só que as frentes de batalha vão ficar cada vez mais complexas,
04:02tanto do lado legal quanto do lado de negociação.
04:05Como eu falei, o que tem sido efetivo aqui é uma negociação por parte do setor privado americano,
04:09que toda vez que se vê prejudicado, a gente está percebendo que as exceções
04:13começam a aparecer, né?
04:15Você disse que tem esse recurso, obviamente, são cinco empresas,
04:2012 procuradores-gerais dos Estados, e o Tribunal de Recursos começou a ouvir os argumentos do dia 31,
04:28e nas estimativas, pelo menos que vazam na mídia americana,
04:31que essa decisão não sai antes de dois meses, e ainda por cima tem recurso,
04:36ainda pode ter recurso da parte derrotada para a Suprema Corte.
04:39Você acha que na Suprema Corte isso vai?
04:41Quanto tempo isso demora? Pelo menos alguns meses, certo?
04:43E a Suprema Corte tem sido muito favorável ao Trump.
04:47É verdade. Vai demorar, pelos cálculos aqui dos especialistas na área jurídica,
04:53que vai devorar pelo menos 10, 12 meses, para que a gente tenha a leitura final.
04:58Existe esse argumento que a Suprema Corte hoje é basicamente republicana,
05:01e muita gente foi indicada pelo Trump.
05:03Então eles têm a maioria hoje, uma maioria muito clara e muito sólida.
05:06Por outro lado, é importante dizer que nesse caso específico existe uma percepção generalizada,
05:13inclusive de juízes conservadores indicados pelo Trump no primeiro mandato,
05:17de que eles fizeram um uso muito forçado desses argumentos para estabelecer as tarifas.
05:23E como o Trump, e para piorar a situação desse caso, o Trump fez isso de maneira indiscriminada,
05:29ele praticamente colocou tarifa no mundo inteiro.
05:31Seria muito mais simples ele trabalhar uns casos mais específicos para utilizar esses argumentos jurídicos.
05:37Então a expectativa é grande em relação a esse julgamento,
05:42e não existe uma...
05:43Claro que ele tem esse Suprema Corte mais conservadora,
05:47mas as bases da alegação são bastante sólidas,
05:51em que na verdade a Casa Branca está passando do limite jurídico possível
05:56para estabelecer essas tarifas de maneira generalizada e indiscriminada.
06:01Maurício, agora, ainda não houve um tremendo impacto inflacionário
06:05em decorrência dessas tarifas todas,
06:08que claro, agora passam para um novo nível, um novo degrau.
06:12Nos meios econômicos, o que se comenta em termos de expectativa?
06:16Em que momento esse impacto inflacionário vai acontecer, vai ficar mais evidente?
06:22Bom, a primeira coisa tem dois linhas de pensamentos economistas dos Estados Unidos aqui.
06:26O primeiro diz que ainda não bateu esses temas das tarifas no dia a dia da inflação,
06:31porque houve no primeiro trimestre uma super compra,
06:34muita gente encheu o estoque no setor varejista, no setor automobilístico,
06:39no setor eletroeletrônico, ou seja, tem muito estoque,
06:42tem muito estoque ainda e as pessoas estão pagando os custos desse estoque
06:45que foram compras antes do tarifácio.
06:48Então, tem esse efeito de oferta.
06:51Tem uma outra linha de pensamento que fala que a inflação americana
06:54é basicamente composta de um terço de comércio e dois terços de serviços.
06:58E a gente tem visto os serviços caírem de...
07:01A gente tem deflação, por exemplo, no custo médio de aluguel,
07:04ou seja, a gente está fazendo com que a inflação fique controlada e as pessoas ainda não sintam esse efeito da tarifa.
07:10Mas, por outro lado, a expectativa é que no último trimestre, principalmente o trimestre onde a gente vai ter as compras de final de ano
07:16e o primeiro trimestre do ano que vem, a gente tem um efeito inflacionário,
07:21uma perspectiva de um efeito inflacionário especificamente da tarifa maior do que a gente está tendo agora.
07:26Agora, Maurício, você mesmo falou, primeiro, que a gente tem um pedaço grande de serviços.
07:33E mesmo com um aumento grande da tarifa média efetiva dos Estados Unidos,
07:37estão calculando de 2% para 18%,
07:40a gente está calculando, falando de 18% em cima de 10% do PIB americano.
07:46Eu estou pensando, não em termos econômicos imediatamente,
07:49mas, assim, pode ser que esse aumento, essa tarifa média aumentada,
07:53que a gente não sabe se vai ser repassada, que muito exportador pode absorver custo,
07:58as empresas podem reduzir margem.
08:00Então, a gente nem sabe se esse impacto de tarifa média efetiva vai passar.
08:05Mas vamos supor que tem um aumento na inflação.
08:06O Fed está falando em 3,1% no final do ano, que é um aumento relativamente grande.
08:11Mas pode ser que esse efeito não seja grande para o consumidor,
08:15tendo em vista que, inclusive, muita gente está apoiando o Trump,
08:18porque está apoiando o Trump por outros motivos.
08:20Você acha que a gente pode esperar algum efeito significativo daqui em diante,
08:26até mesmo no final do ano, quando esse efeito pode ser pior, na política americana?
08:32Bom, assim, ter significativo na inflação você tem razão.
08:35A gente não tem nenhuma perspectiva de a gente ter níveis inflacionários,
08:39por exemplo, como em 2021,
08:40quando a inflação chegou a quase bater dois dígitos
08:42durante um período bastante razoável.
08:45A gente não tem essa expectativa, mas é importante dizer
08:47que depende, se houver inflação em produtos,
08:52principalmente que afetam o bolso da baixa renda,
08:54principalmente a baixa renda, a baixa escolaridade,
08:55que são o core de eleitores do Trump,
08:57o grupo mais duro de eleitores do Trump,
08:59se a gente tiver, por exemplo, aumento do preço de alimentos,
09:03eventualmente aumento do preço do supermercado,
09:05alguns itens que os Estados Unidos não produzem,
09:07obviamente que isso vai,
09:08historicamente, a inflação acaba com popularidade,
09:11principalmente popularidade presidencial.
09:12Então, obviamente, isso pode, de alguma maneira,
09:15afetar a perspectiva da eleição de meio de mandato.
09:20Por outro lado, que eu tenho percebido aqui
09:22que toda vez que existe uma perspectiva de um determinado setor
09:25trazer algum problema eleitoral para os republicanos,
09:29eles têm trabalhado em isenção.
09:31Por exemplo, no caso do Brasil,
09:34eu acho que tem uma expectativa enorme
09:35de que o café brasileiro vai, de alguma maneira,
09:38entrar numa isenção,
09:38porque, obviamente, faz parte da cesta de consumo dos americanos.
09:42Eu estou percebendo que a Casa do Banco está muito reativa
09:44a potenciais problemas futuros com o seu eleitorado mais firme.
09:49Pois é, essa é até uma pergunta que eu queria te fazer, Maurício,
09:51porque é uma das frentes do governo brasileiro agora
09:54tentar colocar, pelo menos, o café e as carnes também
09:57dentro dessa lista de isenções.
10:00Você está vendo um caminho favorável para o café, então,
10:03pelo que acabou de comentar?
10:04Você acha que carnes também é factível pensar
10:07que seja possível incluir na lista?
10:10Não, pelo que eu apurei aqui,
10:12a probabilidade do café é maior que a probabilidade da carne,
10:16porque, justamente, o tipo de café que o Brasil exporta para os Estados Unidos
10:19é bastante particular e bastante difícil de ser substituído
10:22pelo Vietnã ou pela Colômbia,
10:24que são, eventualmente, concorrentes do Brasil.
10:26E, obviamente, o café faz parte da cesta de consumo dos americanos.
10:30Então, eu acredito que tem uma grande probabilidade do café
10:33usufruir alguma coisa em termos de isenção.
10:35No caso da carne, é mais complexo, a carne concorre com a indústria americana
10:40de produção de carne, apesar que a indústria americana
10:42tem diminuído de tamanho, eles têm tido problemas de oferta aqui,
10:46mas a questão da carne, como tem uma concorrência maior
10:49dentro dos Estados Unidos, eu acho uma questão mais complexa.
10:52Mas é o que eu falei, a pressão do setor privado,
10:55e, principalmente, no caso do café,
10:58provavelmente dos varejistas e das redes aqui que vendem café,
11:01eu acho que isso pode ser um caminho muito positivo
11:04para esse setor específico,
11:05porque é um setor que afeta a vida diária dos americanos
11:08de uma maneira bastante direta.
11:10Maurício Moura, professor da Universidade George Washington,
11:13sócio do Fundo Zaftra.
11:15Obrigado, Maurício, pela sua análise aqui.
11:17Um bom fim de semana para você.
11:19Obrigado, boa tarde, bom trabalho.
11:20Boa tarde, obrigado, Vinícius, também pela participação.
Seja a primeira pessoa a comentar