O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou o decreto que impõe tarifas de 50% aos produtos brasileiros, mas o texto inclui exceções. Setores como petróleo, laranja e aviação, que estavam entre os mais preocupados, foram isentados. Ao todo, 694 produtos brasileiros ficaram fora da sobretaxa. Alan Ghani, Cristiano Vilela e José Maria Trindade analisaram. Apresentadores: Roberto Nonato e Soraya Lauand Comentaristas: Alan Ghani, Cristiano Vilela e José Maria Trindade
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00:00O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto que oficializa a imposição de uma tarifa extra de 40% sobre produtos brasileiros, totalizando 50%.
00:12Apesar disso, o governo americano decidiu deixar quase 700 itens sem a cobrança extra.
00:19Nosso analista de economia, Alan Gani, já está conosco aqui no estúdio para a gente repercutir tudo isso.
00:25Gani, muito bom dia para você. Essa lista de exceções foi uma boa surpresa no final das contas?
00:31Bom dia, Soraya, bom dia, Nonato, bom dia a toda a nossa audiência.
00:34Com certeza foi uma boa surpresa, sim, porque na prática, se a gente tirar uma média ali, a taxa ficou menor do que 50%.
00:42É claro que para vários produtos ainda prevalece o 50%, como a gente falou, carne, café, mas vários produtos ficaram de fora dessa tarifa,
00:53como produtos químicos, petroquímicos, derivados de petróleo, minerais, aeronaves e outros produtos do agronegócio.
01:03Tanto é que o mercado financeiro, no dia de ontem, reagiu positivamente ao tarifaço de Donald Trump.
01:11Uma outra questão importante também, que aparentemente separou a questão envolvendo o julgamento lá do Bolsonaro,
01:18liberdade de expressão, etc., com a tal da lei Magnitsky, enquanto que a tarifa de 50% ficou mais relacionada às questões comerciais.
01:32Portanto, entre mortos e feridos, foi uma boa notícia para o Brasil ontem.
01:37Agora, Gani, como é que a gente pode, de algum modo, recuperar essa relação mais amistosa com os Estados Unidos?
01:45Porque a gente tem muitos produtos que ainda estão na pauta para serem taxados, carne, pescados, café e por aí vai.
01:53Ainda é possível a gente contornar?
01:55Hoje mesmo, pela manhã, o ministro Haddad falou que sim, que ele entende que agora a situação está melhor do ponto de partida,
02:01mas ainda tem muito caminho para o ponto de chegada.
02:05Está numa posição mais confortável e dá para a gente buscar isso?
02:08Eu acredito que sim.
02:10A gente precisa dar uma sinalização mais concreta para os Estados Unidos,
02:14que a gente é um aliado geopolítico americano, um aliado histórico.
02:18O mundo, é claro, ele ficou muito mais complicado, com uma ordem agora que não é mais unipolar,
02:24como a gente viu no início dos anos 2000, com o protagonismo e a hegemonia norte-americana no campo econômico, no campo militar.
02:31Hoje o mundo é muito mais complexo, você tem a ascensão novamente da Rússia como uma superpotência militar e energética,
02:39você tem a ascensão da China como uma superpotência econômica e militar,
02:44além do protagonismo de outros países emergentes, que não são superpotência,
02:49mas acabam fazendo parte desse xadrez geopolítico, como a Índia, por exemplo,
02:54é um país muito relevante no cenário internacional.
02:58E aí, dada essa complexidade, o Brasil tem que pisar em ovos, né?
03:03Porque ele também, claro, não pode romper relações comerciais com a China, nosso principal parceiro comercial.
03:09Mas tem que ter uma postura neutra, pragmática e não escolher um dos lados e tirar proveito econômico de ambos os lados.
03:19Mas, de alguma maneira, uma garantia um pouco mais firme de uma aproximação dos Estados Unidos
03:25e também não ter nenhuma intenção de substituir o dólar como uma moeda global, que isso enfurece Donald Trump.
03:34Obrigada, Gani. Daqui a pouquinho você volta.
03:37Deixa eu chamar aqui os nossos comentaristas também para a gente repercutir.
03:40Tanto a fala do ministro Fernando Haddad mais cedo, quanto essa questão da lista de exceções, né?
03:46Haddad disse que quer ainda sentar à mesa para discutir tudo.
03:51Agora, Zé, qual é a margem de negociação que o Brasil tem a partir dessa lista de exceções?
03:57Será que ainda há chance de conseguir colocar os produtos que ficaram de fora dentro dessa lista?
04:05Esta é a tentativa do governo, né?
04:08Aqui e ali pode ser que algum setor seja incluído nessa lista.
04:12Mas tudo vai depender de um processo nos Estados Unidos e a pressão tem que ser dos empresários norte-americanos
04:20para convencer o presidente Donald Trump.
04:23Esta é a estratégia.
04:25O ministro está otimista, né?
04:28Está visivelmente aliviado.
04:31Foi aberta, pelo menos, a possibilidade de negociação, de conversa.
04:36A lista de exceções mostrou que pode, sim, ser flexível essa decisão.
04:42E o governo acha bom mesmo que seja decidido setor por setor e não alíquota geral, pegando todos os produtos.
04:50Agora, o mais interessante é que o Brasil vai sair diferente desta crise.
04:57Uma crise.
04:58Não uma crise exatamente diplomática, mas uma crise de comércio, que é a nova diplomacia.
05:04A nova diplomacia se baseia exatamente em comércio.
05:07O embaixador se torna um encarregado de negócios, representando o país lá fora.
05:12Então, assim, vai sair diferente porque um grupo de trabalho foi criado no Ministério da Fazenda e Planejamento para procurar novos mercados.
05:20Então, a ideia é que, a partir de agora, pontualmente o Brasil abra novos mercados para não ficar dependente de nenhum país.
05:31O foco é os Estados Unidos, mas a atenção máxima é com a China.
05:36A China, o nosso grande parceiro, se tomar uma medida parecida com essa de Donald Trump, vai deixar o Brasil em grande dificuldade.
05:46Cristiano Villela, queria te ouvir também a respeito desse tarifácio do Donald Trump.
05:50O ministro, falando mais cedo, que espera agora a sequência de negociação de um modo mais sóbrio, menos apaixonado do que num primeiro momento, quando o tarifácio foi proposto.
06:02E também dizendo que é necessário a gente mostrar para os americanos, para o governo do Donald Trump, como funciona o nosso judiciário por aqui.
06:10Agora, é o momento em que a fervura baixa um pouco e é possível ter essa conversa menos apaixonada?
06:16Olha, Nonato, deveria ser. Eu vejo que seria muito importante que a conversa, a partir de agora, prosseguisse em bases econômicas.
06:26Onde se pode ter uma racionalidade muito maior no diálogo, onde se pode, eventualmente, se promover acordos, conseguir avançar em temas importantes de parte a parte.
06:36Só que, infelizmente, nós ainda temos aspectos políticos em todas as falas, em todas as atitudes, tanto do governo americano como do governo brasileiro,
06:46que acabam travando um pouco esse tipo de negociação.
06:50Do lado americano, quando se trata das sanções realizadas em relação ao ministro do Supremo, por exemplo,
06:57isso afasta o do governo brasileiro a possibilidade de se sentar claramente à mesa, de se fazer uma composição amigável.
07:04Da mesma forma que as declarações que membros do governo brasileiro têm feito, no sentido de um ataque mais direto, mais pesado,
07:13gerando um nós contra eles em relação ao governo americano, também acaba tensionando o ambiente e afastando um pouco a negociação.
07:22Eu vejo que o momento é justamente o de buscar aprofundar as bases econômicas desse diálogo, de parte a parte.
07:30É importante que o Estado brasileiro e o Estado americano possam se sentar, dialogar e fazer com que uma relação de mais de dois séculos não seja descartada,
07:42não seja jogada de lado dentro da importância geopolítica que tem, dentro da importância histórica que tem,
07:49especialmente dentro da importância econômica que tem.
07:53Eu espero e o que a gente torce é para que, de parte a parte, e aí no caso o governo brasileiro tome essa atitude,
08:00no sentido de promover essas negociações no campo econômico.
08:04Porque no campo político realmente existe grande diferença entre o que pensam os dois representantes máximos do Estado americano e brasileiro.
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